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segunda-feira, abril 28, 2014

Quando levar o seu filho ao psicólogo?







Se para os adultos é muitas vezes difícil perceber que chegou a hora de pedir ajuda, no caso das crianças e dos adolescentes mais difícil se torna. Deixo aqui alguns aspetos que podem indiciar que a criança ou o adolescente está com dificuldades ou em sofrimento e que necessita da intervenção de um psicólogo infantil:





  • ·         Raiva ou Agressividade excessivas;
    ·         Ansiedade ou Medo excessivos;
    ·         Episódios frequentes de tristeza evidente e choro fácil;
    ·         Isolamento e dificuldades relacionais;
    ·         Perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas e entusiasmantes;
    ·         Queixas somáticas (dor de cabeça, dor de barriga, vómitos, indisposição), sem causa médica;
    ·         Quebra de rendimento escolar;
    ·         Dificuldades escolares;
    ·         Dificuldade em estar atento;
    ·         Agitação ou apatia;
    ·         Alterações repentinas no sono: Insónia ou, pelo contrário, sono excessivo, pesadelos;
    ·         Alterações do comportamento alimentar: aumento ou perda de apetite, recusa em comer;
    ·         Oscilações bruscas do humor;
    ·         Atraso na linguagem;
    ·         Problemas de comportamento;
    ·         Vítimas ou Agressores de bullying;
    ·         Birras excessivas e difíceis de gerir;
    ·         Dificuldade no controlo de esfíncteres;
    ·         Sinais de consumo de substâncias (álcool, drogas);
    ·         Situações de divórcio, adoção e luto;
    ·         Situações de doença crónica;
    ·         Abuso sexual, físico ou emocional ou outros eventos traumáticos;

Se em alguns casos a criança pode revelar sinais desde muito cedo, na maioria das situações existe uma alteração evidente relativamente ao funcionamento anterior.



Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Responsável pelo Departamento de Infância

sexta-feira, janeiro 10, 2014

"The first step to resolve a problem is to admit that we have a problem"


A frase do título, proferida por um jovem adulto invulgarmente corajoso - ver vídeo abaixo) pode corresponder a uma frase "batida" ou cliché. No entanto, como pode ser difícil fazê-lo! O que não quer dizer que não se dê conta que se sofre imenso... simplesmente nem sempre é fácil reconhecer fragilidades, limitações e a gravidade da situação. Só através deste primeiro passo é possível começar a (pensar) fazer algo, como por exemplo, pedir ajuda ou investir na sua resolução.

Este segundo passo já tem mais a ver com assumirmos, apropriarmo-nos e responsabilizarmo-nos pelo problema. Pois uma coisa é o nosso problema ser responsável pela nossa miséria; outra coisa é nós sermos responsáveis pelo que fazemos com o nosso problema. Já dizia Sartre que, mais importante do que o que fizeram connosco, é aquilo que nós fazemos com o que fizeram connosco. Se fomos mal tratados em dados momentos da nossa vida (sobretudo quando éramos mais vulneráveis e influenciáveis, ou seja, na infância) podemos ter incorporado esse modo de relação interna e prolongar atualmente essa relação maltratante connosco próprios. A relação anterior já não pode ser mudada mas o que fazemos com o que essa relação nos fez já é outra história. Longe de ser fácil, não significa de modo algum que tenha de ser uma "sina".

O jovem adulto que fala no vídeo abaixo, no contexto de um TED talk sobre a depressão, é um jovem comediante. Contudo, não nos vem falar do humor que entretém mas antes do humor depressivo. Corajosamente dá o exemplo de alguém que, contra todas as expetativas, não expõe o que os outros gostariam de ver mas o que está diante de todos mas que, muitas vezes, se evita. 


Aproveito para sensibilizar quem ainda não teve a coragem para falar, não num palco, mas simplesmente FALAR, seja em que contexto for, para a importância de o fazer. Naturalmente que não serão todas as pessoas e momentos os ideias para revelar algo íntimo ou delicado. Mas nunca o fazer pode ser altamente corrosivo! 

Hoje em dia temos o privilégio de podermos partilhar e comunicar através de todo um conjunto de meios tecnológicos que podemos e devemos aproveitar da melhor maneira. O acompanhamento online é também mais uma forma de chegar às pessoas e de as ouvir aberta e profundamente. Não somos "só" Homo Sapiens somos também um Homo Sapiens (conhecedor) mas também Comunicador, Social! 

sábado, dezembro 28, 2013

Testemunho sobre a depressão

Mais um interessante testemunho do que pode ser uma depressão. O autor desta TED Talk, Andrew Solomon, tem vários livros publicados - um deles autobiográfico.

"O oposto da depressão não é a felicidade, mas a vitalidade"

http://www.ted.com/talks/andrew_solomon_depression_the_secret_we_share.html?source=email#.Ur8Y3Yzw-cW.email

terça-feira, dezembro 17, 2013

ENVELHECIMENTO E DEMÊNCIA

Esta semana saio do formato habitual da Infância e partilho alguns dados e reflexões desenvolvidos num trabalho que realizei há tempos, no âmbito da minha formação em Neuropsicologia: "«Este país não é para velhos»- Reflexão sobre os cuidados de saúde prestados aos idosos. Propostas para um envelhecimento saudável".

Segundo um estudo do Instituto Nacional de Estatística, em Portugal a proporção de pessoas com 65 ou mais anos duplicou entre 1960 e 2005, passando de 8 para 17% do total da população, prevendo-se que volte a duplicar e a atingir os 32% em 2050, numa tendência contrária à dos nascimentos e da população jovem. O estudo indica ainda que daqui a 40 anos o Índice de Envelhecimento ascenderá a 243 idosos por cada 100 jovens.

Os progressos conseguidos pelo desenvolvimento, em geral, e pelas ciências da saúde, em particular, contribuíram significativamente para o aumento da esperança média de vida. Este aspeto e as mudanças culturais, económicas, sociais e profissionais associadas ao casamento e à constituição de família têm contribuído para o envelhecimento da população. Este aumento da longevidade causa um grande impacto na saúde pública, obrigando a uma reflexão sobre os cuidados prestados aos idosos. O envelhecimento saudável, autónomo e independente, pelo maior tempo possível, será um desafio individual e coletivo, com grande responsabilidade social.

A realidade mostra-nos que, apesar dos enormes progressos da medicina, os últimos anos de vida são acompanhados pelo aumento de situações de doença e incapacidade, frequentemente suscetíveis de prevenção.

No processo de envelhecimento existe uma lentificação da condução nervosa, sendo a perda de memória um dos aspetos mais consistentemente associados ao envelhecimento normal. É uma das principais queixas nos idosos e pode afetar seriamente a qualidade de vida. Contudo, sendo uma perda “normal” do envelhecimento, este tipo de queixas é muitas vezes desvalorizado pelos profissionais de saúde. Havendo alguma alteração cognitiva, deve o profissional de saúde ter a sensibilidade de suspeitar de um quadro demencial, mesmo em fase inicial, para que se possa proceder a condutas mais adequadas, ao nível da avaliação e da intervenção, no sentido de preservar a capacidade funcional e a autonomia por mais tempo.

A prevalência da demência aumenta de 1% aos 65 anos para 30% aos 85. A prevalência de acidente vascular cerebral aumenta de 3% para 30%, respetivamente, sendo uma importante causa de morte e de séria deficiência na União Europeia.

Quanto mais o médico se antecipar à demência maior será a oportunidade de melhorar consideravelmente a vida do paciente e das pessoas que o cuidam. Considerar as perdas cognitivas e de autonomia como algo normal e expectável do envelhecimento, acarreta custos significativos para o indivíduo, para a família e para a sociedade.

A depressão do idoso é também uma condição a ter em conta. A perceção da perda de funcionalidade, a morte do cônjuge ou de outras pessoas próximas, o sentimento de proximidade da própria morte, a solidão, o sentimento de incompreensão por parte dos outros ou de desadequação ao meio, são aspetos que comportam uma grande carga emocional que podem conduzir a quadros depressivos que reduzem a autonomia. Estes quadros, por vezes, assumem características semelhantes às da demência, podendo levar a diagnósticos errados e intervenções médicas desadequadas.

A neuropsicologia desempenhará um papel crucial nos cuidados primários do envelhecimento, tanto ao nível do envelhecimento normal, como do patológico. A reabilitação cognitiva é uma abordagem que ajuda as pessoas com limitações cognitivas a trabalharem conjuntamente com os profissionais de saúde na identificação dos objetivos mais relevantes e na planificação das estratégias para os atingir. As investigações indicam que os participantes que iniciaram o treino mais cedo manifestaram benefícios mais consistentes e mais duradouros do que o grupo que usufruiu do programa de reabilitação mais tarde, ou seja, numa fase mais avançada das alterações cognitivas.

Alguns estudos permitiram constatar que pessoas que participam em atividades de lazer cognitivamente estimulantes (leitura, jogos de tabuleiro, tocar instrumentos) têm um menor risco de desenvolver demência. Deste modo, abordagens baseadas na cognição poderão prevenir ou atrasar a progressão do processo demencial.

O envelhecimento é uma questão de saúde pública, tendo os programas de reabilitação de pessoas idosas uma forte componente psicossocial.O reconhecimento precoce das alterações na funcionalidade do idoso poderá evitar ou retardar a sua dependência de familiares, a institucionalização em lares, ou a necessidade de acompanhantes permanentes.

Alexandra Barros
Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta
Pós-Graduada em Neuropsicologia

Saiba mais sobre a Consulta de Neuropsicologia AQUI


sexta-feira, novembro 29, 2013

A cigarra e a formiga: Procrastinação e EMDR




Na moral principal desta estória conhecida de todos nós sobressai o valor do trabalho e do não adiar das prioridades (do trabalho) e a recompensa que daí resulta. A cigarra é moralmente linchada por dar prioridade ao prazer e ocupar o seu tempo com os seus prazeres, e deixar para segundo plano o trabalho, que pretensamente não dá prazer. 
A estória traça uma divisão entre trabalho - mais ou menos mecanicista, diria, e sobretudo que não oferece prazer, embora não saibamos até que ponto a formiga goza com esta sua atividade, ou se só acasala com a dispensa cheia - e prazer - que parece, na fábula em questão, equivaler a uma atividade venal que não dá trabalho, nem será suficientemente digna para ser ela própria uma ocupação de direito próprio, que permita a realização da cigarra e que possa ser útil a outros e à sociedade. A cigarra que descurou a dispensa, é humilhada e vira, diria, “sem abrigo” com a barriga vazia - embora se assim fosse já teria a espécie sido extinta e nós viveríamos ameaçados pela crescente super-espécie das formigas. Ainda bem que há outras espécies, outros naipes e tonalidades de cinzento, porque afinal de contas todos temos um pouco de cigarra e de formiga. Uns de nós (pre)ocupam-se mais com o passado, e outros (mais formigas) com o futuro, enquanto uns outros (neste aspeto mais cigarras) vivem sobretudo o presente. Mas, honra lhe seja feita, o Esopo, a quem a fábula é atribuída, foi um pertinente observador  da natureza e criador desta espécie de ‘arquétipo’.



Mas afinal de que vos quero falar é de procrastinação - tal como a cigarra procrastina a sua tarefa de recolha e armazenagem do comida para o inverno, para andar durante o verão toda airosa e contente a cantarolar. E tal como a procrastinação, ainda uma situação problemática muito descurada e incompreendida, a cigarra tem má fama.

Comecei a interessar-me particularmente por esta questão há duas décadas quando comecei a perceber que este ‘comportamento’ é um dos principais obstáculos à gestão do tempo, à organização, e logo,  à eficácia pessoal.  Primeiro, comecei a ter sobre esta situação, por assim dizer, um olhar comportamental ou cognitivo-comportamental, em que a procrastinação é só a procrastinação, ou seja o adiar sucessivo, ou sistemático, de uma ou mais tarefas no tempo. Vi que muitas pessoas têm este comportamento e de como ele é prejudicial para a realização dos seus objetivos. Observei que muitas pessoas sofrem com o comportamento de adiar fazer coisas que contribuem para atingir os seus objetivos  manifestos, realizando outras que as boicotam - apesar de poderem oferecer recompensas de curto prazo-, caindo tantas vezes numa espiral de maior e maior frustração e perda de auto-estima. Nessa altura estava mais focada em transmitir informação e partilhar soluções para lidar com este problema, sobretudo à superfície, mas mesmo assim com eficácia. 
Ao longo do tempo, fui reparando nas muitas facetas da procrastinação e de como ela é uma ( comportamento de adiar coisas mais ou menos importantes ou essenciais) e outras coisas (presentes mais ou menos inconscientemente na nossa mente e agindo sobre o nosso comportamento tornando-o paradoxal, falhante, ou pura e simplesmente, idiota), Vi muitos estudantes, de variados graus de ensino, sofrerem desta maleita, muitos profissionais, muitos artistas e criativos temerem o boicote dos seus ambiciosos empreendimentos e o medo de congelarem antes da meta alcançada. Daí, o debater-me com esta ‘questão’ e tentar entendê-la melhor, e aprofundá-la, para melhor poder apoiar quem dela padece.

Em que consiste e porque acontece?
A procrastinação pode ser encarada como uma defesa psicológica comum para evitar lidar com algumas tarefas, pessoas ou situações. De resto, procrastinar (do lat. procrastinare) é o drama do adiar sistemático, que uma maioria das pessoas já experimentou num momento ou noutro. 
Numa maioria dos casos, não chega a ser um problema aflitivo, sobretudo quando não se trata de tarefas essenciais à vida e ao trabalho, como é o caso de finalmente arrumar os livros por ordem alfabética na biblioteca ou de pôr ordem no roupeiro. Ou a de entregar a declaração das finanças fora do prazo, sujeitando-se à multa. Ou a de, esporadicamente, fazer uma pausa para descansar um bocado, ”esquecendo-se” de retomar a tarefa, ou de ser auto-indulgente: “Vou só ver este filme ou esta série antes de começar a estudar”, ou “em vez de estar aqui a consumir-me sem conseguir ser produtivo, afinal poderia ir ter com os meus amigos àquela festa”,  ou “estou cheia de fome, e se fizesse aqueles biscoitos tão bons para me animar?”.
Quando o problema é agudo e se centra sobre tarefas cruciais, a situação atinge uma intensidade que a pessoa não só sofre e se atormenta, como é penalizada pela sua incapacidade de fazer e avançar. Quando se torna crónico, mais uma vez sobre afazeres essenciais ou muito importantes, ruma para a paralisia e um elevado grau de disfuncionalidade. O auto-engano e o ataque a si-próprio(a) instalam-se ‘de armas e bagagens’, e a mudança não é fácil.

A procrastinação relaciona-se com a nossa tendência de evitamento do desagradável e do penoso para privilegiar o agradável e o distrativo, com a fuga ao pensamento e à ação focadas naquilo que importa, e a atração por aquilo que importa menos, e nos anestesia daquilo que deveríamos estar a fazer. De certo modo entendo a procrastinação como uma resistência à tirania do super-ego, e uma fuga para o id, para usar uma terminologia psicanalítica, num movimento que fomenta a sabotagem do eu, o ataque sádico à idealização, e que acarreta componentes masoquistas. A pessoa, sem se dar quase conta, conta demais com a sua capacidade no futuro de lidar com aquilo que não está a fazer agora e que deixa acumular, sobrestimando os seus poderes. E a questão é se não o conseguimos fazer agora, como é que o vamos fazer no futuro?

Seja por querermos evitar a frustração e obter uma gratificação imediata , seja por temermos ou ter até pavor de alguma coisa, seja por não haver consequências negativas de imediato ou por sobre-avaliarmos, e até desejarmos pôr à prova a tal nossa capacidade de lidar com a situação (e a sua majoração/o seu acumulado) no futuro, o movimento escolhido é o desvio ou a fuga para ‘outra coisa’, gerando a situação de procrastinação. E a procrastinação pode ser um evitamento concreto de alguma coisa, ou antes  um sinal de problemas de maior complexidade como depressão e ansiedade.

Quais as respostas para a ultrapassar?
Quando a problemática e a sua intensidade são ligeiras, há soluções relativamente simples de implementar pela pessoa, com ou sem ajuda de um profissional (um psicólogo ou um coach, por exemplo).
Quando o grau de sofrimento e as perdas são assinaláveis é importante a pessoa compreender a sua necessidade de uma ajuda profissional, clínica ou psicoterapêutica.
Experimente perguntar-se, ou imaginar, como será a sua vida daqui a 5 ou 10, 20 anos caso continue a procrastinar, ou antes se conseguir deixar de o fazer. E decida.

Que abordagens terapêuticas ao problema?
Tal como há diversos caminhos para chegar a Roma, também existem variadas abordagens psicoterapêuticas que nos podem levar a bom porto, compreendidas que sejam as razões desse problema e bem ajustadas as respostas terapêuticas escolhidas à anamnese e ao diagnóstico inicial. 
Tanto uma abordagem cognitiva, mais circunscrita e focada nas soluções, ou uma abordagem dinâmica ou psicanalítica, com um enfoque sobretudo na compreensão mais aprofundada do problema, as dinâmicas da personalidade e na mudança desta, poderão produzir bons resultados. Tal como,  a hipnose clínica e o EMDR (Eye Movement Dessensibilization Reprocessing, também conhecida por estimulação bi-lateral), de que falarei de seguida.

O EMDR e a procrastinação
O EMDR é uma abordagem terapêutica que assenta na estimulação bilateral, informada pela investigação de como é que o cérebro processa a informação e gera consciência, e num processo de oito fases.  Esta abordagem de caráter integrativo articula elementos “tanto das teorias psicológicas (ex: afeto, vinculação, comportamental, processamento de bio-informação, cognitiva,sistémica familiar, humanística, psicodinâmica e somática) e das psicoterapias (ex: baseadas no corpo, cognitivo-comportamental, interpessoal, centrada na personalidade e psicodinâmica) num conjunto estandartizado de procedimentos e protocolos clínicos” (Luber, M. , 2009).
Existe um protocolo específico para a procrastinação, e o seu uso com pacientes que procuram especificamente lidar com esta situação e ultrapassar os impasses e bloqueios gerados por este comportamento, tem mostrado resultados muitos positivos e animadores, que favorecem a adaptação da pessoa aos seus objetivos e atividades, e a concentração naquilo que é importante para ela, com atenuação clara dos níveis de perturbação e de ansiedade gerados anteriormente pela vivência do problema. Sendo uma abordagem de curta-média duração é particularmente indicada para pessoas que queiram tratar especificamente desta problemática e de retomar o controlo das sua vida e dos prazos.


Voltando ao Esopo e a esta sua fábula se calhar a cigarra e a formiga precisavam de ir as duas fazer uma terapia de 'casal', escutar-se, compreender-se e aprender uma com a outra.
Enfim, nem só cigarra, nem só formiga, vale a pena sentir que somos capazes de nos sentirmos bem com a vida que levamos, com as opções que tomamos, de nos aceitarmos e de conseguirmos avançar com os recursos de que dispomos, com liberdade e sem excessiva autocrítica, para onde desejamos.
Permitindo-nos, preferencialmente com alguma harmonia, conciliar objetivos, socialização, afetos, interesses e prazeres pessoais.

Isabel Botelho

Psicóloga, Executive Coach
Psicoterapeuta Psicanalítica e EMDR
PSICRONOS

sexta-feira, outubro 25, 2013

Exercício físico como tratamento para a depressão?

Estranho, não acham?

No entanto, desde os anos 90 que se efetuam estudos que comprovam a eficácia do exercício aeróbico no bem-estar dos seres humanos. O mais interessante é a consistência dos resultados destas investigações, todas elas apontam para benefícios iguais aos da medicação específica para a depressão. Com a vantagem do exercício físico não causarem dependência que os químicos causam e de as recaídas nos casos de depressão serem muito menores.

Para esclarecer este ponto irei mencionar um estudo efetuado na Universidade de Duke em 2000*, Foram selecionados 2 grupos de pessoas que apresentavam sinais de depressão, estas pessoas passaram por um processo de avaliação psicológica que media os níveis de depressão de maneira a que pessoas que não estavam deprimidas, ou que não estavam deprimidas o suficiente não participassem na experiencia. Depois foram divididos aleatoriamente por dois grupos, um grupo que tomava Zoloft (um antidepressivo de nova geração muito eficaz) e outro grupo que tinha a prescrição de praticar exercício físico (Jogging 3 vezes por semana).

Após 4 meses de tratamento ambos os grupos sentiam-se igualmente bem, não parecia que o medicamento oferece-se qualquer vantagem em relação ao Jogging e vice-versa. No entanto, o estudo não fica por aqui, um ano depois do terminar da experiência os investigadores foram avaliar a manutenção dos bons resultados obtidos. Nesta avaliação existiu uma diferença notável nos resultados:

- O grupo que tomava medicação teve uma taxa de recaídas superior a um terço, ou seja mais de 33% recaíram na depressão.
- O grupo da corrida teve uma taxa de 8% de recaída. Ou seja 92% de sucesso da corrida contra os cerca de 60% de sucesso do Zoloft.

Bem! Então e os custos? Sim quando custa cada uma das soluções? Podem vocês perguntar com toda a justiça se quiserem ir para a solução Low Cost. Para isso fiz uma pesquisa na internet e elaborei um caso hipotético - Sujeito masculino com 42 anos, apresenta sinais de depressão após divórcio, vai ao médico de família e este coloca-lhe as seguintes opções:

Pode tomar um anti-depressivo 1 vezes por dia durante 6 meses, e depois, se estiver a sentir-se melhor, (isto é, se o médico de família acertar no anti-depressivo certo, visto que existem várias famílias de substâncias que inibem ou estimulam mecanismos diferentes, se não acertar á primeira devemos acrescentar mais 3 meses de medicação e o custo de uma consulta no psiquiatra privado que rondará os 100€) seguir-se-á mais 2 a 3 meses de desmame da medicação. O que fará uma média de 8 meses de medicação (na melhor das hipóteses). Cada caixa de Zoloft, por exemplo, custa ao publico 42,69€ (caixa com 60 comprimidos de 100mg), ora isto faz com que a cada 2 meses seja necessário gastar mais uma caixa, 4 x 42,69€ = 170,76€ mais as consultas no médico de família 5€ x 3 = 15€ a juntar aos medicamentos a depressão custa-lhe 185,76 € com uma taxa de sucesso de cerca de 60% ao final de um ano.

Vamos agora ver os custos da prática de Jogging 3 vezes por semana durante 30 minutos. Ténis de marca desde os 39,95€ até aos 125€ (a linha branca tem ténis desde os 14,95€), t-shirt 4,99€, calções 6,95€ e meias 3,50€ (3 pares). O conjunto com os ténis de marca mais baratos é de 55,39€… Dúvidas?
              
Resumindo a solução que custa 55,39€ tem 92% de eficácia a longo prazo, a solução que custa 185,76 € tem cerca de 60% de eficácia… Ainda tem dúvidas?

Não gosta de correr? Já tentou e sentiu-se mal? Não sabe como começar?
Em breve publicarei um texto sobre a motivação para o exercício físico e de como a psicologia o pode ajudar.


Pedro Santos

quarta-feira, março 20, 2013

"AMOUR": UMA HISTÓRIA DE AMOR OU DE HORROR?


George e Anne são um casal que se vê confrontado com a invasão do inesperado. Anne sofre um AVC que a leva a um rápido declínio físico e à demência. George mantém-se junto da mulher e mãe dos seus filhos, assumindo o seu cuidado e contrariando o desejo de morrer, manifestado através de palavras e atos nos momentos de maior lucidez.

“Amour” confronta-nos com uma série de situações reais: o envelhecimento, a doença, o declínio, a dependência, a solidão, o isolamento, a depressão, a perda de dignidade, a morte. Ao abordar estes temas, aborda, provavelmente, os maiores fantasmas do ser humano. Por este motivo, a par com a admiração pela persistência e amor de George, provoca-nos um nó no estômago por nos obrigar a pensar no que procuramos manter distante de nós.

Os seniores irão provavelmente terminar o filme em silêncio, pela angústia de um quadro que pode aproximar-se a uma velocidade imprevisível. Os adultos mais jovens antecipam a morte dos seus pais ou dos seus avós e, até mesmo, a sua própria morte. “Amour” confronta-nos com a finitude, sem a paz com que a maior parte de nós gostaria de a encarar.

“Amour” é uma história de amor que nos horroriza pela crueza com que nos apresenta a realidade e nos leva, pouco subtilmente, à polémica da eutanásia. O final é entendido por uns como um ato de amor e, por outros, como um ato de raiva. 

sábado, dezembro 22, 2012

Economia parte II: as grandes teorias

Por estranho que possa parecer, as teorias económicas pouco evoluíram, nas suas grandes linhas, desde Keynes até hoje.

Agora, tal como no século anterior, os economistas dividem-se entre os herdeiros de Adam Smith e do mercado livre, que é suposto auto-corrigir-se (a famosa "mão invisível"), e os defensores da intervenção do Estado na economia. Shumpeter, que foi contemporâneo de Keynes e que deixou herdeiros (a "escola austríaca"), afirmava que as crises e as depressões económicas e financeiras eram naturais e até faziam bem ao sistema, como se o sofrimento fosse uma espécie de regeneração (as semelhanças com um certo discurso psicanalítico são notórias).

Dois prémios Nobel contemporâneos, Joseph Stiglitz e Paul Krugman, rejeitam esa teoria do sofrimento necessário e defendem uma intervenção dos Estados, não como Marx pretendia, mas mais na linha keynesiana (estímulo do investimento e do consumo para favorecer o crescimento).

O FMI parece favorecer a linha shumpeteriana de modo algo cego, apesar do comentário de Christine Lagarde de que alguma coisa parecia estar a correr mal na Eurolândia, logo silenciado pelas altas instâncias. Abebe Selassie, o homem do FMI que acompanha Portugal, e que é de origem etíope, parece ser um shumpeteriano ferrenho (o que demonstra que a rigidez nem sempre vem do eixo Berlim-Viena).

No meio disto tudo, os povos sofrem e agitam-se. Até quando?

 

 

domingo, junho 12, 2011

Como dores físicas podem mascarar depressão

A ciência tem-se afastada cada vez mais do dualismo cartesiano que separa inequivocamente mente e corpo. Actualmente existe uma área denominada por psicossomática, que no sentido lato, se interessa pela forma como mente e corpo interagem e, sobretudo, como factores de índole "psicológica" podem originar ou contribuir para problemas somáticos (do corpo).

Estando a comunidade científica cada vez mais sensibilizada para esta interface, foi publicada uma notícia no jornal "Cienciahoje" (http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=49326&op=all), onde se pode ler, como dores nas costas, tonturas, mal-estar gástrico e, principalmente, falta de apetite sexual e fadiga, podem ser sinais de depressão.

Estes sintomas são na maior parte das vezes reportados ao médico de família estimando-se que 35% de casos deste tipo de depressão mascarada não seja diagnosticada. Nestes casos é, por exemplo, frequente existirem dores resistentes a analgésicos.

Estes sintomas são muitas vezes o rosto de uma depressão abafada ou o grito do “corpo” que a “mente” não consegue exprimir.

É importante estar atento à forma multifacetada pela qual a ansiedade e/ou depressão se podem manifestar: é hoje sabido que a persistência destes afectos negativos influência negativamente a postura, tensão, energia, hormonas, digestão, sono, apetite, etc.

Afinal o bem-estar (bem como o mal-estar) é sempre geral e bio-psicológico: se sofro fisicamente, fico abatido e triste; se estou stressado ou deprimido todo o meu corpo se ressente podendo dar origem a toda uma panóplia de dores e mal-estares físicos.

sábado, fevereiro 12, 2011

O EFEITO DA DEPRESSÃO NOS NOSSOS SENTIDOS

Estudo recente mostra q a depressão reduz as nossas capacidades sensoriais, designadamente a vista e o cheiro. E pensarmos q ainda há pessoas q não levam a serio a depressao.



http://discovermagazine.com/2010/dec/01-how-depression-dulls-the-world-literally?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+DiscoverMag+%28Discover+Magazine%29&utm_content=Google+Reader

domingo, abril 25, 2010

DEPRESSÃO E MELANCOLIA

Já me têm perguntado qual a diferença entre depressão e melancolia, e como se pode distinguir uma da outra.
Não é fácil.
A melancolia pode ser vista como uma depressão agravada, em que o sujeito se retrai de tal modo para dentro de si próprio que se desinteressa completamente do mundo e das pessoas à sua volta. A auto-recriminação constante também é um sinal importante, e que muitas vezes não existe na depressão, pelo menos na mais moderada.
Os psiquiatras usam determinados critérios para distinuguir uma da outra, que constam do DSM. Também é importante ter em atenção se há ciclotimia, ou seja, oscilações de humor muito marcadas, com picos de euforia e baixos com carácter mais melancólico.
Julgo que mais importante que distinguir uma da outra é perceber-se que estes estados mais ou menos depressivos podem estar ligados a uma causa determinada (uma morte, uma perda amorosa, uma situação de desemprego, por exemplo) ou se são endógenos, isto é, parecem nascer de dentro da própria pessoa. Se for o caso, o psicoterapeuta ou psicanalista terá de trabalhar com a pessoa  as perdas na infância mais precoce, às vezes "apenas" uma grande desilusão com uma pessoa muito próxima, que deixou uma marca psíquica de perda de afecto, ou do perigo dela, que pode ser reavivada na actualidade. Acontece que  aquilo que pode ter sido apenas uma contrariedade para uma pessoa, pode ter constituído um enorme desgosto para outra. Cada caso é um caso e a mente humana é de facto um abismo.

domingo, março 21, 2010

BlOQUEIOS E DEPRESSÃO



 Alguém sabe o que é isto? Pois a costa da Normandia tem várias destas horríveis construções, que levaram até Paul Virilio a escrever um livro com fotografias
 (ver em: http://www.infoamerica.org/teoria/virilio1.htm)

Os nazis, quando ocuparam França, construiram ao longo da costa aquilo a que chamavam a Muralha do Atlântico. São de cimento e fazem na paisagem uma mancha sinistra. Convinha que não esquêcessemos por que estão ali. O bunker onde eu andei, às escuras (são obviamente construções abandonadas), era  concêntrico e assustador. Claustróbico. Não ponho uma fotografia tirada por mim porque esta do Paul Virilio é muito melhor.

A depressão, especialmente se agravada e melancólica, é como um bunker. Nada lá penetra, nem a luz do dia. As memórias são pesadas e enchem o espaço inteiro. Não há futuro, só há passado.
Toda a energia vital retirou-se para dentro do indivíduo e é posta ao serviço da auto-recriminação constante. Os outros deixam praticamente de existir. A pessoa está fortificada dentro do bunker. Julga ela. Também Hitler pensou que a muralha do Atlântico evitaria o desembarque dos Aliados.
A melancolia pode ser muito grave e levar até ao suicídio. Por outro lado, tem gozado ao longo dos séculos de uma certa aura de criatividade. Já Aristóteles falava disso.
Alguns dizem que as pessoas melancólicas têm dentro delas um ideal tão forte que o seu ego nunca consegue atingir essa perfeição e castiga-se constantemente por essa razão.
A questão é: como podemos acalentar dentro de nós um ideal tão forte, tão omnipotente e tão tirânico que nos leva a rastejar sempre que imaginamos que não estamos a corresponder às suas exigências? Pensem nisso e no extaordinário poder que demos a alguém ou a alguma coisa. Como é possível?