segunda-feira, maio 22, 2006

Esconde-se de dia e espreguiça-se à noite

Este fim-de-semana estive a ver um filme que contava a história de uma adolescente com 17 anos que engravidou sem desejar o bebé. O filme relata de uma forma subtil o crescimento da barriga e a lenta modificação que a futura mãe vai sentindo à medida que o bebé cresce dentro de si.

É um filme triste, mas de uma tristeza doce. O ritmo lento adquire a tranquilidade da actividade que une as duas mulheres (uma jovem e futura mãe que não deseja o filho e uma mulher madura que sofre em silencio o desgosto de ter perdido o filho). São bordadeiras.

A certa altura, a rapariga diz, referindo-se ao bebé que tem 7 meses de gestação: “De dia mete-se para dentro, esconde-se, mal se dá pela barriga. Mas quando estou sozinha põe-se à larga, espreguiça-se, fico com uma barriga enorme. Incrível, não é?”

Sim, verdadeiramente incrivel. É espantoso o comportamento dos fetos. Parece que fazem do desejo da mãe o seu próprio desejo. Ela nao queria que ninguém soubesse da gravidez e ele esconde-se; mas quando sozinhos ele estica-se e mostra-lhe que existe e ela não resiste ao encanto que se gera.

O filme BORDADEIRAS foi realizado por Eléonore Faucher em 2004 e recebeu vários prémios. Saiba mais sobre este filme: Bordadeiras


Mostrar para Esconder

Na grande maioria das vezes não temos consciência de que pautamos a nossa vida pelo lema “Mostrar para Esconder”. No convívio habitualmente partimos do princípio de que aquilo que nós e os outros comunicamos é verdadeiramente aquilo que queremos comunicar, mas na verdade, muitas vezes dizemos coisas e fazemos coisas precisamente para não dar a conhecer determinada outra coisa.

As conversas ou as acções que têm por objectivo esconder os nossos defeitos, vulnerabilidades, falhas, insuficiências, etc., condenam-nos a um caminho de solidão e vazio.

Ao construirmos um discurso e uma imagem, veiculada pelas nossas conversas e atitudes, que pretende esconder aquilo que somos, afastamo-nos de nós próprios e perdemos autenticidade. Os outros deixam de se relacionar connosco para se relacionarem apenas com uma parte de nós, com uma aparência ilusória e cuidadosamente construída de nós mesmos.

Não queremos mentir ou enganar. Queremos apenas esconder aquilo que nos envergonha e embaraça; esconder a dor que sentimos por não sermos aquilo que gostaríamos de ser.

domingo, maio 21, 2006

O Início

Com este post inauguramos o nosso blogue SALPICOS.

Vamos dar-vos ideias às pinguinhas sobre psicologia clínica, psicanálise, psicoterapias diversas e outros assuntos que achemos giros.

Somos um grupo de Psicólogos Clínicos com formações relativamente distintas, mas que em regra praticam a Psicoterapia Psicanalítica. Há entre nós um psicólogo com formação em Psicoterapia Comportamental-Cognitiva que será com toda a certeza uma voz dissonante e complementar.

Somos muitos e trabalhamos todos juntos num projecto de intervenção psicoterapêutica relativamente inovador, a Psicronos.

Com este espaço pretendemos abrir uma via de acesso a todos aqueles que se interessam pela psicologia clínica (que é a nossa paixão comum) e pelas diferentes abordagens psicoterapêuticas, especialmente pela psicanálise e pela psicologia psicodinâmica, já que a esmagadora maioria de nós, nutre um fascínio particular por esta abordagem.

Não queremos ser muito sérios, mas esta disciplina é séria e não há maneira de fugir a isso. Não queremos ser pesados e carrancudos como são muitos psis. Queremos ser estimulantes e controversos

Se verá o que vamos conseguir fazer e ser.