quarta-feira, dezembro 26, 2007

Peritos em Psicanálise Aplicada debateram os aspectos clínicos, sociais e culturais das manias, numas jornadas em Santiago de Compostela.



As manias são necessárias ao desenvolvimento normal do indivíduo já que geram “prazer e evasão da dor” e, por conseguinte só podem chegar a ser “muito danosas” se degenerarem numa patologia clínica, segundo psicólogos. Um dos peritos abordou “Ler Dom Quixote como cura”, já que tal como explicou Blanca Martínez, uma das psicólogas do comité organizador, este personagem literário reflecte de “forma brilhante algo que todos nós temos cá dentro”. Assim, argumentou que em cada indivíduo está presente o desejo e idealização da realidade que representa o cavaleiro da triste figura, para além de que também “os pés na terra” de Sancho, “ainda que no fundo todos nós quiséssemos ser Dom Quixote”.
Deste modo, outra das coordenadoras Maria da Cruz Cabada frisou que a mania é necessária ao desenvolvimento normal do indivíduo e a sua degeneração em patologia é uma questão de grau e intensidade da mesma.
O presidente de Gradiva, Eugénio Cornide, destacou que “o problema é que o facto de ser um dom ou gerar criatividade não é garantia de saúde”, enfatizando que a sua derivação em transtornos clínicos pode assumir as formas de bipolares ou de depressões, conjuntamente com estados latentes de excessiva de euforia com sentimentos de “grandiosidade”; hiperactividade; ou hipersexualidade, sendo que é imprescindível o recurso à farmacologia e psicoterapia para tratar os mesmos.
De qualquer das formas, estes peritos frisaram que as manias correspondem “à busca de prazer e do evitar da dor, que está presente em todos nós”, salientou Carnide. Deste modo, a psicóloga Maria da Cruz Cabada destacou o facto de que pode chegar a evitar suicídios pela ajuda e escape que proporcionam em momentos de intensa dor.

FONTE: EFE
Publicado em 16 de Novembro de 2007.
Picture by Picasso.

2 comentários:

Rosa Silvestre disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ana Almeida disse...

Na minha opinião o funcionamento maníaco ou hipomaníaco quando utilizado pela personalidade em "doses moderadas" pode, efectivamente, ser um bom auxilio para suportar estados emocionais de dor intensa, enquanto o psiquismo se prepara a um outro nível para poder lidar com esses mesmos sentimentos. Mas como todos os "anestésicos" pode gerar um efeito prejudicial quando a pessoa a evasão da dor deixa de ser uma "manobra" temporária e passa a ser um fim em si mesmo. Todos precisamos de ser um bocadinho D. Quixotes com as suas ilusões megalómanas e idealizações românticas, mas sempre temperadas pelo realismo do seu escudeiro, Sancho Pança.