A psicologia psicodinâmica anda sempre às voltas a tentar perceber se os factores determinantes para o saudável desenvolvimento do psiquismo infantil são ambientais (a família e os demais convivas da criança) ou pulsionais (forças internas à criança e biologicamente pré-determinadas).
Formaram-se diferentes escolas de pensamento que defendem pontos de vista opostos. Mas a polémica subsiste e ainda não foi encontrada uma resposta suficientemente eficaz.
A escola de Winnicott, por exemplo, dá um peso muito significativo à qualidade do ambiente afectivo em que a criança cresce; não tanto como determinante da evolução da criança, mas mais como facilitador ou inibidor desse mesmo desenvolvimento. Para Winnicott as “forças no sentido da vida, da integração da personalidade e da independência são tremendamente fortes, e com condições suficientemente boas a criança progride; quando as condições não são suficientemente boas essas forças ficam contidas dentro da criança e de uma forma ou de outra tendem a destruí-la” (1). Neste excerto percebe-se claramente que para Winnicott a pulsão está ao serviço do desenvolvimento saudável e que o ambiente poderá exercer um efeito prejudicial.
A escola de Klein parece defender uma posição quase oposta à de Winnicott. Para Klein o bebé nasce com um ego rudimentar e é dominado pela pulsão de morte e de vida. Se o meio ambiente não for responsivo de forma adequada, a pulsão de morte aniquila o bebé a partir do seu interior.
Na perspectiva de Winnicott o ambiente (a mãe) deve realizar a sua função de tal forma que não prejudique, enquanto que em Klein o ambiente (a mãe) tem que prover experiências gratificantes para contrabalançar o efeito da pulsão de morte. Para Klein, a mãe salva o bebé de sucumbir ao aniquilamento que o ameaça pela pressão interna da pulsão de morte.
Ambos aceitam a existência de condicionantes ambientais e pulsionais, mas a maneira como os entrecruzam é profundamente diferente. Para Klein a intensidade inata da pulsão de morte é determinante; para Winnicott a qualidade do ambiente facilitador é determinante.
(1) Winnicott, D. W. (1962)
Provisão para a criança na saúde e na crise. In O Ambiente e os processos de maturação – Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Ed. Brasileira, 1983, Porto Alegre: ArtMed, pp.62-69
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