sábado, outubro 06, 2007

Os psicólogos também choram!


Por vezes ouço coisas que me fazem pensar. Uns dizem que os psicólogos não deviam isto, ou que não fazem aquilo… enfim uma balbúrdia de preconceitos que por vezes nos afectam mais que nós pensamos!

No meio desta balbúrdia, que pouco ou nada ajuda ao desenvolvimento pessoal do psicólogo, há um tema que raramente é abordado, o choro do psicólogo em sessão.

Claro que nós todos choramos fora das sessões, aliás alguns clientes estão em terapia porque não se conseguem emocionar, mas em sessão?

Será suposto um psicólogo chorar em sessão?
Eu acho que sim, sei outros também acham e que alguns o defendem como parte do processo terapêutico.
Outros dirão, “mas o psicólogo não pode chorar em sessão, senão perde o controlo!”

Mas desde quando chorar é perder o controlo?
Este preconceito de perda de controlo com o choro, impede as pessoas de viverem a tristeza e muitas delas acabam por deprimir.

Será que ao ouvir a tristeza dos outros não temos o “direito”, para não dizer o “dever” de chorar com o cliente?
Será que ao mostrar a expressão da tristeza vamos, não só validar o sofrimento do outro mas também dar espaço na relação para que o outro o faça?
Claro que não estou a falar de um pranto aflitivo de choro do psicólogo... apenas algumas lágrimas!!!

Existem outros meios para mostrar que estamos na relação e que contemos a tristeza do outro, mas serão tão próximos como mostrar a mesma emoção?

Sinto que ao falar de um ponto, falei de muitos outros e que todos estão ligados ao cerne da terapia … mas afinal qual é o cerne da terapia?

29 comentários:

Teresa disse...

O choro, é para mim uma das formas mais genuínas do ser humano expressar os seus sentimentos mais profundos – de alegria e de tristeza. Chorar em conjunto, gera uma cumplicidade e partilha que, se calhar, ultrapassa a relação “unívoca” que se promove na relação terapêutica. Se isso é bom ou mau, benéfico ou prejudicial, não faço ideia. Mas gostava de saber!

NAM disse...

Retomando o início deste post ocorre-me dizer; enfim, as coisas que se "ouvem" por aí...

Patrícia Marques disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Patrícia Marques disse...

Sinceramente, e atendendo à condição colocada 'um choro não aflitivo', penso que o bom e o mau, nem sequer serão muito relevantes de se colocar em questão; é importante rever se é assim importante mostrar a expressão emocionada (choro), quando a realidade do estar com o outro se mostra muitas vezes abnegada por parte de alguns técnicos (pessoas também) que se inteiram das técnicas x e se esquecem muitas vezes que estar com, implica acordar para a realidade recíproca para existir numa relação de um para um.
Numa sociedade em que o reprimir de expressões é cada vez mais atendido (desenvolvendo ansiedades, depressões)não penso que seja muito importante chorar ou não chorar, se a relação terapeutica assentar em princípios bem conseguidos (confiança, etc.)a espontaneidade será certamente um ponto a favor (bem compreendido pelos elementos).

Pedro Correia Santos disse...

Quero agradecer desde já os comentários efectuados.

A relação com as emoções que a Teresa refere é muito importante... na minha opinião é benéfico... mas é apenas a minha opinião.

Gosto muito de "ouvir coisas" muitas vezes originam post´s que estimulam a discussão... gostava de ouvir mais Nam!

Ao olho composto quero dizer que chegou a um dos pontos que queria tocar... " quando a realidade do estar com o outro se mostra muitas vezes abnegada por parte de alguns técnicos (pessoas também) que se inteiram das técnicas x e se esquecem muitas vezes que estar com, implica acordar para a realidade recíproca para existir numa relação de um para um."

Obrigado e escrevam sempre!

Strange Attractor disse...

Veja-se o ponto a que chegou o debate na psicologia...

Expressa bem a agonia dos psicólogos e a instabilidade social que os atravessa. Na sociedade da massificação também eles, os psicógos, foram massificados pelas faculdades, sendo formados às fornadas. O que só nada garante. Garante apenas que aprenderam a racionalizar no vazio, como este é um dos vários casos ilustrativos.

O Pedro se quer ajudar as outras pessoas aprenda primeiro o que está o no cerne da sua profissão... E o melhor é começar por trabalhar as suas questões emocionais numa boa terapia.
Caso contrário as suas fragilidades emocionais estarão a infectar o trabalho que faz. E não é para isso que as pessoas lhe pagam, pois não? Se tem necessidade de chorar vá ver um bom drama. Aproveite e vá ver o Saraband...

Marta Schiappa Pietra disse...

Olá a todos!
Retomando a discussão... visto que comentários depreciativos pessoais e até ofensivos não trazem mais valia à troca de opiniões diferentes que é o objectivo de um blog!, penso que o estar com o outro não passa pelo choro mas sim pela relação que se estabelece no espaço terapêutico. Posso estar próxima daquela pessoa sem ter que chorar com ela, e isso não quer dizer que esteja escondida em técnicas x mas sim que a capacidade empática funciona. Além de que, na minha opinião, ver um terapeuta chorar pode ser assustador!
Que o debate continue!

Pedro Correia Santos disse...

olá strange atractor!

de facto há questões interessantes, como o cerne da terapia... eu sei o que é, mas fiquei sem saber se voce sabe, visto que não deu uma opinião mas fez uma recomendação!

Quanto ao resto... exige uma resposta demasiado pessoal que não faz sentido num blog de debate de opiniões... afinal de contas o meu objectivo é por os leitores a pensar!

Sim Marta, de facto a relação deve passar por uma relação empática com o outro, o modo de demostrar a empatia é que varia muito conforme as pessoas e como tal varia com os psicólogos. Mas será que a nossa escolha não está demasiado condicionada por preconceitos?

Saudações a todos!
Pedro

Strange Attractor disse...
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Strange Attractor disse...
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Strange Attractor disse...
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Strange Attractor disse...
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Strange Attractor disse...

Se o Pedro estivesse mais atento à antropologia, constataria que se poderia reflectir sobre uma "antropologia do choro", veria que a relação do individuo com a sua corporeidade está dada à partida por determinantes culturais. Tal é a relação do sujeito com o choro. Ela não existe somente em-si, como se fosse determinada somente por si.

Por exemplo, existem culturas que no acto fúnubre de um familiar, pagam a mulheres (cujo nome não me lembro agora) para irem propositadamente chorar para o local.

Existem também tendências de choro em cada um de nós que não têm um objecto específico. Basta qualquer faísca para o desencadear. Portanto, o facto de um psicólogo chorar na sessão não quer dizer que tenha criado uma empatia (que só poderá ser de uma ordem fantasmática) com o seu paciente, mas tão somente que tenha sido confrontado com uma situação potencialmente desencadeadora do seu choro.

O que me transparece aos olhos é que hoje a sociedade proporciona aos homens e mulheres serem uns bebés chorões, uns agarradinhos às saias da mamã (não foram à tropa, diriam muitos - ora, aí está, mais uma experiência, a da tropa, que marca um posicionamento subjectivo face às experiências corporais) que deprimem mal logo as suas expectativas são frustradas. Daí a começarem a aparecer psicólogos (entre outros) apologistas do choro é um pequeno passo. Afinal o facto de serem sr. doutores não os imuniza contra as sensibilidades sociais do momento presente. Para os que lhes está na essência chorar por tudo e por nada, porque não chorar também nas sessões? Por não reclamar um debate sobre isso? Aliás, já existem terapias de choro...

Mas se o Pedro quer ultrapassar determinados preconceitos (será um outro nome para não ter que dizer a palavra limíte?), vá até às últimas consequências. Não chore apenas nas sessões. Leve a xuxa e as fraldas...

NAM disse...

Nem tudo o que estimula a discussão é positivo Pedro. Depende sempre de para onde se leva a discussão.

Por este ser um blog temático, haverão por aí leitores incautos que podem pensar que a sua ideia de "chorar com o cliente" é suportada com alguma teoria, ou até que existem movimentos a defendê-la. Se o houver corrija-me.
Esta teoria defende, logicamente, não um pranto aflitivo mas apenas a algumas lágrimas. Talvez quatro. Ou mesmo seis. Enfim é ligar o automatismo e controlar um choro de aparência, só para mostrar "empatia".

Poder-se-ia talvez chamar outra reacção emocional para estimular a discussão. Se ao ouvir a tristeza dos outros temos o “direito”, para não dizer o “dever”, de chorar com o cliente, não teremos também o direito, ou mesmo o dever, de nos irritarmos com a irritação do doente? É lógico que não estou a falar de berros e pancadas apenas alguns gritinhos e safanões.

Já agora, o nome é "carpideiras".

Paulo disse...

Não é proibido, apenas sinal de que alguma coisa não está lá muito bem. Se o choro é por contágio mimético, demonstra uma identificação quase adesiva. Se é um choro pessoal, bem lá de dentro, elimina à partida qualquer hipótese de empatia, desaparece o «como se», reina a memória e o desejo, o psi está saturado das suas próprias questões, que se impõem às do paciente. Não tem nada de mal, é apenas o sinal de que nenhum dos dois está preparado para aquilo.

Unknown disse...

tanta opinião, que nem chega a ser crítica fundamentada, sem atender ao caso concreto. Se se quer contrariar o post, seria melhor focar as situações específicas, e não teses gerais, em que o choro pode ocorrer. Mas nada disso, nem sequer pelo antropólogo com evidentes problemas de personalidade... fazem estes senhores um blog sério para aturar «bocas da bancada» sem utilidade nenhuma. Pelo menos é sinal de esperança ver que quem manifestamente rpecisa de terapia navega por este site.

CarlaC disse...

Andava a passear por aqui e não pude ficar indiferente... Eu emociono-me com os meus clientes: às vezes riu-me com eles, às vezes dou-lhes um abraço, às vezes verto uma lágrima... As emoções fazem parte de mim e fazem parte da relação terapêutica. Ás vezes é precisamente a análise do que o cliente me faz sentir que serve de tema para a nossa conversa. Muitas vezes há dificuldade no cliente de identificar as suas emoções, e o reflexo delas no seu terapeuta pode ajudá-los a compreender o que está em causa. Nunca ouvi falar de um psicólogo desprovido de emoções, nem dentro nem fora da sessão.
Bom trabalho.

Carmo disse...

Strange Attractor
Quando escreve como senhor(a) da verdade minimizando as opiniões e as emoções dos outros, quando julga e se pensa superior a qualquer imaturidade profissional, quando chama a atenção para o que diz ser o cerne da profissão, quando escreve para ter o prazer de se ouvir, quando mostra tanto profissionalismo e saber, será psicólogo(a)?
Ao longo, dos seus comentários sinto um fervor terrífico em criticar os psicólogos. Deixou de ter impacto o tema do debate para se ter apenas um crítica destrutiva e a parte construtiva ficou esquecida ou não interessa?
Quanto ao tema em discussão diria:
"só sei que nada sei".
As mulheres que vão chorar nos velórios, prática felizmente em desuso, são as carpideiras.
Bem hajam psicólogos do mundo que há trabalho a fazer!

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Gostei do tema trazido pelo Pedro Santos e da sua abordagem simples e corajosa! No meio dos preconceitos individuais (auto-limitadores) e dos preconceitos alheios (limitadores, também, daqueles que dão muita importância àquilo que os outros pensam de si), há ainda que pensar nas muitas teorizações e preceitos teóricos técnicos que envolvem a conduta terapêutica. Mas antes disso, e também depois, está a pessoa. A pessoa, neste caso psicólogo e psicoterapeuta, que é tanto capaz de conter as suas emoções ao serviço daquela relação, como é de senti-las e manifestá-las no mesmo setting, num outro contexto, isto é no contacto e na relação com aquela pessoa única ali à sua frente. Yrvin D. Yalon fala também do assunto, no seu último livro editado em português(Criaturas de um Dia, Edições Saída de Emergência, 2015) e que recomendo.