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quarta-feira, novembro 06, 2013

Saúde mental e psicanálise

Perguntaram-me recentemente se para a psicanálise a ideia de cura ou saúde mental está associado ao prazer e satisfação pessoal. Respondi com este excerto de um texto do António Coimbra de Matos, no seu livro: Vária, Existo porque fui amado.

"Desde sempre - e permanece - à psicanálise está ligada a ideia de libertação e liberdade. Libertação das peias da repressão, liberdade de expressão e de assunção do desejo. Liberdade, sobretudo, de pensar. Liberdade também de agir, tendo como limite a liberdade dos outros e a destruição.
Liberdade ainda de sentir: a dor como o prazer, o ódio como o amor."

Penso que a ideia de que a psicanálise defende o bem-estar como realização dos desejos e do princípio do prazer ainda é fruto da herança freudiana integrada no discurso do senso-comum. A saúde mental não depende da realização dos desejos e acesso ao prazer, mas antes da integração de todas as emoções.

Eu diria que o bem-estar pode advir, entre outras coisas, da capacidade de viver prazer sem culpa e dor sem drama.

Mas quero essencialmente reforçar o que me parece implícito neste excerto, embora talvez não suficientemente explícito: é hoje assumido em psicanálise que o bem-estar individual é indissociável da capacidade de estar e viver a relação com “o outro”, digamos os “vários outros” significativos e significantes na vida do próprio.

É na relação, e apenas na relação que se constrói o sentimento de existência e de identidade. É no “outro” e com o “outro” que ganham significado todas as coisas da vida de um ser humano.
A liberdade de que nos fala Coimbra de Matos não deve ser por isso confundida com individualidade, mas liberdade de Ser - em relação.


Eliana Vilaça
Psicoterapeuta psicanalítica na Psicronos