sábado, novembro 30, 2013

Ice Man

Sugestão de Leitura





Este livro biográfico relata a história de um homem com uma personalidade estranha e peculiar, típica dos psicopatas.

Richard Kuklinsky vivia no dilema entre ser um bom chefe de família e um assassino profissional. O seu negócio era o negócio dos homicídios. No submundo do crime, era considerado uma superestrela dos homicídios. Porém, era escrupulosamente cuidadoso em ocultar da sua família – da mulher, Barbara e dos três filhos, o que fazia.

Richard foi o assassino mais contratado pela Máfia, o que prova a sua mestria em matar sem deixar rasto.  

Este livro é resultante de mais de 240 horas de entrevistas feitas a Richard Kuklinsky na Prisão Estatal de Trenton, quando se encontrava no corredor da morte, acusado de ter morto mais de 200 pessoas.

Elsa Madeira
Psicoterapeuta Psicanalítica na Psicronos 

sexta-feira, novembro 29, 2013

A cigarra e a formiga: Procrastinação e EMDR




Na moral principal desta estória conhecida de todos nós sobressai o valor do trabalho e do não adiar das prioridades (do trabalho) e a recompensa que daí resulta. A cigarra é moralmente linchada por dar prioridade ao prazer e ocupar o seu tempo com os seus prazeres, e deixar para segundo plano o trabalho, que pretensamente não dá prazer. 
A estória traça uma divisão entre trabalho - mais ou menos mecanicista, diria, e sobretudo que não oferece prazer, embora não saibamos até que ponto a formiga goza com esta sua atividade, ou se só acasala com a dispensa cheia - e prazer - que parece, na fábula em questão, equivaler a uma atividade venal que não dá trabalho, nem será suficientemente digna para ser ela própria uma ocupação de direito próprio, que permita a realização da cigarra e que possa ser útil a outros e à sociedade. A cigarra que descurou a dispensa, é humilhada e vira, diria, “sem abrigo” com a barriga vazia - embora se assim fosse já teria a espécie sido extinta e nós viveríamos ameaçados pela crescente super-espécie das formigas. Ainda bem que há outras espécies, outros naipes e tonalidades de cinzento, porque afinal de contas todos temos um pouco de cigarra e de formiga. Uns de nós (pre)ocupam-se mais com o passado, e outros (mais formigas) com o futuro, enquanto uns outros (neste aspeto mais cigarras) vivem sobretudo o presente. Mas, honra lhe seja feita, o Esopo, a quem a fábula é atribuída, foi um pertinente observador  da natureza e criador desta espécie de ‘arquétipo’.



Mas afinal de que vos quero falar é de procrastinação - tal como a cigarra procrastina a sua tarefa de recolha e armazenagem do comida para o inverno, para andar durante o verão toda airosa e contente a cantarolar. E tal como a procrastinação, ainda uma situação problemática muito descurada e incompreendida, a cigarra tem má fama.

Comecei a interessar-me particularmente por esta questão há duas décadas quando comecei a perceber que este ‘comportamento’ é um dos principais obstáculos à gestão do tempo, à organização, e logo,  à eficácia pessoal.  Primeiro, comecei a ter sobre esta situação, por assim dizer, um olhar comportamental ou cognitivo-comportamental, em que a procrastinação é só a procrastinação, ou seja o adiar sucessivo, ou sistemático, de uma ou mais tarefas no tempo. Vi que muitas pessoas têm este comportamento e de como ele é prejudicial para a realização dos seus objetivos. Observei que muitas pessoas sofrem com o comportamento de adiar fazer coisas que contribuem para atingir os seus objetivos  manifestos, realizando outras que as boicotam - apesar de poderem oferecer recompensas de curto prazo-, caindo tantas vezes numa espiral de maior e maior frustração e perda de auto-estima. Nessa altura estava mais focada em transmitir informação e partilhar soluções para lidar com este problema, sobretudo à superfície, mas mesmo assim com eficácia. 
Ao longo do tempo, fui reparando nas muitas facetas da procrastinação e de como ela é uma ( comportamento de adiar coisas mais ou menos importantes ou essenciais) e outras coisas (presentes mais ou menos inconscientemente na nossa mente e agindo sobre o nosso comportamento tornando-o paradoxal, falhante, ou pura e simplesmente, idiota), Vi muitos estudantes, de variados graus de ensino, sofrerem desta maleita, muitos profissionais, muitos artistas e criativos temerem o boicote dos seus ambiciosos empreendimentos e o medo de congelarem antes da meta alcançada. Daí, o debater-me com esta ‘questão’ e tentar entendê-la melhor, e aprofundá-la, para melhor poder apoiar quem dela padece.

Em que consiste e porque acontece?
A procrastinação pode ser encarada como uma defesa psicológica comum para evitar lidar com algumas tarefas, pessoas ou situações. De resto, procrastinar (do lat. procrastinare) é o drama do adiar sistemático, que uma maioria das pessoas já experimentou num momento ou noutro. 
Numa maioria dos casos, não chega a ser um problema aflitivo, sobretudo quando não se trata de tarefas essenciais à vida e ao trabalho, como é o caso de finalmente arrumar os livros por ordem alfabética na biblioteca ou de pôr ordem no roupeiro. Ou a de entregar a declaração das finanças fora do prazo, sujeitando-se à multa. Ou a de, esporadicamente, fazer uma pausa para descansar um bocado, ”esquecendo-se” de retomar a tarefa, ou de ser auto-indulgente: “Vou só ver este filme ou esta série antes de começar a estudar”, ou “em vez de estar aqui a consumir-me sem conseguir ser produtivo, afinal poderia ir ter com os meus amigos àquela festa”,  ou “estou cheia de fome, e se fizesse aqueles biscoitos tão bons para me animar?”.
Quando o problema é agudo e se centra sobre tarefas cruciais, a situação atinge uma intensidade que a pessoa não só sofre e se atormenta, como é penalizada pela sua incapacidade de fazer e avançar. Quando se torna crónico, mais uma vez sobre afazeres essenciais ou muito importantes, ruma para a paralisia e um elevado grau de disfuncionalidade. O auto-engano e o ataque a si-próprio(a) instalam-se ‘de armas e bagagens’, e a mudança não é fácil.

A procrastinação relaciona-se com a nossa tendência de evitamento do desagradável e do penoso para privilegiar o agradável e o distrativo, com a fuga ao pensamento e à ação focadas naquilo que importa, e a atração por aquilo que importa menos, e nos anestesia daquilo que deveríamos estar a fazer. De certo modo entendo a procrastinação como uma resistência à tirania do super-ego, e uma fuga para o id, para usar uma terminologia psicanalítica, num movimento que fomenta a sabotagem do eu, o ataque sádico à idealização, e que acarreta componentes masoquistas. A pessoa, sem se dar quase conta, conta demais com a sua capacidade no futuro de lidar com aquilo que não está a fazer agora e que deixa acumular, sobrestimando os seus poderes. E a questão é se não o conseguimos fazer agora, como é que o vamos fazer no futuro?

Seja por querermos evitar a frustração e obter uma gratificação imediata , seja por temermos ou ter até pavor de alguma coisa, seja por não haver consequências negativas de imediato ou por sobre-avaliarmos, e até desejarmos pôr à prova a tal nossa capacidade de lidar com a situação (e a sua majoração/o seu acumulado) no futuro, o movimento escolhido é o desvio ou a fuga para ‘outra coisa’, gerando a situação de procrastinação. E a procrastinação pode ser um evitamento concreto de alguma coisa, ou antes  um sinal de problemas de maior complexidade como depressão e ansiedade.

Quais as respostas para a ultrapassar?
Quando a problemática e a sua intensidade são ligeiras, há soluções relativamente simples de implementar pela pessoa, com ou sem ajuda de um profissional (um psicólogo ou um coach, por exemplo).
Quando o grau de sofrimento e as perdas são assinaláveis é importante a pessoa compreender a sua necessidade de uma ajuda profissional, clínica ou psicoterapêutica.
Experimente perguntar-se, ou imaginar, como será a sua vida daqui a 5 ou 10, 20 anos caso continue a procrastinar, ou antes se conseguir deixar de o fazer. E decida.

Que abordagens terapêuticas ao problema?
Tal como há diversos caminhos para chegar a Roma, também existem variadas abordagens psicoterapêuticas que nos podem levar a bom porto, compreendidas que sejam as razões desse problema e bem ajustadas as respostas terapêuticas escolhidas à anamnese e ao diagnóstico inicial. 
Tanto uma abordagem cognitiva, mais circunscrita e focada nas soluções, ou uma abordagem dinâmica ou psicanalítica, com um enfoque sobretudo na compreensão mais aprofundada do problema, as dinâmicas da personalidade e na mudança desta, poderão produzir bons resultados. Tal como,  a hipnose clínica e o EMDR (Eye Movement Dessensibilization Reprocessing, também conhecida por estimulação bi-lateral), de que falarei de seguida.

O EMDR e a procrastinação
O EMDR é uma abordagem terapêutica que assenta na estimulação bilateral, informada pela investigação de como é que o cérebro processa a informação e gera consciência, e num processo de oito fases.  Esta abordagem de caráter integrativo articula elementos “tanto das teorias psicológicas (ex: afeto, vinculação, comportamental, processamento de bio-informação, cognitiva,sistémica familiar, humanística, psicodinâmica e somática) e das psicoterapias (ex: baseadas no corpo, cognitivo-comportamental, interpessoal, centrada na personalidade e psicodinâmica) num conjunto estandartizado de procedimentos e protocolos clínicos” (Luber, M. , 2009).
Existe um protocolo específico para a procrastinação, e o seu uso com pacientes que procuram especificamente lidar com esta situação e ultrapassar os impasses e bloqueios gerados por este comportamento, tem mostrado resultados muitos positivos e animadores, que favorecem a adaptação da pessoa aos seus objetivos e atividades, e a concentração naquilo que é importante para ela, com atenuação clara dos níveis de perturbação e de ansiedade gerados anteriormente pela vivência do problema. Sendo uma abordagem de curta-média duração é particularmente indicada para pessoas que queiram tratar especificamente desta problemática e de retomar o controlo das sua vida e dos prazos.


Voltando ao Esopo e a esta sua fábula se calhar a cigarra e a formiga precisavam de ir as duas fazer uma terapia de 'casal', escutar-se, compreender-se e aprender uma com a outra.
Enfim, nem só cigarra, nem só formiga, vale a pena sentir que somos capazes de nos sentirmos bem com a vida que levamos, com as opções que tomamos, de nos aceitarmos e de conseguirmos avançar com os recursos de que dispomos, com liberdade e sem excessiva autocrítica, para onde desejamos.
Permitindo-nos, preferencialmente com alguma harmonia, conciliar objetivos, socialização, afetos, interesses e prazeres pessoais.

Isabel Botelho

Psicóloga, Executive Coach
Psicoterapeuta Psicanalítica e EMDR
PSICRONOS

Falhas na intervenção terapêutica dos adolescentes agressores

Este estudo aponta para uma elevada incidência de psicopatologia nos adolescentes agressores.

Não são apenas as vítimas que necessitam de ajuda, os agressores também até porque o comportamento desviante, delinquente e/ou criminoso é muitas vezes o resultado de um forte sofrimento emocional.

Falha a intervenção terapêutica, mas na minha opininião falha sobretudo a prevenção, que sairia muito mais barata ao Estado, para além de evitar danos físicos, morais e psicológicos e todo o sofrimento das vítimas e dos agressores.

AQUI fica a notícia

Alexandra Barros
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Diretora do Departamento da Infância

http://www.psicronos.pt/consultas/psicologia-e-psicoterapia-infantil_5.html

quinta-feira, novembro 28, 2013

O "efeito de desinibição" - Atendimento Online (II)


Na semana passada caracterizámos brevemente o efeito de desinibição no mundo virtual da internet e meios de comunicação à distância. Neste semana o objetivo é percebermos melhor as razões deste fenómeno.

Como a imagem sugere, um dos fatores que potencia o efeito de desinibição é a perceção de (falta ou pouca) exposição que a pessoa tem. As redes sociais, chats ou comentários a blogs ou notícias são alguns exemplos mais comuns em que o participante tem um controlo elevado da forma como se expõe e do que expõe de si: pode mostrar uma foto de identificação (com toda a criatividade que a escolha do tipo de foto envolve), pode mostrar o seu nome real ou imaginário, pode querer comunicar por voz e/ou vídeo, pode revelar fatos íntimos ou comunicar o menos possível, pode investir, representando, uma persona (uma parte de si ou alguém externo), pode entrar e sair em apenas um click.

Ou seja, fatores que permitem um controlo sobre a invisibilidade e anonimato tendem a facilitar uma maior sensação de segurança e controlo da relação. O efeito de desinibição surge assim em complementaridade com a possibilidade de controlar e compensar sentimentos de vulnerabilidade decorrentes de uma maior exposição.  Pode por isso facilitar, por exemplo, expressões livres de agressividade por não haver, muitas vezes, uma identificação associada, passível de ser responsabilizada. 

Este efeito pode também ser aproveitado em terapia online em pessoas que tenham uma fobia social intensa. Nestes casos, o fato de ser visto e o grande medo de poder ser criticado ou rejeitado, leva a que estas pessoas (com uma história de relações pouco apoiantes) se sintam mais seguras em começar uma relação terapeutica através de um mediador comunicacional que lhes permita dosear a exposição. Poderá começar por mail ou chat, evoluir para o telefone, podendo continuar com a video-conferência e, se houver possibilidade e fizer sentido, desembocar numa relação psicoterapêutica in vivo.


terça-feira, novembro 26, 2013

Os Portugueses, o Sexo e o Desporto


"OS PORTUGUESES, O SEXO E O DESPORTO"


A prática de desporto em geral, e das corridas em particular, tem tirado cada vez mais preguiçosos do sedentarismo. Não falta informação disponível sobre os benefícios que o exercício físico regular traz para a saúde, porém, parece haver um certo constrangimento em falar sobre os benefícios para a vida sexual.

Embora pouco divulgados, são variadíssimos os estudos que comprovam as vantagens da prática de desporto na prevenção de dificuldades sexuais. Dos resultados verifica-se que nos homens melhora o desempenho sexual e nas mulheres ajuda o fluxo sanguíneo no clítoris, promovendo a sua capacidade de excitação.

Vejamos o exemplo da Disfunção Eréctil que pode ter causa psicológica e/ou orgânica. Em termos psicológicos é indiscutível que uma pessoa que se sinta bem consigo própria, e com o seu corpo, tem a sua auto-estima e disponibilidade sexual muito menos afectada que o oposto. Quanto à parte fisiológica, a causa mais comum é o mau funcionamento vascular, por exemplo devido a doença coronária. A prática de desporto activa o fluxo de sangue, nos vasos sanguíneos, e induz a produção de hormonas como a beta-endorfina e a dopamina, responsáveis pela sensação de bem-estar e relaxamento. A corrida ajuda ainda na prevenção de doenças como a diabetes e a hipertensão arterial, que, normalmente, apresentam um quadro deficitário em óxido nítrico, neurotransmissor que induz o relaxamento da musculatura lisa dos corpos cavernosos no pénis responsáveis pela produção da ereção.

Se vivemos numa época em que temos, cada vez mais, portugueses a participar em diversas “maratonas”, imaginem qual seria a adesão se esta informação fosse mais divulgada!




segunda-feira, novembro 25, 2013

Da Psicologia Convencional á Psicologia Integrativa: Os desafios da inovação.

"A Psicologia e as intervenções psicológicas representam um pilar importante no tratamento do sofrimento humano. Ao longo dos anos, muitos foram os modelos de intervenção desenvolvidos. Com a globalização e os novos conhecimentos científicos do séc. XXI nas áreas das neuro-ciências, da medicina e da antropologia, surgiram novas modalidades que têm estado, lentamente, a revolucionar a Psicologia.

Com a realização deste Seminário, o Núcleo de Psicologia da Associação Oncológica Do Algarve pretende, assim, dar a conhecer algumas destas perspectivas e abordagens terapêuticas, que se constituem como complementares aos modelos clássicos da Psicologia.

Pretende-se, assim, criar um espaço de partilha e debate construtivo sobre os desafios e oportunidades que a integração de novas modalidades terapêuticas pode trazer a psicólogos e utentes".

PÚBLICO ALVO: psicólogos, estudantes, público em geral

INSCRIÇÃO: 5€ que revertem integralmente para a Associação Oncológica do Algarve. Inscrição prévia através de dba.dc@cm-faro.pt

LOCAL: Biblioteca Municipal de Faro António Ramos Rosa


A página de internet do seminário é https://www.facebook.com/events/682858541734115/# 


Apostar na esperanca: Jose Pio de Abreu at TEDxCoimbra


Um pensador português que vale a pena seguir.

sexta-feira, novembro 22, 2013

EMDR NA INFÂNCIA: VOLTAR A PÔR AS COISAS NO LUGAR

«A Dessensibilização e o Reprocessamento pelo Movimento Ocular é um método psicoterapêutico eficaz na resolução de dificuldades emocionais causadas por experiências perturbadoras, difíceis ou assustadoras. Quando as crianças estão traumatizadas, têm experiências perturbadoras ou fracassos repetidos perdem o sentimento de controlo sobre as suas vidas. Tal pode resultar em sintomas de ansiedade, depressão, irritabilidade, raiva, culpa e/ou problemas comportamentais. Sabemos que eventos como acidentes, abusos, violência, morte e desastres naturais são traumáticos, mas nem sempre reconhecemos de que forma afetam a vida quotidiana das crianças. Mesmo os eventos perturbadores mais comuns como o divórcio, os problemas na escola, as dificuldades com os pares, os insucessos, e os problemas familiares podem afetar profundamente o sentimento de segurança, a auto-estima e o desenvolvimento da criança.

Por vezes, quando acontece uma experiência perturbadora, assustadora ou dolorosa, a memória fica “bloqueada” ou “congelada” na mente e no corpo. A experiência pode voltar de modo angustiante e intrusivo. A criança pode reagir através do evitamento de tudo o que esteja associado à experiência perturbadora. Por exemplo, quando uma criança experimenta um grave acidente de bicicleta, pode haver pesadelos repetidos, medo de tentar novas coisas e evitamento de tudo que estiver relacionado com bicicletas.

A maioria dos especialistas acredita que a melhor forma de desbloquear e libertar-se dos sintomas é através da exposição à experiência traumática. Isto significa enfrentar as memórias ou os eventos problemáticos até deixarem de ser perturbadores.

O EMDR utiliza uma estimulação dual (bilateral) da atenção, que significa o varrimento alternado esquerda-direita, que pode ser pelo movimento dos olhos, sons ou música em cada ouvido, ou estimulação táctil, como batidas leves alternadas nas mãos. Têm sido desenvolvidas alternativas criativas para as crianças, que incorporam a estimulação dual da atenção através de fantoches, histórias, dança, arte, e até natação.
O EMDR ajuda a resolver os pensamentos e sentimentos problemáticos associados às memórias, de modo a que as crianças possam voltar às tarefas normais do desenvolvimento e aos níveis anteriores de funcionamento. Para além disso, o EMDR ajuda a fortalecer os sentimentos de confiança, calma e mestria.

Como é uma sessão de EMDR?

O EMDR é parte de uma abordagem terapêutica integrada, sendo frequentemente usada em conjunto com outras práticas como a ludoterapia, a terapia pela palavra, a terapia comportamental e a terapia familiar. O EMDR será explicado e usado com o consentimento da família e da criança.

Uma sessão típica de tratamento EMDR começa de uma forma positiva, levando a criança a usar a sua imaginação para fortalecer o seu sentimento de confiança e bem-estar. Por exemplo, pode pedir-se à criança que imagine um lugar seguro ou protegido, onde se sente relaxada, ou que se lembre de uma situação em que se sentiu forte e confiante. Estas imagens, os pensamentos e os sentimentos positivos são depois combinados com movimentos oculares ou outras formas de estimulação dual (bilateral) da atenção. Estas experiências iniciais com o EMDR oferecem à criança o aumento de sentimentos positivos e ajudam-na a saber o que esperar.

Em seguida, pede-se à criança que aborde uma memória perturbadora ou um evento relacionado com o problema apresentado. A estimulação dual da atenção é novamente usada enquanto a criança se foca na experiência perturbadora. Quando uma memória perturbadora é “dessensibilizada”, a criança consegue enfrentar eventos do passado sem se sentir perturbada, assustada ou evitante. “Reprocessamento” significa apenas que uma nova compreensão, outras sensações e novos sentimentos podem ser associados aos anteriores pensamentos, sentimentos e imagens perturbadores. As memórias problemáticas podem ser mais confortavelmente evocadas como “simplesmente algo que aconteceu”, e as crianças mais facilmente acreditam que “Acabou”, “Agora estou seguro”, “Fiz o melhor que pude, não é culpa minha”, “Tenho outras opções agora”.

O EMDR pode ajudar o meu filho?

O EMDR pode ser usado tanto com crianças pequenas, como mais velhas, e adolescentes. Estudos de caso indicam que o EMDR tem sido usado com sucesso em crianças pré-verbais, bem como com adolescentes que não querem falar sobre os assuntos perturbadores. Como em qualquer outra intervenção, quanto mais nova ou quanto mais evitante for a criança, maior o desafio na procura de formas de a envolver e de focar a sua atenção no problema. É benéfico que os pais e os profissionais expliquem que o EMDR é uma forma de ultrapassar os pensamentos, sentimentos e comportamentos inquietantes. O EMDR tem sido usado para ajudar crianças a lidar com eventos traumáticos, depressão, ansiedade, fobias e outros problemas comportamentais.

O processo EMDR é diferente com cada criança, porque a cura é guiada a partir de dentro. Algumas crianças descrevem que o EMDR é relaxante e têm uma resposta positiva imediata. Outras crianças podem sentir-se cansadas no final da sessão, e os benefícios serem observados nos dias que se seguem. Uma menina de 10 anos esteve engessada durante um ano e estava preocupada com lesões, doenças e morte devido a um acidente traumático. Depois do EMDR começou a chorar lágrimas de alegria e disse “Estou tão feliz, acabou mesmo e eu sou forte”. Um rapaz de 5 anos com problemas de comportamento, cujo terapeuta trabalhava com outras técnicas, e experimentou EMDR disse “Porque é que não fizeste isto comigo antes?”. Outro rapaz de 8 anos que mantinha pesadelos disse “Eles simplesmente saltaram da minha cabeça, os monstros desapareceram”. Outras crianças dizem muito pouco, mas o seu comportamento muda e os pais dizem “As coisas estão a voltar ao lugar”.»

Esta publicação é uma tradução parcial e informal da brochura informativa da autoria da EMDR International Association (EMDR &Children- Guide for Parents, Professionals, and Others Who Care About Children)

Alexandra Barros
Psicóloga e Psicoterapeuta (Delegação de Lisboa)
Diretora do Departamento de Infância
alexandra.barros@psicronos.pt 

A Psicronos tem psicoterapeutas formados em EMDR na Infância (Delegaçoes de Lisboa e Faro/Portimão)

quinta-feira, novembro 21, 2013

Diz-me se és amada(o) dir-te-ei como te sentes O suporte social e o ajustamento psicológico.

Diz-me se és amada(o) dir-te-ei como te sentes
O suporte social e o ajustamento psicológico
E assim, no teu olhar admirado
Vi-me vir a existir.
        Arno Gruen, 1995


O suporte social que sentimos depende da disponibilidade de pessoas em quem podemos confiar, que mostram que se preocupam connosco, que nos valorizam e que gostam de nós. São as pessoas que nos fazem sentir que somos amados, estimados e que temos valor. Mas não basta que essas pessoas existam, para o que o suporte social “funcione” é preciso que o reconheçamos enquanto tal e que nos sintamos satisfeitos com o apoio que nos prestam.
Esta pode ser uma questão particularmente importante: será que olhamos com atenção para o que os outros nos oferecem? Mais importante é questionarmo-nos sobre isto sabendo nós que quando estamos mais tristes ou frágeis e necessitados desse apoio podemos olhar através de lentes que distorcem a realidade e que nos dizem o que não precisamos de ouvir dentro de nós nesse momento: que não nos dão valor ou que não somos suficientemente importantes.  
 Os estudos dizem-nos que quando percebemos ou acreditamos que temos este suporte, a possibilidade de nos tornarmos resilientes, de nos adaptarmos em situações difíceis e/ou sentirmo-nos mais satisfeitos é maior.
Cabe-nos a nós reavaliar o nosso olhar do que temos e de quem temos.  



Por Mélanie Dinis, Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta na Psicronos
Contacte o Departamento de Terapia Cognitiva: (Delegação de Leiria)
21 314 53 09 | 91 831 02 08geral@psicronos.pt 

quarta-feira, novembro 20, 2013

O "efeito de desinibição" - Atendimento Online (I)


O mundo do cyber-espaço é uma espécie de "novo mundo".
Atualmente praticamente tudo pode ser encontrado e cada vez mais coisas podem ser feitas neste outro mundo (ex., jogar, conviver, comercializar, conhecer, viajar...).

É um mundo onde o "navegador" e o meio navegado se encontram de uma forma peculiar, meio "real", meio "virtual". As pessoas tendem muitas vezes a dizer ou fazer coisas que não fariam se estivem "cá fora" no "mundo real", e não apenas "isoladas" face a um computador. É chamado o "efeito de desinibição". As pessoas tendem mais facilmente a expressarem os seus sentimentos, auto-revelarem-se, contarem segredos, desejos ou admitirem medos. Também podem dar mais facilmente livre curso à exploração de fantasias e desejos mais íntimos e/ou crus.

Suler (2004) distingue, pois, dois tipos de efeitos de desinibição:

- O "efeito de desinibição benigno"
   O que muitas vezes surge e é aproveitado no contexto de um acompanhamento psicológico online    
   (telefone, chat, mail, Skype...) em que as pessoas se sentem mais livres e espontâneas para dizer o que  
   sentem e pensam. Também podem tender a expressar atos de generosidade e de partilha íntima que não
   teriam noutro contexto de maior exposição.

- O "efeito de desinibição tóxico"
   Este efeito refere-se a uma desinibição menos benigna por ser, ou descontrolada ou clivada da
   personalidade de uma maneira disruptiva. Exemplos são catarses puras em que as pessoas podem dar
   livre curso à sua agressividade e ofender e desrespeitar o outros de várias maneiras. Outro exemplo muito
   comum é a descarga clivada de desejos e fantasias com a ajuda da vasta indústria pornográfica da
   internet. Muitas vezes estas experiências tornam-se apenas descargas brutas de energia e gratificação
   imediatas com efeitos negativos (sentimentos de vazio, falta de sentido, solidão...) para quem se deixa
   enredar por estas experiências.

O efeito de desinibição é, deste modo, um efeito de dois gumes. Para além de que a potenciação do efeito no atendimento psicológico à distância, por exemplo, depender de pessoa para pessoa e de situação para situação. De fato, poderá ser desinibidor, para uma dada pessoa, em certas circunstâncias enquanto noutras ser precisamente o oposto (mais inibitório, para essa mesma pessoa). Como dito, este efeito também varia de pessoa: nem toda a gente encara uma relação terapêutica mediada por um canal comunicacional tecnológico como desinibidor. Há pessoas cuja distância física evoca uma sensação de formalidade, falta de contato e de proximidade emocional. Para estas o atendimento à distância será sobretudo uma forma alternativa ao atendimento convencional quando este não é conveniente.


terça-feira, novembro 19, 2013

Slow Parenting


No trabalho com crianças e adolescentes surgem, com alguma frequência, problemas relacionados com a ansiedade despertada pela necessidade de perfeição; o “filho perfeito” produto da projecção dos desejos e angústias do adulto; perfeito na escola, nas actividades, nas relações, etc. Estas ocorrências parecem cada vez mais agravadas pela aceleração continua do ritmo de vida, quer do adulto quer, consequentemente, da criança. Com muita regularidade as crianças apresentam-me (queixando-se da falta de tempo para brincar) horários semanais das actividades escolares e extra-escolares, com dias a iniciar às 8 horas e a terminar às 21 horas, com actividades obrigatórias ao sábado e com tempo livre apenas ao domingo que é, como me dizem algumas crianças e pais, obviamente para estudar. Note-se que nas treze horas diárias de actividades escolares e extra-escolares, muitas vezes, os intervalos são para refeições e para deslocações.
Precisamente com a finalidade de alterar hábitos e sensibilizar os adultos para as consequências e para as necessidades das crianças têm surgido movimentos e programas de desaceleração, num estilo bem americano: o “slow parenting”. Muitos dos preceitos destes movimentos apoiam-se num conhecimento há muito sustentado pela psicologia.
É essencial para o desenvolvimento da criança o espaço para o jogo, para brincar, para o ócio, para o silêncio, para a frustração. O jogo ou a brincadeira são assim mediadores de desejo, não apenas para a criança mas também para o adulto (o jogo no adulto assume diferentes formatos, por exemplo, a politica), e como expressão de desejo traz consigo satisfação. A brincadeira está, na criança, relacionada com a inteligência de si mesmo, do mundo que a rodeia e dos outros, ou seja, é através do brincar que a função simbólica desperta, atribui-se sentido às diferentes expressões emocionais e ganha-se experiências de domínio e frustração. A necessidade que a criança tem de brincar ou de jogar parece ser, para os pais, mais fácil compreender do que a importância de momentos de prazer na experiência mais passiva da criança, a angústia que os pais têm do dolce far-niente. Frequentemente oiço pais a censurarem o tempo de desocupação dos filhos, desejam que os filhos não percam tempo e não estejam “prostrados no sofá ou á frente da televisão sem fazer nada”.
No livro “As etapas decisivas da infância” Françoise Dolto alerta-nos para a importância de muitos destes momentos, para a autora alguns adultos parecem temer o que pensam ser o vazio mental do filho, talvez porque, nos seus próprios momentos de ociosidade não encontrem bem-estar. É importante no desenvolvimento que exista espaço para o prazer de ouvir, de olhar, de sentir, de observar, prazeres inteligentes e por vezes meditativos que estimulam a criança para o conhecimento dela e do que a rodeia.
Hoje, o excesso de actividades das crianças associado à falta de períodos de ócio são muitas vezes responsáveis pela ansiedade, pela frustração e pelo entediamento que algumas das crianças sentem.
Se tiverem interesse em conhecer mais sobre o movimento americano slow parenting deixo aqui alguns links.

Madalena Motta Veiga
Psicoterapeuta da Psicronos em Cascais e Lisboa

segunda-feira, novembro 18, 2013

Agressividade normal e patológica

Fui recentemente chamada a falar sobre agressividade numa escola, e de uma forma geral, quando falamos sobre agressividade, é bom termos como ponto de partida que a agressividade existe em todos os seres humanos, é natural e necessária.

Na adolescência a agressividade está muito presente no comportamento e por isso, quando falamos para pais e professores, importa ajudá-los a compreender a agressividade mas também a diferenciar a agressividade saudável da agressividade patológica.

Para pensarmos em agressividade saudável podemos pensar por exemplo na agressividade que está presente numa equipa desportiva. É a agressividade que nos mobiliza para a ação, que está relacionada com a nossa capacidade de nos defendermos, de lutarmos pelos nossos objetivos, de tolerarmos a rivalidade e competitividade. É então possível pensarmos que a agressividade pode estar ao serviço da cooperação, da proteção, da união grupal, etc.

A agressividade pode estar ao serviço de objetivos grupais, interpessoais, mas também é saudável quando contribui para a construção da identidade e diferenciação.
É assim importante a capacidade para criarmos mudanças, ruturas, separações; para afirmarmos a nossa diferença, os nossos limites e as nossas escolhas. Está presente na nossa capacidade de reivindicar, de lutar pelos nossos direitos, pelo nosso bem-estar.

Mas então quando é que falamos de raiva, ódio, sadismo, ciúme, inveja?

Quando falamos destas emoções, estamos também a falar de emoções naturais e existentes em todos os seres humanos. E podem também ser saudáveis, quando estão ao serviço da sobrevivência, da regulação interna e da regulação das relações.
As crianças e os jovens precisam de saber que estas emoções são saudáveis, e que podem ser sentidas e expressas– como o amor, a alegria ou a tristeza – de forma socialmente apropriada. Mesmo a agressividade mais destrutiva deve poder ser sentida, e até certo ponto expressa - não necessariamente agida. 

O que diferencia então a agressividade saudável da agressividade patológica?


A agressividade patológica é destrutiva para o próprio, para o outro e para a relação e é aquela que não contribui para a evolução nem contempla possibilidade de reparação.

A agressividade mais patológica é normalmente caracterizada por uma intensidade desmedida e desajustada à circunstância. A repetição de comportamentos agressivos e a indiferenciação do alvo são também sinais de alerta. Outro aspeto importante é a ausência de culpabilidade e falta de empatia que podem refletir uma frieza relacional. 
A culpabilidade tem um papel fundamental na elaboração da agressividade. A culpabilidade, normalmente associada à empatia e reforçada pelos aspetos morais e sociais exerce um travão nos impulsos mais destrutivos.

Identificar estes aspetos deve essencialmente contribuir para que pais e professores compreendam que a agressividade mais patológica é sempre sinal de sofrimento e este não deve ser negligenciado.

É óbvio que os pais e os professores têm sempre um papel que visa corrigir comportamentos, assim que são fundamentais na necessidade de mostrar os limites morais, sociais e relacionais. Mas não podemos nunca esquecer que um jovem agressivo não precisa só de limites e normalmente não beneficia nada com simples censura ao seu comportamento - precisa de alguém que o ajude a compreender e entrar em contacto com o seu sofrimento e a encontrar mais conforto na sua relação consigo mesmo e com os outros.

Eliana Vilaça
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta 

sábado, novembro 16, 2013

As árvores dos sonhos

Entre o sonho e a realidade, ou melhor, entre duas visões da realidade, as fotografias de Daniel Barreto, um jovem que vive e estuda em Boston. Vale a pena vê-las aqui.

 

sexta-feira, novembro 15, 2013

EMDR e Psicanálise





A Estimulação bilateral é a ferramenta determinante na terapia EMDR. Após ter descoberto os efeitos da Estimulação bilateral, Francine Shapiro, desenvolveu o enquadramento da sua aplicação e estruturou-a predominantemente no quadro de referência da psicologia cognitiva.

O EMDR enquanto psicoterapia estruturada é, apesar de conter alguma rigidez, suscetível de ser compatibilizada com outras abordagens. Na esmagadora maioria das situações os terapeutas utilizam a abordagem EMDR conjugada com outras abordagens. 

Na PSICRONOS estamos interessados e empenhados em desenvolver uma abordagem que tenha por base a teoria psicanalítica, as suas premissas base, os seus pressupostos e métodos dominantes de trabalho e simultaneamente utilize os enormes benefícios da estimulação bilateral. A esta abordagem foi dado o nome Psicoterapia Psicanalítica Apoiada em Estimulação Bilateral. O nosso trabalho sobre esta abordagem está ainda no início, temos, ainda, um longo caminho pela frente. A ideia nuclear é a de que a Estimulação Bilateral promove, a partir de um mecanismo neurofisiológico desconhecido, a metabolização da experiência emocional promovendo a associação livre e seu o reprocessamento e progressiva reintegração pela reconstrução dos vínculos associativos conscientes e inconscientes. As ferramentas da intervenção em Psicoterapia Psicanalítica como a clarificação, a confrontação, a observação, a anotação da experiência, a interpretação e análise do funcionamento mental e da transferência são utilizadas de acordo com a Psicoterapia Psicanalítica, mas utiliza-se, simultaneamente, a Estimulação Bilateral para promover  a potenciação, transformação e assimilação dos insgths.  

Na minha experiência clínica pessoal tenho observado benefícios muito significativos com a utilização deste método. 

quinta-feira, novembro 14, 2013

Serão os homofóbicos homossexuais?





Pequeno trecho do documentário

Middle Sexes Redefining He and She

Neste pequeno vídeo podemos ver um lado menos conhecido da homofobia...

Apesar de não podermos afirmar que os homofóbicos são gays, alguns estudos apontam para alguma veracidade nesta afirmação. Baseado numa pesquisa realizada nos anos 90, o documentário Middle Sexes Redefining He and She, exibido pela HBO, procurou analizar esta questão. 

Na Universidade de Georgia, foi realizado um estudo que envolveu 64 universitários que foram divididos em dois grupos: o primeiro com rapazes que mostravam algum grau de homofobia e o segundo grupo com rapazes indiferentes à orientação sexual alheia. Em seguida, ambos os grupos assistiram a um filme gay pornográfico. Todos os rapazes foram ligados a um pletismosgrafo (aparelho que mede o nível de excitação sexual). O resultado foi, no mínimo, curioso: apesar do grupo dos homofóbicos referir que não sentiu qualquer tipo de excitação sexual, com as imagens homoeróticas, foi o que teve maiores níveis de excitação através do aparelho.

GAYS HOMOFÓBICOS

Nesta perspectiva, os gays homofóbicos "atacariam" os homossexuais para se precaverem de comportamentos sociais discriminativos. Estes comportamentos podem ser desde piadas preconceituosas a comportamentos de agressão/violência física ou à ligação a organizações políticas, grupos reacionários ou religiosos que perseguem os homossexuais.  

Apesar desta forma de agir poder limitar os comportamentos sexuais com pessoas do mesmo sexo, não consegue eliminar a sua orientação sexual.

quarta-feira, novembro 13, 2013

Hipnose – funciona realmente?




Misteriosa, mágica, fascinante para uns, “banha da cobra” para outros, altamente eficaz para quem se dedica à sua comprovação científica. As opiniões acerca da hipnose são de facto vastas, mas estudos científicos recentes parecem finalmente comprovar a eficácia da hipnose e legitimá-la como forma de tratamento válido na ciência médica.

Primeiramente eis o que a hipnose não é: não é um estado de obediência cega ou uma forma de sono na qual se fazem ou dizem coisas contra a vontade. Esta crença fundamentou-se erradamente pela hipnose de palco, na qual os hipnotizadores parecem “controlar” voluntários, sendo que o simples truque aqui reside exactamente na palavra “voluntário”. Os hipnotizadores de palco pedem voluntários ao palco que, simplesmente por se voluntariarem, estão já previamente a aceitar fazer ou dizer o que o hipnotizador de palco lhes pedir para fazer.

É muito fácil para quem domine a técnica da hipnose pôr uma pessoa a dançar num palco, mas se lhe for dito para ir dar um tiro à primeira pessoa que passar na rua, a pessoa certamente não o fará pois está ali para se divertir e não para cometer um crime. Já se a sugestão for para dar um tiro a um determinado membro do governo, aí cuidado pois que a hipnose actua com base no que realmente queremos e nos dias que correm há certamente por aí quem acalente tal vontade. Mas voltando a um registo mais sério, há que distinguir a hipnose de palco da hipnose clínica, também chamada de hipnoterapia. Enquanto na primeira o objectivo é o espectáculo, o entretenimento e a diversão, na hipnoterapia o clínico trabalha com base nos objectivos terapêuticos do cliente e o foco das sessões é a resolução das problemáticas apresentadas com vista ao alcançar dos objectivos acordados entre terapeuta e paciente.

A hipnose é de facto um estado de atenção focalizada na qual o corpo está muito relaxado e a mente muito focada, inicialmente numa experiência sensorial interna ou externa que é geradora do transe induzido e seguidamente, quando se trata de hipnose clínica ou hipnoterapia, no foco direcionado pelo terapeuta, de encontro aos objectivos previamente estipulados.

Mas como é que a hipnose funciona?

Aqui há que falar do consciente e do inconsciente, termos que se referem à psique humana. O consciente é somente uma pequena parte da mente que inclui tudo do que estamos cientes em determinado momento. No inconsciente estão elementos instintivos não acessíveis à consciência, elementos excluídos, censurados ou reprimidos. O inconsciente controla também todos os nossos processos automáticos, aqueles que não nos preocupamos em controlar conscientemente, tais como o batimento cardíaco, a pressão arterial, a renovação celular, o sistema imunitário, entre outros. Controla as nossas emoções, os nossos hábitos e as nossas respostas. É onde as nossas memórias e a nossa experiência acumulada reside.

O inconsciente não é no entanto estático e o seu material pode “subir” à mente consciente através de associações ligadas aos sentidos, que quando consciente pode mostrar não ter perdido em nada a sua força emocional. Memórias há muito esquecidas podem surgir com a mesma intensidade emocional de forma intemporal. Do inconsciente, o pré-consciente tem o material que se pode tornar consciente com mais facilidade, como a lembrança daquilo que jantámos de véspera ou o nome do perfume que deixámos de usar há uns tempos.

A realidade daquilo que realmente estamos conscientes a cada momento é de facto trazida à mente consciente pelo inconsciente. A mente consciente é mais lógica, crítica e analítica. Faz continuamente juízos de valor e é capaz das mais rebuscadas razões lógicas para defender os seus hábitos. Se alguém disser a um fumador que ele deve parar de fumar o quanto antes, que é mau para a sua saúde, o mais provável é que ele arranje na hora as desculpas mais lógicas para não o fazer de imediato, podendo até mandar a outra pessoa meter-se na sua vida. Mesmo que esta pessoa aceite conscientemente que fumar é mau para a sua saúde, não é a parte consciente da sua mente que mantém este hábito funcional. Já a mente inconsciente, responsável mela manutenção do hábito, é muito mais maleável e aceita a sugestão de uma forma totalmente diferente. É mais literal e tende a aceitar as coisas de forma pessoal, relacionando à própria pessoa quaisquer informações que receba, daí a importância da metáfora na prática hipnoterapêutica.

A hipnose funciona assim, passando a crítica mente consciente, através dum processo de relaxamento ou de técnicas de programação neurolinguística, dirigindo-se e falando directamente à mente inconsciente numa linguagem facilmente captada pela mesma que é parte das técnicas hipnoterapêuticas.

Como de facto é a mente inconsciente que comanda e muitos dos nossos problemas são coisas que aprendemos a fazer ou nos foram impostas a um nível inconsciente, é aqui que devemos actuar.

Os problemas surgem frequentemente como solução inicial para um outro problema. Um pouco como os medicamentos que curam algo mas que podem trazer outras complicações. Voltando ao exemplo anterior, o hábito de fumar inicia-se muitas vezes na adolescência como forma de pertença ao grupo ou de parecer-se “cool”. Através da repetição, a mente inconsciente apercebe-se que fumar serve um propósito vital e que de alguma forma é bom para a pessoa. A hipnose funciona actualizando a mente inconsciente com a nova informação que dificilmente passa directamente à mente consciente em estado vigil. Pode assim fazer novo “update” na mente, mudando associações do passado para associações que a pessoa defende mas que por vezes dificilmente altera, por exemplo deixando de percepcionar os cigarros como facilitadores de amizades, para fumo tóxico.

No domínio dos estudos científicos, novas investigações da Universidade de Stanford, têm vindo a utilizar as mais recentes técnicas da imagiologia para compreender a ciência da mente hipnotizada. A hipnose funciona realmente e tem um impacto a nível cerebral que pode ser cientificamente medido, segundo um dos psiquiatras americanos de maior renome, o Dr. David Spiegel - Associate Chair of Psychiatry and Behavioral Sciences at Stanford – que apresentou recentemente provas de que algo acontece no cérebro quando as pessoas estão sujeitas à hipnose, que não acontece em estado vigil. David Spiegel apresentou recentemente à prestigiosa American Association for the Advancement of Science, um estudo no qual foi previamente sugerido sob hipnose a voluntários que estavam a ver objectos a preto e branco, que de facto viam objectos coloridos. O scaneamento cerebral mostrou que as áreas do cérebro responsáveis pelo registo das cores estava visivelmente activo com forte registo de actividade sanguínea, o que indica que os voluntários “viam” genuinamente as cores, tal como lhes tinha sido sugestionado. David Spiegel tem vindo a reforçar a ideia das tremendas implicações médicas destes factos para o controlo da dor e ansiedade, entre outros.

No ano de 2003 a Harvard Medical School experimentou os efeitos da hipnose no tempo de cura de fracturas osseas nos tornozelos. O estudo mostrou que o grupo de pessoas sujeitas a hipnose demorou seis semanas a recuperar e o grupo de pessoas que não beneficiaram de hipnose demoraram oito semanas e meia a recuperar. Este estudo mostra-se relevante em situações de recuperações físicas de atletas ou para qualquer outro caso em que se queira acelerar o processo de recuperação física pós-trauma ou pós-operatório.

No ano de 2009 investigadores da Hull University mostraram evidências que contradizem o efeito placebo da hipnose alegado por alguns, provando que sob hipnose se produzem efeitos visíveis na actividade cerebral scaneada, predispondo a mente para a sugestibilidade.

Variadíssimos outros estudos comprovaram a eficácia da hipnose no controlo tabágico, no controlo da dor, no controlo de peso, em problemas de infertilidade, no alívio do síndrome do intestino irritável, em problemas da pele, entre outros.

A hipnose tem um efeito genuíno tanto no funcionamento da mente como no corpo e funciona moldando a nossa percepção da realidade pela acção directa com a mente inconsciente, o receptáculo da maioria dos nossos problemas mas felizmente, da maioria das soluções também.

Carla Leonardo
Psicoterapeuta
Directora do Departamento de Hipnose Clínica da Psicronos

http://www.psicronos.pt/consultas/hipnose-clinica_13.html

terça-feira, novembro 12, 2013

Bebé Emocionado: Empatia ou Desamparo?


Este vídeo tem circulado nas redes sociais ao longo das últimas semanas, gerando inúmeros comentários emocionados relativamente à resposta do bebé à voz da mãe enquanto canta. A maior parte das pessoas parece deliciada com a forma como o bebé parece reagir com empatia à tristeza transmitida pelo tom de voz e pela melodia. Talvez por isso me tenha abstido de comentar este vídeo antes e só o faço agora em resposta ao desafio lançado pela Dra Ana Almeida.

Assumo que este vídeo me causou desconforto desde a primeira vez que o vi. Desde cedo, talvez ainda dentro da barriga da mãe, o bebé parece ser capaz de discriminar os estados emocionais da mãe. Neste vídeo, parece haver uma reposta bastante rápida a um possível estado de tristeza por parte da mãe. Na minha opinião, talvez haja uma reação empática numa primeira fase, mas que depois se transforma numa vivência de desamparo, que faz lembrar a resposta (ou ausência dela) das mães deprimidas aos seus bebés. 

Parece-me que o bebé fica verdadeiramente angustiado com a suposta tristeza da mãe (e provavelmente com o tom de voz que pode ser sensorialmente insuportável nesta idade), parecendo tranquilizar-se nos segundos de pausa em que provavelmente espera o conforto da mãe, voltando a sentir a sua indisponibilidade quando volta a cantar. Imagino até, e aqui é pura fantasia, que a mãe esteja de olhos fechados enquanto canta, e que o contacto ocular se dê nestes momentos de pausa em que o bebé parece tranquilizar-se (suspirando até) por ter a mãe de volta. Suspiro eu de alívio quando é finalmente a mãe a revelar empatia pela angústia do filho, contendo-o com grande afetividade e fazendo-o perceber que está ali para ele, disponível e intacta, o que acontece de forma muito inconsistente no caso das mães deprimidas.
Gostava de conhecer mais opiniões acerca deste tema.


Alexandra Barros
Psicóloga e Psicoterapeuta
Diretora do Departamento de Infância e responsável pela Consulta do Bebé e da Parentalidade

geral@psicronos.pt

segunda-feira, novembro 11, 2013

Da espiral à RODA

Nas redes sociais tenho visto com frequência publicações alusivas a uma nostalgia dos anos 80 (sim, esses que foram considerados pirosos!) acerca dos brinquedos, das brincadeiras, dos desenhos animados…o brincar na rua!!! Ah, que saudades! E tem-se falado sobre como as crianças crescidas nesses tempos estariam mais bem preparadas para enfrentar obstáculos ao longo da vida do que possivelmente estarão as crianças que hoje em dia primam pela tecnologia e pelo isolamento mais do que pela criatividade e o vínculo social.

Surge também nos últimos anos uma frequência mais elevada de diagnóstico de hiperatividade e défice de atenção do que nesses anos. Hiper= grande, atividade= criança? É suposto que as crianças sejam ativas, que se mexam, que sejam curiosas, aventureiras…não é isso ser criança? Mas ter essa atividade toda e não ter como a gastar pode ser altamente nocivo. E atenção, não pretendo minimizar os diagnósticos feitos nem o impacto que isso trás na vida da criança e da família, porque são situações extremamente complexas que tem que ser avaliadas com critérios rigorosos. Apenas pretendo pensar um pouco a hiperatividade na sua expressão mais lata, do senso comum, a hiper-actividade, a actividade em excesso.

Provavelmente nos anos 80 gastavam-se as energias numa apanhada, numa macaca ou num jogo de futebol e quando se chegava a casa, com fome e cansados e com apenas dois canais de televisão, poucas opções sobravam.

Pois, não era uma era tecnológica mas era uma era de ir para a rua. Mas os tempos mudam e não existem apenas efeitos secundários nocivos desta era tecnológica. Os miúdos tratam a tecnologia por tu. Ensinam os pais, os avós, os professores. Encontram músicas, jogos e histórias, chegam a todo o lado com um clique. A tecnologia está para as crianças de hoje em dia como as brincadeiras na rua estavam para as crianças dos anos 80. Sem dúvida que existem benefícios e perigos em ambas as épocas. Mas como em tudo, no meio é que está a virtude.

Uma das vantagens deste fácil acesso é que o longe está sempre mais perto do que nos anos 80. E tudo o que se fazia lá fora e nós só sabíamos 20 anos depois, agora é quase em tempo real. E isso não é necessariamente mau. Faz nos sentir ligados. Faz nos sentir menos sós. Parte de algo. Capazes.

A grande questão é: como conjugar isso? E aí, caros pais dos anos 80, a bola é nossa. Cabe-nos a nós fazer essa ligação. Sim, a nós que apanhámos a transição. As cassetes, os vinis e VHS, os CDs DVD’s DIVX, Nintendos, Spectrums, Playstations, Gameboys…nós conhecemos ambos os lados. E a nós cabe a tarefa de ajudar as nossas crianças a tirar partido de estar com os outros, estar na rua, jogar esses jogos saudosistas, navegar na internet, ver os programas mais adequados…enfim, sermos responsáveis por ajudar os nossos filhos a estar, a crescer e ser feliz nesta era.

A hiper-atividade é a expressão máxima da inquietação. Dentro e fora. E ainda não é pacífica a sua definição em termos etiológicos. É genética, é do meio, é daqui e dali… mas é. E a forma com lidamos com essa questão é que terá mais impacto do que o rótulo ou a origem.

Com isto, proponho um breve olhar por uma atividade já bem implementada em Portugal desde o final dos anos 80, mas ainda desconhecida para muitos de nós: a capoeira.

Muitos desportos, nomeadamente as artes marciais, visam o auto controlo, respeito das regras, capacidade de concentração, resiliência, competência…mas todas estas tarefas podem parecer hercúleas aos olhos de uma criança cujo nervoso miudinho é quem manda. Saber que se tem que estar atento pode ser por si só catalisador de maior agitação!

Mas existem atividades que podem juntar uma série de elementos que beneficiam de forma imensa as crianças ( especialmente as hiper-ativas, ansiosas e introvertidas ). A capoeira é sem dúvida uma dessas actividades.

Porque transmite noção de eu no mundo, através da passagem histórica das raízes interligadas (e nem sempre felizes) de Portugal e Brasil. Conhecimento histórico e geográfico, multiculturalidade, expressão física e artística, pertença do grupo, auto estima, atenção e motivação são alguns dos ganho imediatos da prática desta actividade. E porquê?

Porque o factor competição é preterido ao da inter ajuda, porque os grupos são habitualmente heterogéneos (em género e faixa etária), porque tem que se ser rápido e enérgico ( valorizando os aspectos considerados tóxicos na hiperatividade), mas ao mesmo tempo atento para se esquivar de um golpe. Porque nunca se perde o outro de vista, porque se canta e se aprende a tocar instrumentos. Porque se valoriza o grupo em detrimento do indivíduo, porque existe a possibilidade de renascer através do batismo de uma alcunha de capoeira.

Porque se pertence. Porque se é. Porque se está ligado. E não é através da internet. É ali, ao vivo e a cores!

E então, porque não, antes de mandarmos os meninos e meninas distraídos, impulsivos e e inquietos para dentro de um cubo gigante e opressor de um medicamento que apenas parece aliviar aos cuidadores (que têm menos desgaste), mas que mata a criatividade e a possibilidade de encontrar alternativas, se mandasse para uma roda de capoeira?


Carla Ricardo
Psicoterapeuta Psicronos
Delegação Setúbal

NOTA: Apesar de considerar que as crianças com TDAH de acordo com o DSM IV-TR estão igualmente aptas a entrar para uma atividade física e desportiva como a capoeira, essa indicação deve ser dada criteriosamente em contexto clínico, de acordo com a avaliação da situação individual. E não se esgota na prática de uma atividade, a sua leitura é sempre multidisciplinar tal como a intervenção. Em caso de dúvida, contacte um especialista. A Psicronos em Setúbal tem um serviço dirigido a crianças e adolescentes, bem como o aconselhamento parental que pode e deve caso exista suspeita da criança ou jovem se enquadrar neste diagnóstico.

Para mais informação contacte carla.ricardo@psicronos.pt ou pelos telefones 213145309 /918095908.

domingo, novembro 10, 2013

As bases de uma boa comunicação

É sabido que os seres humanos necessitam de interagir e comunicar. Trata-se de um processo que começa logo que nascemos e dura até morrermos.

No entanto, a comunicação vai muito para além da espontaneidade e do instinto. Trata-se de uma arte que, quanto melhor dominarmos, melhor. Tanto na vida professional, como nas amizades ou em família.

De acordo com Scott Edinger, no blog da HBR, os três pilares de uma boa comunicação foram já referidos por Aristóteles há mais de dois mil anos: ethos, pathos e logos. Ou seja, credibilidade, conexão emocional e clareza de raciocínio.

Curioso(a)? Vale a pena ler este post da Harvard Business Review aqui.