quarta-feira, janeiro 17, 2007

Sonho - essa ferramenta

"Por que deixar uma ferramenta como os sonhos enferrujada?
Por que deixar a caixa fechada, quando é um presente que nos foi dado?
Um presente com poderes que podem alterar nossas vidas."

Richard Bach

Desde a Antiguidade vemos o interesse pelos sonhos, na Sociedade Egípcia, na Grécia Antiga, de Platão, a Aristóteles até Artemidoro que colocou um carácter interpretativo e relacional nos sonhos, remetendo para uma concepção algo inovadora, apesar de os relacionar muito com o mítico e o profano.
Mas é com o pai da Psicanálise que os sonhos ganham uma relavância extrema. Freud, em seu livro, A Interpretação dos Sonhos esquematiza os sonhos por temas, relaciona-os com a vigília e o conteúdo do sonho, e atribui-lhes a possibilidade dum método científico.
A teoria dos sonhos, como Freud a postulou foi sofrendo alterações, quer pelo próprio, quer por diversos autores, mas o seu contributo foi tão valiosos que é sempre tomado como ponto de partida.
Todo o sonho tem o seu conteúdo, manifesto e latente (aquilo que é relatado, e o seu significado oculto) os mecanismos de trabalho do sonho (deslocamento, condensação...) e mecanismos de defesa.
Os sonhos relacionam-se com a vida do sonhador enredando situações com fortes cargas emocionais, e quando analisados, quando compreendidos, podem enriquecer muito a vida do sonhador, pois oferecem-nos a possibilidade de conhecer as problemáticas actuais de cada indivíduo.
Como nos diz Coimbra de Matos, o sonho assume capacidade diagnóstica e prognóstica, sendo que, por vezes, um sinal de melhoria aparece num sonho, em indivíduos em terapia.

De facto as caminhadas oníricas são sombrias, obscurecidas por diversos elementos, mas, quando rumo à luz, à claridade, põem em acção saberes, recalques de uma vida outrora esquecida, ou tentada a esquecer, aquecendo a nossa alma, fazendo-nos viver e reviver.

domingo, janeiro 14, 2007

Há muito que não sonha..? parte II

Esta parte II surge duma questão pertinente duma nossa leitora.
Quando terminei o post anterior, referi que o facto de sonharmos muito numa noite e nada sonharmos noutra, tinha que ver com o ciclo do sono e a fase em que acordávamos.
Ora, ao longo de uma noite de sono passamos pelos diferentes estádios do sono, e se atendermos que por volta dos 100 minutos de sono entramos no último estádio do sono, o REM, verificamos que este ciclo se repete entre 4 a 5 vezes por noite. Portanto, temos acesso à fase REM várias vezes numa noite.
Como pode acontecer que ao acordar não nos lembremos dessa noite de sonhos?
Não sonhei de facto?
Ou apenas não me recordo dos sonhos?

O que acontece é que não nos recordamos dos nossos sonhos. Quando um indivíduo não sonha, ou seja, não atinge a plenitude do seu ciclo de sono, é porque sofre de distúrbios do sono. Este é interrompido várias vezes e não se completa, daí uma redução da fase REM. Este sim, é um factor que faz influênciar a redução da quantidade de sonhos dos indivíduos e produzir dificuldades de concentração, de atenção...

Numa noite de sono regular existe uma produção onírica "razoável", mas a sua recordação depende do momento do despertar. Se acordarmos logo após a fase REM temos uma plena recordação do nosso sonho, mas se acordarmos numa fase posterior já temos mais dificuldades em recordar. Isto acontece porque as imagens a que temos acesso no sonho remetem para a memória a curto prazo, dissipando-se facilmente.

Post de Ricardo Miguel Pina

Ricardo Miguel Pina escreveu sobre o Diagnóstico Psicológico aqui. Aconselho vivamente a leitura deste post a todos os interessados neste assunto.

O colega chama a atenção dos leitores para um ponto que também me parece fundamental e que raramente é falado abertamente. De acordo com RMP o diagnóstico pode ser útil para o paciente, referindo “Existem muitas pessoas que sofrem acrescidamente pela ignorância daquilo que os afecta. Sentem necessidade de saber. Esse saber confere-lhes, em alguns casos, uma sensação de domínio sobre si mesmos e o que os afecta, o que é de inolvidável valor terapêutico. Assim sendo, se o clínico julgar a priori benéfico para o paciente dar-lhe conhecimento do nome daquilo que o afecta, ele deve fazê-lo.”. Concordo com esta posição. Penso que existe da parte dos clínicos alguma tendência para verem os seus clientes/pacientes como pessoas que têm que ser protegidas do conhecimento do seu diagnóstico. Considero que na maioria das vezes esta atitude promove a infantilização do paciente e é sustentada pelo desejo inconsciente do psicólogo/psicoterapeuta se superiorizar face ao paciente.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Há muito que não sonha...?


É frequente dizermos que há muito que não sonhamos, ou que durante uma altura sonhamos muito, mas que depois existe outra em que nada sonhamos.
Mas será mesmo que sonhamos muito nuns dias e muito pouco nos outros?
Mediante estudo polissonográfico podemos definir o padrão do sono e perceber que este oscila entre ondas lentas, rápidas, alfa e teta, oscilando entre várias fases que vão desde o estado de vigília até ao sono profundo. Estas fases dividem-se em quatro que correspondem à fase NREM (no rapid eyes movements) que vai desde o estado de vigilia ( fase 1 e 2) até ao sono profundo (fase 3 e 4) mais o sono paradoxal que corresponde à fase REM (rapid eyes movements), onde sonhamos por excelência.
Nesta fase são activados uma série de circuitos, assim como uma torrente de emoções, todos ao serviço dos sonhos. Existe ainda uma "limpeza" da informação que deixou de ser importante, bem como a passagem da memória a curto prazo, para a memória a longo prazo. Aqui o limiar do despertar é extremamente alto.
Existe uma diminuição do tónus muscular assim como a presença de movimentos oculares rápidos (REM), correspondendo à fase em que o corpo está paralizado, mas a mente activa.
Poder-se-á dizer que no estádio 3 e 4 do sono o indivíduo encontra-se numa fase de reparação física, cabendo ao sono paradoxal a recuperação mental e psicológica.
Todos estes estádios estão presentes ao longo do sono, repetindo-se num ciclo que dura entre 90 a 120 minutos. O sono paradoxal ocorre cerca de 100 minutos após o adormecimento, tendo uma ocorrência total, no ciclo do sono, de 29%.
O facto de sonharmos muito numa noite e nada sonharmos em noites seguintes, tem que ver com este ciclo do sono e com a fase em que acordamos.

O despertar

Abro os olhos lentamente e olho na direcção da janela. A persiana fechada não me deixa ver se é tarde ou cedo na manhã. Pouco importa. Levanto-me dorida do sofá da sala onde já durmo há mais de 6 meses. Deixei o quarto e a cama para o Álvaro. Prefiro as dores no corpo à insónia a que condenava o seu ressono. Depois, é aqui que ele passa os dias desde que se reformou: sentado a ler. De uma forma estranha sinto-me mais próxima dele aqui do que se dormisse ao seu lado na cama. Houve um tempo em que eu também gostava de ler, mas esse gosto amargou quando me apercebi que, sem dar por isso, tinha perdido o meu marido para os livros. A rotina é sempre a mesma: sai de casa cedo, pé ante pé para não me acordar, e regressa por volta das 11h trazendo debaixo do braço o Público e, dia sim dia não, um saco de uma livraria que, geralmente é a Bertrand. Uma vez por outra passa no Pingo Doce a caminho de casa e traz-me uma ou outra coisa que se apercebeu que faltava, mas é raro. A maior parte das vezes a paragem no supermercado serve apenas de desculpa para comprar aquele queijo especial de que ele tanto gosta, a garrafa de Porto ou de vinho tinto e mais uma ou outra guloseima que eu, por sistema, me abstenho de comprar. Depois, senta-se aqui neste mesmo sofá. Vai cá ficar o dia todo, mas assim que aproxima dos olhos o livro aberto é como se voltasse a sair. Para mim, que fico de fora, é como se desaparecesse para dentro de um mundo onde eu não existo, nunca existi. Do seu rasto neste mundo onde somos casados há 43 anos ficam apenas os livros que ele já leu e que se acumulam pelos cantos da casa depois de terem preenchido por completo as estantes de parede. Ajeito as almofadas do sofá. Um carro apita lá fora. Dobro cuidadosamente a manta que uso para me cobrir durante a noite. A casa está completamente envolta na penumbra e cheira ainda a sono e sonhos. Percorro lentamente o corredor até ao quarto. À porta, chamo baixinho pelo seu nome: "Álvaro?". Silêncio. Acendo a luz e consulto o relógio na mesinha-de-cabeceira: 10h. Já saiu por certo há um bom bocado. Pouco importa.

Voluntariado

A revista Xis de sábado, dia 6 de Janeiro de 2007 traz um artigo de autoria de Inês Menezes sobre o voluntariado que julgo pertinente fazer referência e que recomendo vivamente a leitura.

É enaltecido o valor do voluntariado, não só pela importância da solidariedade para com os mais desfavorecidos como também pela previsível falência do Estado-Providência e as necessidades daí decorrentes de uma série de problemas terem que ser resolvidos pela sociedade civil, a denominada cidadania activa. Aliados a estes factos são referidos ainda o prazer do encontro com o outro, as relações afectivas, a atenção ao outro, a ocupação dos tempos livres (necessidade eventualmente sentida pela antecipação da idade da reforma), o sentimento de que todos somos responsáveis pelo mundo em que vivemos e de que nem todos temos as mesmas oportunidades.

É frisada a ideia de que os valores ligados ao altruísmo e à solidariedade são passíveis de serem transmitidos no seio da família e de se perpetuarem através das sucessivas gerações, ou seja a necessidade de educar para os valores da partilha, da solidariedade e da responsabilidade .

A caridade não deverá ser dissociada do afecto e do carinho, pois estes podem ter um papel determinante na ajuda às pessoas para mudarem de vida, para acreditarem em si mesmas, para terem auto-estima suficiente para lutar contra as adversidades.

A necessidade de humanizar mais o mundo consumista em que vivemos é premente, destacando-se que o importante não é ter mas ser.

Elza Chambel, presidente do Conselho Nacional para a Prevenção do Voluntariado refere o voluntariado como um dever de honra. As actuais necessidades aliadas ao aumento da esperança de vida e aos consequentes aumento da doença e do isolamento atestam a importância que o voluntariado têm vindo a adquirir para o colmatar dessas mesmas. Contudo é relevante frisar que nem todas as pessoas podem ser voluntárias, pois uma das condições essenciais é o compromisso real, ou seja a boa vontade não é per si suficiente, um esforço sério, sem falhas, é requerido, sendo que profissionalização e formação adequada são absolutamente essenciais. Esta missão é assegurada pelos bancos locais de voluntariado, para mais informações consulte http://www.voluntariado.pt/ .

No dia 10 de Outubro (2006) foi criada pela Entreajuda –Apoio a Instituições de Solidariedade Social, a Bolsa de Voluntariado, cujo objectivo é estabelecer a ponte entre quem quer dar e quem quer receber ou seja conciliar o interesse de potenciais voluntários com as necessidades existentes, minimizando deste modo aquilo que Isabel Jonet, autora do projecto, designa por “desperdícios de pessoas”. Destaquem-se a bolsa de talentos e o banco de utilidades ambos inseridos neste projecto. A primeira permite não só a oferta de trabalho especializado segundo talentos específicos bem como que voluntários com qualificações específicas possam ser uma ajuda preciosa para as instituições com poucos recursos, explica Jonet. Quanto à segunda permite que material em bom estado (brinquedos, mobiliário, material informático, equipamento de escritório, vestuário, entre outros) que as pessoas tenham e que não saibam a quem dar seja recolhido e distribuído por instituições dele carenciadas. Para informação detalhada consulte-se http://www.bolsadovoluntariado.pt/ .

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Efeito de Werther















Antoine Wiertz, O Suicídio (1854)

O romance Die Leiden des Jungen, de Goethe, que termina com o suicídio do seu protagonista, provocou igualmente uma onda de suicídios após a sua primeira publicação em 1774. Referindo-se a este acontecimento Phillips (1974) designou-o como "efeito de Werther".

Estudos recentes confirmam actualmente o efeito de Werther em suicídios. Estes estudos apontam para um efeito de imitação efectuado de forma especifica em relação a subgrupos da população - adolescentes, instituições, grupos étnicos - ou a alguns métodos de suicídio.

A explicação desta teoria encontra-se limitada, devido à escassa informação das vitimas. Porém a informação existente remete para a hipótese de existir uma desinibição das tendências suicidas. Entende-se por desinibição, o fortalecimento do comportamento apreendido levado a cabo devido a restrições comportamentais, por influência de um modelo.

Neste sentido, os indivíduos que decidem suicidar-se consideram essa possibilidade durante algum tempo, mas evitam avançar, devido à reprovação deste acto. Porém os suicidas que recebem atenção pública podem despoletar suicídios por imitação entre potenciais suicidas, aumentando-lhes a expectativa de que o seu suicídio poderá gerar uma atenção póstuma, sentimento de pena ou aumentar o seu estatuto social.

A descoberta de que existem aumento de suicídios após o suicídio de uma celebridade está de acordo com a hipótese de desinibição.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

As três etapas ou estádios diferentes ao longo da Infecção por VIH


Este post surge da necessidade de esclarecer algumas confusões quando se fala da Síndrome de Imunodeficência Adquirida (SIDA), visíveis nalguns discursos de técnicos de saúde.
Contrair a infecção por VIH não significa contrair SIDA. A pessoa infectada pode permanecer em média 15 a 20 anos sem sintomas (razão pela qual pode desconhecer que tem a doença), mas pode transmitir o VIH por via sexual (sem preservativo), por via parentérica (que resulta da inoculação ou injecção directa de sangue infectado) e por transmissão vertical (da mulher grávida infectada para o recém-nascido). Esta última suscita ainda algumas confusões graves, pois existem obstetras que, ou a desconhecem (tenho algumas dúvidas) ou que estão carregados de crenças e medos, mas que pela extensão do tema discutirei num outro post.
Retomando o tema, nas situações por VIH, 5 a 8% das pessoas infectadas poderão não evoluir para o estádio de SIDA.
O VIH quando entra no organismo humano desenvolve-se, após o período de incubação (intervalo de 3 semanas a 3 meses – no máximo 6 meses – que medeia entre o contacto com o VIH e o desenvolvimento dos primeiros sinais e sintomas), em três etapas diferentes ao longo do tempo:

1. Infecção primária, designada também por infecção aguda;
2. Período de infecção assintomática (infecção sem sintomas importantes);
3. Período sintomático que se subdivide em:
- período sintomático com sintomas e sinais constitucionais;
- Síndroma da Imunodeficiência Adquirida (SIDA).

Em cada um destes estádios, os efeitos e os sintomas que o VIH provoca no organismo são diferentes.

1. Infecção primária ou aguda por VIH
Findo o período de 3 semanas a 3 meses (máximo 6 meses) após o contacto com o VIH, a pessoa desenvolve, um conjunto de sinais e sintomas, não específicos, que só serão suspeitos de infecção por VIH se a pessoa referir uma possível exposição àquele vírus. Os sintomas mais referidos são: febre, dores musculares, erupção na pele, suores nocturnos, dores nas articulações, dores de garganta, aumento do tamanho dos gânglios linfáticos, úlceras na boca. Geralmente, os sinais e sintomas duram, em média, cerca de duas semanas e desaparecem sem deixar qualquer tipo de consequência. Estes sintomas desenvolvem-se porque se conclui o ciclo de multiplicação de VIH nos gânglios linfáticos, lançando para o sangue periférico cerca de 100 milhões de partículas de vírus por dia, que se dispersam pelo corpo, e porque o organismo produz anticorpos e outras substâncias para combater esta intensa actividade de multiplicação de VIH, o que explica o altíssimo risco de transmissão.

2. Período de infecção assintomática
Este período sem sintomas gera alguma confusão nas pessoas, sobretudo quando o relacionam com o tempo necessário para se efectuar o diagnóstico desta infecção.
O diagnóstico de infecção por VIH é efectuado 3 semanas a 3 meses (no máximo 6 meses) após exposição ao vírus, mesmo quando não apresenta sintomas.
O período assintomático desenvolve-se depois da infecção aguda e o doente pode permanecer sem qualquer sintoma, em média, durante 15 a 20 anos, necessitando de ser regularmente acompanhado pelo médico assistente. Durante este acompanhamento avalia-se os efeitos que o VIH exerce sobre as células que são responsáveis pelas defesas no organismo, entre as quais os linfócitos CD4 (que têm como função regular e defender o nosso organismo contra a invasão de agentes causadores de doenças) e avaliar a intensidade com que o VIH se multiplica, através da quantidade de carga vírica. Da conjugação dos valores obtidos com a situação clínica e com a sua capacidade para iniciar tratamento, define-se em equipa multidisciplinar, quando ela existe (médico infecciologista, psicólogo, enfermeiro, assistente social), o melhor momento para se começar a terapêutica anti-retrovírica.

3. Período sintomático
Com o passar do tempo, as células CD4 vão diminuindo em número ou a sua função poderá ficar perturbada, e o doente começa a desenvolver sintomas como febre prolongada, aumento dos gânglios linfáticos (pequenos “caroços”) no pescoço, nas axilas e nas virilhas, suores nocturnos, perda de peso sem motivo aparente, cansaço, diarreia arrastada, em que alguns sintomas são chamados de constitucionais. Este período sintomático inicial é, por isso, chamado de período sintomático com sintomas e sinais constitucionais.
O estádio mais avançado da infecção por VIH é designado por SIDA, que se caracteriza pelo aparecimento de um conjunto de infecções ou tumores oportunistas, que aproveitam o facto das defesas estarem enfraquecidas para se desenvolverem em vários órgãos ou sistemas. São exemplo de infecções oportunistas a tuberculose pulmonar ou localizada noutro órgão que não o pulmão, a pneumonia por um agente chamado Pneumocystis carinni (actualmente Pneumocystis jiroveci) e infecções provocadas por algumas espécies de fungos, como Cândida, que provocam lesões formadas por pequenas placas esbranquiçadas aderentes na língua, bochechas, gengivas, véu do paladar, candidose oral, e esófago, candidose esofágica. O sistema nervoso central também pode ser atingido por infecções e tumores oportunistas, sendo a mais frequente a toxoplasmose cerebral (reactivação de uma infecção adormecida no cérebro, provocada por um agente que a maior parte das pessoas terá contraído na infância e que reaparece porque a capacidade de defesa está diminuída pela agressão causada por VIH) e a meningite criptocócica, provocada por um fungo designado Cryptococcus neoformans. Os tumores oportunistas mais frequentemente referidos são o Sarcoma de Kaposi (quando se localiza na pele, manifesta-se através de nódulos salientes de cor violácea, em áreas visíveis do corpo, como o dorso do nariz, fronte, pálpebras, ou em qualquer outra parte do corpo como boca, tubo digestivo, pulmões e órgãos sexuais), os linfomas, mais no sistema nervoso central e, nas mulheres, o cancro do colo do útero, pelo que é fundamental efectuar, regularmente avaliação ginecológica.
Nas situações de imunodeficiência avançada, os doentes podem desenvolver lesões nos olhos, provocados por um agente designado citomegalovírus, que se não tratado a tempo, poderá provocar cegueira e dispersar-se por várias áreas do corpo, entre as quais o cérebro, causando encefalite. O VIH pode atacar as células do sistema nervoso central, provocando um complexo demencial associado à SIDA, que é responsável por queixas como esquecimento, apatia, perturbações do comportamento, dificuldades de tomar decisões, problemas de coordenação dos movimentos, entre outros.
Daí que qualquer profissional de saúde que trabalhe nesta área tenha conhecimento aprofundado sobre todas as possíveis alterações, de forma a acompanhar o paciente em todas as mudanças físicas e/o psicológicas decorrentes do VIH.
O post vai bem extenso, mas penso que ficaria incompleto se não descrevesse todos os estádios desta infecção. O impacto psicológico terá que ficar para depois, mas deixo aqui o desafio de irem pensando sobre esta doença que continua a ser uma epidemia que alastra por todo o mundo.

domingo, janeiro 07, 2007

BABEL

Há que ir ver Babel, o filme de Alejandro González Iñarritù. Um estúpido, mas grave, incidente em Marrocos, que envolve dois miúdos, articula-se com o caos em Tóquio e na fronteira entre o México e os USA. A globalização está aí, com os lados bons e maus que sempre acompanham as coisas da vida. E depois, é o irracional, a violência, por vezes o pânico, a incapacidade de comunicação que comanda o jogo. Não há nem bons nem maus, só imprevidentes. Que somos todos nós. A miúda em Tóquio está, à sua maneira, tão desamparada como o rapazito marroquino que quer ser homem e atira a matar. Há também lugar à generosidade, à compaixão. Ou à mais absoluta indiferença. Enfim, é a nossa história e a nossa condição. O desamparo da espécie humana diante das agruras da vida. E como prevê-las? Alguém sabe? Como estar preparados para o pior, sem cair na paranóia? Como estar vigilante sem cair na obsessão? Enfim, é sempre a mesma pergunta que o Homem se coloca há milhares de anos: como viver?
PS:
O filme foi premiado no Festival de Cannes (o que nem sempre é garantia, mas desta vez acertaram). Conta com os desempenhos de Brad Pitt e Cate Blanchett. Está em exibição em vários cinemas do país.

POEMA

No post sobre o microcrédito, que só uma pessoa comentou (obrigada, Pedro! Mas já desconfiava que o assunto não era agradável), tinha prometido divulgar um poema do Henley. Aqui vai. Se por caso alguém tiver dificuldade no inglês, terei muito gosto em ajudar. Em poesia, que vive sobretudo da metáfora, se não se percebe uma palavra, às vezes não se consegue apreciar devidamente o conjunto. Mas também existem os dicionários, claro. E há alguns óptimos na net.

INVICTUS
By William Ernest Henley. 1849–1903

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll,
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.

É lindo, não é?
Agora vêm as más notícias. Este era o poema preferido de um homem chamado Timothy James McVeigh, de que talvez se lembrem. Era o bombista de Oaklahoma (nesse atentado, em 1995, morreram 168 pessoas). Foi executado em 2001.
Pois é, também o comandante de Auschwitz, Höss, era um melómano e Hitler era louco por Wagner. A alma humana (no sentido de psyche) é abissal.
Desculpem lá o balde água fria.

Caixa para guardar o vazio.


Vai realizar-se, a partir de 3 de Fevereiro e através do CENTRO DE PEDAGOGIA E ANIMAÇÃO do Centro Cultural de Lisboa (CCB) um conjunto de três oficinas diferentes, a partir da escultura performativa, criada pela artista plástica Fernanda Fragateiro.

As oficinas destinam-se a um público infantil, embora uma das oficinas possibilite a participação de toda a família.

Só pelo nome, mereceu toda a minha atenção!
Oficina CAIXA PARA GUARDAR O VAZIO!

Mais informações em http://www.ccb.pt/ccb/

quarta-feira, janeiro 03, 2007



Aproveitando o tema do post anterior: Ano Novo, Vida Nova!

Este ano, talvez mais do que nunca, tive a percepção do quanto é organizador finalizar um ano e iniciar outro.

Começamos pelos desejos, o que nos renova as esperanças de que este ano é que vai ser!!!!! Reorganizamos as agendas, inscrevemo-nos nas aulas de dança, compramos um novo livro, tentamos deixar de fumar, etc etc.
A mudança de ano oferece-nos a possibilidade de recomeçar qualquer coisa, abandonar o que correu menos bem no ano anterior e limpar a casinha para novas vivências.
Antes de dia 31, fazemos uma retrospectiva do que foi o ano anterior, aproveitamos para fazer alguns lutos, para reter algumas aprendizagens e no fundo seleccionamos o que queremos virtualmente levar connosco para este novo ciclo.

E afinal, em apenas um minuto: Fecha-se um ciclo e abre-se um novo!

Um feliz ano para todos!!!

segunda-feira, janeiro 01, 2007

Ano Novo Vida Nova!



Esta é uma frase que ouvimos com frequência nesta altura do ano. Mas que significado poderá ter na nossa vida?

Poderíamos dizer simplesmente que não vamos cometer os mesmos erros do passado, afinal há tantos erros novos para cometer, porque não inovar?

Será que no passado procuramos as causas dos nossos erros, ou seja, fizemos um trabalho de consciencialização dos nossos actos? Se o fizemos, parabéns! Temos fortes hipóteses de mudar alguma coisa na nossa vida. Se não, temos pena mas a nossa vida será mais ou menos a mesma coisa em 2007.

Será que na sofreguidão de comer as 12 passas e pedir os 12 desejos tivemos tempo de fazer uma análise, por muito breve que seja, do ano de 2006?
Creio que a maioria de nós se centrou nos desejos… eu por mim só pedi um e coloquei todas as passas na boca só de uma vez!

Se tivessem que escolher apenas um desejo, qual escolheriam?

P.S.) Não vale pedir mais 1000 desejos!!!

quinta-feira, dezembro 28, 2006

8 Factores de burnout no casamento.




Segundo Pines (1996) existem oito factores chave para o desenvolver do burnout conjugal. Passarei a enumera-los:

1- As pessoas que acreditam no amor romântico esperam do compromisso da sua vida, um sentido muito significativo.
2- Há uma relação directa entre o amor romântico e o burnout. Estar apaixonado é o estado inicial e o pré-requisito para o processo de burnout.
3- Apesar da singularidade da experiência de estar apaixonado, o “como” e o “porquê” da experiência são universais.
4- Existe uma interacção entre os parceiros e o ambiente. Não é a maneira de ser do parceiro que causa o burnout, mas antes a destruição de um ideal romântico frente a stressores situacionais que são erradamente atribuídos ao companheiro.
5- O ambiente não é a totalidade da realidade objectiva externa. Cada um de nós experiência uma percepção subjectiva representativa do mundo.
6- A esperança que o amor romântico resulte, é marcada pelos valores culturais, vem das expectativas pessoais e faz parte do sistema de crenças. As expectativas são activadas quando as pessoas se apaixonam e assumem a sua maior expressão quando é assumido um compromisso. Esta esperança exerce um efeito poderoso na relação, particularmente quando inconsciente e não abertamente verbalizado. A força deste efeito é sobretudo, pela sua forte associação à essência da vida.
7- A frustração das expectativas românticas causa amargura, desapontamento e com isso a erosão no amor e no casamento. De qualquer maneira, a realização de expectativas não é por si só uma garantia contra o burnout. As ideias românticas podem ser frustradas com a pessoa, no entanto, podendo ainda manter um sentido à essência da vida.
8- A interacção entre o casal e o ambiente percebido, pode ser positiva ou negativa, para a relação amorosa. No melhor dos casos, existe um equilíbrio entre segurança e desenvolvimento, traduzindo-se numa relação amorosa em crescimento, daí provem vida com sentido e significado. Na pior das circunstâncias advém a morte do amor, o burnout conjugal.

Este post já vai extenso e como tal comentarei apenas o primeiro ponto.
A expectativa criada à volta de um relacionamento pode ser a corda que o vai estrangular a longo prazo. Ou seja, se não estivermos cientes que o nosso bem-estar psicológico depende unicamente de nós, estamos a atribuir ao outro a responsabilidade mágica da nossa felicidade.
E isso é uma responsabilidade do tamanho do mundo!

Portanto, a vida não é apenas a relação conjugal… é muito mais que isso. E pode nem ter uma relação conjugal, que continua a ser uma vida com alegria e significado para o sujeito.

terça-feira, dezembro 26, 2006

"Silentiu"


Ao pensar no valor do silêncio, no lugar que o silêncio ocupa na relação terapêutica, o que surge de imediato à memória?

Se para uns, tal é sentido como um desconforto, para outros, certamente que não o é.

Será que o silêncio ocupa o lugar da palavra ou sobrepõem-se ao lugar do próprio silêncio?

Parece-nos que existem muitos "silêncios". O silêncio daquele que pensa falar mas não fala por opção, daquele que não consegue falar e daquele que simplesmente não quer falar. Também poderá haver o silêncio daquele que não lembra "a palavra". E ainda, aquele silêncio que surge nas reticências das palavras ditas.

Actualmente, no contexto e ritmo das ditas sociedades ocidentais, "civilizadas", urbanas, etc e tais, onde se encontra o silêncio? Que significado se atribui?

Deixemos as palavras de quem escreve sobre o silêncio:

"...o silêncio deixa de afirmar, escuta, demora-se npos objectos insignificantes, não em arcas e armários, em bibelots, cofrezinhos, não somos a gente a ouvi-lo, é ele a ouvir-nos a nós, esconde-se na mão que se fecha, numa dobra d etecido, na gaveta onde nada cabe salvo alfinetes, botões, pensamos ' vou tirar o silêncio dali'...

António Lobo Antunes
"Ontem não te vi em Babilónia"

sexta-feira, dezembro 22, 2006

O MICROCRÉDITO E O CRÉDITO QUE DAMOS A NÓS PRÓPRIOS

Alguém sabe o que é o microcrédito? Eu tinha lido umas (poucas) coisas sobre isso há uns meses atrás quando o prémio Nobel da Paz foi atribuído a um economista, o Prof. Yunus. Como me apeteceu saber mais, fui assistir há alguns dias a uma conferência, aberta a qualquer pessoa, sobre o assunto.
Então, o que fez este professor de economia para merecer o Nobel da Paz? Tudo começou há cerca de trinta anos, no Bangladesh. Impressionado com a pobreza à volta da universidade onde dava aulas (não era preciso ir mais longe), ele inventou formas de dar às pessoas possibilidade de se organizarem e conseguirem montar os seus próprios pequenos negócios, saindo de uma situação de pobreza extrema. Um dos problemas dos pobres, raciocinou o Prof. Yunus, é não conseguirem obter empréstimos bancários dos bancos tradicionais. Porque, como se sabe, esses bancos só emprestam a quem pode dar “garantias” (se for uma hipoteca, ainda melhor). O Banco Gremeen, criado por Yunus, concede hoje empréstimos a 7 milhões de pobres ou ex-pobres, muitos dos quais são seus mutuários. De forma acumulada, o Banco Gremeen já concedeu até hoje empréstimos no total de 6 biliões de dólares e tem uma taxa de reembolso de 99%! (Isto é, 99% dos empréstimos são pagos. É uma taxa muito boa). É financeiramente auto-suficiente – não recebe donativos desde 1995. E atribui 30.000 bolsas de estudo por ano.
E que têm o Prof. Yunus, o microcrédito e os pobres do Bangladesh a ver com psicologia, perguntar-se-á. Têm tudo.
O Professor Yunus não se pôs a pensar em termos de caridade ou de subsídios do estado como resposta para a pobreza (embora também não se fizesse rogado a ajudas e subsídios). É um bocado como aquela história da diferença entre dar o peixe ou ensinar a pescar o peixe. O Prof. Yunus tinha, e tem, a convicção de que as próprias pessoas se tinham de organizar para desenvolverem uma actividade ou um pequeno negócio. E isso às vezes é mais complicado do que se pode pensar. Tem a ver com a vontade de prosseguir um objectivo, de trabalhar para isso, de assumir as responsabilidades pelas decisões tomadas, de conseguir ultrapassar as inevitáveis frustrações, de ter a humildade de reconhecer um problema e corrigir o rumo, de saber aceitar a ajuda de quem eventualmente saiba mais. Em termos de psicologia de organizações, chamamos também a isto “empowerment”. Não é só ter poder. É mais do que isso. É saber usar o poder, principalmente o poder sobre si próprio. O poder de sermos nós próprios, com as nossa fraquezas e as nossas forças. O poder de criar alguma coisa, de fazer aquilo que sonhámos. O poder de se ser capaz de pagar o preço por uma decisão errada e recomeçar tudo de novo. Ninguém disse que era fácil. Mas o exemplo das pessoas que trabalham neste projecto mostra que é possível.
Conhecem o poema do W. E. Henley com o título “Invictus”? Para a semana reproduzi-lo-ei, porque agora este post já vai longo. E, entretanto, se quiserem saber mais sobre o “milagre” do microcrédito, que não é milagre nenhum – ou talvez sim, talvez seja um milagre de criatividade do Prof. Yunus e dos 7 milhões de mutuários– vão ao site da Planet http://www.planetfinance-portugal.org ou ao da Associação Nacional de Direito ao Crédito, www.microcredito.com.pt.
Também há microcrédito em Portugal. Para quem tiver um projecto…

domingo, dezembro 17, 2006

Burnout no Casamento.



È interessante verificar que as questões do Amor e dos relacionamentos estão cada vez mais a ser objecto de estudo. Está a tornar-se cada vez mais raro serem os poetas e os filósofos a debater e escrever acerca deste tema apaixonante que são as relações a dois!

Assim cabe-me comentar um texto de um investigador, em vez de me deleitar com a beleza das descrições românticas de um poeta.

Para Pines (1996) o “burnout conjugal apresenta-se em três componentes: exaustão física, exaustão emocional e exaustão mental.
A exaustão física caracteriza-se por um cansaço crónico cuja reposição fisiológica pelo sono não é suficiente. Tipicamente as pessoas vitimas de burnout acordam exaustas à segunda-feira, muitas vezes de pois de passar o final de semana quase na totalidade na cama.
O sono é perturbado por pesadelos e por dificuldades em adormecer. O cansaço físico é acompanhado de alguma irrequietude e agitação. Algumas pessoas chegam a ficar violentamente agitadas e quando se lembram das palavras grosseiras ou de actos irreflectidos proferidos pelo parceiro.
Alguns tem que tomar medicação para dormir, outros optam pelo consumo de bebidas alcoólicas, o que se traduz em muitas circunstâncias de soluções parciais visto que na manhã seguinte vão acordar ressacados, ainda mais cansados e com cefaleias!”

Não me irei alargar agora para as outras componentes do burnout conjugal, visto que esta pequena descrição nos serve reflectir acerca da escolha e manutenção dos parceiros de relação.

Ainda segundo Pines, o amor romântico tem uma probabilidade maior de sofrer de burnout conjugal, que aqueles que se juntam de um modo mais racional.
Animador não é?

Ou seja, por um lado temos uma sociedade de consumo em o amor romântico é vendido como objectivo ultimo a atingir, baseado na compra dos últimos acessórios de moda claro! Por outro lado temos a investigação a salientar que quem vai para uma relação à espera de encontrar sempre o parceiro impecável, bem disposto, e a corresponder ás nossas expectativas vai passar um mau bocado!

Por isso neste natal temos que pensar qual é a prenda que vamos pedir ao senhor das barbas brancas. “O par ideal… ou um companheiro real!”


Eu por mim peço sempre alguém realmente ideal!

sexta-feira, dezembro 15, 2006

OS BONS E OS MAUS ALUNOS

Li há dias num jornal diário uma notícia a propósito de uma jovem de 18 anos, do norte do país, que tinha tido média de 20 valores no secundário e de 19,4 no acesso ao ensino superior. Chamou-me a atenção o facto de o artigo referir que a Ana Catarina (assim se chama esta brilhante aluna) era “insatisfeita por natureza”e “perfeccionista”. E mais adiante a Ana Catarina diz: “gosto de aprender e pouco de marrar”. E tanto deve gostar que, além de estudante de medicina, é membro da tuna da universidade, frequenta um curso livre de piano, estuda canto, pratica natação, não passa um dia sem ir à internet ainda tem tempo para ir ao cinema e sair com os amigos. Não vê televisão. “É um tempo que não gasto”, explica.

Fiquei a pensar nisto. Porque é que há pessoas que parecem ter tempo para tudo, até para aprender coisas novas, e outras que se queixam (como frequentemente ouço) de que não conseguem fazer nada? Será de facto uma questão de tempo? Não estou a pensar obviamente numa mãe assoberbada com filhos pequenos e que gasta horas na camionete par ir e vir do trabalho. Estava a pensar nas raparigas e nos rapazes com mais ou menos a idade da Ana Catarina que, como eles próprios confessam, passam horas a olhar apaticamente para a televisão ou a fazer zapping. E depois sentem que não conseguiram fazer nada todo o dia, sentem-se culpabilizados com isso e deprimidos com o que consideram ser uma incapacidade. Julgo que a principal razão para este tipo de queixa pode ter a ver com a desmotivação. Mas o que é a desmotivação?

A desmotivação tem a ver com a falta de interesse pelo mundo (tanto interior como exterior), com uma falta de curiosidade e de vontade de querer saber mais, que muitas vezes surge ligada a uma condição depressiva ou mesmo a uma depressão. Nestas situações, a criatividade fica também empobrecida, não apetece fazer nada, não há gosto por nada.

Trata-se de uma condição bastante frequente no final da adolescência e no início da idade adulta, embora possa aparecer em qualquer altura. As causas podem ser variadas, sendo necessário por vezes algum tempo até o terapeuta e a própria pessoa perceberem a que poderá estar ligada. É bom que haja a coragem, em qualquer idade, para reconhecer e enfrentar esta situação e tentar recorrer a uma ajuda profissional. É que às vezes o estado depressivo é tão avassalador que nem permite à pessoa interrogar-se e tentar descobrir o que poderá fazer por si própria.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

O Lugar da Psicologia

A amostra não é seguramente representativa daquilo que é o entendimento da maioria dos “académicos da filosofia”, mas talvez não se tratasse de uma coincidência... Estou a referir-me à mesma opinião que retive de dois (respeitáveis) catedráticos daquela área num intervalo de tempo relativamente curto. Irados, referiam-se à psicologia como uma disciplina pouco ou nada científica, e ao carácter pernicioso da uniformização de comportamentos pela distrinça entre o “normal” e o “patológico”, só para dar alguns exemplos…

Duas vetustas individualidades da filosofia (que aqui compreensivelmente não identificarei), de duas faculdades de filosofia e uma só opinião. As questões levantadas não são nada em que alguns autores da psicologia não se tenham já detido, mas onde radica esta aversão quase visceral? Enquanto pensava nisto ocorreu-me a parábola do filho pródigo. Porquê? Concorde-se ou não, apesar da sua curta história, a psicologia foi “pródiga” em valer-se de um vasto património herdado do saber filosófico, mas ao contrário do que acontece com a conhecida parábola, esta parece ser uma ciência, heterogénea é certo, mas muito determinada nos objectivos que persegue. Terá a psicologia operacionalizado (melhor ou pior) conceitos milenarmente associados à filosofia ou, como a opinião dos ilustres investigadores nos leva a crer, tê-los-á delapidado? Está aberta a discussão!

domingo, dezembro 10, 2006

Bion diz "Sem memória" e não "Sem recordação"

Recomendo vivamente a leitura do livro Bion e o futuro da psicanálise de Antonio Muniz de Rezende (Papirus Editora).

No capítulo 9 intitulado sem memória e sem desejo, o autor faz uma abordagem minunciosa e explicativa de uma entre tantas outras "verdades" de Bion.

A etimologia da palavra re-cor-dar é "Re", que significa repetição; "Cor" é coração; e dar. Assim, a recordação é uma memória muito especial, que "dá de novo ao coração" ou que "torna presente o que esteve guardado no coração".
A recordação não é um simples armazenamento de dados sensoriais, mas caracteriza-se pela permanência do vínculo afectivo; sendo que, a grande mudança que ocorre durante uma psicoterapia, é a transformação-por meio do processo de simbolização- da memória de dados sensoriais em "recordação" (na medida em que passa pelo coração) .

Vejam como Rubem Alves, nos diz isto de forma poética...

Os meus desejos, não é preciso que ninguém me lembre deles. Não precisam ser escritos. Sei-os (isto mesmo, SEIOS!) de cor. De cor, quer dizer no "coração". Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno.