II CICLO DE CINEMA DE SAÚDE MENTAL.
LOCAL: Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro – Antigo Solar da Nora, Estrada de Telheiras, 146, 1600-772 Lisboa.
ENTRADA LIVRE
PROGRAMA
Dia 09 de Outubro – 20h45 – "SPIDER" de David Cronenberg
Comentários: João Lopes – Crítico de Cinema na imprensa escrita e televisão.
Jorge Câmara – Psiquiatra e Psicanalista
Dia 16 de Outubro – 20h45 – "Volver" de Pedro Almodóvar
Comentários: Álvaro de Carvalho – Psiquiatra
Carlos Vaz Marques – Jornalista TSF
Deolinda Santos Costa – Psicanalista
Dia 24 de Outubro – 20h45 – "SARABAND" de Ingmar Bergman
Comentário: Carlos Amaral Dias – Psiquiatra e Psicanalista
Promete! Recomendo vivamente.
segunda-feira, outubro 08, 2007
sábado, outubro 06, 2007
Os psicólogos também choram!
Por vezes ouço coisas que me fazem pensar. Uns dizem que os psicólogos não deviam isto, ou que não fazem aquilo… enfim uma balbúrdia de preconceitos que por vezes nos afectam mais que nós pensamos!
No meio desta balbúrdia, que pouco ou nada ajuda ao desenvolvimento pessoal do psicólogo, há um tema que raramente é abordado, o choro do psicólogo em sessão.
Claro que nós todos choramos fora das sessões, aliás alguns clientes estão em terapia porque não se conseguem emocionar, mas em sessão?
Será suposto um psicólogo chorar em sessão?
Eu acho que sim, sei outros também acham e que alguns o defendem como parte do processo terapêutico.
Outros dirão, “mas o psicólogo não pode chorar em sessão, senão perde o controlo!”
Mas desde quando chorar é perder o controlo?
Este preconceito de perda de controlo com o choro, impede as pessoas de viverem a tristeza e muitas delas acabam por deprimir.
Será que ao ouvir a tristeza dos outros não temos o “direito”, para não dizer o “dever” de chorar com o cliente?
Será que ao mostrar a expressão da tristeza vamos, não só validar o sofrimento do outro mas também dar espaço na relação para que o outro o faça?
No meio desta balbúrdia, que pouco ou nada ajuda ao desenvolvimento pessoal do psicólogo, há um tema que raramente é abordado, o choro do psicólogo em sessão.
Claro que nós todos choramos fora das sessões, aliás alguns clientes estão em terapia porque não se conseguem emocionar, mas em sessão?
Será suposto um psicólogo chorar em sessão?
Eu acho que sim, sei outros também acham e que alguns o defendem como parte do processo terapêutico.
Outros dirão, “mas o psicólogo não pode chorar em sessão, senão perde o controlo!”
Mas desde quando chorar é perder o controlo?
Este preconceito de perda de controlo com o choro, impede as pessoas de viverem a tristeza e muitas delas acabam por deprimir.
Será que ao ouvir a tristeza dos outros não temos o “direito”, para não dizer o “dever” de chorar com o cliente?
Será que ao mostrar a expressão da tristeza vamos, não só validar o sofrimento do outro mas também dar espaço na relação para que o outro o faça?
Claro que não estou a falar de um pranto aflitivo de choro do psicólogo... apenas algumas lágrimas!!!
Existem outros meios para mostrar que estamos na relação e que contemos a tristeza do outro, mas serão tão próximos como mostrar a mesma emoção?
Sinto que ao falar de um ponto, falei de muitos outros e que todos estão ligados ao cerne da terapia … mas afinal qual é o cerne da terapia?
Existem outros meios para mostrar que estamos na relação e que contemos a tristeza do outro, mas serão tão próximos como mostrar a mesma emoção?
Sinto que ao falar de um ponto, falei de muitos outros e que todos estão ligados ao cerne da terapia … mas afinal qual é o cerne da terapia?
sábado, setembro 29, 2007
Blog sobre Saúde Mental e Adolescência
Recomendo uma visita ao Blog:
http://psiadolescentes.wordpress.com
Nas palavras de um dos seu autores,
"Trata-se de um site generalista sobre a saúde mental na adolescência. Para que os adolescentes das nossas consultas (e não só) fiquem informados sobre as suas doenças, tratamentos, fases da adolescência, etc."
sexta-feira, setembro 28, 2007
Maus tratos ao idoso
O aumento do número de idosos no mundo é visto como algo preocupante para OMS no que concerne ao agravamento das situações de violência relacionadas principalmente com a ruptura de laços tradicionais entre gerações e com o enfraquecimento dos sistemas de protecção social. Prevê-se que o número de pessoas com mais de 60 anos duplique até 2025, passando de 542 milhões em 1995 para 1200 milhões nessa data, dos quais 850 milhões em países em desenvolvimento onde a preocupação fundamental é com a força de trabalho activa e não com a força de trabalho já consumida, como é o caso dos idosos. Segundo a OMS somente 30 % dos idosos do mundo inteiro estão actualmente a receber pensões de reforma ou subsídios de velhice e invalidez, o que torna muito precárias as suas condições de vida acabando por expô-los a riscos acrescidos de violência que tanto pode ser exercida em ambiente familiar como institucional ou social.
Segundo o Conselho da Europa, a violência está presente em qualquer acto de comissão ou omissão que seja levado a cabo contra a vida, a integridade física e/ou psicológica ou a liberdade da pessoa que compromete seriamente o desenvolvimento da mesma.
A declaração de Toronto, assinada pelos países membros da ONU em 2002 definiu “maus tratos ao idoso” como sendo qualquer acto isolado ou repetido, ou a ausência de acção apropriada, que ocorre em qualquer relacionamento em que haja uma expectativa de confiança, e que cause dano, ou incómodo a uma pessoa idosa.
Estes actos podem ser de vários tipos, segundo a classificação proposta pelo comité nacional de abuso de idosos nos Estados Unidos (Nacional Centre on Elder Abuse, 1998):
● Abuso físico – o uso não acidental da força física que pode resultar em ferimentos corporais, em dor física ou em incapacidade. As punições físicas de qualquer tipo são exemplos de abuso físico. A sub medicação ou sobre medicação também se incluem nesta categoria.
● Abuso emocional ou psicológico – inflicção de angústia, dor ou aflição, por meios verbais ou não verbais; a humilhação, a infantilização ou ameaças de qualquer tipo incluem-se nesta categoria.
● Exploração material ou financeira – uso ilegal ou inapropriado de fundos, propriedades ou bens do idoso.
● Abandono – a deserção de ao pé de uma pessoa idosa por parte de um indivíduo que tinha a sua custódia física ou que tinha assumido a responsabilidade de lhe fornecer cuidados.
● Negligência – recusa ou ineficácia em satisfazer qualquer parte das obrigações ou deveres para com o idoso.
● Auto-negligência – comportamentos de uma pessoa idosa que ameaçam a sua própria saúde ou segurança. A definição de auto-negligência exclui situações nas quais uma pessoa idosa mentalmente capaz (que compreende as consequências das suas decisões) toma decisões conscientes e voluntárias de se envolver em actos que ameaçam a sua saúde ou segurança.
Segundo o Conselho da Europa, a violência está presente em qualquer acto de comissão ou omissão que seja levado a cabo contra a vida, a integridade física e/ou psicológica ou a liberdade da pessoa que compromete seriamente o desenvolvimento da mesma.
A declaração de Toronto, assinada pelos países membros da ONU em 2002 definiu “maus tratos ao idoso” como sendo qualquer acto isolado ou repetido, ou a ausência de acção apropriada, que ocorre em qualquer relacionamento em que haja uma expectativa de confiança, e que cause dano, ou incómodo a uma pessoa idosa.
Estes actos podem ser de vários tipos, segundo a classificação proposta pelo comité nacional de abuso de idosos nos Estados Unidos (Nacional Centre on Elder Abuse, 1998):
● Abuso físico – o uso não acidental da força física que pode resultar em ferimentos corporais, em dor física ou em incapacidade. As punições físicas de qualquer tipo são exemplos de abuso físico. A sub medicação ou sobre medicação também se incluem nesta categoria.
● Abuso emocional ou psicológico – inflicção de angústia, dor ou aflição, por meios verbais ou não verbais; a humilhação, a infantilização ou ameaças de qualquer tipo incluem-se nesta categoria.
● Exploração material ou financeira – uso ilegal ou inapropriado de fundos, propriedades ou bens do idoso.
● Abandono – a deserção de ao pé de uma pessoa idosa por parte de um indivíduo que tinha a sua custódia física ou que tinha assumido a responsabilidade de lhe fornecer cuidados.
● Negligência – recusa ou ineficácia em satisfazer qualquer parte das obrigações ou deveres para com o idoso.
● Auto-negligência – comportamentos de uma pessoa idosa que ameaçam a sua própria saúde ou segurança. A definição de auto-negligência exclui situações nas quais uma pessoa idosa mentalmente capaz (que compreende as consequências das suas decisões) toma decisões conscientes e voluntárias de se envolver em actos que ameaçam a sua saúde ou segurança.
Estudos publicados apontam para uma prevalência entre 1 e 5% de idosos abusados. Estima-se que praticamente 2 terços dos perpetradores de abusos de idosos são membros da família, com muita frequência o cônjuge/companheiro (34,6%) ou filho adulto da vítima (33,5%), contudo netos, noras, genros, vizinhos também se encontram entre os abusadores. Usualmente a pessoa que abusa do idoso está a explorar uma relação de confiança. Segundo dados da APAV de 2006 os abusadores são usualmente homens (73%) e as vítimas de abuso são na sua maioria mulheres (80%). Em 57% dos casos o agressor vive na mesma casa que o idoso.
Sendo preocupante a frequente ausência de denúncias de muitos destes abusos que se prende com o facto do idoso estar frequentemente unido por laços de consanguinidade ao abusador, não tendo por isso coragem para denunciar estas situações por sentimentos de culpa, vergonha, medo das represálias (perda da autonomia, alteração do local em que habita nomeadamente ser colocado numa instituição, perda do cuidador mesmo sendo este o abusador, medo de ficar só sem alguém que dele cuide, entre outras), ninguém acreditar no abuso, baixa auto-estima (do idoso).
Face a este cenário o que será necessário fazer para impulsionar a procura de ajuda por parte desta franja da população vítima destes abusos? O que nos cabe a nós, psicólogos/psicoterapeutas, fazer? Deixo o alerta e aberto o debate!
Sendo preocupante a frequente ausência de denúncias de muitos destes abusos que se prende com o facto do idoso estar frequentemente unido por laços de consanguinidade ao abusador, não tendo por isso coragem para denunciar estas situações por sentimentos de culpa, vergonha, medo das represálias (perda da autonomia, alteração do local em que habita nomeadamente ser colocado numa instituição, perda do cuidador mesmo sendo este o abusador, medo de ficar só sem alguém que dele cuide, entre outras), ninguém acreditar no abuso, baixa auto-estima (do idoso).
Face a este cenário o que será necessário fazer para impulsionar a procura de ajuda por parte desta franja da população vítima destes abusos? O que nos cabe a nós, psicólogos/psicoterapeutas, fazer? Deixo o alerta e aberto o debate!
segunda-feira, setembro 24, 2007
"Childre See, Children Do" (?)
A "Aprendizagem por Modelação ou Observação" foi como nos habituámos ler nos manuais aquilo que neste filme se apresenta de uma forma caricatural. É, segundo sei, da autoria da "Childfriedly.org" e corre pela Internet há já algum tempo. Fala por si.
quinta-feira, setembro 20, 2007
"Barreira de Contacto"
Nasceu em Julho um novo blog sobre psicologia e psicanálise, organizado por um amigo e colega, o Dr. João Balrôa. Parabéns João.
Aconselho a todos os que se interessam por estes temas a estarem atentos a este blog que já é muito interessante e tornar-se-á ainda mais com o nosso incentivo. Vão lá ver!
barreiradecontacto.blogspot.com
Aconselho a todos os que se interessam por estes temas a estarem atentos a este blog que já é muito interessante e tornar-se-á ainda mais com o nosso incentivo. Vão lá ver!
barreiradecontacto.blogspot.com
sexta-feira, setembro 14, 2007
Conferencia na Faculdade de Medicina de Lisboa
A Faculdade de Medicina de Lisboa, tem o prazer de o convidar a assistir à conferência intitulada “O Papel do Psicanalista no Processo de Cura” proferida por Bernard Penot, no âmbito do Mestrado de “Vitimização da Criança e do Adolescente”.
A conferência terá lugar na Aula Magna da FML no dia 14 de Setembro (sexta-feira - 21 horas), e será comentada por Carlos Amaral Dias e contará com as participações de António Coimbra de Matos, Luísa Branco Vicente e Pedro Luzes (entrada livre).
A conferência terá lugar na Aula Magna da FML no dia 14 de Setembro (sexta-feira - 21 horas), e será comentada por Carlos Amaral Dias e contará com as participações de António Coimbra de Matos, Luísa Branco Vicente e Pedro Luzes (entrada livre).
O Amor Virtual
Sabemos que é cada vez mais frequente o número de pessoas que se conhecem pela Internet, que marcam encontro e, algumas acabam por casar.
As transformações ocorridas na sociedade nas últimas décadas levaram ao aparecimento de novas formas de relacionamento que exigem novos olhares de compreensão e reflexão. Antes da Internet já tínhamos os serviços telefónicos como o telessexo, programas televisivos, e agências matrimoniais em que as pessoas vão em busca de namoro e casamento.
Quais as razões que levam as pessoas a procurarem estes recursos em busca do amor? Podemos evocar a solidão mas parece-me demasiado simplista e não abrange a complexidade da sua ocorrência.
O que tem chamado mais a atenção é o fenómeno virtual em que o internauta com quem se estabelece um relacionamento não é conhecido. As relações amorosas passaram a fazer parte das passibilidades dos internautas, pois, “para eles nada é mais lógico do que o estabelecimento de relações virtuais, uma vez que o computador passa a ser uma verdadeira realidade pessoal” (Angerami, 2006, p.108). Estabelecem o vínculo de namoro, assumem o compromisso, mas não se conhecem presencialmente.
Merleau-Ponty (1999) diz que “a sexualidade se difunde em imagens que só retêm dela certas relações típicas, certa fisionomia afectiva. O internauta cria no seu imaginário constitutivos idealizados de amor e da pessoa com quem se relaciona. A vivência da Internet não o remete à necessidade de vivências reais; a sua necessidade de amor é algo que não pode ser compreendido por padrões de amor que implicam o toque corpóreo” (cit. in Angerami, 2006, p. 110).
E por mais insólito que possa parecer aos que acreditam no pulsar da emoção, no brilho do olhar, a palpitação do coração, as palavras de todos os poetas que escrevem sobre o amor e a paixão, as pessoas podem estar satisfeitas com relacionamentos estabelecidos virtualmente. Estas novas modalidades de relação desafiam qualquer tipo de reflexão teórica-filosófica, sendo difícil contemplar estas mudanças à luz das publicações sobre a psicologia do desenvolvimento.
Angerami coloca, a meu ver, uma questão pertinente: será necessária uma reformulação nos conceitos actuais de estudos da condição humana para que possamos atingir em algum nível o seu verdadeiro dimensionamento?
As transformações ocorridas na sociedade nas últimas décadas levaram ao aparecimento de novas formas de relacionamento que exigem novos olhares de compreensão e reflexão. Antes da Internet já tínhamos os serviços telefónicos como o telessexo, programas televisivos, e agências matrimoniais em que as pessoas vão em busca de namoro e casamento.
Quais as razões que levam as pessoas a procurarem estes recursos em busca do amor? Podemos evocar a solidão mas parece-me demasiado simplista e não abrange a complexidade da sua ocorrência.
O que tem chamado mais a atenção é o fenómeno virtual em que o internauta com quem se estabelece um relacionamento não é conhecido. As relações amorosas passaram a fazer parte das passibilidades dos internautas, pois, “para eles nada é mais lógico do que o estabelecimento de relações virtuais, uma vez que o computador passa a ser uma verdadeira realidade pessoal” (Angerami, 2006, p.108). Estabelecem o vínculo de namoro, assumem o compromisso, mas não se conhecem presencialmente.
Merleau-Ponty (1999) diz que “a sexualidade se difunde em imagens que só retêm dela certas relações típicas, certa fisionomia afectiva. O internauta cria no seu imaginário constitutivos idealizados de amor e da pessoa com quem se relaciona. A vivência da Internet não o remete à necessidade de vivências reais; a sua necessidade de amor é algo que não pode ser compreendido por padrões de amor que implicam o toque corpóreo” (cit. in Angerami, 2006, p. 110).
E por mais insólito que possa parecer aos que acreditam no pulsar da emoção, no brilho do olhar, a palpitação do coração, as palavras de todos os poetas que escrevem sobre o amor e a paixão, as pessoas podem estar satisfeitas com relacionamentos estabelecidos virtualmente. Estas novas modalidades de relação desafiam qualquer tipo de reflexão teórica-filosófica, sendo difícil contemplar estas mudanças à luz das publicações sobre a psicologia do desenvolvimento.
Angerami coloca, a meu ver, uma questão pertinente: será necessária uma reformulação nos conceitos actuais de estudos da condição humana para que possamos atingir em algum nível o seu verdadeiro dimensionamento?
terça-feira, agosto 28, 2007
quinta-feira, agosto 23, 2007
Pais à porta
Partilho convosco uma nova tendência em Londres: o clube de adolescentes – Underage Club (clube para menores de idade), em que maiores de 18 anos não entram, e que funciona durante a tarde. A ideia surgiu de um adolescente de 15 anos – Sam Kilcoyne, cansado de não conseguir entrar em clubes para assistir a concertos, por ser menor de idade. Quem toca no Underage são bandas de adolescentes, não são servidas bebidas alcoólicas, apenas refrigerantes e os pais poderão transportar os instrumentos mas ficarão à porta!
O sucesso do clube e das bandas levou a que se organizasse um festival de música que foi realizado há duas semanas em Londres. Foram mais de 5 mil adolescentes que assistiram e apesar da insistência de alguns pais para acompanharem os filhos, foram obrigados a esperar do lado de fora do espectáculo.
Esta iniciativa vai ao encontro dos discursos dos adolescentes ao referirem a importância do espaço privado, onde adulto não entra!, da música enquanto modelador de afectos e das identificações ao grupo. Mas aumenta também os receios de alguns pais… que referem “sexo, drogas e rock’n’roll”…, temas muito discutidos nas terapias familiares com adolescentes.
O que acham? Está aberta a discussão!
O sucesso do clube e das bandas levou a que se organizasse um festival de música que foi realizado há duas semanas em Londres. Foram mais de 5 mil adolescentes que assistiram e apesar da insistência de alguns pais para acompanharem os filhos, foram obrigados a esperar do lado de fora do espectáculo.
Esta iniciativa vai ao encontro dos discursos dos adolescentes ao referirem a importância do espaço privado, onde adulto não entra!, da música enquanto modelador de afectos e das identificações ao grupo. Mas aumenta também os receios de alguns pais… que referem “sexo, drogas e rock’n’roll”…, temas muito discutidos nas terapias familiares com adolescentes.
O que acham? Está aberta a discussão!
segunda-feira, agosto 20, 2007
COISAS VÁRIAS
#1
À Inês Mega e ao Rui leitores deste blog salpicos e a quem desde já agradeço os comentários sobre o post A VIDA DEPOIS DA VIDA, comunicar que a resposta à vossa solicitação de bibliografia já foi feita e pode ser encontrada na sequência dos vossos comentários.
#2
Destino: Maastricht, Países Baixos (vulgo Holanda)
País flat, o que em linguagem de surfista significa mar chão, sem ondas, sem irregularidades. Porém este é apenas o conteúdo manifesto de um país que no seu mundo interno é cheio de controvérsias, arrojos e formas diferentes de viver. Paisagem literalmente verde água (ou talvez seja melhor dizer verde com água) que nos abraça o espírito e acalma o corpo dorido de tanto caminhar. É um boculismo que para uns é reforçado por visitas às coffee shop, com os seus cheiros e fumos agridoces e que para outros abre as portas da estranheza e da adrenalina do acesso a substâncias que estão etiquetadas nisso a que se chama super-ego como Proibido. É um país que se ama na sua beleza, na sua diversidade e que se traz para casa no coração.
No extremo sul do país encontra-se Maastricht onde decorreu a 22ª Conferência da EHPS “Health Psychology and Society”. Os abstract das conferências podem ser encontrados em http://www.ehps2007.com/
O programa foi organizado em redor de 16 sub-temas (http://www.ehps2007.com/callforpapers.html ). Uma das conferências apresentadas Understanding Individual Behaviour Change Over Time, por Wayne Velicer da Universidade de Rohde Island, versou sobre aquilo que se designa como Análise Ideográfica. Deixo aqui alguns apontamentos do que é e da sua importância.
É mais frequente ser utilizada nas análises de dados qualitativos particularmente na análise qualitativa de natureza fenomenológica. Na análise Ideográfica (assim chamada porque procura tornar visível a ideia presente no documento qualitativo em análise, podendo para isso lançar mão de ideogramas ou símbolos expressando ideias), o pesquisador procura por unidades de significado, o que faz após várias leituras de cada uma das descrições. As unidades de significado então definidas são recortes julgados significativos pelo pesquisador. Para que as unidades significativas possam ser recortadas, o pesquisador lê os depoimentos à luz de sua interrogação, da sua questão de investigação. Como é impossível analisar um texto inteiro simultaneamente, torna-se necessário dividi-lo em unidades. Estas unidades são representativas do fenómeno pesquisado. Estas unidades de significado são seguidamente agrupadas em categorias que permitem agora o trabalho de generalização, comparação entre sujeitos e a própria análise quantitativa.
A diferença desta conferência é que introduz este método como metodologia de trabalho fundamental em dados quantitativos como por exemplo estudos sobre a adesão às terapêuticas da apneia do sono, da cessação tabágica, entre outros exemplos dados. São dados de raiz quantitativos na sua maioria recolhidas por telemetria (dispositivos electrónicos que registam a evolução ao longo do tempo da variável em estudo). O método ideográfico neste contexto permite acompanhar a mudança do individuo ao longo do tempo. Na maioria das vezes fazemos estudos comparativos entre variáveis independentes e variáveis dependentes. Na análise ideográfica deixa-se pensar no grupo para abordar o individuo. Assim, a cada individuo corresponde um gráfico da evolução da variável ao longo do tempo. Por exemplo, o gráfico do tempo que utilizou a máscara de oxigénio durante a noite no tratamento da apneia do sono ao longo de um determinado período de investigação. Da análise de cada um dos gráficos, é possível fazer uma análise de clusters em que se formam grupos, representado cada um, um padrão de evolução da variável. Seguindo com o mesmo exemplo, forma-se o cluster 1 que representa o grupo de indivíduos que ao longo do tempo diminui a frequência de utilização da máscara. O cluster 2 o grupo de pessoas que mantém a frequência de utilização e o cluster 3 aquelas que a aumentam. A etapa seguinte e fundamental é a investigação de quais as variáveis preditoras da pertença a cada um dos clusters podendo-se assim intervir no sentido da mudança do comportamento. Nestes estudos o mínimo adequado são 40 a 50 momentos de avaliação ao longo do tempo.
À Inês Mega e ao Rui leitores deste blog salpicos e a quem desde já agradeço os comentários sobre o post A VIDA DEPOIS DA VIDA, comunicar que a resposta à vossa solicitação de bibliografia já foi feita e pode ser encontrada na sequência dos vossos comentários.
#2
Destino: Maastricht, Países Baixos (vulgo Holanda)
País flat, o que em linguagem de surfista significa mar chão, sem ondas, sem irregularidades. Porém este é apenas o conteúdo manifesto de um país que no seu mundo interno é cheio de controvérsias, arrojos e formas diferentes de viver. Paisagem literalmente verde água (ou talvez seja melhor dizer verde com água) que nos abraça o espírito e acalma o corpo dorido de tanto caminhar. É um boculismo que para uns é reforçado por visitas às coffee shop, com os seus cheiros e fumos agridoces e que para outros abre as portas da estranheza e da adrenalina do acesso a substâncias que estão etiquetadas nisso a que se chama super-ego como Proibido. É um país que se ama na sua beleza, na sua diversidade e que se traz para casa no coração.
No extremo sul do país encontra-se Maastricht onde decorreu a 22ª Conferência da EHPS “Health Psychology and Society”. Os abstract das conferências podem ser encontrados em http://www.ehps2007.com/
O programa foi organizado em redor de 16 sub-temas (http://www.ehps2007.com/callforpapers.html ). Uma das conferências apresentadas Understanding Individual Behaviour Change Over Time, por Wayne Velicer da Universidade de Rohde Island, versou sobre aquilo que se designa como Análise Ideográfica. Deixo aqui alguns apontamentos do que é e da sua importância.
É mais frequente ser utilizada nas análises de dados qualitativos particularmente na análise qualitativa de natureza fenomenológica. Na análise Ideográfica (assim chamada porque procura tornar visível a ideia presente no documento qualitativo em análise, podendo para isso lançar mão de ideogramas ou símbolos expressando ideias), o pesquisador procura por unidades de significado, o que faz após várias leituras de cada uma das descrições. As unidades de significado então definidas são recortes julgados significativos pelo pesquisador. Para que as unidades significativas possam ser recortadas, o pesquisador lê os depoimentos à luz de sua interrogação, da sua questão de investigação. Como é impossível analisar um texto inteiro simultaneamente, torna-se necessário dividi-lo em unidades. Estas unidades são representativas do fenómeno pesquisado. Estas unidades de significado são seguidamente agrupadas em categorias que permitem agora o trabalho de generalização, comparação entre sujeitos e a própria análise quantitativa.
A diferença desta conferência é que introduz este método como metodologia de trabalho fundamental em dados quantitativos como por exemplo estudos sobre a adesão às terapêuticas da apneia do sono, da cessação tabágica, entre outros exemplos dados. São dados de raiz quantitativos na sua maioria recolhidas por telemetria (dispositivos electrónicos que registam a evolução ao longo do tempo da variável em estudo). O método ideográfico neste contexto permite acompanhar a mudança do individuo ao longo do tempo. Na maioria das vezes fazemos estudos comparativos entre variáveis independentes e variáveis dependentes. Na análise ideográfica deixa-se pensar no grupo para abordar o individuo. Assim, a cada individuo corresponde um gráfico da evolução da variável ao longo do tempo. Por exemplo, o gráfico do tempo que utilizou a máscara de oxigénio durante a noite no tratamento da apneia do sono ao longo de um determinado período de investigação. Da análise de cada um dos gráficos, é possível fazer uma análise de clusters em que se formam grupos, representado cada um, um padrão de evolução da variável. Seguindo com o mesmo exemplo, forma-se o cluster 1 que representa o grupo de indivíduos que ao longo do tempo diminui a frequência de utilização da máscara. O cluster 2 o grupo de pessoas que mantém a frequência de utilização e o cluster 3 aquelas que a aumentam. A etapa seguinte e fundamental é a investigação de quais as variáveis preditoras da pertença a cada um dos clusters podendo-se assim intervir no sentido da mudança do comportamento. Nestes estudos o mínimo adequado são 40 a 50 momentos de avaliação ao longo do tempo.
segunda-feira, agosto 13, 2007
O tempo do amor
Muito se tem escrito sobre terapia de casal e as diversas técnicas, mas hoje deixo-vos com as palavras de um poeta amigo que traduzem o processo de desilusão, insatisfação e afastamento, e que reforçam a importância do sentimento de se ser único e especial para a outra pessoa. Obrigada Jorge!
“Já não sabe mais o que lhe dizer. Ela foge com o olhar para não o confrontar com a verdade. Talvez apenas o tempo conte. Talvez seja isso que quer, que caminhem lado a lado enquanto houver tempo. Inunda-a de palavras na expectativa de que o escute. Responde-lhe com o silêncio de uma paixão inanimada. É assim que se inicia o fim…
Amanhã, ou depois, num destes dias, nem a sua mão chegará perto dele. Nem o seu cheiro circundará as casas que habitam por enquanto. Nem o seu sorriso será suficiente para o fazer ficar. Não que desista. Não que abdique. Mas porque se cansará de falar sozinho. O que poderá um homem fazer aos sentimentos maiores e puros se os cala no silêncio?
Passeiam os corpos pela casa cada vez mais vazia. Desencontram-se estrategicamente à volta da mesa ou nas pontas do sofá. Já não lêem em conjunto. Já não partilham o interesse de assistir a filmes, aninhados um no outro. A mesa das refeições é usada à vez. A paixão esmorece-se a cada segundo. A porta aberta para que entre uma brisa no final de tarde é um convite para que saia de uma vez por todas.
Já não há tempo. Já não há razão para que se abracem. Os beijos outrora doces são agora amargos sabores da desilusão. Ela caminha noutro sentido. Ele silenciou as palavras.
Ali vivia a esperança do amor. Agora apenas ruínas e cinzas assinalam a passagem de um casal. Até que o vento mude a paisagem fúnebre. Até que o tempo tome conta do lugar. Tal como ela desejara…”
In Jorge Barnabé, Julho 2007
“Já não sabe mais o que lhe dizer. Ela foge com o olhar para não o confrontar com a verdade. Talvez apenas o tempo conte. Talvez seja isso que quer, que caminhem lado a lado enquanto houver tempo. Inunda-a de palavras na expectativa de que o escute. Responde-lhe com o silêncio de uma paixão inanimada. É assim que se inicia o fim…
Amanhã, ou depois, num destes dias, nem a sua mão chegará perto dele. Nem o seu cheiro circundará as casas que habitam por enquanto. Nem o seu sorriso será suficiente para o fazer ficar. Não que desista. Não que abdique. Mas porque se cansará de falar sozinho. O que poderá um homem fazer aos sentimentos maiores e puros se os cala no silêncio?
Passeiam os corpos pela casa cada vez mais vazia. Desencontram-se estrategicamente à volta da mesa ou nas pontas do sofá. Já não lêem em conjunto. Já não partilham o interesse de assistir a filmes, aninhados um no outro. A mesa das refeições é usada à vez. A paixão esmorece-se a cada segundo. A porta aberta para que entre uma brisa no final de tarde é um convite para que saia de uma vez por todas.
Já não há tempo. Já não há razão para que se abracem. Os beijos outrora doces são agora amargos sabores da desilusão. Ela caminha noutro sentido. Ele silenciou as palavras.
Ali vivia a esperança do amor. Agora apenas ruínas e cinzas assinalam a passagem de um casal. Até que o vento mude a paisagem fúnebre. Até que o tempo tome conta do lugar. Tal como ela desejara…”
In Jorge Barnabé, Julho 2007
domingo, agosto 12, 2007
Grupos de formação contínua para psicoterapeutas - observação de sessões de psicoterapia em vídeo
O Instituto Português de Psicoterapia Integrativa vai realizar grupos de formação apoiados em gravações de vídeo a partir de Setembro de 2007.
Deixo-vos as informações disponibilizadas na página deles:
"Caros colegas,
Decidi começar definitivamente com os grupos de vídeo formação no IPPI a partir de Setembro de 2007.
Já falei com alguns de vós sobre esta ideia, mas talvez valha a pena só relembrar as razões deste projecto.
Depois de 10 anos de orientação de estágios e supervisões no Instituto Superior Técnico e no privado, cheguei à conclusão de que a formação em psicoterapia e prática de supervisão tem sérias lacunas se for apenas teórico-verbal e deve ser complementada por uma metodologia prático-experiencial, que pode incluir a observação directa através de um espelho, os exercícios de role playing, e mais relevante para este projecto, através da gravação e visionamento de sessões em vídeo. Esta última metodologia tem como vantagem que as interacções terapeuta-cliente podem ser estudadas repetidamente.
As dificuldades sentidas pela maioria dos terapeutas geralmente não são ao nível teórico, mas, de facto, ao nível da implementação prática dos conteúdos teóricos. Acho que só estas metodologias prático-experienciais vão ao encontro destas necessidades.
Junta-se a este dado o problema da subjectividade. Os terapeutas que afirmam (e pensam) que seguem uma determinada orientação teórica, quando observados na sua prática clínica, exibem na verdade muitos comportamentos, que não encaixam nesta orientação. Ou seja, os terapeutas não fazem o que dizem que fazem (veja Wachtel, 1997) O que um terapeuta descreve nos seus livros ou artigos que faz, só capta uma parte do que ele ou ela faz na realidade, e o terapeuta muito facilmente pode até estar muito equivocado sobre o seu próprio funcionamento.
Muitas experiências nas áreas da psicologia social e cognitiva demostraram que em muitos aspectos somos os piores juizes de nós próprios, ao ponto de sermos quase incapazes de transmitir uma parte essencial do nosso funcionamento pelo relato verbal (veja Wilson, 2002). Consequentemente, muito de que um terapeuta aprendeu a fazer, foi através de uma aprendizagem que podemos descrever como implícita e inconsciente, pelo que este não conhece muitas das suas próprias aprendizagens
Mesmo que o terapeuta esteja consciente dos seus procedimentos, muito do seu conhecimento é do tipo processual e não do tipo declarativo, de forma a que é muito difícil de transmiti-lo através do relato verbal. (como seria explicar por palavras como se faz um origami). Podemos designar esta aprendizagem como artesanal, obedecendo ao mesmo tipo de lógica de aprendizagem das profissões tradicionais, em que ao mestre correspondia o seu aprendiz. Este tipo de concepção vai provavelmente ao encontro do que o Prof. António Branco Vasco (FPCE-UL) descreveu como o componente artístico da psicoterapia.
Muito do que o terapeuta faz é intuitivo. No meu entender, como descrevi num artigo recente (Welling, 2001), este funcionamento intuitivo representa o nosso funcionamento mais sofisticado, a nossa mestria. É o conhecimento emergente, que já conseguimos utilizar na prática, mas que ainda escapa ao entendimento explícito-verbal. Seria uma pena deixar perder precisamente o que de melhor que fazemos, a essência da nossa arte!
A observação de gravações em vídeo das sessões de terapeutas, pode permitir precisamente a “descodificação” destes processos, quer para o próprio (que ao visioná-las se “reapropria” delas), quer para terceiros. A ideia é que nestes grupos de 4-6 participantes, se observem, se necessário repetidamente, gravações de vídeos e discutindo-os pormenorizadamente. Neste momento já temos vídeos comerciais de alguns terapeutas de renome, como Bugental, Yalom, Polster, Greenberg, Fosha e Wachtel, e posso também disponibilizar sessões minhas, que têm como vantagem que são em Português e que são com clientes reais. Os restantes elementos do grupo poderão também disponibilizar gravações das suas sessões para serem analisadas. Obviamente, podem surgir desta análise dados úteis para os processos clínicos em curso, mas o objectivo não é a supervisão, mas sim uma aprendizagem e formação continua.
Os cursos são semestrais (Set-Jan, Fev-Jun) com uma frequência quinzenal. O custo do curso é 360 Euros (40 Euros por sessão). As sessões realizar-se-ão na Alameda D. Afonso Henriques, nº 74, 5º Dto., em Lisboa. As sessões serão inicialmente orientadas por mim, mas a minha colega Isabel Gonçalves (IST, APTCC), com quem estive a desenvolver este projecto, integrar-se-á só em cursos posteriores, tendo falta de disponibilidade neste momento.
Preenche então o formulário anexo e reenvia-o sff para wellinghans@yahoo.com até ao fim do mês de Agosto.
Conto convosco!
Hans Welling
Instituto Português de Psicoterapia Integrativa - Alameda Afonso Henriques- 74-5º Dtº
(Metro Alameda)* 1000-125 Lisboa * tm 919 430 443
Uma verdade inconveniente!
Seguindo o espírito da Edite, cá vai mais um post fora do espírito de férias…
Estive a ver à pouco o DVD do Sr. Al Gore e fiquei chocado!
Estamos a matar o nosso planeta e não temos órgãos para substituição, mas temos a possibilidade de com a tecnologia actual reduzir as emissões de gazes de efeito estufa para os níveis de 1970.
Porque não o fazemos?
Será que o nosso ego está acima do bem-estar do planeta?
Mas se não existir planeta onde fica a morar o nosso ego?
Não estou a pedir a ninguém para se tornar altruísta… tornem-se “apenas” egoístas inteligentes… assim se cada um garantir a sua casa, todos teremos um planeta para viver!
Não me alargar mais neste tema, deixo apenas o link para as informações de tudo o resto que é necessário fazer para se tornarem inteligentes. http://www.climatecrisis.net/
Boas férias, para os que estão de férias e bom trabalho para aqueles que estão a trabalhar!
segunda-feira, agosto 06, 2007
A VIDA DEPOIS DA VIDA
É sobre transplantação de órgãos que vos trago alguns salpicos. Não que seja um assunto propriamente sintónico com a sensação de férias que a todos assalta, mesmo aos que de férias não estão. Porém ouso escrever um pouco sobre o assunto nesta altura pois sinto que é sempre hora de pensar a vida e particularmente a vida que se ganha quando quase se perdeu.
Alguém disse na primeira pessoa que "Fazer um transplante é viver de novo sem nunca ter morrido verdadeiramente".
As questões do transplante de órgãos jogam-se na fronteira da identidade do corpo com a identidade do ser. O corpo tem uma identidade, um self biológico que se conhece a si próprio, que representa uma barreira entre o Eu e o Outro – o sistema imunitário. A patologia do self biológico representa a dificuldade de se reconhecer a si mesmo que advém do deficit do sistema imunitário, seja este provocado como no caso do transplante de órgãos ou adquirido como nas doenças auto-imunes. O self poder-se-ia dizer em primeira instância imunológico (Meissner, 1997).
O transplante permite-nos pensar sobre o que acontece quando uma parte estranha é introduzida no corpo, quando algo é acrescentado ao interior do corpo. O novo órgão ao ser introduzido no corpo, alcança imediatamente representação mental e começa a relacionar-se com introjecções já existentes, cujos conteúdos ele activa (Castelnuovo-Tedesco, 1973). O paciente tem então uma experiência que vai para além de receber fisiologicamente um órgão. Não se trata apenas de o corpo aprender a adaptar-se ao novo órgão como se lhe pertencesse. O self experiencia a nova aquisição como algo introjectado, como um objecto ou parte de um objecto que se torna imediatamente bastante activo. Aquilo que anteriormente era não self, começa a ser sentido agora como parte do self (ainda que algumas vezes esta integração ocorra sobre o preço de intensa conflitualidade).
Porém, a aceitação do self biológico acontece sob o preço da indução da sua patologia, a diminuição da capacidade de se reconhecer a si próprio (diminuição da actividade do sistema imunitário), de saber quem é, pois caso contrário ele rejeitaria o não-self proposto, dado ser algo de estranho (o que conduziria à rejeição do órgão transplantado). Considerando o self a totalidade do ser, o seu corpo e a sua mente, a sua carne e as suas emoções, a patologia do self biológico exigirá inevitavelmente uma profunda reformulação do Si. O transplante introduz um corte entre a definição de si próprio relativamente ao passado, ao presente e mesmo na antecipação do futuro. Tornar o transplante uma parte suficientemente integrada da identidade, poderá contribuir para a sobrevivência de um self coeso, para a percepção do transplante como possuidor de significado, propósito e controlabilidade e, paralelamente, para a promoção da saúde. Isto porque "é o sentido do significado de melhoria que se procura pois que a felicidade e a infelicidade são existênciais e o valor da vida não se mede apenas pela capacidade de execução biológica" (Degos, 1993).
Referências
Meissner, W. (1997). The embodied self-self versus nonself. In L.Goldberg (Ed.), Psychoanalysis and contemporary thought. New York: International Universities Press, Inc.
Castelnuovo-Tedesco, P., Torrance, C. (1973). Organ Transplant, Body Image, Psychosis. Psychoanalytic Quarterly, v. 42, p349, 15p. Retrieved September, 13, 2005, from PEP Archive (Psychoanalytic Electronic Publishing) database.
Degos, L. (1994). Os enxertos de órgãos. Lisboa: Instituto Piaget. (Tradução do original em língua francesa Les Greffes d’Organes. (S.I.) : Flammarion, 1993)
Degos, L. (1994). Os enxertos de órgãos. Lisboa: Instituto Piaget. (Tradução do original em língua francesa Les Greffes d’Organes. (S.I.) : Flammarion, 1993)
sexta-feira, agosto 03, 2007
Fear Not! Um programa interactivo para combater o "bullying"
Saiu hoje no Jornal Público a notícia de um jogo de computador que tem como objectivo ajudar a combater o bullying.
O jogo chama-se "Fear Not" e é um software que vai ajudar a criança, que se encontra em frente ao computador num ambiente 3D, a resolver situações de bullying.
De acordo com os autores, as crianças estabelecem uma relação com as personagens, no contexto de um drama virtual, porque são sintéticas, isto é, apesar de não serem reais, conseguem ser credíveis. As crianças reagem emocionalmente e, por isso, mostram que são capazes de perceber e interpretar os estados emocionais das personagens.
Parece-me interessante esta ideia pois usa um cenário violento (típico dos jogos de computador) mas a favor de uma abordagem lúdico-pedagógica e trata um problema tão importante com o bullying. O princípio parece-me muito bom, agora vamos lá ver como é que funciona na prática!
Podem ler esta notícia na íntegra no Público.pt
O jogo chama-se "Fear Not" e é um software que vai ajudar a criança, que se encontra em frente ao computador num ambiente 3D, a resolver situações de bullying.
De acordo com os autores, as crianças estabelecem uma relação com as personagens, no contexto de um drama virtual, porque são sintéticas, isto é, apesar de não serem reais, conseguem ser credíveis. As crianças reagem emocionalmente e, por isso, mostram que são capazes de perceber e interpretar os estados emocionais das personagens.
Parece-me interessante esta ideia pois usa um cenário violento (típico dos jogos de computador) mas a favor de uma abordagem lúdico-pedagógica e trata um problema tão importante com o bullying. O princípio parece-me muito bom, agora vamos lá ver como é que funciona na prática!
Podem ler esta notícia na íntegra no Público.pt
O desprezo
Nos últimos tempos tenho-me interessado muito por temas relacionados com as dinâmicas das relações de casais. Neste início de férias estive a ler um livro ligeiro, compatível com o meu humor e com o tempo quente: Blink! de Malcolm Gladwell.
A determinada altura do livro o autor descreve uma série de estudos realizados por John Gottman nos quais comprova que basta analisar de forma rigorosa meia dúzia de parâmetros na interacção espontânea (enquanto falam sobre um assunto polémico) entre um casal durante cerca de 1 hora para se poder prever com um nível de exactidão que ronda 95% quais os casais que vão permanecer juntos ou que se vão separar nos 15 anos seguintes. Se o tempo de observação for reduzido para 15 minutos, o grau de exactidão baixa para 90%.
De acordo com Gottman para um casamento durar, a relação entre as emoções positivas e negativas num dado encontro tem de ser pelo menos de 5 para 1. As emoções negativas mais significativas são: postura defensiva, reserva, censura e desprezo. O desprezo é qualitativamente diferente dos outros e muito mais danoso. Diz ele: “Na realidade, Gottman descobriu que o desprezo num casamento pode levar a prever coisas, tais como o número de constipações que o marido ou a mulher podem apanhar; por outras palavras, o facto de alguém que amamos nos desprezar é tão desgastante que começa a afectar o sistema imunológico”.
Para estes autores o desprezo é uma emoção especial. Quando ela domina a relação de casal ou tem uma expressão significativa já não há nada a fazer, a relação atingiu um ponto sem retorno.
Mas o que é verdadeiramente o desprezo? Porque é que se despreza? Em que circunstancias é que o desprezo se torna uma emoção que convive paredes meias com o amor e o carinho? Será que o desprezo e a manifestação dele numa relação amorosa, não é já prova da ausência de um afecto verdadeiro e profundo?
Se o desprezo é tão corrosivo numa relação de casal, o que fará a uma criança, quando ela se sente desprezada pelo pai, mãe ou irmão?
terça-feira, julho 31, 2007
Férias à vista - Leituras retomadas
Hoje é o culminar de um mês de trabalho e o início das tão anunciadas férias para a maior parte da população portuguesa, e muito em especial para a população psi.
Em tempo de férias, de relaxe, de dias quentes e longos, de crianças descontraídas e ávidas por ocupar os seus tempos com actividades prazerosas...
muitos pais interrogam-se de que forma poderão ocupar o tempo dos seus filhos, uma vez que facilmente se aborrecem
Para muitos a época de férias é ocupada com viagens, quer cá dentro, como lá fora, outros aproveitam para se dedicar a outro tipo de actividades que normalmente, e com o frenesin diário, vão ficando para trás, relegadas para segundo plano. Entre muitas das actividades que aqui se poderiam delinear, vou apenas dedicar-me à tão afamada leitura.
Mas será que tem tanta fama para os mais pequenos? Muito se tem falado sobre os hábitos de leitura em todas as faixas etárias, mas os olhares voltam-se sempre para os mais novos, pois o seu percurso escolar vai "depender da quantidade de livros que possam ler"!
Mas ao iniciar-mo-nos nas leituras apenas na altura da entrada para o ensino obrigatório é bom? Será que incita em nós o desejo de ler, de fantasiar, de imaginar o rosto das personagens que estão a ser descritas páginas adentro? Será que nos faz vasculhar prateleiras de bibliotecas, ou de livrarias, a descobrir um título sugestivo, uma história desconcertante?
Muito dificilmente, pois não foram incitados à leitura de forma espontânea, porque provavelmente aquele acto foi algo mecânico, um meio que produziu um fim...
A leitura tem que ser algo prazeroso e enquanto experiência pessoal é algo muito importante
Se essa leitura for iniciada muito precocemente produz uma motivação e um diálogo muito grande, e é a porta de entrada para uma aprendizagem saudável, gratificante.
Todos nós temos um ponto de partida emocional para tudo, as emocões primárias estão na base de todos os sistemas de comunicação. Quando as crianças se iniciam na leitura ainda antes da escolaridade estão largamente em vantagem em relação às crianças que se iniciam na leitura apenas na escola, onde aprendem a descodificar, a identificar palavras, ao passo que as primeiras maravilham-se com o enrendo, com as imagens, com as palavras, com os livros que elas próprias escolheram.
Como as emoções primárias estão na base de todos os sistemas de comunicação, aprendemos a falar porque alguém nos fala, decerto aprenderemos a ler porque o nosso pai ou a nossa mãe nos leu, por isso leiam com os vossos filhos pequenos, facilitem-lhes livros alegres, apelativos e que lhes façam encontrar saídas para as suas coisas
Sugiro-vos aqui um livro de que gosto particularmente e que permite que as crianças percebam que todos nós temos coisas boas e más, raiva, alegria, medo, tristeza...
O Livro de que vos falo chama-se O Pássaro da Alma
e começa assim:
No fundo, bem lá no fundo do corpo, mora a alma.
Ainda não houve quem a visse,
Mas todos sabem que ela existe.
E não só sabem que existe,
Como também sabem o que lá tem dentro...
....
BOAS LEITURAS
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