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quinta-feira, fevereiro 13, 2014

O CÉREBRO DOS ADOLESCENTES

Neste TED a neurocientista Sarah-Jayne Blakemore troca o funcionamento do cérebro por miúdos e ajuda a explicar alguns comportamentos típicos da adolescência com base no desenvolvimento do cérebro.

Fala-nos da influência do córtex pré-frontal na tomada de decisões, no planeamento, na inibição dos impulsos e na consciência de si e dos outros. Aborda ainda o desenvolvimento do "cérebro social" e na forma como o contexto propicia respostas automáticas instintivas, a capacidade de ler as emoções dos outros e de avaliar o seu ponto de vista.

Por que razão os adolescentes se colocam mais em risco, porque é que têm dificuldade em colocar-se no lugar do outro (principalmente dos pais!), porque procuram a recompensa e têm dificuldade em adiá-la?

Termina com uma reflexão sobre a importãncia do conhecimento do cérebro na educação (parental e escolar) e no tratamento dos adolescentes. Lança ainda a questão: Porque não aproveitar o lado aparentemente mais negativo da adolescência para potenciar a aprendizagem e a criatividade?

Vale a pena ver:

http://www.ted.com/talks/lang/pt-br/sarah_jayne_blakemore_the_mysterious_workings_of_the_adolescent_brain.html

Alexandra Barros
Psicóloga e Psicoterapeuta

http://www.psicronos.pt/consultas/neuropsicologia_17.html



segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Os filhos que saem aos pais...


Os filhos que saem aos pais...
A construção da identidade nas crianças
           
Não é preciso trabalhar com crianças e com pais para reflectir sobre a construção da identidade, basta lembrarmo-nos da nossa infância ou adolescência e com facilidade encontraremos expressões que, inevitavelmente, influenciaram a construção da nossa identidade.
Desde já faço a ressalva que não discutirei aqui a inegável importância da genética na construção da identidade, uma identidade biológica. Defendo, por outro lado, que restringir a identidade a este aspecto, não só conduziria a uma leitura pobre e limitada, como implicaria não reconhecer a importância fundamental das experiências emocionais vividas e da própria criatividade individual.
Para melhor compreender o processo da construção da identidade sugiro partir do modelo proposto pelo professor António Coimbra de Matos. Este modelo sustenta que a construção de identidade dá-se a três níveis de relação com o outro. O primeiro nível de identificação, imagóico-imagético, é aquele que se constrói através das atribuições da mãe/pai ou do mundo, isto é, a forma como o bebé se vê a si próprio é resultado das expectativas do outro, em particular, da mãe. O bebé assimila a imago e a imagem que a mãe atribui, sendo que imago é aquilo que é menos consciente e imagem é aquilo que é mais consciente. Este nível pode prolongar-se pela vida, existindo mesmo indivíduos cuja identidade é quase só construída através deste processo. Ora a frase que dá título a este artigo pode ser um excelente exemplo como esta assimilação acontece. Note-se que o desejo da mãe ou do pai pode ser tão categórico, ou ainda o desejo de suprimir os desejos do filho tão determinante, que o filho, tenha, ou não, determinadas aptidões ou características, está destinado ao fracasso ou à glória, resultado de ditaduras sentenciais que podem apenas corresponder ao desejo materno ou paterno. Veja-se então, um pai ao dizer repetidamente a um filho “o meu filho é igualzinho ao pai, não tem jeito nenhum para isto ou para aquilo”, mesmo que, neste filho, a falta de aptidão não fosse assim tão evidente, a partir do momento de assunção do pai há uma atribuição à criança que pode ser assimilada, impedindo-a de outras explorações e descobertas.
Outro processo de identificação, o mais comum classicamente na psicologia, será o de identificação de modelos (xenomórfica), a criança identifica-se com os modelos; com o pai; com a mãe; com a tia; com o avô, com os professores... Constrói a identidade através dessa identificação: os filhos que querem ser médicos como os pais; ou outro exemplo mais ilustrativo: as crianças que querem jogar futebol como o Cristiano Ronaldo. Quantas e quantas vezes já vimos entrevistas a crianças com estas representações presentes
Por último, o processo de identificação mais importante e consistente é a identificação ideomórfica. A criança identifica-se com o que é, com o que sente e com o que deseja ser, através dos próprios atributos morfológicos e do seu sentir. Esta última identificação acontece mais tarde nas crianças, é preciso passar pelos outros dois níveis de identificação. A criança aqui tem espaço para a criatividade, para a descoberta, para a exploração e parece ser o processo mais completo, que causa maior satisfação.
Pensar a construção de identidade ajuda os pais a facilitarem este último nível, em que a criança deseja ser diferente dos pais, a criança descobre novas respostas e retira satisfação desses encontros. Um papel importante dos pais neste processo será ajudar os filhos a desvendar os seus próprios desejos. Diria ainda, que essa também é uma função importante do psicoterapeuta.
É também importante compreender que estes processos não são estáticos e desenvolvem-se ao longo da vida, sendo por vezes uns mais relevantes do que outros em alguns momentos.

Madalena Motta Veiga 
Psicoterapeuta Psicanalítica Psicóloga Clínica no Departamento de Infância 

terça-feira, novembro 19, 2013

Slow Parenting


No trabalho com crianças e adolescentes surgem, com alguma frequência, problemas relacionados com a ansiedade despertada pela necessidade de perfeição; o “filho perfeito” produto da projecção dos desejos e angústias do adulto; perfeito na escola, nas actividades, nas relações, etc. Estas ocorrências parecem cada vez mais agravadas pela aceleração continua do ritmo de vida, quer do adulto quer, consequentemente, da criança. Com muita regularidade as crianças apresentam-me (queixando-se da falta de tempo para brincar) horários semanais das actividades escolares e extra-escolares, com dias a iniciar às 8 horas e a terminar às 21 horas, com actividades obrigatórias ao sábado e com tempo livre apenas ao domingo que é, como me dizem algumas crianças e pais, obviamente para estudar. Note-se que nas treze horas diárias de actividades escolares e extra-escolares, muitas vezes, os intervalos são para refeições e para deslocações.
Precisamente com a finalidade de alterar hábitos e sensibilizar os adultos para as consequências e para as necessidades das crianças têm surgido movimentos e programas de desaceleração, num estilo bem americano: o “slow parenting”. Muitos dos preceitos destes movimentos apoiam-se num conhecimento há muito sustentado pela psicologia.
É essencial para o desenvolvimento da criança o espaço para o jogo, para brincar, para o ócio, para o silêncio, para a frustração. O jogo ou a brincadeira são assim mediadores de desejo, não apenas para a criança mas também para o adulto (o jogo no adulto assume diferentes formatos, por exemplo, a politica), e como expressão de desejo traz consigo satisfação. A brincadeira está, na criança, relacionada com a inteligência de si mesmo, do mundo que a rodeia e dos outros, ou seja, é através do brincar que a função simbólica desperta, atribui-se sentido às diferentes expressões emocionais e ganha-se experiências de domínio e frustração. A necessidade que a criança tem de brincar ou de jogar parece ser, para os pais, mais fácil compreender do que a importância de momentos de prazer na experiência mais passiva da criança, a angústia que os pais têm do dolce far-niente. Frequentemente oiço pais a censurarem o tempo de desocupação dos filhos, desejam que os filhos não percam tempo e não estejam “prostrados no sofá ou á frente da televisão sem fazer nada”.
No livro “As etapas decisivas da infância” Françoise Dolto alerta-nos para a importância de muitos destes momentos, para a autora alguns adultos parecem temer o que pensam ser o vazio mental do filho, talvez porque, nos seus próprios momentos de ociosidade não encontrem bem-estar. É importante no desenvolvimento que exista espaço para o prazer de ouvir, de olhar, de sentir, de observar, prazeres inteligentes e por vezes meditativos que estimulam a criança para o conhecimento dela e do que a rodeia.
Hoje, o excesso de actividades das crianças associado à falta de períodos de ócio são muitas vezes responsáveis pela ansiedade, pela frustração e pelo entediamento que algumas das crianças sentem.
Se tiverem interesse em conhecer mais sobre o movimento americano slow parenting deixo aqui alguns links.

Madalena Motta Veiga
Psicoterapeuta da Psicronos em Cascais e Lisboa

segunda-feira, novembro 18, 2013

Agressividade normal e patológica

Fui recentemente chamada a falar sobre agressividade numa escola, e de uma forma geral, quando falamos sobre agressividade, é bom termos como ponto de partida que a agressividade existe em todos os seres humanos, é natural e necessária.

Na adolescência a agressividade está muito presente no comportamento e por isso, quando falamos para pais e professores, importa ajudá-los a compreender a agressividade mas também a diferenciar a agressividade saudável da agressividade patológica.

Para pensarmos em agressividade saudável podemos pensar por exemplo na agressividade que está presente numa equipa desportiva. É a agressividade que nos mobiliza para a ação, que está relacionada com a nossa capacidade de nos defendermos, de lutarmos pelos nossos objetivos, de tolerarmos a rivalidade e competitividade. É então possível pensarmos que a agressividade pode estar ao serviço da cooperação, da proteção, da união grupal, etc.

A agressividade pode estar ao serviço de objetivos grupais, interpessoais, mas também é saudável quando contribui para a construção da identidade e diferenciação.
É assim importante a capacidade para criarmos mudanças, ruturas, separações; para afirmarmos a nossa diferença, os nossos limites e as nossas escolhas. Está presente na nossa capacidade de reivindicar, de lutar pelos nossos direitos, pelo nosso bem-estar.

Mas então quando é que falamos de raiva, ódio, sadismo, ciúme, inveja?

Quando falamos destas emoções, estamos também a falar de emoções naturais e existentes em todos os seres humanos. E podem também ser saudáveis, quando estão ao serviço da sobrevivência, da regulação interna e da regulação das relações.
As crianças e os jovens precisam de saber que estas emoções são saudáveis, e que podem ser sentidas e expressas– como o amor, a alegria ou a tristeza – de forma socialmente apropriada. Mesmo a agressividade mais destrutiva deve poder ser sentida, e até certo ponto expressa - não necessariamente agida. 

O que diferencia então a agressividade saudável da agressividade patológica?


A agressividade patológica é destrutiva para o próprio, para o outro e para a relação e é aquela que não contribui para a evolução nem contempla possibilidade de reparação.

A agressividade mais patológica é normalmente caracterizada por uma intensidade desmedida e desajustada à circunstância. A repetição de comportamentos agressivos e a indiferenciação do alvo são também sinais de alerta. Outro aspeto importante é a ausência de culpabilidade e falta de empatia que podem refletir uma frieza relacional. 
A culpabilidade tem um papel fundamental na elaboração da agressividade. A culpabilidade, normalmente associada à empatia e reforçada pelos aspetos morais e sociais exerce um travão nos impulsos mais destrutivos.

Identificar estes aspetos deve essencialmente contribuir para que pais e professores compreendam que a agressividade mais patológica é sempre sinal de sofrimento e este não deve ser negligenciado.

É óbvio que os pais e os professores têm sempre um papel que visa corrigir comportamentos, assim que são fundamentais na necessidade de mostrar os limites morais, sociais e relacionais. Mas não podemos nunca esquecer que um jovem agressivo não precisa só de limites e normalmente não beneficia nada com simples censura ao seu comportamento - precisa de alguém que o ajude a compreender e entrar em contacto com o seu sofrimento e a encontrar mais conforto na sua relação consigo mesmo e com os outros.

Eliana Vilaça
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta