segunda-feira, maio 19, 2014

Família em Crise: Crise Económica ou Crise Afetiva?

No passado dia 15 de Maio celebrou-se o Dia Internacional da Família, data que se assinala desde 1993 com o objetivo de salientar  a importância da família, reforçar a mensagem de união, amor, respeito e compreensão, alertar para a importância da família como núcleo vital da sociedade e para os seus direitos e responsabilidades, e sensibilizar para as questões sociais, económicas e demográficas que afetam a família.

O conceito de família assenta na ideia de estrutura nuclear que habita num ambiente comum, partilhando laços de sangue e de afeto e reconhece uma predisposição biológica, influenciada por fatores sócio-culturais, no que respeita à sua constituição.

Nas nossas consultas com crianças, adolescentes, adultos, casais e famílias, assim como nas nossas casas e nas dos nossos amigos e familiares, debatemo-nos com as profundas alterações que a estrutura familiar tem sofrido. Temos casais heterossexuais e homossexuais, famílias nucleares, monoparentais, separadas, reconstituídas, alargadas, de acolhimento, adotivas, guardas partilhadas… Temos solteiros de 40 anos, casais casados aos 20 e separados aos 30, jovens que ficam até cada vez mais tarde na casa dos pais devido ao desemprego, famílias forçadamente alargadas devido à crise, casais, pais e filhos separados pela emigração, idosos solitários e isolados. As estatísticas dão conta do aumento de divórcios e do decréscimo de casamentos e nascimentos.

Estas alterações dramáticas levam-nos a questionar sobre o futuro das famílias. Será a família uma espécie em vias de extinção? Será a crise económica o principal responsável pela desagregação familiar ou será apenas um bode expiatório?

A predisposição biológica para aproximar-se e cuidar do outro parece estar a ser abafada por uma sociedade hiperativa, virada para o agir e pouco para o sentir. Não há tempo para sentir, anda-se para a frente porque para a frente é o caminho. As famílias parecem cada vez mais funcionais pois na verdade desempenham funções, cumprem objetivos, o que talvez explique por que funcionam cada vez pior, uma vez que a complementaridade tem vindo a ser substituída pela individualidade. As necessidades, os interesses e os valores individuais parecem dar pouco espaço à comunicação, à partilha e à tolerância, e os laços afetivos que unem a família quebram-se com facilidade. Há quem defenda que a “sociedade material” e a busca pela qualidade de vida (económica) são os principais responsáveis pela desagregação familiar.

Estará a família a atravessar uma crise económica ou uma crise de valores? Será que é a primeira que leva à última? Estará o novo milénio a atravessar uma crise afetiva? Poderão os afetos sobreviver a estas crises?


Questões talvez um pouco polémicas que aqui lanço no sentido de promover uma reflexão sobre o valor dos afetos, das relações e da família.



segunda-feira, maio 12, 2014


Perguntas para fazer às crianças sobre a escola.



sexta-feira, maio 09, 2014

As 20 leis sexuais mais estranhas


As leis que protegem a população contra os crimes sexuais são muito importantes na legislação de qualquer país, mas existem algumas bem intrigantes que, apesar de não serem usadas em muitos dos casos, ainda fazem parte da constituição destes locais.

Segundo uma lista publicada pelo site medicalinsurance.org, o simples ato sexual pode tornar-se muito perigoso e levar da cadeia até à pena de morte. Mas, algumas leis, são tão absurdas que merecem destaque nesta lista das mais estranhas do mundo todo.



1) Há homens em Guam cujo emprego em tempo integral é viajar pelo país para deflorar virgens, que pagam pelo privilégio de ter sexo pela primeira vez. Razão: pelas leis de Guam, é proibido virgens se casarem.


 

2) A maioria dos países do Oriente Médio reconhece a seguinte lei islâmica: Depois de ter relações sexuais com um carneiro, é um pecado mortal comer a sua carne.



3) No Líbano, os homens podem ter relações sexuais com animais legalmente, mas os animais devem ser do sexo feminino. As relações sexuais com machos são puníveis com a morte.

  

4) Em qualquer lugar dos Estados Unidos é ilegal o uso de espécies de seres vivos em perigo, exceto insetos, em manifestação sexual pública ou privada, espetáculos ou exposições retratando sexo entre espécies. 



5) No Bahrain, um médico pode legalmente examinar a genitália feminina, mas é proibido olhar diretamente para ela durante o exame. Ele só pode ver seu reflexo em um espelho.



6) Em Hong Kong, uma mulher traída pode legalmente matar o marido adúltero, mas deve fazê-lo apenas com as próprias mãos. (A amante do marido, por outro lado, pode ser morta de qualquer outra maneira).



7) Em Santa Cruz, na Bolívia, é ilegal um homem ter relações sexuais com uma mulher e a  filha ao mesmo tempo.



8) No estado de Washington, há uma lei contra sexo com uma virgem em quaisquer circunstâncias, incluindo a noite de núpcias.



9) Em Cali, na Colômbia, uma mulher só pode ter relações sexuais com o marido, se a primeira vez que isso ocorrer, a mãe estiver no quarto para testemunhar o ato.



10) Nenhuma mulher pode ter relações sexuais com um homem enquanto este conduz uma ambulância dentro do perímetro de Tremonton, Uhta. Se estes forem apanhados, a mulher pode ser acusada de delito sexual e o 'seu nome será publicado no jornal local.' O homem não é cobrado, nem o seu nome será revelado.



11) Em Romboch, Virginia, é ilegal a atividade sexual com as luzes acesas.



12) Em Nevada, é contra a lei ter relações sexuais sem preservativo.



13) É ilegal para qualquer membro da Legislatura de Nevada, durante um ato oficial, vestir-se com uma fantasia de pênis enquanto o legislador estiver em sessão.



14) No Arizona, Flórida, Idaho, Indiana, Massachusetts, Mississippi, Nebraska, Nevada, New York, Ohio, Oklahoma, Oregon, Dakota do Sul, Tennessee, Utah, Vermont, Washington e Wisconsin, a ereção que pode ser vista através da roupa de um homem é ilegal.



15) É proibido que um marido faça sexo com a esposa se seu hálito cheira a alho, cebola ou sardinha, em Alexandria, Minnesota. Se a esposa reclamar do fato, a lei diz que ele deve escovar os dentes.



16) Em Minnesota, é ilegal para qualquer homem ter relações sexuais com um peixe vivo. (Aparentemente, as mulheres estão liberadas).



17) Os muçulmanos não podem olhar os genitais de um cadáver. Isto também se aplica aos funcionários da funerária. Os órgãos sexuais do defunto devem estar sempre cobertos por um tijolo ou pedaço de madeira o tempo todo.



18) Uma portaria, em Wyoming,Newcastle, proíbe os casais de fazerem sexo em pé dentro de uma loja frigorífica de carne.



19) A penalidade para a masturbação na Indonésia é a decapitação.



20) Nos hotéis em Sioux Falls Dakota, cada quarto é obrigado a ter duas camas individuais, e as camas devem ficar a uma distância mínima de 60 centímetros quando um casal aluga o quarto para apenas uma noite. E é ilegal fazer sexo no assoalho entre as camas.


Fonte: terra.com.br







terça-feira, maio 06, 2014

Que fase é esta? - episódio I



No meu trabalho diário com jovens e suas famílias, as diferenças de mentalidades, formas de ser e de estar, imperam.

No livro "Tenho medo de ir à Escola" num capítulo exclusivamente dedicado a este tema, debruço-me sobre o que os pais dizem e querem e vice-versa:

Ora cada vez mais assistimos a meninas de 10 anos a lidarem com as questões das alterações hormonais, com o início da menarca (1ª menstruação), com a pele a alterar, e inevitavelmente com flutuações de humor, que vão desde a agressividade, tristeza, felicidade, apatia, preguiça, agitação… Estas alterações, de início mais tardio nos rapazes, “obrigam” a uma grande mudança na dinâmica familiar e a uma necessidade de reorganização para se conseguir acompanhar todas estas modificações.”

Na realidade as perspetivas dos pais e dos filhos são distintas e cada uma, à sua maneira, são válidas, mas como lá chegar? Como será possível que estas suas entidades consigam chegar a um acordo e compreenderem-se?

Nalguns casos será mesmo necessária ajuda externa, pois a comunicação já atingiu um nível tão incompreensível, que um "tradutor" terá que decifrar o discurso de cada uma das partes para que voltem a falar a mesma língua.

Se na sua família considera que já chegou a este ponto procure ajuda especializada, se ainda não aconteceu mas percebe que a relação está a mudar, então talvez seja a altura ideal para refletir e compreender o que deve mudar para que consiga manter, ainda que com dias melhores que outros, como é natural, um nível adequado de comunicação.

“Quando tinha catorze anos, o meu pai era tão ignorante que não o conseguia suportar. Mas quando fiz vinte e um, parecia-me incrível o quanto ele aprendera apenas em sete anos.”
Mark Twain
(in Tenho Medo de ir à Escola, Editora Esfera dos Livros -  fevereiro de 2014)

sexta-feira, maio 02, 2014

O poder da auto-observação e autoconsciencia



Se você acha difícil estar consciente, então experimente anotar cada pensamento e sentimento que surge ao longo do dia; anote suas reações de inveja, ciúme, vaidade, sensualidade, as intenções por trás de suas palavras, e assim por diante.Use algum tempo antes do café da manhã anotando-as, o que pode necessitar que se vá para cama mais cedo e deixar de lado algum assunto social. Se você anotar estas coisas quando puder, e a noite antes de dormir examinar tudo que escreveu durante o dia, estudar e examinar sem julgamento, sem condenação, começará a descobrir as causas ocultas de seus pensamentos e sentimentos, desejos e palavras.Ora, o importante nisto é estudar com livre inteligência o que você anotou, e ao estudar você ficará consciente de seu próprio estado. Na chama da autoconsciência, do autoconhecimento, as causas do conflito são descobertas e consumidas. Você deveria continuar anotando seus pensamentos e sentimentos, intenções e reações, não uma vez ou duas, mas durante um considerável número de dias até ser capaz de estar consciente deles instantaneamente.Meditação não é apenas constante autoconsciência, mas constante abandono do ego. A partir do pensamento correto há meditação, da qual vem a tranquilidade da sabedoria; e nessa serenidade o mais elevado se realiza. Anotar o que se pensa e sente, os desejos e reações, gera uma consciência interna, a cooperação do inconsciente com o consciente, e isto leva à integração e compreensão. 
Krishnamurti, J. Krishnamurti, The Book of Life
Curiosamente uma grande parte do trabalho em psicanálise é, precisamente, observar/prestar atenção e anotar a experiência emocional do paciente.

segunda-feira, abril 28, 2014

Quando levar o seu filho ao psicólogo?







Se para os adultos é muitas vezes difícil perceber que chegou a hora de pedir ajuda, no caso das crianças e dos adolescentes mais difícil se torna. Deixo aqui alguns aspetos que podem indiciar que a criança ou o adolescente está com dificuldades ou em sofrimento e que necessita da intervenção de um psicólogo infantil:





  • ·         Raiva ou Agressividade excessivas;
    ·         Ansiedade ou Medo excessivos;
    ·         Episódios frequentes de tristeza evidente e choro fácil;
    ·         Isolamento e dificuldades relacionais;
    ·         Perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas e entusiasmantes;
    ·         Queixas somáticas (dor de cabeça, dor de barriga, vómitos, indisposição), sem causa médica;
    ·         Quebra de rendimento escolar;
    ·         Dificuldades escolares;
    ·         Dificuldade em estar atento;
    ·         Agitação ou apatia;
    ·         Alterações repentinas no sono: Insónia ou, pelo contrário, sono excessivo, pesadelos;
    ·         Alterações do comportamento alimentar: aumento ou perda de apetite, recusa em comer;
    ·         Oscilações bruscas do humor;
    ·         Atraso na linguagem;
    ·         Problemas de comportamento;
    ·         Vítimas ou Agressores de bullying;
    ·         Birras excessivas e difíceis de gerir;
    ·         Dificuldade no controlo de esfíncteres;
    ·         Sinais de consumo de substâncias (álcool, drogas);
    ·         Situações de divórcio, adoção e luto;
    ·         Situações de doença crónica;
    ·         Abuso sexual, físico ou emocional ou outros eventos traumáticos;

Se em alguns casos a criança pode revelar sinais desde muito cedo, na maioria das situações existe uma alteração evidente relativamente ao funcionamento anterior.



Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Responsável pelo Departamento de Infância

domingo, abril 27, 2014

Atividade cerebral em pacientes vegatativos

Num estudo realizado por um investigador - Dr. Steven Laureys, na universidade de Liège percebeu-se que dos pacientes considerados em estado vegetativo têm um minimo de atividade cerebral que pode indicar terem capacidade de sentir emoções e dor.

Veja o artigo completo aqui: http://www.macleans.ca/society/health/one-third-of-vegetative-patients-may-be-conscious-new-study/


quinta-feira, abril 24, 2014

O Urso e a Panela

PARA PENSAR...

Um urso faminto perambulava pela floresta à procura de comida. A época era de escassez, porém, o seu faro aguçado sentiu o cheiro de comida de um acampamento de caçadores.

Ao chegar lá, o urso, reparou que o acampamento estava vazio, foi até a fogueira, ainda em brasas, e dela tirou um caldeirão de comida. Ao tirar a panela, o urso abraçou-a com toda a sua força e enfiou a cabeça dentro dela, começando a devorar tudo.

Enquanto abraçava a panela, percebeu que algo o magoava.

Era o calor do caldeirão… que lhe queimava as patas, o peito, e todos os lugares em que o encostava.

O urso nunca tinha experimentado aquela sensação e, interpretou as queimaduras, como algo que queria tirar-lhe a comida. Começou a rugir muito alto. 

Quanto mais a panela o queimava, mais ele a apertava contra o seu corpo e mais alto rugia.

Ao chegarem ao acampamento os encontraram o urso caído próximo da fogueira, agarrado à panela de comida. O urso tinha tantas queimaduras que a panela ficou presa no seu corpo e, mesmo morto, mantinha a expressão de estar a rugir.


Conclusão:
É impressionante como algumas pessoas não têm consciência do sentimento de apego. Apegam-se a ideias, emoções, crenças, hábitos, objetos, pessoas, situações, mágoas, frustrações, doenças. O medo do desconhecido é tanto que ficam presas ao que lhes parece familiar e seguro. Referem-se a tudo com um sonoro pronome possessivo: o meu marido, a minha roupa, o meu emprego, a minha forma de pensar, o meu trauma, o meu fracasso, a minha depressão... etc. 
Na vida, por vezes, abraçamos certas coisas que julgamos ser muito importantes. Algumas delas fazem-nos gemer de dor, queimam-nos por fora e por dentro, e mesmo assim, continuamos agarrados a elas!
Temos medo de abandoná-las e esse medo provoca-nos ainda mais sofrimento e desespero.
Apertamos essas coisas contra os nossos corações e terminamos destruídos por algo que, muitas vezes, protegemos, acreditamos e defendemos.
Em alguns momentos da vida, é necessário reconhecer que nem sempre o que valorizamos tanto é realmente importante, muitas vezes agarramo-nos, com todas as forças, ao que nos causa apenas angústia e sofrimento…
Tenhamos o discernimento que o urso não teve.


TENHA CORAGEM!!! ... LIBERTE-SE DA SUA PANELA!!!



- Autor desconhecido -


terça-feira, abril 22, 2014

Vergonha, Medo da Crítica e Julgar os Demais


Ao passo que o sentimento de culpa implica um sentimento de transgressão (física, emocional, moral,

A vulnerabilidade acentuada à vergonha e o medo persistente da exposição ou da denúncia pública são vivências emocionais sintomáticas. Estes sentimentos são muitas vezes indicadores de falhas ou de insuficiências, na história individual, de relações empáticas, ricas em profundidade emocional, genuínas, nas quais a própria pessoa se tenha sentido com frequência  verdadeiramente compreendida na sua natural complexidade e contradição emocional, moral e comportamental. Esta experiência relacional com uma figuras preocupadas, envolvidas e compreensivas, permite, por via da confiança e da identificação, a aquisição interna gradual da capacidade e da propensão para a autocompreensão em profundidade, bem como a capacidade de compreensão em profundidade dos outros. Em acréscimo, estas capacidades internas adquiridas por via das boas relações, são a via privilegiada para a serenidade e maturidade psicológica.

A falta da experiência de uma relação que nos devolve compreensão em profundidade relaciona-se com frequência à internalização de cuidadores severos, críticos, que humilham e/ou instigam sentimentos de medo da rejeição por parte do grupo social (amigos, vizinhos, colegas, etc.). Gradualmente isto pode conduzir a um esvaziamento interno e/ou desorganização psicológica, já que a indisponibilidade de uma relação de compreensão em profundidade no início das nossas vidas potencia a intolerância interna a todo um leque de vivências e partes da personalidade que vão então sendo expulsas da consciência por ação de mecanismos de defesa destinados a "evacuar" a angústia/ansiedade ligadas a essas vivências e partes da personalidade. Forma-se um conflito entre, por um lado, uma parte intolerante (crítica, rejeitante, não aceitante e/ou cruel) da personalidade, e, por outro lado, a experiência emocional interna e outras partes da personalidade, que, sendo então sentidas como indignas do amor ou apreço dos demais, são expulsas da consciência, dissociadas e muitas vezes projetadas sobre os demais, sobre a visão do mundo e das relações.

Estes mecanismos de defesa de "evacuação" dos conteúdos mentais tendem a criar problemas adicionais nas nossas vidas pois a sua natureza é frequentemente projetiva. As nossas partes intoleradas são expulsas para o exterior, expulsão algumas vezes acompanhada por ações e atitudes que visam reforçar a ilusão de que o interior intolerável pertence realmente ao exterior (desprezado). A projeção faz-se acompanhar comummente da necessidade adicional da certeza de que há de facto um exterior repudiável (projetado nos demais, ou no mundo), mas que não é, ou faz parte do próprio sujeito e/ou das suas associações. Não sou eu, mas sim tu, quem tem agora as partes de mim que eu não suporto nem consigo enfrentar.”

O resultado são distorções da perceção dos outros e da realidade, lado a lado com um esvaziamento progressivo do Eu, consoante a frequência e intensidade da expulsão de partes do Eu para o exterior. A atitude crítica ou julgamental, e sobretudo a atitude de desprezo denuncia todo este enredo interno. A crítica ou julgamento surge neste contexto como expressão da tentativa de lidar com um conflito interno ligado a vivências internas dificilmente toleráveis.

Num segundo ponto, não são apenas as partes não compreendidas e intoleradas da personalidade que são projetadas sobre os demais, mas também a própria instância interna crítica, severa, cruel e intolerante o pode ser. Desta forma, quando na história pessoal faltam outros significativos capazes de preocupação e sintonia-empática, envolvimento e interesse genuínos, não só surge aqui o terreno fértil para o desenvolvimento da atitude critica, despreziva e intolerante perante o outro (perante partes da própria pessoa projetadas subsequentemente sobre o outro), como se instala o pavor da critica e do julgamento dos demais – a vergonha patológica, intensa e muitas vezes negada e inconsciente. A vergonha consciente já denota um certo grau de tolerância a aspetos menos aceites (ou percebidos como menos aceitáveis) da personalidade, ou seja, denota um grau menos severo e até mesmo normativo de uma apreciação interna de nós mesmos face à diversidade da nossa experiência emocional e  das diferentes partes da nossa personalidade.

Quando nos livrarmos de emoções e partes da personalidade em conflito (com a parte severa e intolerante, tiranizante) tudo isso permanece dissociado e/ou inconsciente. Isto por sua vez faz com que parte da nossa história e quem nós somos permaneça fora da nossa consciência e compreensão. Quanto menor a compreensão em profundidade de nós mesmos e da nossa vida, menos autonomia e liberdade teremos na própria vida, relativamente às escolhas que fazemos.

A projeção de uma instância interna severa, crítica, intolerante e não compreensiva, aliada à pouca tolerância e compreensão de partes importantes da nossa experiência, personalidade e emoções, encontra-se muitas vezes ligada à atitude de mentir, por exemplo nas relações íntimas. Isto porque a outra pessoa é sentida como alguém incapaz de nos poder compreender verdadeiramente, pois sentimos que esses aspetos estão para além da possibilidade de serem aceites e compreendidos (amados).

Ainda que o outro seja sentido como alguém intolerante em relação a algo, que nós sejamos intolerantes com o outro em relação a esse algo, muitas vezes acabamos mesmos por ser indulgentes connosco mesmos na relação com esse algo que fortemente criticamos no outro e que receamos suscitar a crítica do outro. Isto apenas revela a nossa parte intolerante, que nestes momentos é colocada em "standby" face à força desse algo que na maior parte do tempo é repudiável e jamais reconhecido como tendo qualquer associação connosco e com as nossas vidas. Fica claro aqui que "algo" necessita efetivamente poder ser melhor compreendido em nós e sobre nós, para que possa passar a ser tolerado e aceite, em vez de expulso e criticado nos demais.

É uma boa forma de nos conhecermos um pouco melhor, precisamente procurando aqueles aspetos do(s) outro(s) que mais desgostamos e mais facilmente nos metem os cabelos em pé. Fica o desafio.
etc.) em relação a alguém, a vergonha representa o medo de rejeição pelo grupo social. A tolerância, compreensão e capacidade de cuidarmos das nossas partes que porventura (consciente ou inconscientemente) sentimos menos dignas de serem amadas/apreciadas pelos demais está associada à saúde mental. Este é também todo um trabalho que se agrupa no conjunto dos objetivos centrais de uma psicoterapia psicodinâmica.