"Um corpo que não sonha é como uma casa desabitada- a ruína é o seu destino."
"Nascemos de um sonho, vivemos no sonho, morremos quando o sonho acaba. E a cura analítica não é mais que a abertura do sonho; acaba quando o paciente sabe sonhar."
Ideias às pinguinhas sobre psicologia, psicanálise e psicoterapias
"Um corpo que não sonha é como uma casa desabitada- a ruína é o seu destino."
"Nascemos de um sonho, vivemos no sonho, morremos quando o sonho acaba. E a cura analítica não é mais que a abertura do sonho; acaba quando o paciente sabe sonhar."
Puro prazer. De representar, de assistir, de sentir e de pensar.
Teatro dentro do teatro, dentro do teatro.
Falo da peça que a Cornucópia (Teatro do Bairro Alto), pelas mãos de Luís Miguel Cintra e de um coeso grupo de actores, estreou na passada quinta-feira, dia 29 de Março e que estará em cena até 29 de Abril. Recomendável ver.
É uma festa, simultaneamente rigorosa e descontraída, moderna e clássica, que nos brinda com uma homenagem ao teatro.
Mas é também um texto cheio de camadas. Que parte de uma fragmentação do texto ‘Lo Fingido Verdadero', de Lope de Vega (1562-1635), reconvertido em “ Fingido e Verdadeiro, ou o Martírio de S. Gens”, depois de cruzado com outras fontes: ‘Flos Sanctorum' (texto anónimo português do século XVI) e ‘História Imperial e Cesárea' (de Pedro Mexia), e de entremeado com citações de Santo Agostinho, Tertuliano, Louis Jouvet e Jean Genet.
O resultado é um exercício preciso e condensado de criação e criatividade, concebido criticamente a partir de textos clássicos, e com sabedoria encenados (Luís Miguel Cintra) e cenografados (Cristina Reis). A acção central situa-se no século III, no tempo do Imperador de Roma Diocleciano, e Gens, actor e encenador, ao representar um cristão, transforma-se num (converte-se) e vem a ser condenado à morte. Parece que Lope de Vega terá escrito “ Lo Fingido Verdadero com a ideia de que fingir e fazer verdade são duas coisas diferentes, e que naquele dia quando o São Gens estava a representar, estava a fingir, e de repente aquilo que ele fingia tornou-se verdadeiro” diz-nos Luís Miguel Cintra.
Fingir tão completamente é procurar em si aquilo -- que, na memória de pensamentos, sensações e emoções-- está em sintonia com, ou se aproxima mais do que está a ser fingido ou representado. Quem escreve, ou encena, ou representa, acaba por falar de si.
A colagem, ou a intersecção de textos e de épocas, não faz perder a unidade do conjunto, ou a qualidade do impacto. Os vários bastidores, atravessados por comentários e cenas, acabam por ser fundidos numa linha narrativa consistente É uma coisa única, e como experiência única se constitui.
Como um ensaio a que assistimos, de um ou de vários espectáculos, a peça em 3 actos vai cerzindo as várias épocas, e faz-nos pensar nas ligações entre o poder e a arte teatral, a política e o investimento na actividade cultural, a verdade e o engano, a realidade e a ficção, o trabalho do actor, aquilo que o actor transporta do seu papel para si mesmo, e vice-versa, a verdade e a mentira.
E, fazendo a ponte, o tema da verdade e da mentira, da falsidade e do engano, é um tema bem caro à psicanálise, ao par terapeuta-paciente, e àquele ambiente onde a relação terapêutica se estabelece. Onde a busca da verdade é, em si, um processo terapêutico, como dizia Melanie Klein.
Mas a verdade e as verdades do sujeito (paciente), comunicadas através de palavras, silêncios e do seu corpo, que aparecem nem sempre muito claras ou coerentes, a pouco e pouco vão-se desenrolando, e vão-se distinguindo o verdadeiro do falso ou do fingido, na trama que acontece no palco da vida mental.
Freud dizia que “a relação entre analista e paciente se baseia no amor à verdade – isto é, no reconhecimento da realidade – e isso exclui qualquer tipo de impostura ou engano.” Para ele, as falsificações mentirosas integravam a operação de repressão, e “a repetição da mentira a tornaria uma verdade.” Por outras palavras, as mentiras, incluindo as mentiras sociais de conveniência (desculpas dissimuladas, omissão, exagero, deturpação...), apegam-se e são muitas vezes incorporadas por quem as cria, levando o seu criador a acreditar com convicção na sua versão da verdade, ou na sua ficção.
Por outro lado, as falsificações, auto-enganadoras e espécie de mitos pessoais, desenvolvem-se desde a infância como escapada às emoções difíceis, intoleráveis, penosas, no plano do inconsciente, afectando a função de pensar do sujeito, e são distintas do conceito de mentira onde impera uma deliberação consciente ou pré-consciente. Bíon, considerava também a busca da verdade como essencial ao crescimento mental, processo que exigia o estabelecimento de confrontos e de interrelações entre factos passados e presentes, entre realidade e fantasia, entre verdades e mentiras, e entre aquilo que o sujeito faz, diz e aquilo que, efectivamente, ele é.
A questão da verdade é assim um aspecto nuclear na psicanálise e na psicoterapia psicanalítica, onde a dança entre a coerência e a incoerência é facilitada pelo terapeuta e nos “tornamos verdadeiros na procura da verdade”, como dizia Freud . A busca da verdade (não moralística) vai alimentar a possibilidade de novas descobertas e a comunicação, gerando criatividade, fortalecendo a identidade e favorendo o alargamento do universo mental.
Sabendo como os actores tão bem o sabem, que a distinção entre a verdade e a mentira, ou o fingido, não é um processo claro ou fácil, mas uma caminhada paciente e criativa em prol da descoberta de si e do sentido da vida.
Isabel Botelho
Nesta altura do ano são frequentes os pedidos de avaliação para a antecipação de entrada no 1º ano. Esta é uma situação bastante delicada que requer uma apreciação aprofundada do funcionamento da criança. Para iniciar a escolaridade, não basta que a criança seja inteligente. Muitos pais preocupam-se com uma entrada “tardia” na escola, com receio que tal represente um atraso na aprendizagem e no futuro dos filhos. Na verdade, o que é muitas vezes difícil de explicar é que as crianças adquirem os principais requisitos à aprendizagem na brincadeira e que uma entrada precoce na escola pode pôr em causa todo o percurso académico de uma criança que teria competências para ser bem sucedida.
Muitas destas crianças que avaliamos têm, de facto, adequados recursos cognitivos e algumas até já lêem e escrevem algumas palavras. Mas serão estes aspetos suficientes para um bom desempenho escolar?
Também na maioria dos casos, observamos crianças que apresentam uma grande discrepância entre o potencial intelectual e a o funcionamento emocional, e é aqui que reside o principal risco de uma entrada antecipada na escola.
Alguns estudos reportam o elevado número de diagnósticos de Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção em crianças mais novas, que são tratadas e medicadas como tal, quando na verdade a agitação e a desatenção que revelam não são mais do que sinais de imaturidade.
Na verdade, podemos refletir também sobre o termo “imaturidade”. Será a criança imatura ou estará simplesmente a agir de acordo com o esperado para a sua idade? Estes sinais de imaturidade, não serão mais do que a incapacidade para sossegar o corpo e a mente numa altura em que deviam estar a explorar mais livremente o meio. Serão o sinal de uma indisponibilidade para a aprendizagem académica que requer períodos longos de concentração e quietude.
Às vezes os pais dizem “Se ele tivesse nascido 10 dias antes, era tudo mais fácil”. Eu respondo-lhes “Sorte a dele!”. Não significa que todas as crianças que entram mais cedo na escola têm insucesso, mas implicará um esforço intelectual e emocional muito maior.
Muitas destas crianças não têm ainda um “equipamento” emocional para lidar com a frustração e com o insucesso, o que pode levar a problemas de auto-estima e ao desinvestimento da escolaridade e, consequentemente, a dificuldades escolares que se acentuam e prolongam.
Para uma aprendizagem bem sucedida, a criança precisa de adequados recursos intelectuais e de um bom ajustamento emocional, de forma a sentir-se motivado para o sucesso e conseguir ultrapassar a frustração do insucesso. Quando nos referimos aqui ao conceito de motivação, incluímos o reconhecimento dos objetivos da aprendizagem. O que é que eu ganho em estar aqui sentado, a prestar atenção e a trabalhar? Até aproximadamente aos 7 anos, a criança aprende com o único objetivo de imitar o adulto, e só depois dessa altura reconhece o que passa a ser capaz de fazer com aquilo que aprende. É esta a idade ótima para a aprendizagem.
http://bigthink.com/think-tank/the-importance-of-magical-thinking
http://www.apartmenttherapy.com/literary-style-15-writers-bedrooms-168023
(foto:NASA
http://www.nasa.gov/multimedia/imagegallery/image_feature_2204.html)
http://www.ted.com/talks/susan_cain_the_power_of_introverts.html
Costumamos dizer que “era bom que houvesse um mecanismo que arrumasse certas coisas na nossa cabeça”, como se faz no computador ao arrumar pastas, organizar documentos ou mesmo ao desfragmentar o disco. Hoje, posso afirmar que isso é possível.
Não foi fácil aceitar ir ao psicólogo, pois desde criança que me foi incutido que “os psicólogos são para os malucos!”…Pois então, que eu seja maluco e vamos lá tratar disso!
Ao princípio nem sabia dizer o nome da técnica e tudo me parecia estranho, algo tirado de um filme. Com o tempo fui aprendendo muito sobre mim, constatando que a técnica tinha de facto resultados e a minha vida foi melhorando progressiva e rapidamente.
Em todo o processo comecei por ter consciência dos meus medos mais profundos, das coisas que me faziam parar no tempo e não me deixavam alcançar os meus objectivos e ser feliz. Aprendi que os meus medos, angústias, dores de estômago, enjoos, descontrolo total do sistema urinário, distúrbios alimentares, ansiedade, nervosismo, agressividade, etc, era tudo fruto do estado emocional em que me encontrava e não de algo físico como até então tinha comprovado por exames médicos.
Os meus problemas sempre se relacionaram com:
· Não conseguir visualizar o meu futuro;
· Não conseguir confrontar de forma assertiva as coisas menos boas da minha vida, reagindo de forma agressiva e violenta ou mesmo fugindo das situações (frustração);
· Não conseguir concentrar-me para atingir os meus objectivos (curso superior);
· Ser independente da minha família (algo que ainda é uma “pedra no sapato”).
Aprendi que todos os meus problemas tinham origem no passado e na relação que tinha até então construído com os meus pais e família. Aprendi o que são manipuladores e como esses manipuladores tinham boicotado toda a minha vida, sendo vítima de manipulação desde criança até aos dias de hoje. Agora, vejo com mais clareza tudo isto e consigo identificar as manobras de manipulação das quais ainda sou vítima.
O EMDR ajudou-me no sentido em que pude “arrumar as ideias” e não me deixar influenciar por esses estímulos negativos, que me causavam mal-estar, angústias e todos os sintomas que mencionei anteriormente. Mas, o mais impressionante foi a velocidade de resolução das situações que me causavam mal-estar, pois em cada sessão sentia verdadeiramente que ficavam resolvidas, ou seja, o processamento que fazíamos era muito eficaz de semana para semana. “Cada tiro, cada melro”, como se diz popularmente. Cada sessão que acabava era “um peso que me tiravam dos ombros”, peso esse que só voltaria por outra situação que não aquela que tínhamos processado.
Todo o processo até agora, sessão a sessão, tem sido muito enriquecedor pois consigo ver claramente os resultados dia-a-dia. Óbvio que agora tenho de pegar nas ferramentas que adquiri e aplica-las em todos os dias da minha vida, o que honestamente não é tarefa fácil, mas, hoje, sinto-me optimista e capaz de lutar por aquilo que acredito e que me faz feliz.
Actualmente, posso dizer que me encontrei, que sei o quero e que consigo visualizar-me num futuro próximo. Por outro lado, tento relativizar as coisas e viver cada dia de cada vez, com a esperança que melhores tempos virão e que em grande medida tudo depende de nós e da nossa atitude perante a vida.
B.D.