“A terapia de casal é a modalidade de terapia familiar mais difícil de fazer. Trabalhar racionalmente sentimentos que são profundamente irracionais é complexo. A construção de uma relação marital começa pelo sentimento de amor inexplicável. Ninguém sabe porque ama e, quando tenta saber, estraga tudo” (cit. in Gameiro, 1994, pp.38).
Cada cônjuge traz consigo uma história, uma família, cujas heranças familiares são transportadas para a relação, com todos os mitos, regras, valores, lealdades, em que a relação que cada um tem com a sua família de origem, poderá originar conflitos interaccionais.
Para além desta compreensão individual de cada elemento da díade e padrões relacionais, a perspectiva sistémica em terapia de casal, assenta num olhar sobre a relação conjugal, cujo conflito não é resultado de problemas de um ou outro elemento do par, mas sim em que todo o sistema está envolvido, tendo em conta o seu ciclo vital. O objectivo é que a relação se torne mais satisfatória para o casal, numa aceitação de que, como refere Gameiro, “não é possível mudar o outro, o melhor que se consegue é que o outro mude qualquer coisa na relação”, quebrando mitos impossíveis e desgastantes e promovendo a mudança, nunca privando a liberdade de escolha do casal relativamente ao futuro da relação.
5 comentários:
Segundo o modelo da psicoterapia positiva uma das dimensões humanas é a relacional com o seu parceiro / família, o que não é propriamente uma novidade.
A grande questão é como é que o casal consegue manter a sua autonomia salutar ao mesmo tempo que desenvolve a sua relação saudável. Na maioria das vezes esse é um dos problemas.
Como foi bem referido no texto, é necessária a compreensão individual de cada um ao mesmo tempo que se assenta um olhar sobre a relação.
Olá Sam,
Acho que a questão que coloca é muito interessante “como é que o casal consegue manter a sua autonomia salutar ao mesmo tempo que desenvolve uma relação igualmente saudável?”. Na minha opinião as dinâmicas de funcionamento de um casal são sempre muito complexas e não me parece que haja uma “receita” que remedei todos os males. Talvez em alguns casais o equilíbrio passe por haver períodos em que a balança está mais inclinada sobre os processos de autonomia individual e outros em que o casal está mais interessado em fortalecer a relação, eventualmente, abdicando de posições individuais mais fortes.
Concordo com a explicação: em especial à parte em que diz que ela não pode existir. É como dizia Jung, não se pode dar uma resposta média pois a psicologia não se baseia na regra mas nas excepções.
A minha questão, acho eu, deve ser reflectida por cada membro do casal e por cada casal, a cada momento e a cada situação...
A questão da autonomia equacionada nos comentários parece-me interessante. Cada uma das partes tem um espaço próprio, sem que um domine o outro, o que permite que se tomem em conjunto decisões que anteriormente se resolviam de maneira independente, sem que signifique que se abdicou do que cada um entende como melhor. O que implica, necessáriamente, alguma perda de individualidade, o que não sigifica perda de respeito pelas opiniões do outro. Há um ganho em termos de sentimento de pertença e de complementaridade, através de negociação. Esta questão é bem explicada por Virginia Satir ao referir que "todo o par tem três partes: tu, eu e nós, ou seja, duas pessoas, três partes, cada uma delas significativa, cada uma delas com vida própria, em que cada parte torna mais possível a outra. Deste modo, eu torno-te mais possível a ti, tu tornas-me mais possível a mim, eu torno mais possível a nós, tu tornas mais possível a nós e, juntos, nós tornamos mais possível um e outro"
Realmente esta é uma discussão levada a bom porto, na minha opinião. Citando Satir quando diz que o "nós" encontra o seu oxigénio no "eu" e no "tu" ou mesmo Caillé quando diz que 1+1=3, chegamos a um dos vários cernes da questão conjugal. Penso que aqui se encontra o equilibrio (sem receitas, também concordo com esta perspectiva), entre o que é o sistema conjugal e os respectivos sub-sistemas individuais. Quero apenas dizer que me apraz ver a sistémica a ser debatida e, principalmente, a ser publicada sob a forma de post, nem que seja num blog de psicologia como é o caso. Aceitem, portanto, o elogio sincero de um sistémico...
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