Uma
psicanálise, e também uma psicoterapia psicanalítica, podem ser
definidas como especialidades psicoterapêuticas de alta potência,
dirigidas à reestruturação de personalidade. De um modo geral, o objetivo
é conseguir alterações na organização, estrutura e funcionamento da
personalidade no sentido de uma mais saudável e vantajosa adapatação à
realidade (no mundo e nas relações), uma maior capacidade de atingir
objetivos pessoais - a auto-realização - e a potenciação de estilos de
vida satisfatórios.
Integrado nestas categorias gerais está o
trabalho da psicoterapia no sentido da integração de personalidade. Isto
significa a potenciação do acesso a, ou recuperação de, partes da
personalidade que se encontram inicialmente inconscientes, dissociadas,
não elaboradas/pensadas, ou não pensáveis (que ainda não puderam ser
pensadas, por vários motivos).
A importância ou o papel da integração de personalidade para os objetivos gerais de uma psicanálise ou psicoterapia psicanalítica prende-se com a realidade intuitiva de que quanto mais soubermos sobre nós próprios, melhores as escolhas que fazemos para nós e para a nossa vida.
A consciência que temos de nós mesmos existe em função de quem nós nos percebemos ser na relação com os demais e no mundo. Esta natureza relacional intrínseca da nossa psicologia/personalidade resulta do facto de que o nosso espaço psiquico nasce, ou melhor dito, desenvolve-se, na relação. A primeira e mais estruturante de todas essas relações é, na perspetiva do desenvolvimento ontogénico do ser humano, a relação entre a mãe e o bebé - entre os cuidados de uma mãe (ou substituto materno) disponivel, tranquila e sintónica com as necessidades do bebé e essas mesmas necessidades e vulnerabilidades.
Dito de outro modo, da nossa relação progressiva com o mundo e através da relação, surge a nossa essência psicológica - os nossos sentimentos e pensamentos, as nossas necessidades (algumas destas inatas), desejos, medos e angustias, fantasias, desejos, ideais, sonhos, etc..
Esta nossa essência interior, psicologia, ou personalidade), condiciona por sua vez a forma como percepcionamos a realidade fora de nós, ou a forma como recebemos, interpretamos e moldamos as informações do exterior. A percepção da realidade acaba por moldar as nossas atitudes e os nossos comportamentos, e estes são a base das nossas escolhas e decisões na vida - escolha da profissão, escolha do companheiro ou companheira, escolha de curso de carreira, do estilo de vida, dos gostos pessoais, e uma série complexa de outras escolhas e microescolhas, decisões e microdecisões, presentes nas mais diversas áreas da nossa vida.
Por exemplo, uma criança pode crescer com cuidadores que sejam figuras criticas das suas competências intelectuais, que não as valorizem ou que acreditam pouco nelas e na possibilidade de desenvolvimento das mesmas - há mesmo quem acredite que a inteligência é um atributo fixo e imutável desde nascença, ou que a criança sai ao pai ou à mãe, ou que simplesmente é "limitada". Neste caso esta criança pode crescer com fortes condicionamentos internos relativamente ás escolhas de vida que vai fazendo ou sente que pode fazer à medida que cresce, e depois o mesmo quando se torna adulta. As dificuldades académicas poderão ser sentidas enquanto confirmação dolorosa das limitações pessoais - tão acentuadas já internamente pela experiência da família. Perde-se a possibilidade de tolerar a dificuldade, aqui enquanto aspeto próprio de momentos e situações que apelam ao esforço intelectual no sentido da resolução do problema e consequente adquirir de maior destreza intelectual. Isto claro implica também alguém que acredite à priori na criança e que a apoie nas suas dificuldades. Caso contrário pode mesmo deixar de existir motivação para o estudo, para o saber, e pode mesmo surgir um desinvestimento do esforço e da curiosidade intelectual de uma forma mais abrangente, pois a criança fica presa na experiência contínua da confirmação interna da limitação interiorizada. O performance académico fica limitado, e posteriormente as escolhas de carreira ficam mais limitadas.
A vida vai ficando limitada, e
internamente cresce o sentimento de nunca se ter antingido muito e não
se ser capaz de mais. È o sentimento de ser ser menos capaz, de se ter
poucos recursos ou competências, e eventualmente também de se ser pouco
merecedor do afeto e do investimento do outro nas relações. É a fantasia
de que o outro será sempre alguém que dará pouco, investirá pouco,
amará pouco, porque mais não se merece e não se pode esperar ou exigir. Á
luz desta percepção se si no mundo e nas relações, as relações amorosas
podem acabar por ser inconscientemente escolhidas e orientadas em linha
com estas fantasias (e não só), confirmando-as então na prática e
reforçando o mundo interno de limitação e de precariedade. Gradualmente
vão surgindo então as pertubrações emocionais e das realações,
ansiedade, depressão, alcoolismo e outro tipos de estados emocionais de
angustia e/ou comportamentos desadaptativos.
A consciência daquilo que se viveu no inicio de vida não estaria aqui integrada na personalidada, disponível à consciência de modo a que essas experiências preoces pudessem ser elaboradas e ficar "arrumadas", livrando-se a pessoa do destino limitador e de limitação. As partes dissociadas ou não passíveis de serem pensadas mantêm-se neste estado, uma vez que é a relação com um outro que ajuda a gerir ou a elaborar as emoções dificieis e dolorosas por detrás destas vivências e que ajuda na organização do pensamento - uma mãe, um pai, um psicoterapeuta... - aquilo que na prática constitui a pré-condição para a construção de uma mente que consegue fazer essa elaboração ou "digestão emocional" cada vez mais autonomamente. Na falta desta capacidade - sistemáticamente trabalhada e desenvolvida em psicanálise e psicoterapia psicanalítica - as crenças desadaptativas sobre a vida e sobre o mundo mantêm-se fora da consciencia. As escolhas de vida adquirem assim um caráter mais ou menos automático, irrefletido, e muitas vezes resultando na manutenção de situações desagradáveis e penosas, independentemente da vontade ou da intenção da pessoa.
A consciência daquilo que se viveu no inicio de vida não estaria aqui integrada na personalidada, disponível à consciência de modo a que essas experiências preoces pudessem ser elaboradas e ficar "arrumadas", livrando-se a pessoa do destino limitador e de limitação. As partes dissociadas ou não passíveis de serem pensadas mantêm-se neste estado, uma vez que é a relação com um outro que ajuda a gerir ou a elaborar as emoções dificieis e dolorosas por detrás destas vivências e que ajuda na organização do pensamento - uma mãe, um pai, um psicoterapeuta... - aquilo que na prática constitui a pré-condição para a construção de uma mente que consegue fazer essa elaboração ou "digestão emocional" cada vez mais autonomamente. Na falta desta capacidade - sistemáticamente trabalhada e desenvolvida em psicanálise e psicoterapia psicanalítica - as crenças desadaptativas sobre a vida e sobre o mundo mantêm-se fora da consciencia. As escolhas de vida adquirem assim um caráter mais ou menos automático, irrefletido, e muitas vezes resultando na manutenção de situações desagradáveis e penosas, independentemente da vontade ou da intenção da pessoa.