Para que serve a Psicoterapia se nem o terapeuta, nem o paciente podem mudar o passado? Esta é uma questão várias vezes levantada e a sua resposta permite perceber como pode ser útil e quais os limites de uma psicoterapia.
Frequentemente as pessoas que procuram uma psicoterapia tiveram experiências no passado que as marcaram de uma forma pesada e problemática. A questão está no que podemos então fazer em relação a esse passado que não pode ser alterado.
A primeira resposta a esta questão é: nada! Se o passado não pode ser alterado o primeiro passo consiste em tentar aceitá-lo, compreendê-lo e digeri-lo.
Ou seja, a questão não está tanto em agir sobre o passado (tarefa impossível e vã) mas sim na nossa relação com esse mesmo passado: o modo como organizamos as memórias desse passado. Na verdade o passado não existe (já passou!) a não ser sobre a forma como estão registadas na nossa memória. Este registo de memórias, longe de ser um processo objetivo e fatual, é um processo seletivo, ativo, construtivo e idiossincrático. Envolve uma constante seleção, interpretação e integração de memórias por forma a forjar uma narrativa sobre quem somos, o valor que temos, as capacidades, os princípios, etc. Deste modo, não percebemos e formamos memórias do mundo como ele realmente é, mas antes, criamos o que conhecemos e experienciamos através de processos mentais ativos e construtivos.
No entanto, outra objeção pode surgir: "mesmo que nós tenhamos um papel fulcral na construção do nosso passado, o que é certo é que ele fica gravado sobre a forma das memórias que forjámos. Mesmo que sejam memórias tendenciosas, o que é fato é que, a partir do momento em que ficaram gravadas, adquirem um estatuto de realidade". A este nível foi feita recentemente uma descoberta no campo da neuro-psicologia que demonstra ser possível o que sempre se pensou impossível: a eliminação e transformação completa de memórias de longo-termo de condicionamento emocional.
Um exemplo simples consiste na morte de um ente querido, fato da vida real que ninguém pode alterar. No entanto, uma pessoa pode ficar profundamente traumatizada e deprimida com esse fato do passado, enquanto outra pode sofrer a perda de uma forma que lhe possibilita fazer o luto saudável da mesma (aceitar a perda e estar disponível para voltar a investir afetivamente). Ou seja, a morte de um ente querido pode ficar gravada de uma forma catastrófica que assombra e contamina toda a visão do mundo da pessoa, ou ir sendo "digerida", "processada" de forma a que deixe de ser intolerável ao sujeito e passe a ser apenas uma memória do passado.
Pode-se dizer que a patologia ou sofrimento psicológico, surge quando é o passado que molda mais a pessoa, do que a pessoa a moldar o passado (e por conseguinte e mais importante, o presente-futuro).
A terapia EMDR destaca-se por estimular a
reintegração e desbloqueio das memórias disfuncionais influindo direta e
psico-fisiológicamente nas mesmas através da estimulação bilateral. Esta pode ser feita através de:
- Movimentos oculares – processamento e integração das memórias problemáticas à semelhança da fase REM (Rapid Eye Movements) do sono.
- Taping
- Estimulação auditiva
As reações provocadas no organismo pela estimulação bilateral contribuem para:
- Um descondicionamento causado por uma resposta fisiológica de
relaxamento.
- Uma mudança no estado
cerebral, aumentando a ativação e fortalecimento de associações fracas.
- Uma otimização da atenção e capacidade de processamento da informação criada pelo foco de atenção dual (ao estímulo percetivo-sensorial e ao trauma passado), induzindo um estado de “mindfullness”, uma resposta de orientação para a novidade ou outro tipo de fenómeno benéfico.
Deste modo, o EMDR apresenta-se como uma Psicoterapia poderosa na transformação e procesamento destas memórias problemáticas do passado.