segunda-feira, março 23, 2015

||Perturbações de Personalidade|| - Personalidade Passivo-Agressiva


A perturbação de personalidade passivo-agressiva não é uma perturbação de personalidade per se, uma vez que a punição indireta aos outros é uma característica do nível borderline de organização de personalidade, particularmente presente nas estruturas/perturbações de personalidade paranoide, masoquista e especialmente na estrutura dependente de personalidade. Neste caso concreto falamos numa variante passivo-agressiva da perturbação dependente de personalidade.

As pessoas dependentes com hostilidade notória sentem rancor por estarem presas a outras pessoas e no entanto não se conseguem separar psicologicamente delas. A agressividade que normalmente alimentaria movimentos autónomos é expressa obliquamente, num esforço de alivo do afeto negativo ou no sentido de um "ajuste de contas"  feito de uma forma que não ameace o vínculo.

Por vezes as pessoas passivo-agressivas definem-se em relação aos outros em valência negativa - "Sou o marido daquela sacana".

Atacam por vezes em antecipação a eventuais maus tratos, tal como nas personalidades paranoides.  Tem a expetativa de serem mal tratadas nas relações, tal como nas perturbações masoquistas, contudo tendem a ripostar, ainda que de uma forma insidiosa.

As suas preocupações centrais são narcísicas, contudo são pessoas mais ligadas às relações que as pessoas com estruturas narcísicas de personalidade.

São muitas vezes pessoas que se definem em oposição aos objetivos dos outros, e que por tal têm dificuldades em estabelecer e perseguir objetivos próprios. Têm dificuldade ao nível do sentido de identidade e da capacidade de se aceitarem a si mesmas enquanto agentes, em vez de apenas respondedores e reatores.

Outro aspeto particular das pessoas passivo-agressivas é a dificuldade na nomeação dos sentimentos negativos, bem como na diferenciação entre expressões verbais versus expressões comportamentais de zanga. Podem por tal aparentar por vezes uma ingenuidade chocante em relação à hostilidade que emanam.

Preocupação/tensão central: Tolerar maus tratos / Procurar vingança
Afetos centrais: Zanga, rancor, prazer em enactments de hostilidade
Crença patogénica característica sobre si próprio(a): A única via para a dignidade é sabotar as realizações dos outros
Crença patogénica sobre os outros: Todas as outras pessoas querem que me conforme às regras delas

Fonte: PDM - Psychodynamic Diagnostic Manual

sábado, março 21, 2015

Palavras e imagens

Little islands are all large prisons; one cannot look at the sea without wishing for the wings of a swallow. 
Richard Francis Burton (explorador e escritor, sec. XIX)









sexta-feira, março 20, 2015

Sugestão Musical de Fim de Semana: Lisa Gerrard, Denez Prigent e Hanz Zimmer


Deixamos hoje a sugestão de dois temas absolutamente sublimes, com performance por Lisa Gerrard (e Denez Prigent), do compositor Hanz Zimmer.




 Desejos de um ótimo fim de semana!

quarta-feira, março 18, 2015

Você é uma pessoa controladora?



Ter uma vida organizada é algo que muitos de nós almejam, porém poucos conseguem. Isso acontece porque é preciso ter disciplina, uma mente analítica, boa vontade e persistência, o que nem sempre é fácil, desejável ou agradável.
Quem tem a capacidade de organizar a rotina consegue realizar muitas coisas e assumir diversas responsabilidades. Porém, quando controlar se torna o centro da vida e a única realidade, essa pessoa pode simplesmente perder de vista o essencial e, assim, sofrer uma série de malefícios, incluindo crises de ansiedade, doenças e até rompimentos afetivos.
Veja abaixo algumas características que podem sugerir que uma pessoa é controladora.
  • 1
    Invasão de privacidade - se não confiamos no outro, iremos querer controlá-lo. Para isso funcionar, teremos que obter o máximo de informações possíveis, levando-nos a ações pouco éticas, como invadir contas de email ou de redes sociais, bisbilhotar carteiras e telemóveis, ou ainda especular com conhecidos. Este tipo de atitude pode não ser descoberta, mas com certeza semeia a discórdia e cria um abismo entre você e a pessoa vigiada, pois a sua desconfiança modifica o seu comportamento e a entrega ao relacionamento não é a mesma. Fora as brigas que acontecem apenas por causa de suas impressões e não devido a fatos reais.
  • 2
    Falta de limites - se achamos que temos o direito de controlador o outro, podemos muitas vezes tomar decisões à revelia dele ou contar sobre a sua vida íntima, sem pensar nas consequências emocionais para a pessoa envolvida.
  • 3
    Sentimento de omnipotência - quando temos muita eficiência, podemos propagar a falsa ideia de que somos insubstituíveis. Assim, acreditamos que somos "donos da verdade", não aceitando ideias nem sugestões alheias, por melhores que sejam. Além disso, existe a tendência de passar literalmente a mandar nos outros, exigindo que façam e vivam como nossa imagem e semelhança.
  • 4
    Medo da novidade - se gostamos de controlar, isso significa que as coisas devem sempre acontecer de determinada forma, a rotina precisa permanecer, imprevistos não podem surgir. Porém, a vida não é um programa de computador (e mesmo este muitas vezes prega-nos partidas!). O fato é que se algo, fora de nosso planeamento aparece, perdemos o equilíbrio, ficamos nervosos, tensos, lutamos contra ao invés de simplesmente lidar com a questão e nos adaptarmos.
  • 5
    Sobrecarregamento - se partimos do pressuposto de que as pessoas não são confiáveis ou não irão fazer as coisas certas (leia-se "do nosso jeito"), a tendência é acumularmos cada vez mais funções, tarefas, atividades e responsabilidades, ficando exaustos e insatisfeitos. Afinal, acabamos por não conseguir relaxar, nem nos divertirmos, pois sempre haverá sempre algo para ser feito, analisado, supervisionado, acompanhado. Nestas horas, aprender a delegar é uma atitude salvadora.
Se reconheceu em algum desses itens? Veja algumas dicas para usar apenas o lado bom do controle:
  • Humildade - lembre-se que o mundo não gira à sua volta, assim, nem tudo depende de si e, errar é normal e esperado, não significando que você sejo menos por causa disso.
  • Liberdade - deixe as pessoas expressarem-se livremente. Você só vai descobrir se alguém realmente é bom o deixar mosstrar  do que é capaz. Se você tomar sempre a dianteira, nunca será surpreendido.
  • Paz de espírito - faça Meditação, relaxamento, Yoga, Tai Chi Chuan, tome florais, faça terapia, tire férias, fique em contato com a natureza. O importante é ter calma e tranquilidade, pois suas ações serão mais certeiras e você sofrerá menos.
  • Diversifique - não resuma sua vida a atividades úteis. Coloque cor, alegria e diversão nela, fazendo outras coisas, inclusive aquelas que não vão levá-lo a lugar nenhum, mas que lhe trarão mais satisfação pessoal.

Fonte: Vanessa Mazza, personare
Dr. Fernando Mesquita
Terapia Sexual e Psicologia Clínica
Psicronos - Lisboa

segunda-feira, março 16, 2015

Videos de sessões de psicoterapia

Estes são dois vídeos que ilustram a estruturação e funcionamento diferente da psicoterapia consoante diferentes modelos teórico-práticos. Tratam-se de psicoterapias breves empiricamente validadas.

São ilustrações relativamente fiéis ao trabalho clínico na psicoterapia sobretudo no contexto específico das perturbações borderline (ou limite) de personalidade. As psicopatologias borderline são marcadas sobretudo por relacionamentos instáveis caracterizados pela grande necessidade de disponibilidade das outras pessoas (nomeadamente dos companheiros ou companheiros) e uma enorme reatividade às separações ou à indisponibilidade destas figuras que servem funções externas de apoio e organização interna da própria pessoa. São relações marcadas por amor e ódio, ainda que esse ódio por vezes possa ser canalizado para outras relações e pessoas de modo a proteger a relação principal de apoio.

Outras marcas das perturbações borderline de personalidade são os sentimentos profundos de desespero e desamparo quando fora das relações ou quando a figura principal está indisponível ou ausente. Também são característica destas perturbações a pouca tolerância à frustração, sérios problemas na integração da imagem de si e dos outros, problemas na regulação das emoções e dos impulsos e falha da capacidade reflexiva. As dinâmicas relacionais são muito marcadas pelo "nem contigo, nem sem ti" e a sensibilidade ao abandono é invulgarmente elevada. As passagens ao ato constantes, auto-destrutividade e tentativas de suicído são também frequentes nos casos mais graves.

As sessões seguintes decorrem em auditório, sendo conduzidas pelos terapêutas mais influentes nas diversas modalidades psicoterapeuticas que praticam. No lugar do paciente está uma atriz que encena fielmente o papel de uma paciente que sofre de uma perturbação de personalidade borderline.

TFP (Transference Focused Psychotherapy)
Uma adaptação a partir da psicoterapia psicanalítica, com foco no trabalho sobre a transferência (atribuição aos outros de representações internas do "Eu" e do "Outro" e o desenrolar com esses outros de determinadas dinâmicas relacionais "internalizadas" ligadas a essas representações ou representações parciais)


MBT (Mentalization Based Therapy)
Uma adaptação a partir da psicoterapia psicanalítica com base na investigação do desenvolvimento psicológico, perspetivas evolutivas, neurociências e psicologia cognitiva.


sexta-feira, março 13, 2015

A Eficácia Científica da Psicoterapia Psicanalítica







Uma meta-análise de rigor científico publicada em 2010 - e disponível no website da American Psychological Association - demonstra que a psicoterapia psicanalítica é altamente eficaz para um espetro amplo de sintomas de ligados à saúde mental, incluindo depressão, ansiedade, pânico e condições físicas ligadas ao stress. Os valores médios para a eficácia situam-se maioritariamente acima dos 0.80 - valor considerado como "efeito grande" do ponto de vista da pesquisa científica psicológica e médica.

O estudo valida como no caso da psicoterapia psicanalítica os benefícios não só são duradouros como continuam a surgir e a crescer mesmo depois do fim da psicoterapia. Tal deve-se ao facto da psicoterapia psicanalítica colocar em movimento processos psicológicos que conduzem à mudança contínua, que se mantêm mesmo após o fim da terapia. Para outras psicoterapias "empiricamente apoiadas" parece verificar-se uma tendência oposta, de diminuição dos benefícios ao longo do tempo, nomeadamente para os problemas mais comuns como depressão e ansiedade generalizada.

Sobre a eficácia das novas psicoterapias em detrimento da psicoterapia psicanalítica, os dados científicos parecem não apoiar esta realidade. Neste estudo vários modelos de psicoterapia são comparados entre si, lado a lado com as terapias por antidepressivos, as quais se mostram pouco eficazes de uma forma geral.

Ainda que contextualizado no panorama social dos EUA, o estudo alega que reduzir o sofrimento mental a uma lista de sintomas e a um tratamento que implique gerir esses sintomas e pouco mais, está em linha dos interesses financeiros das empresas farmacêuticas e companhias de seguros. O autor diz ainda que para algumas perturbações psiquiátricas tal faz de facto sentido, contudo o sofrimento emocional está frequentemente fundido com a vida da pessoa e enraizado em padrões relacionais, contradições internas e pontos cegos emocionais. E são estas áreas que a psicoterapia psicanalítica foca particularmente.

O autor conclui que mais importante que o nome ou marca de uma psicoterapia é o que o psicoterapeuta faz em sessão, e que aqueles terapeutas que mais se aproximavam de um "agir" psicanalítico eram os que melhores resultados conseguiam junto aos seus pacientes, independentemente do tipo de psicoterapia praticada.

O objetivo da psicoterapia psicanalítica não é somente o alívio de sintomas mas ajudar a viver uma vida mais satisfatória no geral.



Página da APA - American Psychological Association - para o artigo original:
http://www.apa.org/news/press/releases/2010/01/psychodynamic-therapy.aspx