domingo, dezembro 02, 2007

Desporto na prevenção da toxicodependência

Todos sabemos os benefícios da prática desportiva, sobretudo em adolescentes, mas porque surge ultimamente o desporto associado às campanhas de prevenção para a toxicodependência?

Interessa antes de mais pensarmos como a pratica do desporto e o consumo de drogas expressam formas tão distintas de nos relacionarmos connosco próprios e com o nosso corpo. Enquanto o desporto está sempre associado a uma atitude de construção, desenvolvimento, crescimento, o consumo das drogas espelha uma atitude de autodestruição, uma postura tóxica e corrosiva para a nossa saúde e desenvolvimento.

Tem existido nos últimos anos um esforço por parte dos governos, da sociedade e dos média no esclarecimento acerca desta realidade, e todos sabemos hoje, muito mais e melhor do que há uns anos, os malefícios dos consumos de droga e as consequências reais da dependência de drogas. Importa então saber o que leva os jovens de hoje – informados e esclarecidos -, a consumirem drogas?
Parece-me evidente que existem questões ambientais e sociais que o propiciam ainda hoje estes consumos, mas por outro lado há também ainda uma desresponsabilização face às consequências dos consumos continuados e das dependências.
Dizer hoje a um jovem pré-adolescente ou adolescente, que com 30 anos terá problemas devido aos consumos de substâncias tóxicas não pode ser levado em consideração porque não há por parte do jovem um verdadeiro contacto com essa realidade, nem a possibilidade de elabora-la e integra-la no seu comportamento.

Também por isso houve uma adaptação das campanhas no sentido de focarem aspectos que de alguma forma tocam e comunicam com os adolescentes, daí as campanhas anti tabagistas adoptarem por uma linguagem dentro da linha “fumar não é cool”.
No entanto, quando praticamos desporto, as consequências dos consumos de drogas e da adopção de comportamentos tóxicos para o nosso corpo e para a nossa saúde, ficam evidentes no imediato, torna-se factor decisivo no nosso desempenho e na prática desportiva.
O desporto exige sempre uma postura positiva para com a vida, uma vontade de chegar mais longe, de fazer melhor, e só por si, a prática desportiva promove uma maior consciência corporal, uma maior vontade de cuidarmos de nós, através da adopção de comportamentos mais respeitadores do nosso corpo e da nossa saúde.

Por outro lado, numa visão social destes aspectos, a prática desportiva oferece aos jovens a integração num grupo. Como todos sabemos os consumos de drogas são um comportamento marginal (na medida em que são recusados pela sociedade) e são também normalmente recusados dentro de um grupo desportivo, que se caracteriza essencialmente por uma postura mais saudável para com a vida.
Mesmo que um jovem tenda a enveredar por comportamentos mais disruptivos, como os consumos de drogas, o grupo, tenderá a recusar esse tipo de comportamentos, tentando anula-los ou rejeita-los.

Os consumos de drogas surgem frequentemente no seio de estruturas familiares ou sociais fragilizadas, e a inserção no grupo oferece ainda um sentimento de acolhimento, de pertença e de igualdade, restabelece a capacidade de fazer face às dificuldades próprias de um período tão turbulento como a adolescência.
Num grupo desportivo alicerçam-se ainda laços de amizade que se constituem como o suporte para a vivência e a possibilidade de ultrapassar angustias, duvidas, inseguranças e incertezas individuais.
A adesão e integração num grupo fazem parte de uma das mais ricas e saudáveis experiências da adolescência. A estruturação da identidade e da individuação desenvolve-se no seio de uma dinâmica grupal, através da identificação com comportamentos, ideais, hábitos de determinados grupos. O grupo desportivo oferece uma espécie estrutura social onde predominam os hábitos saudáveis e as praticas individuais em prol do esforço comum.

Ainda assim, e porque continuam a existir consumos de drogas preocupantes entre os jovens, e porque o desporto é um aliado à prevenção da toxicodependência, mas não se constitui por si só como a solução para um problema tão complexo, reforço que: Não é novidade que o consumo de drogas é prejudicial, mas para abraçarmos esta realidade temos de perceber o que faz com que os jovens informados e esclarecidos não resistam ao contacto com uma realidade distorcida e a um humor disfórico, um falso frágil e efémero estado de ânimo.

1 comentário:

maria inês disse...

Muito esclarecedora a relação entre ambos, e muito bem escrito!
Um beijinho