sexta-feira, março 28, 2008

Homem grávido - que id(en)tidade?

Através do blog de uma amiga tomei conhecimento desta notícia.

Homem grávidoTransexual masculino, no quinto mês de gravidez, dará à luz uma menina este Verão.
Thomas Beatie, um transexual casado, dará à luz uma menina no Verão depois de várias tentativas para engravidar e após ter sido rejeitado pela sociedade e a sua família.


Depois de ler fiquei confusa quanto a uma série de coisas acerca deste casal - mas o que me despertou maior inquietação foi pensar: que impacto terá esta confusão na vida e desenvolvimento de uma criança???

10 comentários:

Margot disse...

No sempre-surpreendente Tyra show da sic mulher foi ontem apresentada uma situação (ainda) mais confusa do que esta: uma mãe americana, casada e com 3 filhos entre os 4 e 10 anos, vai mudar de sexo subtendo-se a um tratamento hormonal que lhe trará caracteristicas masculinas mas permanecerá no casal, situação aceite pelo marido (?!). Os filhos passaram a tratá-la por "papá", dizendo que perderam a mãe para terem dois pais. Os miudos pareciam obviamente confusos sem saberem o que iam perder e ganhar lá em casa com tamanha transformaçao e como iriam ser tratados pelos amigos da escola... Desculpem a franqueza da pergunta, mas estará tudo louco? Não ultrapassará tudo isto o limite do razoável? Como estarão estas crianças dentro de poucos anos?

Ana Almeida disse...

A gravidez num homem é algo efectivamente bastante estranho e que coloca questões muito sérias à psicanálise, principalmente por ser uma disciplina que dá uma importância particular à relação in-útero e à relação precoce mãe-bebé.
Há uns anos atrás li também a noticia de uma mulher que tinha tido morte cerebral e que estava, na altura do acidente, gravida de 3 ou 4 meses. O marido e os médicos optaram por manter "o corpo" vivo apenas para viabilizar o desenvolvimento do feto. Que mãe poderá ser uma mãe "psiquicamente" morta?
Seria muito interessante termos acesso ao desenvolvimento psíquico destes bebés, mas seria eticamente incorrecto transformá-los em "objectos de investigação".

Eliana Vilaça disse...

São de facto chocantes e preocupantes as confusões que nascem da falta de limites que a ciência nos proporciona.

Escrevi no titulo identidade-entidade porque fiquei a pensar como se estabelece a identidade de uma criança que se desenvolve no seio de uma entidade parental tão confusa e "transexual"??

Não podendo transformar estas crianças em objecto de investigação, podemos adivinhar desde já as complicações com as quais se irão debater...

Até que ponto é legitimo que algums pais submetam os seus futuros filhos a esta violência para poderem responder ao seu desejo de ser pais???
Não sei..

Raquel Félix disse...

Este caso, como qualquer outro que nos suscite incompreensão, que seja estranho ao olhar comum, é merecedor de questões, mas facilmente cai nas teias da moralização, acto que mina a compreensão ou tentativa da mesma.

Margot disse...

Serão estes pais acompanhados psicológicamente durante uma trasnformação destas? Que pai são sujeita os filhos a viver este caos identitário? Se um pai adoptivo é exaustivamente avaliado sob todas as formas, estarão estes pais aptos a manterem os seus filhos? São momentos dificeis de viver para todos eles mas quem protege estas crianças destes pais?
Falta legislação...

bluesboy disse...

Embora me fascine pela corrente psicanalitica, vejo que, face às alterações sociológicas e civilizacionais, importa trazer novas correntes interpretativas para explicar fenómenos como este.

Faço fé na capacidade de adaptação humana e a criança que esperemos que nasça bem, não será excepção. Pode ser uma pioneira, a incerteza do seu desenvolvimento é um dado adquirido. Mas, não o é o de todas as crianças?

Estar a impor uma via de conduta para a sexualidade e parentalidade hoje em dia já não em pertinência, de maneira que, como alguém fez notar num comentário anterior, entrar em moralismos, apenas mina a compreensão deste facto. Ao invés, acho mais adequado um positivismo realista e atento a este tipo de fenómenos, fazendo fé na capacidade de adaptação humana.

Carmo disse...

Tudo o que é anti-natura é pertinente questionar, tal como muito do que é natural. Pensar que situações como esta fazem parte da evolução social é por si só questionável. Se está fora de causa impôr condutas para a sexualidade, cada pessoa é livre de viver a sua sexualidade como entender desde que não prejudique o outro, por outro lado a questão da parentalidade deve ser protegida.Todas as crianças têm direito a crescer em harmonia, a serem protegidas, será concerteza necessário acrescentar itens à declaração dos direitos da criança. A Fé não chega para que uma criança cresça saudável física e psiquicamente. Não é a moralidade que mina a compreensão do caso que está em causa, o que está em causa é a criança que vai nascer. Poupem as crianças à incerteza do seu desenvolvimento, criem-se meios para que haja cada vez menos incerteza e mais segurança. Atenção primeiro estão as crianças só depois os adultos. Será que depois de um caminho duramente percorrido e infelizmente não terminado, está-se a regredir?
Mais um pouco voltamos à Idade Média.

Raquel Félix disse...

... não terás filhos se viveres numa favela... não terás filhos se fores pobre de espírito... não terás filhos se já cometeste um crime ... não terás filhos se fores obeso e não proporcionares uma alimentação equilibrada ao teu filho... não terás filhos se o fizeres por inseminação artificial e não proporcionares a presença de um pai ao teu filho... não terás filhos se o mesmo for adoptado... não terás filhos se fores maníaco-depressivo... não terás filhos se fores prostituta... não terás filhos se... se... se... se... se... se... se... se...
As hipóteses são variadas. Supomos, à partida que determinado "ambiente", contexto seja uma potêncial forma de moldar negativamente a personalidade ou curso de vida de uma criança... é bastante razoável esta suposição porque a mesma é pensada com base num ideal que subentende o bem estar integrado da mesma.
Mas há sempre espaço para muitos ses...

Eliana Vilaça disse...

Depois de ler e mais uma vez pensar sobre as diversas opiniões, penso que não podemos ficar no extremo de rejeitar a diferença nem no extremo oposto de aceitar sem reservas.

Ainda que neste caso em particular eu tenda a posicionar-me no extremo que censura uma decisão destas.
A meu ver uma mulher que recusa a sua identidade feminina está a tomar uma posição muito determinada. Questiono-me, porque me faz pouco sentido, que uma mulher que quer ser homem também queira depois, ser em simultâneo, mãe.

Ter um filho não é apenas fazer uso dos instrumentos que a natureza nos colocou à disposição, ser mãe vai muito além do facto de termos útero e ovários.

Carmo disse...

Todos os "ses" referidos não têm de modo nenhum comparação com a gravidade do assunto em causa. Não é por se viver numa favela, ser obeso, ter condições de vidas precárias, recorrer à inseminação artificial, à adopção ou ser prostituta que uma mãe que o queira ser, deixe de o ser. Não se deve generalizar porque se corre o risco de tornal banal o que é perigosamente grave. Não é uma posição moral, é uma posição em defesa dos direitos da criança. Como mãe de quatro filhos biológicos, mãe de acolhimento de um rapaz de 17 anos, com um outro processo de adopção em mãos e uma vida profissional dedicada às crianças preocupo-me naturalmente com elas.
Ainda relativamente às situações precárias de vida, aconselho a música "São Gonça" do Seu Jorge, músico brasileiro favelado, como ele próprio se intitula. Um testemunho de vida.