Para grande parte das pessoas, o início do ano novo é
acompanhado de resoluções, por decisões de mudança. Algumas pessoas, por seu
lado, optam por não decidir, numa espécie de contra-resolução. A não decisão é,
por si só, uma decisão. A decisão de deixar estar, de se conformar (mais do que
aceitar), associada a um sentimento de impotência que congela qualquer
capacidade de ação. E muitas vezes, esta não resolução está assente num
sofrimento que leva ao faz de conta, à petrificação do afeto como forma de distanciamento
emocional. Recordo a citação de Pedro Strecht que partilhámos esta semana na
página do Facebook:
"A dor psíquica é uma espécie de fogo (...) O gelo
também queima. O gelo também paralisa, incomoda e petrifica. O gelo cria uma
defesa tão impenetrável como o fogo (...) como se entre o contacto perturbado
ou perturbador e a ausência desse mesmo contacto, não houvesse, afinal,
uma distância assim tão grande. Qual o lugar do amor, entre o fogo e o
gelo?"
("O vento
à volta de tudo- uma viagem pela adolescência")
E apesar deste pensamento ser retirado de uma obra sobre a
adolescência, leva-nos à impenetrabilidade do fogo e do gelo, que frequentemente
se mantém em padrões de funcionamento ao longo da vida. Um padrão em que a
tentativa de não sentir muitas vezes satisfaz mais o outro, do que o próprio.
Uma não decisão mascara a não-mudança e apesar de aparentemente disfarçar o
sofrimento, apenas irá congelá-lo.
Sem comentários:
Enviar um comentário