Após ter adiado sucessivamente escrever este post. Resolvi escrever justamente acerca disso... o adiar sucessivamente.
Recorri ao meu velho dicionário de psicologia, mas sem êxito. A procrastinação é uma definição recente, assim recorri aos dicionários virtuais para obter uma boa definição do problema.
O termo vem do latim procrastinatus, em que pro (à frente) e crastinus (de amanhã). Ora o amanhã que se apresenta á nossa frente não seria um problema se não apontasse-mos tudo para essa data... amanhã!
Amanhã também é a data em que começam 90%, ou mais, das dietas, programas de exercício físico, pagamentos de dividas ao fisco entre outras!
Já diz o povo “Pagar e morrer quanto mais tarde melhor”. Pergunto-me se os povos do sul da Europa tem mais enraizado na sua cultura o adiar sucessivo das tarefas?
Por outro lado, alguns poetas dizem que “hoje é o primeiro dia do resto da minha vida!”
Agora estou baralhado... será que ao viver hoje como o primeiro dia podemos deixar algumas coisas chatas para amanhã? Ou se, não tivermos a certeza que amanhã cá estamos, o que fazer hoje?
Este parágrafo também não deve ter ajudado muito para os leitores... ou talvez sim? Pois depende como vemos a vida. Como um acumular de dias, ou como um subtrair de dias. Lá vamos nós para história da garrafa meia cheia ou meia vazia... Tudo depende! Se que queremos beber mais ou se já bebemos o suficiente.
Se uns adiam as tarefas para estar com os amigos, visto que amanhã pode acontecer uma desgraça e assim foi gozar a vida até ao fim. Outros vão deixar de estar socialmente porque amanhã podem acabar aquilo que começaram hoje mas que não ficou feito por causa de não saber ao certo qual o propósito ou a importância pessoal da tarefa.
Para rematar este texto que corre o risco de se tornar longo e maçador. Lanço um desafio aos que me lêem: “ O que é verdadeiramente importante na vida de cada um?”
Se a vossa resposta estiver de acordo com as tarefas que tem para fazer, então calculo que não as adiar muito.
Se mesmo assim as coisas não fluem... isso poderá dizer que as vossas tarefas não estão de acordo com o que é verdadeiramente importante. Neste caso poderão rever as frases que a palavra “devia” está inserida, e substituir por “queria”. Eu vou dar um exemplo:
“Eu devia trabalhar mais, mesmo que passe menos tempo com a família!”
“Eu queria trabalhar mais, mesmo que passe menos tempo com a família!”
Se muitos dizem a primeira frase, poucos dizem a segunda... a não ser que desejem divorciar-se... mas atenção! Se fazem isto sem dar conta é porque não responderam á pergunta “O que é verdadeiramente importante na minha vida?”
Para mim agora o importante é fazer uma faísca na vossa mente que vos permita pensar, para que possam viver com a sensação de plenitude que todos merecem.
Claro está que podia fazer mais pesquisa, refazer este texto vezes sem conta para atingir um estado de perfeição minimamente aceitável... mas isso seria simplesmente mais uma forma de adiar a tarefa!
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9 comentários:
Eu acho que só podemos achar que Hoje é o primeiro de dia do resto da nossa vida se tomarmos consciência que Ontem foi o último da nossa vida até então. E é, penso eu precisamente aí que reside esta questão. No ponto de viragem, no limite entre o Já foi e o Agora É.
Olá Teresa!
Ora aqui está uma transformação positiva das minhas palavras.
Encontrar um ponto de viragem entre o passado, em que aprendemos e o agora em que agimos.
Bjs
Aqui está um tema que eu considero interessante. Parabéns ao autor e também à comentadora que tocou num ponto essencial. O tempo é um conceito que parece simples mas ao reflectir é demasiado abstrato. Acho que podemos fazer o exercício de pensar se ele passa por nós ou se nós utpassamos pelo tempo utilizando-o da melhor forma.
"O ponto de viragem" é a nossa subjectividade. A forma como vivemos.
Viva Custom!
É interessante como faz a viragem da subjectividade da análise do tempo para a objectividade da acção.
Ou seja, fico feliz por encontrar equilibrio entre o pensamento e a acção... sem se perder no "delírio" intelectual, ou na fuga para a frente.
Parece-me algo virado para o Budismo. Algo do "caminho do meio"!
Saudações.
No que toca à noção de temporalidade, acrescento que, ao nível psicológico a dimensão tempo desprende-se do cronológico e espande-se para um lugar tempo mais amplo do que aquele que os relógios, calendários ou outros instrumentos de medida nos trazem.
O tempo psicológico é um lugar continuado, não passa, não se perde, trasnforma-se. O meu ontem reflecte-se no meu hoje, no meu amanhã. Da mesma forma que, a maneira como me penso no meu amanhã, se reflecte no meu hoje.
adiar pode ser mau, depende. mas ansiar por querer ter sempre tudo feito, também pode não ser bom. creio que o equilíbrio está no meio. mas que sei eu? sou louca mesmo... ;)
Pois mas acho que muita gente adia para não ter de lidar/pensar/decidir no momento...
Como se isso não fizesse realmente parte da sua vida.
É mais fácil diria alguém...
É mais fácil nesse momento mas sem dúvida que não facilita a vida...
E mesmo sem querer, a questão a resolver está sempre a espreitar tornando cada dia mais pesado...
Pedro:
não procrastine o feito de saber escrever os tempos verbais correctamente: há muita gente a ler que espera que licenciados, mestres e doutorados saibam escrever melhor do que os que não têm esse privilégio!
Mas, um erro "de palmatória" não tira nem um pingo de brilho à sua reflexão!
Adiar às vezes é sinal de maturidade e não um sintoma patológico.
Adiamento
Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã…
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não…
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjectividade objectiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um eléctrico…
Esta espécie de alma…
Só depois de amanhã…
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-me para pensar amanhã no dia seguinte…
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos…
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã…
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro…
Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã…
Quando era criança o circo de domingo divertia-me toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância…
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital…
Mas por um edital de amanhã…
Hoje quero dormir, redigirei amanhã…
Por hoje, qual é o espectáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espectáculo…
Antes, não…
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã…
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã…
Sim, talvez só depois de amanhã…
O porvir…
Sim, o porvir…
Álvaro de Campos
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