quarta-feira, abril 29, 2015

O que é a Psicoterapia (I) - O Papel de um Psicoterapeuta


O papel de um psicoterapeuta em psicoterapia psicanalítica é ajudar quem o procura a lidar com as suas emoções mais difíceis e a organizar o pensamento. É uma ajuda e um trabalho contínuo que, no contexto de um encontro específico entre duas pessoas, resultam no germinar de formas mais adaptativas de lidar com as dificuldades pessoais, na redução de angústias e insatisfações instaladas nas diferentes áreas da vida, e na promoção contínua da autonomia individual. 


O psicoterapeuta respeita e promove a autonomia e a identidade individuais e procura ajudar a própria pessoa a encontrar dentro de si as respostas que procura para os problemas que a afligem, que comprometem as suas relações e os seus objetivos de vida. O psicoterapeuta é alguém que, ao longo de uma psicoterapia, procura lançar luz sobre aquilo que a própria pessoa até então não pôde ou não conseguiu ver dentro de si, mantendo sempre essa luz acesa, mesmo quando por algum motivo ela parece voltar a apagar-se.


À medida que o "falar" se desenrola em sessão o psicoterapeuta constrói e aplica intervenções que procuram conter a ansiedade e transforma-la em coisas positivas; pôr a pessoa a pensar; oferecer novos pontos de vista; identificar padrões de funcionamento por detrás de dificuldades pessoais e relacionais; construir uma "aliança terapêutica"; ajudar na regulação das emoções e da  autoestima; trabalhar resistências internas, etc..


Durante cada sessão muito se passa dentro do psicoterapeuta. Por isso é tão importante e exigente a formação pós-graduada do terapeuta psicanalítico, que envolve um longo processo pessoal de psicanálise (ou psicoterapia psicanalítica) e supervisão contínua durante muitos anos. Ao longo de cada sessão estas são algumas das “tarefas internas” que acontecem no psicoterapeuta:


»Mantém a sua atenção naquilo que lhe é transmitido verbalmente, mas também naquilo que lhe é transmitido não-verbalmente (maior parte do nosso discurso acontece de facto não-verbalmente); 
»Procura colocar-se no lugar da pessoa que está à sua frente e tenta perceber como é experiência daquela pessoa a partir de dentro, como sente e pensa; 
»Procura perceber como é que aquela outra pessoa o faz sentir e que papeis lhe vão sendo atribuidos (inconscientemente) a cada momento da psicoterapia;
»Procura perceber como se sente aquela outra pessoa face à presença, posição e  função do psicoterapeuta, bem como face às suas tentativas de ajudar a fazer sentido daquilo que lhe é transmitido; 
»Procura, através da narrativa da pessoa (e não só), perceber quais as suas angústias fundamentais e as defesas psíquicas centrais (modos tendenciais de fazer face a essas mesmas angústias, bem como à ansiedade de uma forma geral); procura também aferir a flexibilidade ou exclusividade no uso dessas defesas (o que se relaciona com o entendimento da organização e estrutura de personalidade de determinada pessoa);
»Procura outras expressões do mundo inconsciente;
»Procura cruzar tudo o que lhe é dito em sessão, e aquilo de que se apercebe a cada momento da sessão, com a sua experiência clínica, formação e conhecimentos;
»Procura gerir momentos de incerteza, de desconhecimento ou de dispersão, esperando pacientemente pelos momentos em que sentidos até então ocultos ou fugazes parecem emergir, criando oportunidades e potenciando transformações;
»Procura sistematicamente sintetizar tudo isto para que, mediante a sua sensibilidade, consiga construir e articular as suas intervenções ao longo das consultas e entre as mesmas, de modo a que estas possam ser úteis e oferecer um efeito transformativo (psicoterapêutico, integrativo ou maturativo) para a pessoa.


Para além da queixa/pedido trazido à consulta, um terapeuta psicanalítico irá sempre avaliar o que pode e o que não pode ser mudado, o desenvolvimento psicológico (como determinada pessoa foi ou não cumprindo todas as etapas esperadas do desenvolvimento psicológico, e conseguindo ou não os ganhos maturacionais próprios de cada etapa), a organização defensiva, o mundo afetivo, as identificações, o mundo interno das relações interpessoais, a forma de gerir a autoestima e o sistema de crenças adaptativas/desadaptativas. Estas são informações que o psicoterapeuta guarda para si mesmo, pelo menos num primeiro momento, servindo enquanto alicerces fundamentais para o diagnóstico clínico e para a orientação do trabalho clínico a cada etapa da psicoterapia. A mudança em psicoterapia e as novas situações e emoções que elas trazem e/ou revelam vão alterando o diagnóstico, o que por sua vez também condiciona mudanças no curso trabalho clínico e abre portas a novas fases do percurso psicoterapêutico.


O terapeuta psicanalítico ao procurar ajudar quem o procura a conseguir maior qualidade de vida, torna-se num cuidador que zela pelos interesses mais elevados dos seus clientes. O psicoterapeuta é também alguém com vastos conhecimentos, experiência pessoal e experiência clínica na área do desenvolvimento psicológico e da personalidade, normal e patológico, e das funções e princípios mentais universais (por exemplo, o facto da mente não ter capacidade para se curar sozinha dos efeitos de situações traumáticas ou particularmente adversas, sobretudo quando acontecem durante a infância, o que tende a resultar na formação de sintomas e psicopatologia ao longo da vida). Ele é ainda especialista no entendimento de como o ser humano muda e em que circunstâncias.


É com estas ferramentas que o psicoterapeuta trabalha ao nível da reabilitação e/ou construção de recursos internos que permitem romper amarras e quebrar circunstâncias internas e de vida aprisionantes que impedem e privam a pessoa da oportunidade de uma vida plena.

segunda-feira, abril 27, 2015

||Perturbações de Personalidade|| - Personalidade Ansiosa



A ansiedade é característica transversal da esmagadora maioria dos problemas psicológicos. Perto da fronteira com a psicose, as pessoas com psicologias movidas pela ansiedade tornam-se tão inundadas pelo medo que o funcionamento defensivo em torno da negação e da projeção torna-se central. Nestes casos o diagnóstico de perturbação paranóide de personalidade poderá ser mais adequado.

As pessoas que sofrem de uma perturbação ansiosa de personalidade estão cronicamente conscientes da sua ansiedade já que os esforços defensivos contra essa ansiedade falham na função de manter a apreensividade fora da consciência. Contrariamente ao que acontece nas fobias, onde a ansiedade se liga a determinados objetos ou situações, as pessoas caracterologicamente ansiosas vivem uma ansiedade global e difusa, frequentemente não sabendo o que as assusta.

A ansiedade-sinal (sensações afetivas que nos dizem que certas situações foram perigosas para nós no passado), a ansiedade moral (medo de violação dos próprios valores), a ansiedade de separação (medo da perda das figuras principais de vinculação) e a ansiedade de aniquilação (terror da fragmentação ou da perda do sentido do Eu) todas elas podem ser discerníveis em pessoas que sofram de uma perturbação ansiosa de personalidade. Regra geral, quanto mais grave o nível de organização da pessoa ansiosa, mais provável que a ansiedade de aniquilação domine o quadro clínico.

A fonte da ansiedade caracterológica relaciona-se com a desregulação afetiva e o não desenvolvimento de estratégias internas ou defesas destinados a mitigar os medos normais do desenvolvimento. As pessoas com ansiedade caracterológica referem tipicamente cuidados ansiosos por parte de um cuidador de infância que, devido à sua própria ansiedade, não conseguia acalma-las adequadamente ou transmitir um sentimento de segurança ou apoiar um sentido de controlo/mestria interior das próprias emoções. Aspetos que são posteriormente alvos principais do trabalho em psicoterapia.

Preocupação/tensão central: Segurança/perigo
Afetos centrais: Medo
Crença patogénica característica sobre si próprio(a): Estou em perigo constante por forças desconhecidas
Crença patogénica sobre os outros: Os outros são fontes ou de proteção ou e perigo

 Fonte: PDM - Psychodynamic Diagnostic Manual 

sexta-feira, abril 24, 2015

Sugestão musical para um ótimo e relaxante final de semana...


Um muito bom fim-de-semana para todos os que nos acompanham semanalmente através do nosso blogue e página no Facebook.

Bom fim-de-semana!!!