domingo, outubro 22, 2006

Palavras...


Ao pensar nas palavras para a composição do presente post, dou por mim a reflectir no valor e lugar que ocupam as palavras. As palavras que pensamos, ecoamos, dizemos, ... O valor das palavras no contexto da relação terapêutica. Já Freud, no seu artigo intitulado " A Questão da Análise Leiga" punha na voz da pessoa imparcial, inspirado em Hamlet, "Nada mais do que isto? Palavras, palavras, palavras, ...", sublinhando que as palavras são um instrumento poderoso na nossa prática clínica.
Mas, se as palavras assumem a sua qualidade na cosntrução literária, por exemplo, é no seu pronunciar, pela voz humana, que ganham seu mais íntrinseco significado. É quando ganham corpo no sentir de quem as profere que também em nós impelem seu valor semântico (?!), nem sempre correspondente ao significado real de quem as enuncia mas interiorizadas pelo sentido singular de quem as ouve..
Pensando mais uma vez no que se tece no espaço e tempo de uma relação terapêutica, as palavras por si só não revelam seu total valor mas o significado emocional que contêem, e o pensar sobre esse mesmo siginicado, num lugar onde reina a intersubjectividade é que elas talvez possam revelar mais de si. Pensar com alguém, na presença então de um outro que co-pensa. O poder das palavras eventualmente assume-se no aqui e agora, onde passado, presente e futuro (con)fundem-se. O acto de pensar as palavras no enlace relacional, numa Outra relação, numa nova relação, como diria Coimbra de Matos, ou como diria Widlocher, o co-pensamento que permite a prática associativa no contexto da relação terapêutico, embebe as palavras do que em si sustentam de mais profundo dos seres que as evocam e entoam...
Enfim, palavras soltas...

4 comentários:

Tania Paias disse...

E como de palavras se tratam, deixo aqui um excerto da conversa entre Breuer e Nietzsche, no livro já citado pela Raquel - Quando Nietzsche Chorou "(...)continuou Nietzsche -, mas deixe-me lembrar-lhe as palavras de Goethe:"Sê um homem e não me sigas a mim, mas sim a ti!Apenas a ti!" Sabe que ele acrescentou esta frase na segunda edição, por muitos rapazes terem seguido o exemplo de Werther e suicidarem-se? Não, Josef, o importante não é falar-lhe sobre o meu caminho, mas sim ajudá-lo a encontrar o seu caminho, para que saia do desespero."
Bem-vinda

Ana Eduardo Ribeiro disse...

Olá Tânia,

Ainda não nos conhecemos mas talvez em breve. Obrigada pelo simpático comentário.
A minha ideia da importância das palavras prende-se de facto com uma postura que respeita acima de tudo o percurso individual e singular de cada um, esperando não cair, como psiciterapeuta, na ilusão e arrogância (?) de que nós é que sabemos sempre quais "as palavras" a sublinhar, a pensar, a comunicar ao outro.

Ana Eduardo Ribeiro disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Ana Almeida disse...

Deixo um poema sobre palavras.
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Poema de Alexandre O'Neill
http://www.astormentas.com/oneill.htm