Neste TED a neurocientista Sarah-Jayne Blakemore troca o funcionamento do cérebro por miúdos e ajuda a explicar alguns comportamentos típicos da adolescência com base no desenvolvimento do cérebro.
Fala-nos da influência do córtex pré-frontal na tomada de decisões, no planeamento, na inibição dos impulsos e na consciência de si e dos outros. Aborda ainda o desenvolvimento do "cérebro social" e na forma como o contexto propicia respostas automáticas instintivas, a capacidade de ler as emoções dos outros e de avaliar o seu ponto de vista.
Por que razão os adolescentes se colocam mais em risco, porque é que têm dificuldade em colocar-se no lugar do outro (principalmente dos pais!), porque procuram a recompensa e têm dificuldade em adiá-la?
Termina com uma reflexão sobre a importãncia do conhecimento do cérebro na educação (parental e escolar) e no tratamento dos adolescentes. Lança ainda a questão: Porque não aproveitar o lado aparentemente mais negativo da adolescência para potenciar a aprendizagem e a criatividade?
Vale a pena ver:
http://www.ted.com/talks/lang/pt-br/sarah_jayne_blakemore_the_mysterious_workings_of_the_adolescent_brain.html
Alexandra Barros
Psicóloga e Psicoterapeuta
http://www.psicronos.pt/consultas/neuropsicologia_17.html
Mostrar mensagens com a etiqueta adolescência. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta adolescência. Mostrar todas as mensagens
quinta-feira, fevereiro 13, 2014
segunda-feira, fevereiro 03, 2014
Os filhos que saem aos pais...
Os filhos que saem aos pais...
A construção da identidade nas crianças
Não é preciso trabalhar com crianças e com
pais para reflectir sobre a construção da identidade, basta lembrarmo-nos da
nossa infância ou adolescência e com facilidade encontraremos expressões que,
inevitavelmente, influenciaram a construção da nossa identidade.
Desde já faço a ressalva que não discutirei
aqui a inegável importância da genética na construção da identidade, uma
identidade biológica. Defendo, por outro lado, que restringir a identidade a
este aspecto, não só conduziria a uma leitura pobre e limitada, como implicaria
não reconhecer a importância fundamental das experiências emocionais vividas e
da própria criatividade individual.
Para melhor compreender o processo da construção
da identidade sugiro partir do modelo proposto pelo professor António Coimbra
de Matos. Este modelo sustenta que a construção de identidade dá-se a três
níveis de relação com o outro. O primeiro nível de identificação,
imagóico-imagético, é aquele que se constrói através das atribuições da mãe/pai
ou do mundo, isto é, a forma como o bebé se vê a si próprio é resultado das
expectativas do outro, em particular, da mãe. O bebé assimila a imago e a
imagem que a mãe atribui, sendo que imago é aquilo que é menos consciente e
imagem é aquilo que é mais consciente. Este nível pode prolongar-se pela vida,
existindo mesmo indivíduos cuja identidade é quase só construída através deste
processo. Ora a frase que dá título a este artigo pode ser um excelente exemplo
como esta assimilação acontece. Note-se que o desejo da mãe ou do pai pode ser
tão categórico, ou ainda o desejo de suprimir os desejos do filho tão
determinante, que o filho, tenha, ou não, determinadas aptidões ou
características, está destinado ao fracasso ou à glória, resultado de ditaduras
sentenciais que podem apenas corresponder ao desejo materno ou paterno. Veja-se
então, um pai ao dizer repetidamente a um filho “o meu filho é igualzinho ao
pai, não tem jeito nenhum para isto ou para aquilo”, mesmo que, neste filho, a
falta de aptidão não fosse assim tão evidente, a partir do momento de assunção
do pai há uma atribuição à criança que pode ser assimilada, impedindo-a de
outras explorações e descobertas.
Outro processo de identificação, o mais comum
classicamente na psicologia, será o de identificação de modelos (xenomórfica),
a criança identifica-se com os modelos; com o pai; com a mãe; com a tia; com o
avô, com os professores... Constrói a identidade através dessa identificação:
os filhos que querem ser médicos como os pais; ou outro exemplo mais
ilustrativo: as crianças que querem jogar futebol como o Cristiano Ronaldo.
Quantas e quantas vezes já vimos entrevistas a crianças com estas
representações presentes
Por último, o processo de identificação mais
importante e consistente é a identificação ideomórfica. A criança identifica-se
com o que é, com o que sente e com o que deseja ser, através dos próprios
atributos morfológicos e do seu sentir. Esta última identificação acontece mais
tarde nas crianças, é preciso passar pelos outros dois níveis de identificação.
A criança aqui tem espaço para a criatividade, para a descoberta, para a
exploração e parece ser o processo mais completo, que causa maior satisfação.
Pensar a construção de identidade ajuda os
pais a facilitarem este último nível, em que a criança deseja ser diferente dos
pais, a criança descobre novas respostas e retira satisfação desses encontros.
Um papel importante dos pais neste processo será ajudar os filhos a desvendar
os seus próprios desejos. Diria ainda, que essa também é uma função importante
do psicoterapeuta.
É também importante compreender que estes
processos não são estáticos e desenvolvem-se ao longo da vida, sendo por vezes
uns mais relevantes do que outros em alguns momentos.
Madalena Motta Veiga
Psicoterapeuta Psicanalítica
Psicóloga Clínica no Departamento de Infância
terça-feira, novembro 19, 2013
Slow Parenting
No trabalho com crianças e
adolescentes surgem, com alguma frequência, problemas relacionados
com a ansiedade despertada pela necessidade de perfeição; o “filho
perfeito” produto da projecção dos desejos e angústias do
adulto; perfeito na escola, nas actividades, nas relações, etc.
Estas ocorrências parecem cada vez mais agravadas pela aceleração
continua do ritmo de vida, quer do adulto quer, consequentemente, da
criança. Com muita regularidade as crianças apresentam-me
(queixando-se da falta de tempo para brincar) horários semanais das
actividades escolares e extra-escolares, com dias a iniciar às 8
horas e a terminar às 21 horas, com actividades obrigatórias ao
sábado e com tempo livre apenas ao domingo que é, como me dizem
algumas crianças e pais, obviamente para estudar. Note-se que nas
treze horas diárias de actividades escolares e extra-escolares,
muitas vezes, os intervalos são para refeições e para deslocações.
Precisamente com a finalidade de
alterar hábitos e sensibilizar os adultos para as consequências e
para as necessidades das crianças têm surgido movimentos e
programas de desaceleração, num estilo bem americano: o “slow
parenting”. Muitos dos preceitos destes movimentos apoiam-se
num conhecimento há muito sustentado pela psicologia.
É essencial para o desenvolvimento da
criança o espaço para o jogo, para brincar, para o ócio, para o
silêncio, para a frustração. O jogo ou a brincadeira são assim
mediadores de desejo, não apenas para a criança mas também para o
adulto (o jogo no adulto assume diferentes formatos, por exemplo, a
politica), e como expressão de desejo traz consigo satisfação. A
brincadeira está, na criança, relacionada com a inteligência de si
mesmo, do mundo que a rodeia e dos outros, ou seja, é através do
brincar que a função simbólica desperta, atribui-se sentido às
diferentes expressões emocionais e ganha-se experiências de domínio
e frustração. A necessidade que a criança tem de brincar ou de
jogar parece ser, para os pais, mais fácil compreender do que a
importância de momentos de prazer na experiência mais passiva da
criança, a angústia que os pais têm do dolce far-niente.
Frequentemente oiço pais a censurarem o tempo de desocupação dos
filhos, desejam que os filhos não percam tempo e não estejam
“prostrados no sofá ou á frente da televisão sem fazer nada”.
No livro “As etapas decisivas da
infância” Françoise Dolto alerta-nos para a importância de
muitos destes momentos, para a autora alguns adultos parecem temer o
que pensam ser o vazio mental do filho, talvez porque, nos seus
próprios momentos de ociosidade não encontrem bem-estar. É
importante no desenvolvimento que exista espaço para o prazer de
ouvir, de olhar, de sentir, de observar, prazeres inteligentes e por
vezes meditativos que estimulam a criança para o conhecimento dela e
do que a rodeia.
Hoje, o excesso de actividades das
crianças associado à falta de períodos de ócio são muitas vezes
responsáveis pela ansiedade, pela frustração e pelo entediamento
que algumas das crianças sentem.
Se tiverem interesse em conhecer mais
sobre o movimento americano slow parenting deixo aqui alguns
links.
Madalena Motta Veiga
Psicoterapeuta da Psicronos em Cascais
e Lisboa
Marcadores:
actividades,
adolescência,
brincar,
crianças,
infância,
Jogo,
ócio,
slow parenting,
vazio
segunda-feira, novembro 18, 2013
Agressividade normal e patológica
Fui recentemente chamada a falar
sobre agressividade numa escola, e de uma forma geral, quando falamos sobre agressividade,
é bom termos como ponto de partida que a agressividade existe em todos os seres
humanos, é natural e necessária.
Na adolescência a agressividade está muito presente no comportamento e
por isso, quando falamos para pais e professores, importa ajudá-los a
compreender a agressividade mas também a diferenciar a agressividade saudável
da agressividade patológica.
Para pensarmos em agressividade
saudável podemos pensar por exemplo na agressividade que está presente numa
equipa desportiva. É a agressividade que nos mobiliza para a ação, que está
relacionada com a nossa capacidade de nos defendermos, de lutarmos pelos nossos
objetivos, de tolerarmos a rivalidade e competitividade. É então possível
pensarmos que a agressividade pode estar ao serviço da cooperação, da proteção,
da união grupal, etc.
A agressividade pode estar ao
serviço de objetivos grupais, interpessoais, mas também é saudável quando
contribui para a construção da identidade
e diferenciação.
É assim importante a capacidade
para criarmos mudanças, ruturas, separações; para afirmarmos a nossa diferença, os nossos limites e as
nossas escolhas. Está presente na
nossa capacidade de reivindicar, de lutar pelos nossos direitos, pelo nosso
bem-estar.
Mas então quando é
que falamos de raiva, ódio, sadismo,
ciúme, inveja?
Quando falamos destas emoções,
estamos também a falar de emoções naturais e existentes em todos os seres
humanos. E podem também ser saudáveis, quando estão ao serviço da sobrevivência,
da regulação interna e da regulação das relações.
As crianças e os jovens precisam de
saber que estas emoções são saudáveis, e que podem ser sentidas e expressas–
como o amor, a alegria ou a tristeza – de forma socialmente apropriada. Mesmo a
agressividade mais destrutiva deve poder ser sentida, e até certo ponto expressa
- não necessariamente agida.
O que diferencia
então a agressividade saudável da agressividade patológica?
A agressividade patológica é
destrutiva para o próprio, para o outro e para a relação e é aquela que não
contribui para a evolução nem contempla possibilidade de reparação.
A agressividade mais patológica é
normalmente caracterizada por uma intensidade
desmedida e desajustada à circunstância. A repetição
de comportamentos agressivos e a indiferenciação
do alvo são também sinais de alerta. Outro aspeto importante é a ausência de culpabilidade e falta de empatia que podem refletir uma
frieza relacional.
A culpabilidade tem um papel fundamental na elaboração da
agressividade. A culpabilidade, normalmente associada à empatia e reforçada
pelos aspetos morais e sociais exerce um travão nos impulsos mais destrutivos.
Identificar estes aspetos deve essencialmente
contribuir para que pais e professores compreendam que a agressividade mais
patológica é sempre sinal de sofrimento e este não deve ser negligenciado.
É óbvio que os pais e os
professores têm sempre um papel que visa corrigir comportamentos, assim que são
fundamentais na necessidade de mostrar os limites morais, sociais e
relacionais. Mas não podemos nunca esquecer que um jovem agressivo não precisa
só de limites e normalmente não beneficia nada com simples censura ao seu
comportamento - precisa de alguém que o ajude a compreender e entrar em
contacto com o seu sofrimento e a encontrar mais conforto na sua relação
consigo mesmo e com os outros.
Eliana Vilaça
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Subscrever:
Mensagens (Atom)