domingo, março 14, 2010

INSINCERIDADE (Vasco Graça-Moura)





Insinceridade

quis-nos aos dois enlaçados
meu amor ao lusco-fusco
mas sem saber o que busco:
há poentes desolados
e o vento às vezes é brusco

nem o cheiro a maresia                           (foto: CP)
a rebate nas marés
na costa de lés a lés
mais tempo nos duraria
do que a espuma a nossos pés

a vida no sol-poente
fica assim num triste enleio
entre melindre e receio
de que a sombra se acrescente
e nós perdidos no meio

sem perdão e sem disfarce,
sem deixar uma pegada
por sobre a areia molhada,
a ver o dia apagar-se
e a noite feita de nada

por isso afinal não quero
ir contigo ao lusco-fusco,
meu amor, nem é sincero
fingir eu que assim te espero,
sem saber bem o que busco.

Vasco Graça Moura, in Antologia dos Sessenta Anos

sábado, março 13, 2010

Reportagem sobre Bullying - a ver

http://ww1.rtp.pt/blogs/programas/linhadafrente/?k=1-parte-do-Linha-da-Frente-de-2010-03-11.rtp&post=7011

quinta-feira, março 11, 2010

Continuar de olhos fechados...

“Pedro Frazão, psicólogo e membro da Sociedade Portuguesa de Suicidologia, alertou ontem para a necessidade de articulação entre os serviços dos ministérios da Educação e da Saúde, no sentido de promover um plano de intervenção junto de alunos, professores e funcionários da escola de Mirandela que era frequentada por Leandro, o menino que há uma semana se encontra desaparecido nas águas do Tua.”

In Publico 11/03/2010

http://www.publico.pt/Sociedade/apoio-psicologico-a-colegas-de-leandro-na-escola-de-mirandela-considerado-urgente_1426547

segunda-feira, março 08, 2010

Poema do século XX - Fernando Pessoa

Por falar no amor lembrei-me da primeira parte de um dos meus poemas preferidos que pode ser relacionada com a auto-compaixão (ou amor próprio), a verdade e o sofrimento humano:


A criança que fui chora na estrada.

Deixei-a ali quando vim ser quem sou;

Mas hoje, vendo que o que sou é nada,

Quero ir buscar quem fui onde ficou.


(...)

sábado, março 06, 2010

POEMA DO SEC XVII: Marbeuf

ET LA MER ET L'AMOUR ONT L'AMER POUR PARTAGE


Et la mer et l'amour ont l'amer pour partage,

Et la mer est amère, et l'amour est amer,

L'on s'abîme en l'amour aussi bien qu'en la mer,

Car la mer et l'amour ne sont point sans orage.



Celui qui craint les eaux qu'il demeure au rivage,

Celui qui craint les maux qu'on souffre pour aimer,

Qu'il ne se laisse pas à l'amour enflammer,

Et tous deux ils seront sans hasard de naufrage.



La mère de l'amour eut la mer pour berceau,

Le feu sort de l'amour, sa mère sort de l'eau,

Mais l'eau contre ce feu ne peut fournir des armes.



Si l'eau pouvait éteindre un brasier amoureux,

Ton amour qui me brûle est si fort douloureux,

Que j'eusse éteint son feu de la mer de mes larmes

 
Pierre de MARBEUF (1596-1645)

quarta-feira, março 03, 2010

O AMOR (Eugénio de Andrade)


O Amor

Estou a amar-te como o frio
corta os lábios.

A arrancar a raiz
ao mais diminuto dos rios.

A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.

Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável

A marcar sobre os teus flancos
o itinerário da espuma

Assim é o amor: mortal e navegável.

Eugénio de Andrade  ("Obscuro Domínio")

domingo, fevereiro 28, 2010

TESOURINHO MUSICAL

http://www.youtube.com/watch?v=UsLq9rnnTCM

Song for whoever

POESIA: "TERNURA"

As nossas vidas estão uma chatice. É a crise, quando não mesmo o desemprego, a falta de perspectivas para o futuro, a sensação de que estamos a ser mal governados e que vamos acabar, como país, numa espécie de pobreza envergonhada, sem saída. País de velhos de onde os jovens com mais competências e/ou mais coragem já emigraram.
Estamos com falta de imaginação, de criatividade, de gosto pela vida. Ensimesmados, carregamos um fardo de séculos aos ombros, e já não há lugar para o prazer, para o gozo, para o lúdico, para a originalidade. Para a alegria de viver.
A poesia é, de certo modo, uma panaceia. Eu sei. Não é ela que nos irá assegurar a redução do défice, ou evitar a diminuição (fatal) do poder de compra. Mas a poesia permite-nos ver, no meio da desesperança, que é possível a vida, e a palavra que também faz a vida. E que os amantes são eternos.
Assim, decidi começar a publicar aqui os meus poemas preferidos, em português. No blog em inglês (http://lisboncpc.blogspot.com) encontrarão os meus poetas anglo-saxónicos preferidos.E começo hoje com um poema de David Mourão-Ferreira, um grande, enorme, poeta que eu ainda conheci pessoalmente e que sabia do que falava.



Ternura

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira, in Infinito Pessoal
(Fonte: citador.pt)

sábado, fevereiro 27, 2010

Reforma

Governo quer subir idade da reforma para os 67 anos diz o Diário Digital
O Governo garante que não vai mexer na idade das reformas durante os próximos três anos diz o Correio da Manhã.

Apesar de não conseguir perceber o que irá acontecer, esta questão levantou-me uma outra.

A idade da reforma é avaliada segundo anos de trabalho, mas, há quem trabalhe durante 40 ou 50 a realizar 40 horas semanais. E há quem trabalhe os mesmos anos a realizar 50/60 horas semanais. Nestes casos e considerando 40 anos de trabalho, as 10 horas semanais de diferença passam a fazer mesmo muita diferença.
Nestes casos as coisas não deveriam ser diferentes?

Quem trabalha 10/12 horas por dia chega aos 65/67 anos de idade nas mesmas condições que alguém que trabalhou a um ritmo de 8h/dia ao longo da vida?

Sei que existem condições diferenciadas para alguns profissionais (quem trabalhou por turnos ou para quem tem profissões de risco) mas, e as horas de trabalho?

terça-feira, fevereiro 23, 2010

CONGO: O MATADOURO

Há regiões do mundo que parecem, misteriosamente,  não atrair as atenções dos media. Como se estivessem por detrás de uma pesada cortina de silêncio, enquanto pela calada se vão cometendo as maiores, quase indizíveis, atrocidades.
Nicholas Kristoff, que escreve para o New York Times e para o i, é uma excepção. Os relatos que ele nos faz sobre o Congo são horríveis: milícias que cortam carne das vítimas  ainda vivas e as obriga, a comê-la. Meninas repetidamente violadas ao longo de meses, anos, por bandos de homens, cujos orgãos internos ficam completamente destruídos. Pessoas esventradas diante da família. E fico-me por aqui.
Esta guerra no Congo já ceifou, em 10 anos, quase sete milhões de vida.
Causas: são muitas e complexas, mas passam certamente pela posse do  minério, pelos ódios étnicos, pelas questões nos países vizinhos, como é o caso do Ruanda, que de algum modo também exportou esta guerra.
De que mais será capaz o homem? Lemos e pasmamos perante tais níveis de  crueldade.
Que fazer?

domingo, fevereiro 21, 2010

Leitura Interessante!


Cada Vez mais os formatos dos livros estão a mudar!

Com as novas tecnologias os autores estão a conseguir difundir mais facilmente os seus trabalhos, mas isto não quer dizer que consigam mais facilmente recompensas financeiras.


Como exemplo disto deixo em baixo um livro escrito sob a forma de blog:

Espero que apreciem!


Isabel é a serialização em blog de um romance de linguagem bem escolhida mas não erudita e conta a história de Vicente Vaz, um jovem idealista professor de Francês que acabou de ser pai. Vicente está dividido entre as suas obrigações de pai, de professor, de marido num casamento infeliz e as mágoas de um amor passado revividas através de um livro de um autor misterioso ao qual ele tem uma ligação inexplicável…
Para ler este romance do princípio, por favor comecem em http://vicentevaz.blogspot.com/2008/10/captulo-i-parte-1-renascimento.html e continuem através do arquivo do blog (http://vicentevaz.blogspot.com/).


VOANDO SOBRE AS ONDAS A CAMINHO DA VITÓRIA


O veleiro de regata, o BMW Oracle, voando sobre sobre as ondas, na Taça da América, que decorreu em Valência.
A vela deste  barco tem menos dois metros do que a ponte 25 de Abril!
Vale apena googlar o barco e a regata - as imagens são lindíssimas e distraem-nos um pouco das desgraças que por cá vão sucedendo. A mais recente tragédia na Madeira faz-nos pensar como somos (ainda?) frágeis perante as forças da natureza.


O poder da comida - obsidade infantil

O chefe Jamie Oliver's apresenta uma comunicação nos Ted Talks chamando a atenção do público para o perigo de estarmos na terceira geração (em Portugal penso que devemos estar na segunda ou até mesmo ainda na primeira) em que as crianças não aprendem a cozinhar em casa com a sua família. As crianças não desenvolvam as competências mínimas de cozinha e tornam-se adultos incapazes de cozinhar os pratos mais simples e transmitem essa ignorância aos seus próprios filhos.

Incapazes de cozinhar as famílias viram-se cada vez mais para a comida de plástico, gerando um problema de saúde publica de enorme gravidade (obesidade, doenças coronárias, etc.) e com custos sociais (financeiros e não só) de proporções gigantescas e que tende a aumentar a cada ano que passa.

Jamie apela a que se ensine a cozinhar na escolaridade obrigatória. Diz ele: "Nenhuma criança deveria de sair da escola sem saber cozinhar pelo menos 10 pratos elementares".

Um apelo e um ponto de vista que vale a pena ouvir e ver.


sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Ciclo de Psicoterapia regressa à Almedina do Atrium Saldanha



Ciclo de Psicoterapia regressa à Almedina do Atrium Saldanha no dia 22, segunda-feira , pelas 19:00 horas

Na próxima segunda-feira, dia 22 de Fevereiro, pelas 19:00 horas, regressa à livraria Almedina do Atrium Saldanha, o ciclo de PSICOTERAPIA que durante cinco sessões abordará algumas das principais correntes da Psicoterapia contemporânea, com especialistas que mostrarão a sua visão e as suas experiências.

Com moderação do Dr. Thomas Riepenhausen, a primeira sessão será dedicada ao tema «Comportamentalista», com a presença do Dr. Afonso de Albuquerque (Psiquiatra, ex-director do Serviço de Psicoterapia Comportamental do Hospital Júlio de Matos) e da Dra. Catarina Soares (Psicóloga clínica, directora do Serviço de Psicoterapia Comportamental do Hospital Júlio de Matos).

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Rei Édipo no Teatro Nacional D. Maria II





18 de Fevereiro « 28 de Março

O "Não" é necessário, mas o Amor essencial.

Foi aqui colocado um post sobre a necessidade do "Não" na educação das crianças. Concordo totalmente, mas (inspirada num texto* de Coimbra de Matos) acrescento. O "Não" é necessário mas o Amor é o fundamental.

Como diz o autor:

"(...) tudo começa e se mantém pelo amor - incondicional e não cobrador - dos pais/educadores para os filhos/discípulos; desde o nascimento ao fim da adolescência. Pensar o contrário é não reconhecer os direitos da infância. Mais nada.
Continuar a insistir nas obrigações das crianças mais não é do que alimentar a tirania dos adultos.
Queremos um mundo de pessoas que cresceram com amor e em razão do amor; e não um mundo de pessoas (não-pessoas) que medraram sob o medo e pela pressão da culpa. Só assim teremos um mundo onde vale a pena viver.
À velha recomendação que «de pequenino se torce o pepino» deve substituir-se o lema de que «para crescer é preciso envolver». Como diz Francine Ferland (...) «Nunca amamos excessivamente uma criança»."


Dizer "Não" é conter e proteger através dos limites. "Não", não significa tirania, controlo e sobretudo não significa privação de qualquer espécie, muito menos de Amor.


*in "Vária: Existo porque fui amado" António Coimbra de Matos - 2007.

terça-feira, fevereiro 16, 2010

Crazy Like Us: The Globalization of the American Psyche


Ethan Watters é o autor deste livro, que aborda a forma como as categorias psicopatologicas oriundas e difundidas nos Estados Unidos chegaram a novos povos e culturas e onde é analisado o impacto positivo e negativo desta forma de aculturação.

From Publishers Weekly
If you thought McDonald's and strip malls were the ugliest of America's cultural exports, think again. Western ideas about mental illness-from anorexia to post-traumatic stress disorder, schizophrenia, general anxiety and clinical depression-as well as Western treatments have been sweeping the globe with alarming speed, argues journalist Watters (Urban Tribes), and are doing far more damage than Big Macs and the Gap. In this well-traveled, deeply reported book, Watters takes readers from Hong Kong to Zanzibar, to Tsunami ravaged Sri Lanka, to illustrate how distinctly American psychological disorders have played in far-off locales, and how Western treatments, from experimental, unproven drugs to talk therapy, have clashed with local customs, understandings and religions. While the book emphasizes anthropological findings at the occasional expense of medical context, and at times skitters into a broad indictment of drug companies and Western science, Watters builds a powerful case. He argues convincingly that cultural differences belie any sort of western template for diagnosing and treating mental illness, and that the rapid spread of American culture threatens our very understanding of the human mind: "We should worry about the loss of diversity in the world's differing conceptions of treatments for mental illness in the same way we worry about the loss of biodiversity in nature."

Copyright © Reed Business Information, a division of Reed Elsevier Inc. All rights reserved.

DESIGN E BEM-ESTAR


Mãozinha amiga, muito amiga, fez-me chegar esta imagem de uma clínica de psicoterapia em Tóquio, design da firma Nendo (vénia...).
Aquilo que parecem ser portas, são pinturas nas paredes (trompe l'oeil). As pessoas, terapeutas e clientes, entram e saem das salas através de portas embutidas em estantes e paredes, quase invisíveis, e que deslizam. É a inversão da noção tradicional da neutralidade fria que impera em alguns destes espaços. Devo dizer desde já que não é o caso das instalações da Psicronos na João Crisóstomo, em Lisboa, de design moderno e refinado, mas noutra linha (mais pub-style).
À at. da nossa directora clínica, que sei que gosta do bom gosto, perdoe-se-me o pleonasmo.

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Os emails da Ordem dos Psicólogos...

Partilho convosco o email que recebi da Ordem dos Psicólogos... tirem as vossas conclusões, façam as vossas interpretações, visões, projecções...
Quanto a mim, mais parece um email tipificado da dita "old school" da função pública (salvaguardando que nada tenho contra a função pública)... um email impessoal, e quase que proíbitivo... "por favor não nos liguem nem nos batam à porta porque estamos cheios de trabalho"! Ou seja, qualquer dúvida o site responde, ou então se nos tentar ligar... houve apenas um sinal de ocupado!!


quinta-feira, fevereiro 11, 2010

O Não também ajuda a crescer


Ontem ouvi na rádio que este livro "O não também ajuda a crescer" de uma psicóloga espanhola Reys estava a ser um sucesso em Espanha.


Sobre este assunto deixo-vos umas palavras do pediatra Brazelton:


"uma criança que não é disciplinada não se sente amada. E disciplinar é ensinar uma criança a controlar-se a si própria. Este auto controlo vai permitir que a criança desenvolva sob três elementos importantes na construção da sua personalidade: auto-estima, altruísmo e a sede de conhecimento. Uma criança aprende a sentir-se bem com ela própria, a gostar de si. Depois, sentindo-se confiante, é capaz de se preocupar com os outros. Por fim essa estabilidade emocional dá-lhe inteligência e apetência para aprender. A motivação pelo conhecimento é construída com o afecto e na interacção com os pais"