terça-feira, maio 30, 2006
Psicoterapia Psicanalítica
A exposição de Nancy sobre a Psicoterapia Psicanalítica é muito clara e o livro está recheado de conselhos práticos que são de grande ajuda para os psicoterapeutas principiantes e permite aos psicoterapeutas mais batidos ficarem “mais descansados” por nem sempre cumprirem as regras clássicas das boas práticas psicoterapeuticas.
A ilustração clínica com a apresentação, mais ou menos minuciosa, de dois casos; um de uma paciente com uma estrutura de personalidade mais neurótica e um outro de uma paciente com estrutura borderline é agradável e refrescante. Nancy mostra-nos com uma abertura incomum, os seus pontos fracos e os seus “erros” clínicos, reconhecendo sempre que cada caso é um caso e que cada psicoterapeuta é único na relação clínica com os seus pacientes.
Uma nota curiosa é que Nancy se refere muita vez aos pacientes como clientes. Em Portugal a Psicoterapia e a Psicologia Clínica, talvez por ter uma estreita associação com a medicina, sempre denominou os seus ‘utentes’ por pacientes; se por um lado a palavra paciente, remete para ‘pathos’ que significa dor e por aí mesmo revela um sentido fundamental para descrever a “perturbação psíquica”, por outro a palavra cliente descreve muito mais uma relação entre duas pessoas, uma delas que presta um serviço (o psicoterapeuta) e uma outra que solicita e recebe esse serviço (o cliente). A palavra cliente é, na minha opinião, melhor, porque “despsicopatologiza”, isto é, coloca a psicoterapia muito mais ao nível da atribuição e descoberta de sentido do que ao nível da cura.
A Psicoterapia Psicanalítica que Nancy Mcwilliams nos dá a conhecer é profundamente respeitadora da individualidade dos clientes que a procuram e simultaneamente respeitadora das dificuldades e limitações dos psicoterapeutas, que ao fim e ao cabo, são pessoas como as outras.
Os outros livros da Nancy Mcwilliams igualmente editados em português pela Climepsi são também trabalhos a não perder, principalmente o Diagnóstico Psicanalítico. Um destes dias, falarei sobre ele; oferece uma forma bastante original de olhar a psicopatologia, cruzando as estruturas de personalidade com a constelação sintomatológica.
segunda-feira, maio 29, 2006
Estigma
Penso que será uma opinião de consenso dizer que não há qualquer dúvida de que actualmente em Portugal ainda existe um forte estigma associado às consultas de psicologia e, ainda mais intenso, associado às consultas de psiquiatria e de psicoterapia.
sexta-feira, maio 26, 2006
Uma entrevista com Freud – A febre chamada viver
Há uns dias estive a ler uma entrevista que Freud deu, em 1926, ao jornalista americano George Sylvester Viereck. Freud tinha na altura cerca de setenta anos.
“É possível que a morte em si não seja uma necessidade biológica. Talvez morramos porque desejamos morrer. Assim como amor e ódio por uma pessoa habitam em nosso peito ao mesmo tempo, assim também toda a vida conjuga o desejo da própria destruição. Do mesmo modo como um pequeno elástico esticado tende a assumir a forma original, assim também toda a matéria viva, consciente ou inconscientemente, busca readquirir a completa, a absoluta inércia da existência inorgânica. O impulso de vida e o impulso de morte habitam lado a lado dentro de nós. A Morte é a companheira do Amor. Juntos eles regem o mundo. Isto é o que diz o meu livro: Além do Princípio do Prazer. No começo, a psicanálise supôs que o Amor tinha toda a importância. Agora sabemos que a Morte é igualmente importante. Biologicamente, todo ser vivo, não importa quão intensamente a vida queime dentro dele, anseia pelo Nirvana, pela cessação da “febre chamada viver”, anseia pelo seio de Abraão. O desejo pode ser encoberto por digressões. Não obstante, o objectivo derradeiro da vida é a sua própria extinção.”.
quarta-feira, maio 24, 2006
A Revista Psicologia Actual
Foi lançada à relativamente pouco tempo, uma revista de Psicologia para o grande público, ou seja, para um público não especializado. É inédito no nosso país, se bem que seja já vulgar em muitos outros países. É uma psicologia “light”, mas que não perde o rigor científico. Os temas tratados em cada número são vastos e a própria revista está organizada por secções temáticas. Infelizmente o site da revista continua em construção. É de notar que está nesta situação desde o lançamento da revista, e que não são apresentadas previsões quanto a quando ficará pronto. De qualquer forma aqui fica o endereço: www.psicologiaactual.com.
No último número contribuí com um pequeno artigo sobre o envelhecimento. Pretendia chamar a atenção para a necessidade que todos nós, independentemente da nossa idade, temos de “preparar” o nosso envelhecimento. Envelhecer é sempre algo que nos apanha desprevenidos mas, se estivermos atentos, podemos detectar os primeiros sinais e fazer um esforço para nos adaptarmos ao envelhecimento. Notem que digo, adaptarmo-nos ao envelhecimento e não deixarmo-nos esmagar por ele.
Envelhecer é sempre muito complicado por mais que queiramos “colorir o quadro”. Envelhecer está inevitavelmente associado à ideia de perda e perder algo ou alguém (mesmo que seja perdermos a nós próprios, ou uma certa imagem que temos de nós) é um verdadeiro murro no estômago que nos deixa atordoados. Não há forma, por mais fantástico que isso nos pudesse parecer, não há forma de impedir o envelhecimento, o melhor que conseguimos e para isso gastamos milhões, é retardar o envelhecimento.
terça-feira, maio 23, 2006
O Plano Suicidário de um Paciente
Ontem uma colega questionou-me sobre um problema que apesar de bastante antigo é um dos mais delicados na prática da clínica psicológica.
segunda-feira, maio 22, 2006
Esconde-se de dia e espreguiça-se à noite
Este fim-de-semana estive a ver um filme que contava a história de uma adolescente com 17 anos que engravidou sem desejar o bebé. O filme relata de uma forma subtil o crescimento da barriga e a lenta modificação que a futura mãe vai sentindo à medida que o bebé cresce dentro de si.
É um filme triste, mas de uma tristeza doce. O ritmo lento adquire a tranquilidade da actividade que une as duas mulheres (uma jovem e futura mãe que não deseja o filho e uma mulher madura que sofre em silencio o desgosto de ter perdido o filho). São bordadeiras.
A certa altura, a rapariga diz, referindo-se ao bebé que tem 7 meses de gestação: “De dia mete-se para dentro, esconde-se, mal se dá pela barriga. Mas quando estou sozinha põe-se à larga, espreguiça-se, fico com uma barriga enorme. Incrível, não é?”
O filme BORDADEIRAS foi realizado por Eléonore Faucher em 2004 e recebeu vários prémios. Saiba mais sobre este filme: Bordadeiras
Mostrar para Esconder
Na grande maioria das vezes não temos consciência de que pautamos a nossa vida pelo lema “Mostrar para Esconder”. No convívio habitualmente partimos do princípio de que aquilo que nós e os outros comunicamos é verdadeiramente aquilo que queremos comunicar, mas na verdade, muitas vezes dizemos coisas e fazemos coisas precisamente para não dar a conhecer determinada outra coisa.
As conversas ou as acções que têm por objectivo esconder os nossos defeitos, vulnerabilidades, falhas, insuficiências, etc., condenam-nos a um caminho de solidão e vazio.
Ao construirmos um discurso e uma imagem, veiculada pelas nossas conversas e atitudes, que pretende esconder aquilo que somos, afastamo-nos de nós próprios e perdemos autenticidade. Os outros deixam de se relacionar connosco para se relacionarem apenas com uma parte de nós, com uma aparência ilusória e cuidadosamente construída de nós mesmos.
Não queremos mentir ou enganar. Queremos apenas esconder aquilo que nos envergonha e embaraça; esconder a dor que sentimos por não sermos aquilo que gostaríamos de ser.
domingo, maio 21, 2006
O Início
Somos muitos e trabalhamos todos juntos num projecto de intervenção psicoterapêutica relativamente inovador, a Psicronos.
Com este espaço pretendemos abrir uma via de acesso a todos aqueles que se interessam pela psicologia clínica (que é a nossa paixão comum) e pelas diferentes abordagens psicoterapêuticas, especialmente pela psicanálise e pela psicologia psicodinâmica, já que a esmagadora maioria de nós, nutre um fascínio particular por esta abordagem.
Não queremos ser muito sérios, mas esta disciplina é séria e não há maneira de fugir a isso. Não queremos ser pesados e carrancudos como são muitos psis. Queremos ser estimulantes e controversos