segunda-feira, julho 20, 2015

Algumas orientações práticas sobre o funcionamento da psicoterapia psicanalítica



O papel de um psicoterapeuta é ajudar quem o procura a lidar com as suas emoções mais difíceis e a organizar o pensamento, sempre no sentido de se encontrarem conjuntamente formas mais adaptativas de lidar com as dificuldades pessoais, reduzir angústias e insatisfações nas diferentes áreas da vida, e promover a autonomia.

O psicoterapeuta respeita e promove a autonomia e a identidade individuais e procura ajudar a própria pessoa a encontrar dentro de si as respostas que procura para os problemas que a afligem, que comprometem as suas relações e os seus objetivos de vida. 

À medida que o "falar" se desenrola em sessão o psicoterapeuta constrói e aplica intervenções que procuram conter a ansiedade e transforma-la em coisas positivas; pôr a pessoa a pensar; oferecer novos pontos de vista; identificar padrões de funcionamento por detrás de dificuldades pessoais e relacionais; construir uma "aliança terapêutica"; ajudar na regulação das emoções e da autoestima; trabalhar resistências internas, etc..

O psicoterapeuta é alguém com vastos conhecimentos, experiência pessoal e experiência clínica na área do desenvolvimento psicológico e da personalidade, normal e patológico, e das funções e princípios mentais universais (por exemplo, o facto da mente não ter capacidade para se curar sozinha dos efeitos de situações traumáticas ou particularmente adversas, sobretudo quando acontecem durante a infância, o que tende a resultar na formação de sintomas e psicopatologia ao longo da vida). É especialista no entendimento do porquê o ser humano sofre, como muda e em que circunstâncias.

É com estas ferramentas que o psicoterapeuta trabalha ao nível da reabilitação e/ou construção de recursos internos que permitem romper amarras e quebrar circunstâncias internas (e de vida) aprisionantes que tornam a vida mais difícil de ser vivida.

-- Qual o papel do paciente? --

Falar livremente

Quanto mais livremente conseguir falar das suas preocupações ou daquilo que lhe vai surgindo durante a sessão, melhor. Pode falar sobre as suas preocupações, pensamentos, sentimentos, angustias, medos, desejos, necessidades, ideias, valores, etc, tudo o que achar importante. Se à medida que fala lhe surgirem, por exemplo, outras ideias em paralelo, determinadas emoções, alguma memória ou flash, procure falar sobre isso, ainda que lhe pareçam aspetos estranhos, desadequados ou irrelevantes no momento.

Poder falar da dificuldade em falar

Se sentir dificuldade em falar sobre algo específico pode tentar falar sobre essa dificuldade específica, de modo a que você e o seu psicoterapeuta se possam debruçar sobre essa mesma dificuldade, bem como o que se encontra por detrás da mesma.

Falar sobre os sonhos

Caso dê consigo sem nada para dizer, pode tentar falar dos seus sonhos. Os sonhos são recursos precisos que nos dão informações importantíssimas e profundas sobre nós, muitas vezes quando sentimos que nada se está a passar ao nível consciente.

Falar sobre o que se passa na psicoterapia e em relação ao psicoterapeuta

Tanto ou mais importante que falar das suas preocupações é poder falar abertamente do que vai sentindo em relação à psicoterapia e em relação ao próprio psicoterapeuta. É importante falar sobre algum aspeto que lhe causa incómodo no consultório onde decorre a sessão, ou, por exemplo, sobre um eventual (repentino ou gradual) sentimento de que há algo no terapeuta, a sua forma de estar, a sua forma de olhar ou o seu tom de voz, por exemplo, que parece ser igual a alguém próximo de si ou que marcou o seu passado, como por exemplo, o seu pai. Poder falar sobre estes paralelos é fundamental.

quinta-feira, julho 16, 2015

Caminhos


Hajam vestes de coragem e ponderação que nos acomodem à aventura do finito, e à inspiração do infinito...

Haja serenidade e robustez que nos protejam do resvalar frenético para caminhos amplos e sem estrada, como os que a mania impõe...

Haja criatividade, poço de potencial inesgotável e de possibilidades intermináveis...

Haja intimidade e humildade, abraço e comunhão com a nossa mais profunda essência, força de união e ligação coletiva, que nos transforma e nos reforça profundamente enquanto seres humanos...

Haja cumplicidade e ternura, pois assim nos mantemos luz e farol em nós mesmos, resplandecentes, assim como os astros que conduzem a atenção de quem olha e contempla o céu noturno.

Haja fé no infinito, no sonho e no potencial daquilo que não é, mas poderá vir a ser.

Haja esperança e que a mesma nos acompanhe por entre momentos de desafio e caminhos periclitantes. Que se reavive vigorosamente aquando da sombra tenaz que procura engolfar as memórias que alimentam o sonho.

Haja sempre amor, força motriz do nosso espírito e fulgor da nossa existência.

segunda-feira, julho 13, 2015

Acne: Impacto e Significação


Em Ford é uma rapariga londrina de vinte e poucos anos que desistiu da carreira de modelo aos 20 anos de idade pois detestava a indústria. Atualmente Em dedica-se à produção criativa de filmes.

Um dos seus filmes recentemente atingiu mais de 11 milhões de visualizações. O filme visou enfatizar como a indústria da moda instiga expetativas de beleza irrealistas quer para mulheres, quer para homens.

O tema do filme foca o problema da acne e o impacto que o problema pode ter ao nível da autoestima. Ao longo dos meses Em recebeu milhares de mensagens de pessoas de todo o mundo que sofrem de acne e problemas relacionados com autoestima e autoimagem.



Durante a adolescência a autoimagem é um aspeto crítico da vida psíquica e social. A puberdade despoleta toda uma revolução psíquica que abre portas a novas preocupações e ansiedades. As mudanças hormonais suscitam novas curiosidades, o corpo muda e as relações entre pares ganham relevância. Emerge então todo um jogo complexo entre, por um lado, a imagem do nosso corpo e como nos sentimos dentro dele, e, por outro lado, as nossas relações sociais e a nossa autoestima.

A acne pode de facto prejudicar a nossa autoestima quando se trata de um problema persistente e relativamente marcante. O mesmo para a obesidade, por exemplo, ou condições físicas mais raras que surjam por exemplo durante a adolescência (e não só) onde a relação entre corpo, relações sociais e autoestima é tão importante.

Todavia a vivência do problema de acne pode ser exacerbada por outros problemas psicológicos de fundo. Enfrentar um problema de acne a partir de uma sólida autoestima é muito diferente da experiência, muitas vezes de desespero, de alguém cuja bases internas de regulação da autoestima são mais frágeis. O foco incisivo e a angústia ligada ao problema de acne serão bem maiores no segundo caso. Em casos extremos a pessoa pode mesmo acreditar que está deformada ou sofre de uma deformação, como é o caso da dismorfofobia.

Problemas de pele ou de imagem corporal que recaiam em cima de uma imagem de nós fragilizada, incompleta, inexistente, confusa, fragmentada, deformada, ou engrandecida/idealizada, são tendencialmente vividos com bastante mais ansiedade. No caso da acne é de considerar ainda o papel da ansiedade no agravamento do problema, o que nos leva facilmente a conceber cenários de angústia e preocupações ansiosas persistentes, à medida que o problema persiste, ou mesmo, agrava.

Outras vezes uma preocupação intensa com um problema de acne (ou outras condições físicas) pode mesmo condensar nela outras preocupações menos óbvias ou conscientes, preocupações e ansiedades que talvez nunca tenham podido ser pensadas. Neste caso estas angústias acabam muitas vezes por incrementar a dimensão do problema para além daquela que lhe é devida. Na adolescência em particular, tal como acima descrito, a acne é um problema particularmente sensível, já que se interliga com problemáticas e aspetos do desenvolvimento pessoal e social muito importantes.

Quando os meios de comunicação social visam provover constantemente ideias de beleza inatingíveis, o efeito psicológico que acabam por exercer em muitas pessoas alberga um pontencial elevado de destabilização emocional. É um problema tanto mais sério quanto mais fragilizada a autoestima de uma dada pessoa. Muitas vezes uma autoestima fragilizada tem raiz na imposição precoce (da família) de ideais (irrealistas ou desconsiderativas das capacidades reais da criança) que devem ser atingidos a cada etapa da vida. Na ausência de um ambiente familiar afetivo, paciente, compreensivo e apoiante, esses objetivos são muitas vezes sentidos pelas crianças como fundamentais para o sentimento de valor pessoal, bem como para poderem merecer a validação, a apreciação e o amor dos demais, do qual estão tão ávidos.

Referência:

sexta-feira, julho 10, 2015

O que dizer a alguém que sofre de ansiedade?


As pessoas que sofrem de uma perturbação ansiosa de personalidade estão cronicamente conscientes da sua ansiedade. Contrariamente ao que acontece nas fobias, onde a ansiedade se liga a determinados objetos ou situações, as pessoas caracterologicamente ansiosas vivem uma ansiedade global e difusa, frequentemente não sabendo o que as assusta.
As pessoas que sofrem de uma perturbação ansiosa de personalidade estão cronicamente conscientes da sua ansiedade já que os esforços defensivos contra essa ansiedade falham na função de manter a apreensividade fora da consciência. Contrariamente ao que acontece nas fobias, onde a ansiedade se liga a determinados objetos ou situações, as pessoas caracterologicamente ansiosas vivem uma ansiedade global e difusa, frequentemente não sabendo o que as assusta. - See more at: http://www.psicronos.pt/artigos/personalidade-ansiosa_39.html#sthash.JDxQlBZH.dpuf
As pessoas que sofrem de uma perturbação ansiosa de personalidade estão cronicamente conscientes da sua ansiedade já que os esforços defensivos contra essa ansiedade falham na função de manter a apreensividade fora da consciência. Contrariamente ao que acontece nas fobias, onde a ansiedade se liga a determinados objetos ou situações, as pessoas caracterologicamente ansiosas vivem uma ansiedade global e difusa, frequentemente não sabendo o que as assusta. - See more at: http://www.psicronos.pt/artigos/personalidade-ansiosa_39.html#sthash.JDxQlBZH.dpuf
As pessoas que sofrem de uma perturbação ansiosa de personalidade estão cronicamente conscientes da sua ansiedade já que os esforços defensivos contra essa ansiedade falham na função de manter a apreensividade fora da consciência. Contrariamente ao que acontece nas fobias, onde a ansiedade se liga a determinados objetos ou situações, as pessoas caracterologicamente ansiosas vivem uma ansiedade global e difusa, frequentemente não sabendo o que as assusta. - See more at: http://www.psicronos.pt/artigos/personalidade-ansiosa_39.html#sthash.JDxQlBZH.dpuf
As pessoas que sofrem de uma perturbação ansiosa de personalidade estão cronicamente conscientes da sua ansiedade já que os esforços defensivos contra essa ansiedade falham na função de manter a apreensividade fora da consciência. Contrariamente ao que acontece nas fobias, onde a ansiedade se liga a determinados objetos ou situações, as pessoas caracterologicamente ansiosas vivem uma ansiedade global e difusa, frequentemente não sabendo o que as assusta. - See more at: http://www.psicronos.pt/artigos/personalidade-ansiosa_39.html#sthash.JDxQlBZH.dpuf

As pessoas que sofrem de uma perturbação ansiosa de personalidade estão cronicamente conscientes da sua ansiedade já que os esforços defensivos contra essa ansiedade falham na função de manter a apreensividade fora da consciência. Contrariamente ao que acontece nas fobias, onde a ansiedade se liga a determinados objetos ou situações, as pessoas caracterologicamente ansiosas vivem uma ansiedade global e difusa, frequentemente não sabendo o que as assusta. - See more at: http://www.psicronos.pt/artigos/personalidade-ansiosa_39.html#sthash.JDxQlBZH.dpuf
O que dizer então a alguém próximo que se está a sentir extremamente ansioso? Como ajudar a que essa pessoa se sinta melhor se nós próprios não conseguimos entender o que se passa?

Por detrás da ansiedade existem emoções humanas, que todos nós sentimos. Estas emoções por vezes podem surgir enquanto medo intenso ou algum tipo de ansiedade, e podem surgir noutra pessoa com outro rosto. Medo é algo que todos nós sentimos, e nesse sentindo procurar ajudar alguém que sofre de ansiedade é no fundo conseguirmos ligar-nos com essa pessoa.

Dizer a alguém com ansiedade para se acalmar ou para parar de fazer tempestades em copos de água pode facilmente conduzir a um incremento de ansiedade.

Para além do que se pode dizer, o como dizer é absolutamente fundamental. A atitude deverá ser tranquila, paciente e compreensiva. Alguém que fica ansioso ou irritável em resposta à ansiedade da pessoa que procura ajudar, fará melhor em afastar-se para não exacerbar a ansiedade da outra pessoa, ou para não leva-la a anular-se a si mesma a fim de cuidar da primeira pessoa (inversão de papeis). De igual modo a crítica é altamente prejudicial no sentido de ajudar alguém com ansiedade, aumentando-a ou levando a pessoa a mobilizar estratégias patológicas internas de modo a lidar com a angústia.

Algo que se pode dizer a alguém que sofre de ansiedade:


"Consegues falar-me um pouco melhor sobre o que sentes?"

Uma forma de ajudar alguém que sofre de ansiedade é perceber se conseguimos ser suficientemente apoiantes de modo a que a outra pessoa se consiga abrir connosco, falar do que está a sentir e dos motivos pelos quais poderá estar a sentir essas coisas. 

Posteriormente é importante oferecer empatia, compreensão e ajudar a construir pontos de vista diferentes sobre o problema.


"Lamento sinceramente que estejas a passar por isso (dize-lo apenas em sinceridade)"

Entrar em pânico é a pior atitude que se pode ter quando se lida com alguém que sofre de ansiedade, pois tal tende a ser vivido enquanto falta de compreensão por aquilo que se está passar.


"Não tens culpa"

De modo a poder dar compreensão genuína é necessário que consigamos entender e empatizar com a outra pessoa. É necessário validar aquilo que essa pessoa está a ultrapassar. 

No entanto é importante não se ser cúmplice do medo. Ser compreensivo não significa promover uma atitude de banalização ou normalização, que muitas vezes pode mesmo incrementar a ansiedade.


"Imagino que isso esteja a ser facto muito difícil para ti... Achas que há alguma coisa que eu possa fazer para te ajudar?"

Muitas vezes queremos fazer algo por aqueles que nos são queridos, quando tudo aquilo que eles precisam é um ombro amigo que os ouça e que valide que aquilo pelo que estão a passar é difícil. A chave é a empatia.


Fazer silêncio.

Em última análise, o fundamental não é tanto o que se diz, mas como esse apoio se faz chegar. Por vezes basta ouvir.




quarta-feira, julho 08, 2015

Honestidade e Confiança


A honestidade é a pedra basilar de uma relação saudável, tanto mais quando falamos em relações
consolidadas pela confiança.

A confiança constrói-se com base na honestidade, e deteriora na presença da desonestidade. A confiança pode ser quebrada e mesmo traída, contudo, desde que certas situações possam ser discutidas abertamente e com honestidade, a confiança pode, em muitas circunstâncias, ser restabelecida.

Honestidade não significa revelarmos tudo o que pensamos e sentimos a alguém, mesmo o nosso companheiro ou companheira. Podemos sempre optar por manter algo confidencial porque prometemos a alguém que o faríamos, ou porque não nos sentimos confortáveis em partilhar a informação, ou apenas porque queremos guarda-la para nós próprios.

Podemos até ser vagos caso não queiramos responder a perguntas detalhadas de alguém. Mas é muito importante não mentir sobre um determinado assunto. Podemos até dizer "Essa informação foi-me transmitida em confidência, portanto não pode ser partilhada." É preferível reter informação que dar informação imprecisa.

Por vezes a atitude de retenção de informação pode mesmo informar a outra parte sobre assuntos que não queremos discutir, ao passo que dar informações erradas pode facilmente gerar confusão e algumas vezes induzir um sentimento de incómodo e inquietude por não termos recebido a verdade sobre determinada situação. Quando mentimos (ou intencionamos mentir) a nossa ansiedade tende a aumentar, pelo que as nossas atitudes e comportamentos também se alteram. Existem um sem número de sinais que emitimos e percebemos nos outros quando proferimos ou recebemos uma falsa informação. Ainda que clinicamente existam quadros psicopatológicos que podem facilmente levar a um incómodo e a uma inquietude desadequada, de um modo geral a nossa sensibilidade, os ritmos das nossas relações, o conhecimento aprofundado sobre a outra pessoa e também a nossa própria experiência de vida tendem a ser indicadores fiéis e não patológicos que acabam por nos dizer quando algo não está bem.

As pessoas geralmente confiam na honestidade alheia, até ao momento em que descobrem atitudes desonestas. Após essa violação, torna-se muito difícil saber quando a outra pessoa voltara à ser desonesta, o que acaba por ser uma realidade prejudicial para qualquer relação, e uma golpe nas relações que é difícil de reparar.

É normal cometermos erros ao longo da vida, sentirmo-nos envergonhados ou com receio de magoar outras pessoas. É adequado sermos capazes de falar das nossas intenções e de como eventualmente não fomos capazes de as cumprir, ou de como certas situações contribuíram para uma mudança de intenções. Isso não é desonestidade. Podermos ser abertos e discutir questões mais sensíveis é uma atitude que protege os interesses da outra pessoa e mantêm o respeito por ela e pela relação com ela.

A verdade é de tal ordem importante para nós que uma das linhas orientadoras de uma das mais proeminentes correntes da psicologia psicanalítica postula que a verdade é o alimento da mente e a mentira (e os seus derivados) é tóxica para a mente.

Nós, seres humanos, somos de facto muitas vezes capazes de discriminar quando alguém está a ser desonesto connosco, quando existe algo que não nos está a ser dito, ou quando alguém procura convencer-nos de algo e/ou convencer-se a si mesmo(a) da sua eficácia em convencer. Ficam algumas dicas dos especialistas em comportamentos que, de um modo geral, nos remetem para a possibilidade de estarmos perante alguma desonestidade:

- Alteração brusca do comportamento e da voz (em relação ao padrão habitual) 
- Tendência à referência indireta ao próprio, ou na terceira pessoa, evitando ou restringindo o uso do pronome pessoal "Eu" 
- Ter resposta preparada para tudo, o que advém de um discurso pré-preparado que se torna fácil de perceber pois se afasta de um discurso habitual e espontâneo 
- Sinais de inquietude e/ou realização de ações repetitivas e aleatórias, aparentemente desnecessárias (limpar, sentar e levantar, etc.) 
- Proclamar repetidamente a honestidade: "Para dizer a verdade..."; "Sendo perfeitamente honesto(a)..." 


Outros sinais incluem ainda:

- Mudança rápida da posição da cabeça 
- Alteração na respiração 
- Permanecer muito quieto(a) 
- Repetição de palavras e frases 
- Discurso demasiado informativo 
- Toque ou cobertura da boca 
- Proteção instintiva de partes do corpo mais vulneráveis 
- Breve deslizar dos sapatos no chão 
- Dificuldade em falar 
- Olhar fixamente sem pestanejar 
- Tendência a apontar com o dedo 


segunda-feira, julho 06, 2015

O que causa a depressão ?


A depressão afeta milhões de pessoas por todo o mundo. As suas causas podem ser várias, podendo
mesmo surgir sem causa óbvia.

Situações de vida

Existem situações de vida indesejadas e mesmo traumáticas que albergam grande potencial para despoletar uma depressão pela primeira vez na vida de alguém. São exemplos destas situações a perda de emprego, um divórcio ou um episódio de violência física ou sexual.

Perda

As perdas são muito frequentemente vivências ligadas ao sofrimento depressivo. A morte de um ente querido, uma mudança de vida significativa (mudança de casa ou de emprego), ou simplesmente a mudança entre fases de vida são situações que podem despoletar uma reação depressiva.

Não se trata somente da qualidade negativa da situação em causa, mas da forma como lidamos com ela. Se os sentimentos evocados não são expressos e explorados no momento, podem acabar por servir como propulsores de uma depressão.

Zanga

Algumas pessoas chamam a depressão de "zanga congelada". Por vezes acontecem situações difíceis no passado, com as quais não conseguimos lidar sozinhos e que nos deixam zangados e desamparados. Em algumas dessas situações não conseguimos expressar os nossos sentimentos, quer porque eramos crianças ou porque esses sentimentos não eram entendidos ou aceites pelos demais. A zanga torna-se então internalizada e passa a expressar-se pela via da depressão.

Experiências de infância

Situações traumáticas durante a infância, abusos físicos ou sexuais tendem a gerar problemas na capacidade do adulto em lidar com as dificuldades mais tarde na vida. A falta de cuidadores capazes de ajudar a criança a transformar a ansiedade em coisas positivas resulta em problemas idênticos mais tarde na vida.
Problemas físicos

Alguns problemas físicos podem resultar em depressão. São eles os problemas que afetam o cérebro e o sistema nervoso; problemas hormonais, nomeadamente de tiroide e paratiroide; sintomas relacionais com o ciclo menstrual ou menopausa; baixo nível de açúcar no sangue; problemas de sono.

Efeitos secundários da medicação

A depressão é um efeito secundário de muitos medicamentos diferentes; se sente que está a deprimir, então é importante perceber se a depressão se encontra listada como possível efeito secundário de determinado medicamento. Da mesma forma, se subitamente se sente deprimido por nenhuma razão aparente, então é importante que possa considerar se comeu ou bebeu algo novo, e se esse pode ser o motivo da alteração de humor.

Drogas e álcool

O álcool é um agente ansiolítico, que resulta num abaixamento da ansiedade ligada por vezes à inibição. Isto significa também que o álcool agrava a depressão, pois o seu efeito é de tranquilização e não de estimulação. Algumas drogas de rua estão associadas com a depressão, sobretudo se consumidas repetidamente.

Genética

Apesar de não existir nenhum gene identificado enquanto diretamente ligado à depressão, a doença é aparentemente, e até certo ponto, um mal de família. Alguns de nós somos também mais propensos à depressão que outros. Por detrás desta realidade estará não só a herança genética, mas também os comportamentos e formas de agir aprendidas através do convívio com os nossos familiares.

Alterações químicas do cérebro

Uma vez que os antidepressivos funcionam pela modificação da química cerebral, muitas pessoas assumem que a depressão é causada por mudanças químicas no cérebro que são à posteriori "corrigidas" pelas drogas. Alguns médicos podem referir-se a um "desequilíbrio químico" que necessita ser corrigido. As evidências de alterações químicas do cérebro são muito poucas para além dos efeitos da medicação, pelo que fica incerto se essas alterações são o resultado ou a causa da depressão.


sexta-feira, julho 03, 2015

5 atitudes-chave para a saúde mental


 As evidências científicas sugerem que existem 5 comportamentos ou atitudes ligadas à saúde mental que são fundamentais para a sua manutenção:


Ligue-se - Ligue-se às pessoas à sua volta: a sua família, amigos, colegas e vizinhos. Despenda tempo a desenvolver estas relações. 

Seja ativo(a) - Não necessita ir ao ginásio. Faça um passeio, dê uma volta de bicicleta ou participe num jogo de futebol. Encontre a atividade de que gosta e torne-a parte da sua vida.

Continue a aprender - Aprender novas habilidades pode dar-lhe um sentido de realização e uma confiança renovada. Porque não inscrever-se num curso de cozinha? Ou aprender a tocar um instrumento musical, ou aprender como arranjar a sua bicicleta?

Dê aos outros - Até o mais pequeno ato pode contar, quer seja um sorriso, um "obrigado" ou uma palavra amiga. Atos maiores, tais como o voluntariado, podem melhorar o seu bem-estar mental e ajuda-lo a construir uma nova rede social.

Seja consciente de si - Seja mais consciente do momento presente, incluindo os seus sentimentos e pensamentos, o seu corpo e o mundo à sua volta. Algumas pessoas chamam a esta consciência de "mindfulness", e pode resultar em mudanças positivas sobre a forma como sente a vida e como aborda os desafios.


quarta-feira, julho 01, 2015

Descoberta a fórmula para o casamento feliz?


Um gerontólogo conduziu o maior estudo de entrevistas em profundidade alguma vez feito sobre
casais em relacionamentos de longa data (30, 40, 50 ou mais anos). Este estudo implicou mais de 700 indivíduos entrevistados.

As entrevistas focaram três pontos centrais:

- Como encontrar um(a) companheiro(a) compatível e outros conselhos sobre amor e relacionamentos

- Como ultrapassar problemas conjugais comuns

- Como evitar a separação conjugal


Aprender a comunicar:  Para um bom casamento estas pessoas dizem-nos para "falar, falar, falar". Eles acreditam que a maioria dos problemas conjugais podem ser resolvidos por comunicação aberta, e que muitos dos casamentos que se dissolvem resultam de falta de comunicação.

Conhecer o(a) companheiro(a) muito bem antes de casar:  Apesar de muitas destas pessoas envolvidas no estudo tenham casado muito cedo, elas aconselham o oposto. Elas aconselham fortemente a que as pessoas mais novas adiem o casamento até conhecer bem o respetivo companheiro e tenham com ele um número de experiências partilhadas. O que está por detrás deste conselho é a máxima: "Nunca casar na expetativa de ser capaz de mudar a outra pessoa."

Tratar o casamento como um compromisso vitalício e inquebrável: Em vez de olhar para o casamento enquanto uma parceria voluntária que dura apenas enquanto a paixão dura, aqueles com mais experiência propõem uma visão na qual o casamento é um compromisso profundo a ser respeitado, mesmo que alguma coisa corra mal a curto prazo. Muitos parecem debater-se com períodos secos e infelizes durante o casamento, e encontram forma de os resolver, o que lhes dá a recompensa de um casamento gratificante e intacto mais tarde na vida.

Aprender a funcionar como uma equipa: Aplicar no casamento as experiências em equipas (de desporto, de trabalho, militares) adquiridas ao longo da vida. Esta visão envolve ver o problema enquanto algo comum ao casal, em vez de algo atribuído a um ou a outro companheiro. Qualquer dificuldade, doença ou imprevisto vivido por um dos parceiros é responsabilidade também do outro.

Escolher um(a) companheiro(a) muito semelhante a si: Por vezes o casamento é algo difícil, o que é comum a todos os casamentos. Mas torna-se muito mais fácil quando se compartilha o casamento com alguém de interesses, raízes e orientação semelhantes. A semelhança mais importante a ter em conta são os valores nucleares que se prendem com questões de grande potencialidade de discórdia, como o ter filhos, a forma como o dinheiro deve ser gasto e a religião.


 Link para o artigo original

sexta-feira, junho 26, 2015

Crise Financeira e (In)Capacidade de Adaptação (III)


Sabemos que para uma criança (aquela que todos nós fomos outrora) a presença no inicio de vida de cuidadores disponíveis é fundamental. Isto, mais que disponibilidade física, significa disponibilidade emocional, significa dar a uma criança o sentimento contínuo de ser compreendida, reconhecida e apreciada positivamente, realisticamente e sempre com amor. Para além disto os cuidadores devem ser, sempre que possível, pacientes, compreensivos e apoiantes. Das dádivas mais preciosas e importantes que uma criança pode receber ao longo da sua vida é poder viver dentro de si e com os seus pais e familiares algo como: "sinto que aqueles de que tanto gosto me compreendem verdadeiramente, estão lá para mim e ajudam-me sempre que preciso. Quando me sinto angustiado(a) e confuso(a) eles conseguem tranquilizar-me e conseguem ajudar-me a sentir leveza e a ver simplicidade nas coisas que até então pareciam muito confusas e angustiantes. Sinto que eles me incentivam a ir para a frente e que me respeitam se eu não sentir que não sou capaz, me dão tempo e espaço para pensar sobre as coisas, e com isso sinto-me cada vez mais confiante nas minhas capacidades, porque sei que eles estão lá para mim e para me ajudar se eu precisar."

São também estas as bases para a autonomia, para a confiança nas nossas próprias capacidades e para a autoestima (por internalização desta boa relação e destas figuras cuidadoras disponíveis, empáticas e pacientes, que cuidam a partir de dentro para toda a vida; e pela possibilidade de procurar e recriar estas relações com outras pessoas fora do seio familiar).

Contudo, nem todas as pessoas puderam contar com estas bases no início das suas vidas, ou lhes foi possível encontrar outras relações ao longo da vida a partir das quais conseguissem reparar essas faltas precoces. Para estas pessoas os recursos internos que de outra forma lhes dariam uma boa capacidade de adaptação a circunstâncias de vida mais difíceis acabam por poder estar mais fragilizadas ou mesmo inacessíveis. Alguns recorrem-se da psicoterapia e com isso conseguem reabilitar-se através de uma relação única que se vai desenvolvendo à medida que a confiança no psicoterapeuta e na relação terapêutica vai amadurecendo.

A realidade crudelíssima no meio de tudo isto acontece quando às vulnerabilidades ou comprometimento das capacidades individuais de cada pessoa se junta uma crise (financeira), que em simultâneo retira a possibilidade de procurar ajuda profissional. A própria crise financeira ataca a possibilidade da pessoa poder suportar os custos de uma psicoterapia. Em Portugal e pela proeminente propaganda dos medicamentos, raras são também as companhias de seguros que comparticipam tratamentos de psicoterapia, o que configura então essa realidade crudelíssima em cima da hecatombe que é a crise financeira. Penso que também será fácil entender no meio de tudo isto a relativa inutilidade de medicamentos enquanto forma a ajudar alguém a lidar com uma crise desta magnitude...

Por vezes há que nos desenvencilharmos de um sentido de perseverança que implica a idealização da potência e da autosuficiência, para que possamos aceitar limites, quer externos, quer internos. Por vezes esse é o primeiro e mais importante passo para a mudança. Podemos assim começar a libertar-nos daquilo que não nos deixa seguir em frente, o que custa (e muito). Mas é também através deste movimento (de humildade, diga-se de passagem), que de alguma forma implica um certo deprimir (reconhecer a nossa impotência face à realidade e a nossa vulnerabilidade face às circunstâncias), que eventualmente podemos descansar. Também, num segundo momento, mais tarde, ficar mais recetivos a aceitar ajuda profissional ou ponderar rumos alterativos para as nossas vidas ou para os nossos projetos, ou ainda, dar tempo a que estes se construam gradualmente e vão ganhando forma primeiramente dentro de nós.

Pessoalmente acho que o termo "crise" remete precisamente para uma situação que súbita e inevitavelmente evoca a nossa capacidade de adaptação e a leva ao extremo. É uma crise porque o potencial de sofrimento, a dificuldade inerente à situação específica, o eventual risco de intransponibilidade tendem a ser máximos para aquela pessoa.

Em certos casos a melhor ajuda que um psicoterapeuta pode dar é mesmo poder ser testemunha e companhia durante o percurso atribulado e quase impossível de uma dada crise, em casos em que a única saída é mesmo trilhar esse percurso até ao fim. Por vezes a ajuda mais preciosa do psicoterapeuta é mesmo ajudar "a carregar a cruz", partilhando o peso com a outra pessoa. E isso por si só faz toda a diferença do mundo.

A crise financeira força de facto a uma necessidade de mudança de paradigmas. Ainda que apostar num emprego estável, poupanças, comprar casa, formar família não sejam necessidades genéticas, são sim expetativas culturais normativas que ao longo de muitos e muitos anos fizeram parte dos valores das nossas famílias, unidade fundamental da organização da sociedade. Foram transmitidas de pais para filhos, os quais mais recentemente vão completando mais de 20 anos de formação escolar para que no final se deparem precisamente com uma crise com um potencial de abalo dos próprios fundamentos de todo esse esforço. Por tudo isto, também se espera de um modo geral que a adaptação das pessoas a esta realidade partilhada seja lenta. Alguns de nós certamente necessitarão mais tempo e outros talvez nunca se consigam adaptar, ou fiquem eternamente à espera do retorno do país ao equilíbrio financeiro anterior.

Em suma, vivemos uma crise cujo enfase é predominantemente exterior porque existe uma enorme massa populacional com vidas adiadas e mesmo arruinadas por causa dela, que talvez somente após muito tempo se consigam restabelecer. E isto, na minha opinião marca a diferença entre a legitimidade de um discurso político que se foca na necessidade das pessoas superarem a crise por si mesmas e, por outro lado, a necessidade de responsabilização dos dirigentes do pais, enfatizando ainda a necessidade de ser repensada a forma como o sistema permite que estes dirigentes cheguem ao poder. Com tantas universidades, ideias e génios no mundo, o sistema de acesso ao poder não está claramente alicerçado nos princípios da racionalidade. Infelizmente as pessoas servem os interesses do país (das instituições), em vez de ser o país a servir os interesses das pessoas. No final, quem vai compensar todas as "vítimas da austeridade" e respetivas famílias?

Há sempre dois lados de uma crise: a realidade exterior e a forma como lidamos com ela. No caso da crise financeira a realidade exterior é claramente preponderante, quer por tudo o que até agora foi descrito como pelo facto de em cima de tudo isto, esta crise tornar muito mais difícil o acesso das pessoas em sofrimento aos serviços de saúde mental e logo, à possibilidade de serem ajudadas a superar ou a gerir esta destruturação forçada das suas vidas e dos seus projetos.

quarta-feira, junho 24, 2015

Crise Financeira e (In)Capacidade de Adaptação (II)


E volta a questão: mas até que ponto trabalhar limitações internas pode ajudar a transpor a limitação externa?

Bem, por vezes pode. Por vezes creio que não. E neste último caso creio que a solução passa por aceitar isto mesmo, ainda que num momento posterior a situação se possa alterar.

A revolução industrial foi um marco histórico que mudou completamente a qualidade de vida das pessoas à escala global. Com a industrialização e a abertura de fábricas passámos de uma sociedade agrícola para uma sociedade industrial, de produções em massa. O emprego aumentou preponderantemente e isto serviu também enquanto ganho importante para as mulheres, no sentido de se autonomizarem financeiramente num período em que tradicionalmente quem trabalhava eram os maridos. Com isto e pela primeira vez na nossa sociedade ocidental as mulheres passam a estar mais tempo longe dos filhos, logo desde uma idade muito tenra. Não descurando a importância deste movimento revolucionário e o seu significado fundamental que aqui deixo claro, é também neste período que começam por surgir em larga escala aquilo que hoje em dia é designado como perturbações da vinculação.

De um ponto de vista evolutivo assistimos aqui a uma alteração social em massa que vem quebrar com uma tradição e hábitos construídos e enraizados ao longo de milhares de anos dentro da espécie humana. Filogeneticamente percebemos facilmente o porquê da nossa espécie descender daquele bebé que mais acesso tinha à sua mãe e aos seus cuidados durante os primeiros anos de vida, o período de maior dependência ao longo de toda a vida de um ser humano. Enquanto nota paralela, somos também a espécie que apresenta a mais prolongada dependência durante os primeiros anos de vida. Podemos imaginar que o nosso "antepassado bebé" terá conseguido assegurar a sua sobrevivência em detrimento de outros bebés em condições diferentes, mais adversas. Gradualmente esta relação entre dependência na infância e cuidados maternos foi ficando gravada no nosso código genético enquanto algo fundamental e que melhor assegura a sobrevivência individual e da espécie.

Ainda que a condição de vida da população global tenha vindo a beneficiar dramaticamente com o advento da industrialização, este foi também um momento em que o ser humano, por desconhecimento da psicologia humana, introduziu uma alteração arrojada aos seus hábitos milenares, neste caso a um hábito de raiz genética. Por outras palavras, uma alteração que transcendeu a capacidade do próprio ser humano, neste caso do bebé, de a acompanhar ou de se adaptar a ela. A consequência não foi a morte e o fim da espécie humana, mas a perturbação da vinculação (ou psicopatologia, ou doença mental) e as consequências sociais que daqui advêm, não só para o sujeito mas para a sociedade no geral. As perturbações de vinculação (e outras) são por exemplo características psicológicas unificadoras  de muitos gangs criminosos.

É de facto fundamental termos em conta aquilo com que conseguimos lidar e aquilo com que não conseguimos lidar em determinado momento ou contexto das nossas vidas, sob pena de sofrermos danos profundos à nossa saúde. A nossa qualidade de vida depende disso, isto é, desde que isso seja importante para nós, já que para além de todos estarmos neste mundo para sobrevivermos, então pelo menos que o façamos com qualidade de vida. E isso é um direito que nos assiste a cada um de nós, mas é também uma escolha pessoal.

Tudo isto serve para dar ênfase a que os tempos mudam, mas está mais que provado que nós não temos uma capacidade infinita de nos adaptarmos às mudanças, ou pelo menos imediatamente. É preciso tempo, e isso pode significar seis meses ou seis milhões de anos.

Para fazer face a uma dada crise há alguns recursos internos que são fundamentais. Entre estes, dastacam-se a tolerância à frustração, a capacidade de resiliência individual e a capacidade de lidarmos com situações de forma criativa, utilizando plenamente todos os recursos à nossa disposição. Estes são também três aspetos fundamentais da "saúde mental" ou da "personalidade saudável", e é facto que em condições ideais todos nós deveríamos conseguir um bom enraizamento e maturação interna destes recursos ao longo do nosso desenvolvimento. A verdade é que em condições reais isto nem sempre acontece. Por causa disso, na crise, e na vida também, perseverar torna-se mais difícil e discursos de "ir para a frente!" têm aqui todo o potencial para alimentar a frustração e fazerem-se sentir enquanto penosos ataques à autoestima individual, ao sentimento de competência e de eficácia na vida.

segunda-feira, junho 22, 2015

Crise Financeira e (In)Capacidade de Adaptação (I)


Grande parte de nós viveu durante muito tempo, vive ainda ou de outro modo foi vítima da brutalidade imposta por um regime governamental de um país que aos seus cidadãos entregou de bandeja o casamento mórbido e devastador entre a austeridade e a recessão económica. É abundante a sistemática constatação e divulgação dos efeitos destrutivos e por vezes fatais desta crise para a vida das pessoas. São as nossas próprias vidas colocadas em espera e somos impedidos de aplicar e poder continuar a desenvolver as nossas competências profissionais tão arduamente conseguidas ao longo de tantos anos de formação académica e profissional. O nosso próprio ganha-pão, pelo qual muitas vezes tanto sacrificámos, fica inutilizável. Somos amputados dos nossos sonhos e projetos de vida, fonte fundamental da alegria de viver.

A constante divulgação das más noticias ligadas à crise e afins por parte dos órgãos de comunicação social, bem como a constituição de algumas unidades de saúde mental de apoio às "vítimas da austeridade" atestam como estamos perante uma hecatombe. É inegável que há algo de fundamentalmente errado com os alicerces da nossa sociedade, isto é, se partirmos do princípio que essa sociedade se funda na igualdade de direitos entre todos os cidadãos e de que existe um pressuposto consensual de respeito e consideração entre as pessoas, mais que não seja um "não faças aos outros aquilo que não gostarias que te fizessem a ti".

Num mundo "psi" a ótica e contribuição que, de uma forma geral, podemos oferecer de modo a combater a imposição e os efeitos persistentes desta crise na vida de cada um de nós, é fundamentalmente através do foco sobre os recursos internos individuais que nos permitem a adaptação a essa(s) crise(s). Isto é, ajudar a gerir a crise de modo a minimizar os danos pessoais, sair delas rapidamente e conseguir criar alternativas realistas que procurem manter ou melhorar a nossa qualidade de vida. E isto consegue-se. Não só se consegue como os recursos que se ganham ao longo de uma psicoterapia mais prolongada são permanentes e em certos casos inclusive crescentes, mesmo após o fim da psicoterapia (ou psicanalise). Estes ganhos próprios das psicoterapias mais prolongadas no tempo tomam raiz na personalidade e passam a funcionar então como que ferramentas utilizáveis ao longo de toda a vida.

 Mas no meio de tudo isto há um outro cenário.

Até que ponto se consegue trabalhar e potenciar a capacidade de adaptação de forma geral e, de forma mais particular, a capacidade de adaptação de determinada personalidade?

Aqui se jogam outras questões... As questões da limitação e da aceitação desses limites.

Por vezes ouço discursos peculiares que fazem apologia à filosofia do "ir para a frente!" e do "perseverar!", numa atitude que, ainda que bem-intencionada, me parece por vezes um pouco omnipotente. Como se a "força bruta" da perseverança tudo vencesse. Basta olhar para a situação do país para termos uma ideia de como a perseverança nada pode contra a limitação persistente do obstáculo imóvel e imobilizador que lá está. Outras vezes o obstáculo é interno! E lamentavelmente outras vezes ele está em ambos os espaços, dentro e fora de nós.

Noto que cada vez que ouço este discurso progressista face a realidades que se mostram mesmo muito difíceis fico sempre à espera da resposta à pergunta fundamental:  "E porque é que é difícil perseverar?". A verdade é que não há resposta. Ao sabor do entusiasmo contagiante do momento (pelo menos será essa a intenção do interlocutor), ou até do furor maníaco, ficam muitas vezes no ar palavras bem intencionadas mas demitidas de um sentido realista de consideração e sensibilidade para com a totalidade e complexidade da experiência humana. A crise financeira é um obstáculo intransponível para muitas pessoas, mas é também um obstáculo que realça e coloca em exposição os obstáculos internos de cada um de nós, a nossa capacidade individual de dar resposta a situações mais difíceis. As duas dimensões do problema necessitam ser equacionadas em conjunto, sempre!