A Faculdade de Medicina de Lisboa, tem o prazer de o convidar a assistir à conferência intitulada “O Papel do Psicanalista no Processo de Cura” proferida por Bernard Penot, no âmbito do Mestrado de “Vitimização da Criança e do Adolescente”.
A conferência terá lugar na Aula Magna da FML no dia 14 de Setembro (sexta-feira - 21 horas), e será comentada por Carlos Amaral Dias e contará com as participações de António Coimbra de Matos, Luísa Branco Vicente e Pedro Luzes (entrada livre).
sexta-feira, setembro 14, 2007
O Amor Virtual
Sabemos que é cada vez mais frequente o número de pessoas que se conhecem pela Internet, que marcam encontro e, algumas acabam por casar.
As transformações ocorridas na sociedade nas últimas décadas levaram ao aparecimento de novas formas de relacionamento que exigem novos olhares de compreensão e reflexão. Antes da Internet já tínhamos os serviços telefónicos como o telessexo, programas televisivos, e agências matrimoniais em que as pessoas vão em busca de namoro e casamento.
Quais as razões que levam as pessoas a procurarem estes recursos em busca do amor? Podemos evocar a solidão mas parece-me demasiado simplista e não abrange a complexidade da sua ocorrência.
O que tem chamado mais a atenção é o fenómeno virtual em que o internauta com quem se estabelece um relacionamento não é conhecido. As relações amorosas passaram a fazer parte das passibilidades dos internautas, pois, “para eles nada é mais lógico do que o estabelecimento de relações virtuais, uma vez que o computador passa a ser uma verdadeira realidade pessoal” (Angerami, 2006, p.108). Estabelecem o vínculo de namoro, assumem o compromisso, mas não se conhecem presencialmente.
Merleau-Ponty (1999) diz que “a sexualidade se difunde em imagens que só retêm dela certas relações típicas, certa fisionomia afectiva. O internauta cria no seu imaginário constitutivos idealizados de amor e da pessoa com quem se relaciona. A vivência da Internet não o remete à necessidade de vivências reais; a sua necessidade de amor é algo que não pode ser compreendido por padrões de amor que implicam o toque corpóreo” (cit. in Angerami, 2006, p. 110).
E por mais insólito que possa parecer aos que acreditam no pulsar da emoção, no brilho do olhar, a palpitação do coração, as palavras de todos os poetas que escrevem sobre o amor e a paixão, as pessoas podem estar satisfeitas com relacionamentos estabelecidos virtualmente. Estas novas modalidades de relação desafiam qualquer tipo de reflexão teórica-filosófica, sendo difícil contemplar estas mudanças à luz das publicações sobre a psicologia do desenvolvimento.
Angerami coloca, a meu ver, uma questão pertinente: será necessária uma reformulação nos conceitos actuais de estudos da condição humana para que possamos atingir em algum nível o seu verdadeiro dimensionamento?
As transformações ocorridas na sociedade nas últimas décadas levaram ao aparecimento de novas formas de relacionamento que exigem novos olhares de compreensão e reflexão. Antes da Internet já tínhamos os serviços telefónicos como o telessexo, programas televisivos, e agências matrimoniais em que as pessoas vão em busca de namoro e casamento.
Quais as razões que levam as pessoas a procurarem estes recursos em busca do amor? Podemos evocar a solidão mas parece-me demasiado simplista e não abrange a complexidade da sua ocorrência.
O que tem chamado mais a atenção é o fenómeno virtual em que o internauta com quem se estabelece um relacionamento não é conhecido. As relações amorosas passaram a fazer parte das passibilidades dos internautas, pois, “para eles nada é mais lógico do que o estabelecimento de relações virtuais, uma vez que o computador passa a ser uma verdadeira realidade pessoal” (Angerami, 2006, p.108). Estabelecem o vínculo de namoro, assumem o compromisso, mas não se conhecem presencialmente.
Merleau-Ponty (1999) diz que “a sexualidade se difunde em imagens que só retêm dela certas relações típicas, certa fisionomia afectiva. O internauta cria no seu imaginário constitutivos idealizados de amor e da pessoa com quem se relaciona. A vivência da Internet não o remete à necessidade de vivências reais; a sua necessidade de amor é algo que não pode ser compreendido por padrões de amor que implicam o toque corpóreo” (cit. in Angerami, 2006, p. 110).
E por mais insólito que possa parecer aos que acreditam no pulsar da emoção, no brilho do olhar, a palpitação do coração, as palavras de todos os poetas que escrevem sobre o amor e a paixão, as pessoas podem estar satisfeitas com relacionamentos estabelecidos virtualmente. Estas novas modalidades de relação desafiam qualquer tipo de reflexão teórica-filosófica, sendo difícil contemplar estas mudanças à luz das publicações sobre a psicologia do desenvolvimento.
Angerami coloca, a meu ver, uma questão pertinente: será necessária uma reformulação nos conceitos actuais de estudos da condição humana para que possamos atingir em algum nível o seu verdadeiro dimensionamento?
terça-feira, agosto 28, 2007
quinta-feira, agosto 23, 2007
Pais à porta
Partilho convosco uma nova tendência em Londres: o clube de adolescentes – Underage Club (clube para menores de idade), em que maiores de 18 anos não entram, e que funciona durante a tarde. A ideia surgiu de um adolescente de 15 anos – Sam Kilcoyne, cansado de não conseguir entrar em clubes para assistir a concertos, por ser menor de idade. Quem toca no Underage são bandas de adolescentes, não são servidas bebidas alcoólicas, apenas refrigerantes e os pais poderão transportar os instrumentos mas ficarão à porta!
O sucesso do clube e das bandas levou a que se organizasse um festival de música que foi realizado há duas semanas em Londres. Foram mais de 5 mil adolescentes que assistiram e apesar da insistência de alguns pais para acompanharem os filhos, foram obrigados a esperar do lado de fora do espectáculo.
Esta iniciativa vai ao encontro dos discursos dos adolescentes ao referirem a importância do espaço privado, onde adulto não entra!, da música enquanto modelador de afectos e das identificações ao grupo. Mas aumenta também os receios de alguns pais… que referem “sexo, drogas e rock’n’roll”…, temas muito discutidos nas terapias familiares com adolescentes.
O que acham? Está aberta a discussão!
O sucesso do clube e das bandas levou a que se organizasse um festival de música que foi realizado há duas semanas em Londres. Foram mais de 5 mil adolescentes que assistiram e apesar da insistência de alguns pais para acompanharem os filhos, foram obrigados a esperar do lado de fora do espectáculo.
Esta iniciativa vai ao encontro dos discursos dos adolescentes ao referirem a importância do espaço privado, onde adulto não entra!, da música enquanto modelador de afectos e das identificações ao grupo. Mas aumenta também os receios de alguns pais… que referem “sexo, drogas e rock’n’roll”…, temas muito discutidos nas terapias familiares com adolescentes.
O que acham? Está aberta a discussão!
segunda-feira, agosto 20, 2007
COISAS VÁRIAS
#1
À Inês Mega e ao Rui leitores deste blog salpicos e a quem desde já agradeço os comentários sobre o post A VIDA DEPOIS DA VIDA, comunicar que a resposta à vossa solicitação de bibliografia já foi feita e pode ser encontrada na sequência dos vossos comentários.
#2
Destino: Maastricht, Países Baixos (vulgo Holanda)
País flat, o que em linguagem de surfista significa mar chão, sem ondas, sem irregularidades. Porém este é apenas o conteúdo manifesto de um país que no seu mundo interno é cheio de controvérsias, arrojos e formas diferentes de viver. Paisagem literalmente verde água (ou talvez seja melhor dizer verde com água) que nos abraça o espírito e acalma o corpo dorido de tanto caminhar. É um boculismo que para uns é reforçado por visitas às coffee shop, com os seus cheiros e fumos agridoces e que para outros abre as portas da estranheza e da adrenalina do acesso a substâncias que estão etiquetadas nisso a que se chama super-ego como Proibido. É um país que se ama na sua beleza, na sua diversidade e que se traz para casa no coração.
No extremo sul do país encontra-se Maastricht onde decorreu a 22ª Conferência da EHPS “Health Psychology and Society”. Os abstract das conferências podem ser encontrados em http://www.ehps2007.com/
O programa foi organizado em redor de 16 sub-temas (http://www.ehps2007.com/callforpapers.html ). Uma das conferências apresentadas Understanding Individual Behaviour Change Over Time, por Wayne Velicer da Universidade de Rohde Island, versou sobre aquilo que se designa como Análise Ideográfica. Deixo aqui alguns apontamentos do que é e da sua importância.
É mais frequente ser utilizada nas análises de dados qualitativos particularmente na análise qualitativa de natureza fenomenológica. Na análise Ideográfica (assim chamada porque procura tornar visível a ideia presente no documento qualitativo em análise, podendo para isso lançar mão de ideogramas ou símbolos expressando ideias), o pesquisador procura por unidades de significado, o que faz após várias leituras de cada uma das descrições. As unidades de significado então definidas são recortes julgados significativos pelo pesquisador. Para que as unidades significativas possam ser recortadas, o pesquisador lê os depoimentos à luz de sua interrogação, da sua questão de investigação. Como é impossível analisar um texto inteiro simultaneamente, torna-se necessário dividi-lo em unidades. Estas unidades são representativas do fenómeno pesquisado. Estas unidades de significado são seguidamente agrupadas em categorias que permitem agora o trabalho de generalização, comparação entre sujeitos e a própria análise quantitativa.
A diferença desta conferência é que introduz este método como metodologia de trabalho fundamental em dados quantitativos como por exemplo estudos sobre a adesão às terapêuticas da apneia do sono, da cessação tabágica, entre outros exemplos dados. São dados de raiz quantitativos na sua maioria recolhidas por telemetria (dispositivos electrónicos que registam a evolução ao longo do tempo da variável em estudo). O método ideográfico neste contexto permite acompanhar a mudança do individuo ao longo do tempo. Na maioria das vezes fazemos estudos comparativos entre variáveis independentes e variáveis dependentes. Na análise ideográfica deixa-se pensar no grupo para abordar o individuo. Assim, a cada individuo corresponde um gráfico da evolução da variável ao longo do tempo. Por exemplo, o gráfico do tempo que utilizou a máscara de oxigénio durante a noite no tratamento da apneia do sono ao longo de um determinado período de investigação. Da análise de cada um dos gráficos, é possível fazer uma análise de clusters em que se formam grupos, representado cada um, um padrão de evolução da variável. Seguindo com o mesmo exemplo, forma-se o cluster 1 que representa o grupo de indivíduos que ao longo do tempo diminui a frequência de utilização da máscara. O cluster 2 o grupo de pessoas que mantém a frequência de utilização e o cluster 3 aquelas que a aumentam. A etapa seguinte e fundamental é a investigação de quais as variáveis preditoras da pertença a cada um dos clusters podendo-se assim intervir no sentido da mudança do comportamento. Nestes estudos o mínimo adequado são 40 a 50 momentos de avaliação ao longo do tempo.
À Inês Mega e ao Rui leitores deste blog salpicos e a quem desde já agradeço os comentários sobre o post A VIDA DEPOIS DA VIDA, comunicar que a resposta à vossa solicitação de bibliografia já foi feita e pode ser encontrada na sequência dos vossos comentários.
#2
Destino: Maastricht, Países Baixos (vulgo Holanda)
País flat, o que em linguagem de surfista significa mar chão, sem ondas, sem irregularidades. Porém este é apenas o conteúdo manifesto de um país que no seu mundo interno é cheio de controvérsias, arrojos e formas diferentes de viver. Paisagem literalmente verde água (ou talvez seja melhor dizer verde com água) que nos abraça o espírito e acalma o corpo dorido de tanto caminhar. É um boculismo que para uns é reforçado por visitas às coffee shop, com os seus cheiros e fumos agridoces e que para outros abre as portas da estranheza e da adrenalina do acesso a substâncias que estão etiquetadas nisso a que se chama super-ego como Proibido. É um país que se ama na sua beleza, na sua diversidade e que se traz para casa no coração.
No extremo sul do país encontra-se Maastricht onde decorreu a 22ª Conferência da EHPS “Health Psychology and Society”. Os abstract das conferências podem ser encontrados em http://www.ehps2007.com/
O programa foi organizado em redor de 16 sub-temas (http://www.ehps2007.com/callforpapers.html ). Uma das conferências apresentadas Understanding Individual Behaviour Change Over Time, por Wayne Velicer da Universidade de Rohde Island, versou sobre aquilo que se designa como Análise Ideográfica. Deixo aqui alguns apontamentos do que é e da sua importância.
É mais frequente ser utilizada nas análises de dados qualitativos particularmente na análise qualitativa de natureza fenomenológica. Na análise Ideográfica (assim chamada porque procura tornar visível a ideia presente no documento qualitativo em análise, podendo para isso lançar mão de ideogramas ou símbolos expressando ideias), o pesquisador procura por unidades de significado, o que faz após várias leituras de cada uma das descrições. As unidades de significado então definidas são recortes julgados significativos pelo pesquisador. Para que as unidades significativas possam ser recortadas, o pesquisador lê os depoimentos à luz de sua interrogação, da sua questão de investigação. Como é impossível analisar um texto inteiro simultaneamente, torna-se necessário dividi-lo em unidades. Estas unidades são representativas do fenómeno pesquisado. Estas unidades de significado são seguidamente agrupadas em categorias que permitem agora o trabalho de generalização, comparação entre sujeitos e a própria análise quantitativa.
A diferença desta conferência é que introduz este método como metodologia de trabalho fundamental em dados quantitativos como por exemplo estudos sobre a adesão às terapêuticas da apneia do sono, da cessação tabágica, entre outros exemplos dados. São dados de raiz quantitativos na sua maioria recolhidas por telemetria (dispositivos electrónicos que registam a evolução ao longo do tempo da variável em estudo). O método ideográfico neste contexto permite acompanhar a mudança do individuo ao longo do tempo. Na maioria das vezes fazemos estudos comparativos entre variáveis independentes e variáveis dependentes. Na análise ideográfica deixa-se pensar no grupo para abordar o individuo. Assim, a cada individuo corresponde um gráfico da evolução da variável ao longo do tempo. Por exemplo, o gráfico do tempo que utilizou a máscara de oxigénio durante a noite no tratamento da apneia do sono ao longo de um determinado período de investigação. Da análise de cada um dos gráficos, é possível fazer uma análise de clusters em que se formam grupos, representado cada um, um padrão de evolução da variável. Seguindo com o mesmo exemplo, forma-se o cluster 1 que representa o grupo de indivíduos que ao longo do tempo diminui a frequência de utilização da máscara. O cluster 2 o grupo de pessoas que mantém a frequência de utilização e o cluster 3 aquelas que a aumentam. A etapa seguinte e fundamental é a investigação de quais as variáveis preditoras da pertença a cada um dos clusters podendo-se assim intervir no sentido da mudança do comportamento. Nestes estudos o mínimo adequado são 40 a 50 momentos de avaliação ao longo do tempo.
segunda-feira, agosto 13, 2007
O tempo do amor
Muito se tem escrito sobre terapia de casal e as diversas técnicas, mas hoje deixo-vos com as palavras de um poeta amigo que traduzem o processo de desilusão, insatisfação e afastamento, e que reforçam a importância do sentimento de se ser único e especial para a outra pessoa. Obrigada Jorge!
“Já não sabe mais o que lhe dizer. Ela foge com o olhar para não o confrontar com a verdade. Talvez apenas o tempo conte. Talvez seja isso que quer, que caminhem lado a lado enquanto houver tempo. Inunda-a de palavras na expectativa de que o escute. Responde-lhe com o silêncio de uma paixão inanimada. É assim que se inicia o fim…
Amanhã, ou depois, num destes dias, nem a sua mão chegará perto dele. Nem o seu cheiro circundará as casas que habitam por enquanto. Nem o seu sorriso será suficiente para o fazer ficar. Não que desista. Não que abdique. Mas porque se cansará de falar sozinho. O que poderá um homem fazer aos sentimentos maiores e puros se os cala no silêncio?
Passeiam os corpos pela casa cada vez mais vazia. Desencontram-se estrategicamente à volta da mesa ou nas pontas do sofá. Já não lêem em conjunto. Já não partilham o interesse de assistir a filmes, aninhados um no outro. A mesa das refeições é usada à vez. A paixão esmorece-se a cada segundo. A porta aberta para que entre uma brisa no final de tarde é um convite para que saia de uma vez por todas.
Já não há tempo. Já não há razão para que se abracem. Os beijos outrora doces são agora amargos sabores da desilusão. Ela caminha noutro sentido. Ele silenciou as palavras.
Ali vivia a esperança do amor. Agora apenas ruínas e cinzas assinalam a passagem de um casal. Até que o vento mude a paisagem fúnebre. Até que o tempo tome conta do lugar. Tal como ela desejara…”
In Jorge Barnabé, Julho 2007
“Já não sabe mais o que lhe dizer. Ela foge com o olhar para não o confrontar com a verdade. Talvez apenas o tempo conte. Talvez seja isso que quer, que caminhem lado a lado enquanto houver tempo. Inunda-a de palavras na expectativa de que o escute. Responde-lhe com o silêncio de uma paixão inanimada. É assim que se inicia o fim…
Amanhã, ou depois, num destes dias, nem a sua mão chegará perto dele. Nem o seu cheiro circundará as casas que habitam por enquanto. Nem o seu sorriso será suficiente para o fazer ficar. Não que desista. Não que abdique. Mas porque se cansará de falar sozinho. O que poderá um homem fazer aos sentimentos maiores e puros se os cala no silêncio?
Passeiam os corpos pela casa cada vez mais vazia. Desencontram-se estrategicamente à volta da mesa ou nas pontas do sofá. Já não lêem em conjunto. Já não partilham o interesse de assistir a filmes, aninhados um no outro. A mesa das refeições é usada à vez. A paixão esmorece-se a cada segundo. A porta aberta para que entre uma brisa no final de tarde é um convite para que saia de uma vez por todas.
Já não há tempo. Já não há razão para que se abracem. Os beijos outrora doces são agora amargos sabores da desilusão. Ela caminha noutro sentido. Ele silenciou as palavras.
Ali vivia a esperança do amor. Agora apenas ruínas e cinzas assinalam a passagem de um casal. Até que o vento mude a paisagem fúnebre. Até que o tempo tome conta do lugar. Tal como ela desejara…”
In Jorge Barnabé, Julho 2007
domingo, agosto 12, 2007
Grupos de formação contínua para psicoterapeutas - observação de sessões de psicoterapia em vídeo
O Instituto Português de Psicoterapia Integrativa vai realizar grupos de formação apoiados em gravações de vídeo a partir de Setembro de 2007.
Deixo-vos as informações disponibilizadas na página deles:
"Caros colegas,
Decidi começar definitivamente com os grupos de vídeo formação no IPPI a partir de Setembro de 2007.
Já falei com alguns de vós sobre esta ideia, mas talvez valha a pena só relembrar as razões deste projecto.
Depois de 10 anos de orientação de estágios e supervisões no Instituto Superior Técnico e no privado, cheguei à conclusão de que a formação em psicoterapia e prática de supervisão tem sérias lacunas se for apenas teórico-verbal e deve ser complementada por uma metodologia prático-experiencial, que pode incluir a observação directa através de um espelho, os exercícios de role playing, e mais relevante para este projecto, através da gravação e visionamento de sessões em vídeo. Esta última metodologia tem como vantagem que as interacções terapeuta-cliente podem ser estudadas repetidamente.
As dificuldades sentidas pela maioria dos terapeutas geralmente não são ao nível teórico, mas, de facto, ao nível da implementação prática dos conteúdos teóricos. Acho que só estas metodologias prático-experienciais vão ao encontro destas necessidades.
Junta-se a este dado o problema da subjectividade. Os terapeutas que afirmam (e pensam) que seguem uma determinada orientação teórica, quando observados na sua prática clínica, exibem na verdade muitos comportamentos, que não encaixam nesta orientação. Ou seja, os terapeutas não fazem o que dizem que fazem (veja Wachtel, 1997) O que um terapeuta descreve nos seus livros ou artigos que faz, só capta uma parte do que ele ou ela faz na realidade, e o terapeuta muito facilmente pode até estar muito equivocado sobre o seu próprio funcionamento.
Muitas experiências nas áreas da psicologia social e cognitiva demostraram que em muitos aspectos somos os piores juizes de nós próprios, ao ponto de sermos quase incapazes de transmitir uma parte essencial do nosso funcionamento pelo relato verbal (veja Wilson, 2002). Consequentemente, muito de que um terapeuta aprendeu a fazer, foi através de uma aprendizagem que podemos descrever como implícita e inconsciente, pelo que este não conhece muitas das suas próprias aprendizagens
Mesmo que o terapeuta esteja consciente dos seus procedimentos, muito do seu conhecimento é do tipo processual e não do tipo declarativo, de forma a que é muito difícil de transmiti-lo através do relato verbal. (como seria explicar por palavras como se faz um origami). Podemos designar esta aprendizagem como artesanal, obedecendo ao mesmo tipo de lógica de aprendizagem das profissões tradicionais, em que ao mestre correspondia o seu aprendiz. Este tipo de concepção vai provavelmente ao encontro do que o Prof. António Branco Vasco (FPCE-UL) descreveu como o componente artístico da psicoterapia.
Muito do que o terapeuta faz é intuitivo. No meu entender, como descrevi num artigo recente (Welling, 2001), este funcionamento intuitivo representa o nosso funcionamento mais sofisticado, a nossa mestria. É o conhecimento emergente, que já conseguimos utilizar na prática, mas que ainda escapa ao entendimento explícito-verbal. Seria uma pena deixar perder precisamente o que de melhor que fazemos, a essência da nossa arte!
A observação de gravações em vídeo das sessões de terapeutas, pode permitir precisamente a “descodificação” destes processos, quer para o próprio (que ao visioná-las se “reapropria” delas), quer para terceiros. A ideia é que nestes grupos de 4-6 participantes, se observem, se necessário repetidamente, gravações de vídeos e discutindo-os pormenorizadamente. Neste momento já temos vídeos comerciais de alguns terapeutas de renome, como Bugental, Yalom, Polster, Greenberg, Fosha e Wachtel, e posso também disponibilizar sessões minhas, que têm como vantagem que são em Português e que são com clientes reais. Os restantes elementos do grupo poderão também disponibilizar gravações das suas sessões para serem analisadas. Obviamente, podem surgir desta análise dados úteis para os processos clínicos em curso, mas o objectivo não é a supervisão, mas sim uma aprendizagem e formação continua.
Os cursos são semestrais (Set-Jan, Fev-Jun) com uma frequência quinzenal. O custo do curso é 360 Euros (40 Euros por sessão). As sessões realizar-se-ão na Alameda D. Afonso Henriques, nº 74, 5º Dto., em Lisboa. As sessões serão inicialmente orientadas por mim, mas a minha colega Isabel Gonçalves (IST, APTCC), com quem estive a desenvolver este projecto, integrar-se-á só em cursos posteriores, tendo falta de disponibilidade neste momento.
Preenche então o formulário anexo e reenvia-o sff para wellinghans@yahoo.com até ao fim do mês de Agosto.
Conto convosco!
Hans Welling
Instituto Português de Psicoterapia Integrativa - Alameda Afonso Henriques- 74-5º Dtº
(Metro Alameda)* 1000-125 Lisboa * tm 919 430 443
Uma verdade inconveniente!
Seguindo o espírito da Edite, cá vai mais um post fora do espírito de férias…
Estive a ver à pouco o DVD do Sr. Al Gore e fiquei chocado!
Estamos a matar o nosso planeta e não temos órgãos para substituição, mas temos a possibilidade de com a tecnologia actual reduzir as emissões de gazes de efeito estufa para os níveis de 1970.
Porque não o fazemos?
Será que o nosso ego está acima do bem-estar do planeta?
Mas se não existir planeta onde fica a morar o nosso ego?
Não estou a pedir a ninguém para se tornar altruísta… tornem-se “apenas” egoístas inteligentes… assim se cada um garantir a sua casa, todos teremos um planeta para viver!
Não me alargar mais neste tema, deixo apenas o link para as informações de tudo o resto que é necessário fazer para se tornarem inteligentes. http://www.climatecrisis.net/
Boas férias, para os que estão de férias e bom trabalho para aqueles que estão a trabalhar!
segunda-feira, agosto 06, 2007
A VIDA DEPOIS DA VIDA
É sobre transplantação de órgãos que vos trago alguns salpicos. Não que seja um assunto propriamente sintónico com a sensação de férias que a todos assalta, mesmo aos que de férias não estão. Porém ouso escrever um pouco sobre o assunto nesta altura pois sinto que é sempre hora de pensar a vida e particularmente a vida que se ganha quando quase se perdeu.
Alguém disse na primeira pessoa que "Fazer um transplante é viver de novo sem nunca ter morrido verdadeiramente".
As questões do transplante de órgãos jogam-se na fronteira da identidade do corpo com a identidade do ser. O corpo tem uma identidade, um self biológico que se conhece a si próprio, que representa uma barreira entre o Eu e o Outro – o sistema imunitário. A patologia do self biológico representa a dificuldade de se reconhecer a si mesmo que advém do deficit do sistema imunitário, seja este provocado como no caso do transplante de órgãos ou adquirido como nas doenças auto-imunes. O self poder-se-ia dizer em primeira instância imunológico (Meissner, 1997).
O transplante permite-nos pensar sobre o que acontece quando uma parte estranha é introduzida no corpo, quando algo é acrescentado ao interior do corpo. O novo órgão ao ser introduzido no corpo, alcança imediatamente representação mental e começa a relacionar-se com introjecções já existentes, cujos conteúdos ele activa (Castelnuovo-Tedesco, 1973). O paciente tem então uma experiência que vai para além de receber fisiologicamente um órgão. Não se trata apenas de o corpo aprender a adaptar-se ao novo órgão como se lhe pertencesse. O self experiencia a nova aquisição como algo introjectado, como um objecto ou parte de um objecto que se torna imediatamente bastante activo. Aquilo que anteriormente era não self, começa a ser sentido agora como parte do self (ainda que algumas vezes esta integração ocorra sobre o preço de intensa conflitualidade).
Porém, a aceitação do self biológico acontece sob o preço da indução da sua patologia, a diminuição da capacidade de se reconhecer a si próprio (diminuição da actividade do sistema imunitário), de saber quem é, pois caso contrário ele rejeitaria o não-self proposto, dado ser algo de estranho (o que conduziria à rejeição do órgão transplantado). Considerando o self a totalidade do ser, o seu corpo e a sua mente, a sua carne e as suas emoções, a patologia do self biológico exigirá inevitavelmente uma profunda reformulação do Si. O transplante introduz um corte entre a definição de si próprio relativamente ao passado, ao presente e mesmo na antecipação do futuro. Tornar o transplante uma parte suficientemente integrada da identidade, poderá contribuir para a sobrevivência de um self coeso, para a percepção do transplante como possuidor de significado, propósito e controlabilidade e, paralelamente, para a promoção da saúde. Isto porque "é o sentido do significado de melhoria que se procura pois que a felicidade e a infelicidade são existênciais e o valor da vida não se mede apenas pela capacidade de execução biológica" (Degos, 1993).
Referências
Meissner, W. (1997). The embodied self-self versus nonself. In L.Goldberg (Ed.), Psychoanalysis and contemporary thought. New York: International Universities Press, Inc.
Castelnuovo-Tedesco, P., Torrance, C. (1973). Organ Transplant, Body Image, Psychosis. Psychoanalytic Quarterly, v. 42, p349, 15p. Retrieved September, 13, 2005, from PEP Archive (Psychoanalytic Electronic Publishing) database.
Degos, L. (1994). Os enxertos de órgãos. Lisboa: Instituto Piaget. (Tradução do original em língua francesa Les Greffes d’Organes. (S.I.) : Flammarion, 1993)
Degos, L. (1994). Os enxertos de órgãos. Lisboa: Instituto Piaget. (Tradução do original em língua francesa Les Greffes d’Organes. (S.I.) : Flammarion, 1993)
sexta-feira, agosto 03, 2007
Fear Not! Um programa interactivo para combater o "bullying"
Saiu hoje no Jornal Público a notícia de um jogo de computador que tem como objectivo ajudar a combater o bullying.
O jogo chama-se "Fear Not" e é um software que vai ajudar a criança, que se encontra em frente ao computador num ambiente 3D, a resolver situações de bullying.
De acordo com os autores, as crianças estabelecem uma relação com as personagens, no contexto de um drama virtual, porque são sintéticas, isto é, apesar de não serem reais, conseguem ser credíveis. As crianças reagem emocionalmente e, por isso, mostram que são capazes de perceber e interpretar os estados emocionais das personagens.
Parece-me interessante esta ideia pois usa um cenário violento (típico dos jogos de computador) mas a favor de uma abordagem lúdico-pedagógica e trata um problema tão importante com o bullying. O princípio parece-me muito bom, agora vamos lá ver como é que funciona na prática!
Podem ler esta notícia na íntegra no Público.pt
O jogo chama-se "Fear Not" e é um software que vai ajudar a criança, que se encontra em frente ao computador num ambiente 3D, a resolver situações de bullying.
De acordo com os autores, as crianças estabelecem uma relação com as personagens, no contexto de um drama virtual, porque são sintéticas, isto é, apesar de não serem reais, conseguem ser credíveis. As crianças reagem emocionalmente e, por isso, mostram que são capazes de perceber e interpretar os estados emocionais das personagens.
Parece-me interessante esta ideia pois usa um cenário violento (típico dos jogos de computador) mas a favor de uma abordagem lúdico-pedagógica e trata um problema tão importante com o bullying. O princípio parece-me muito bom, agora vamos lá ver como é que funciona na prática!
Podem ler esta notícia na íntegra no Público.pt
O desprezo
Nos últimos tempos tenho-me interessado muito por temas relacionados com as dinâmicas das relações de casais. Neste início de férias estive a ler um livro ligeiro, compatível com o meu humor e com o tempo quente: Blink! de Malcolm Gladwell.
A determinada altura do livro o autor descreve uma série de estudos realizados por John Gottman nos quais comprova que basta analisar de forma rigorosa meia dúzia de parâmetros na interacção espontânea (enquanto falam sobre um assunto polémico) entre um casal durante cerca de 1 hora para se poder prever com um nível de exactidão que ronda 95% quais os casais que vão permanecer juntos ou que se vão separar nos 15 anos seguintes. Se o tempo de observação for reduzido para 15 minutos, o grau de exactidão baixa para 90%.
De acordo com Gottman para um casamento durar, a relação entre as emoções positivas e negativas num dado encontro tem de ser pelo menos de 5 para 1. As emoções negativas mais significativas são: postura defensiva, reserva, censura e desprezo. O desprezo é qualitativamente diferente dos outros e muito mais danoso. Diz ele: “Na realidade, Gottman descobriu que o desprezo num casamento pode levar a prever coisas, tais como o número de constipações que o marido ou a mulher podem apanhar; por outras palavras, o facto de alguém que amamos nos desprezar é tão desgastante que começa a afectar o sistema imunológico”.
Para estes autores o desprezo é uma emoção especial. Quando ela domina a relação de casal ou tem uma expressão significativa já não há nada a fazer, a relação atingiu um ponto sem retorno.
Mas o que é verdadeiramente o desprezo? Porque é que se despreza? Em que circunstancias é que o desprezo se torna uma emoção que convive paredes meias com o amor e o carinho? Será que o desprezo e a manifestação dele numa relação amorosa, não é já prova da ausência de um afecto verdadeiro e profundo?
Se o desprezo é tão corrosivo numa relação de casal, o que fará a uma criança, quando ela se sente desprezada pelo pai, mãe ou irmão?
terça-feira, julho 31, 2007
Férias à vista - Leituras retomadas
Hoje é o culminar de um mês de trabalho e o início das tão anunciadas férias para a maior parte da população portuguesa, e muito em especial para a população psi.
Em tempo de férias, de relaxe, de dias quentes e longos, de crianças descontraídas e ávidas por ocupar os seus tempos com actividades prazerosas...
muitos pais interrogam-se de que forma poderão ocupar o tempo dos seus filhos, uma vez que facilmente se aborrecem
Para muitos a época de férias é ocupada com viagens, quer cá dentro, como lá fora, outros aproveitam para se dedicar a outro tipo de actividades que normalmente, e com o frenesin diário, vão ficando para trás, relegadas para segundo plano. Entre muitas das actividades que aqui se poderiam delinear, vou apenas dedicar-me à tão afamada leitura.
Mas será que tem tanta fama para os mais pequenos? Muito se tem falado sobre os hábitos de leitura em todas as faixas etárias, mas os olhares voltam-se sempre para os mais novos, pois o seu percurso escolar vai "depender da quantidade de livros que possam ler"!
Mas ao iniciar-mo-nos nas leituras apenas na altura da entrada para o ensino obrigatório é bom? Será que incita em nós o desejo de ler, de fantasiar, de imaginar o rosto das personagens que estão a ser descritas páginas adentro? Será que nos faz vasculhar prateleiras de bibliotecas, ou de livrarias, a descobrir um título sugestivo, uma história desconcertante?
Muito dificilmente, pois não foram incitados à leitura de forma espontânea, porque provavelmente aquele acto foi algo mecânico, um meio que produziu um fim...
A leitura tem que ser algo prazeroso e enquanto experiência pessoal é algo muito importante
Se essa leitura for iniciada muito precocemente produz uma motivação e um diálogo muito grande, e é a porta de entrada para uma aprendizagem saudável, gratificante.
Todos nós temos um ponto de partida emocional para tudo, as emocões primárias estão na base de todos os sistemas de comunicação. Quando as crianças se iniciam na leitura ainda antes da escolaridade estão largamente em vantagem em relação às crianças que se iniciam na leitura apenas na escola, onde aprendem a descodificar, a identificar palavras, ao passo que as primeiras maravilham-se com o enrendo, com as imagens, com as palavras, com os livros que elas próprias escolheram.
Como as emoções primárias estão na base de todos os sistemas de comunicação, aprendemos a falar porque alguém nos fala, decerto aprenderemos a ler porque o nosso pai ou a nossa mãe nos leu, por isso leiam com os vossos filhos pequenos, facilitem-lhes livros alegres, apelativos e que lhes façam encontrar saídas para as suas coisas
Sugiro-vos aqui um livro de que gosto particularmente e que permite que as crianças percebam que todos nós temos coisas boas e más, raiva, alegria, medo, tristeza...
O Livro de que vos falo chama-se O Pássaro da Alma
e começa assim:
No fundo, bem lá no fundo do corpo, mora a alma.
Ainda não houve quem a visse,
Mas todos sabem que ela existe.
E não só sabem que existe,
Como também sabem o que lá tem dentro...
....
BOAS LEITURAS
sábado, julho 28, 2007
A casa!
Recentemente alguém me disse “a casa não é um local para relaxar!”. Ora esta caricata frase pós-me a pensar nas funções que atribuímos a uma casa e que necessidades ela serve.
Em termos básicos uma casa serve para nos abrigar do mau tempo, para dormir, para fazer algumas refeições. Mas será que é apenas isso?
Não!
Para muitas pessoas a casa serve como refúgio da agitação, um espaço de paz onde se pode simplesmente estar, só ou acompanhado.
Por isso dizemos que nos sentimos em casa noutros sítios, porque são locais que satisfazem a necessidade de pertença, de companhia, de acolhimento e onde sentimos que temos um “espaço nosso”.
Alguns de nós têm o privilégio de sentir o local de trabalho como uma segunda casa. Um local de paz onde a nossa presença é valorizada e onde as relações humanas são isso mesmo… humanas!
Mas este ideal de casa raramente é trazido pelos clientes, que muitas vezes trazem uma representação de um campo de batalha das suas casas e apenas querem de lá sair!
Apenas espero que os que passam pelas minhas casas se sintam acolhidos, valorizados e respeitados como se estivessem na sua casa ideal.
Muito se pode escrever sobre a casa, das suas representações, do seu imaginário, e da sua simbologia… mas isso ficará para depois das férias!
sexta-feira, julho 27, 2007
PUXAR O LUSTRO AO EGO PORTUGUÊS...
Época de férias... muitos estrangeiros... muito passeio pelo estrangeiro... e a típica frase que surge: "... lá fora é que é bom!!". E nunca se sabe bem, ao certo, o que é que é afinal isto do: "... lá fora é que é bom!!". Em boa verdade, Portugal não é um país de viajantes, poucos são os que se confrontam com outras realidades e que podem arranjar termos comparativos que permitam dizer onde é ou não melhor ou o que é ou não melhor... falta conhecimento de causa, em especial, auto-conhecimento de causa!
Deixo aqui um texto bastante curioso e de fácil leitura sobre o que por cá se faz/ fez! (podem até levar para ler nas férias). Não se deixem intimidar pelo tamanho!
BOND BRANDS by Carlos Coelho (www.ivity-corp.com)
Na segunda guerra mundial Portugal era um país mítico. Estava em paz, era barato e cercado pelo Atlântico. Constituía a ponte ideal para o novo mundo.
Fausto Figueiredo tinha criado, em 1953, a Riviera portuguesa e tinha conseguido espalhar esse charme por toda a Europa. Pelo que, para além da neutralidade, da paz, da segurança e da tranquilidade, o Estoril tinha as praias, os hóteis de luxo e o casino.
Para fugir à guerra, entre 1939 e 1946, passaram pela costa do Estoril mais de 20.000 estrangeiros.
Refúgio de reis, príncipes, escritores, realizadores de cinema e anónimos à procura de um local de passagem seguro para recomeçar a sua vida em terra prometida.
A acompanhar este êxodo, a habitual escola de jornalistas, espiões, diplomatas e polícias em busca de notícias e informações.
A Linha tornou-se num local cosmopolita, longe da guerra e um berço de famílias reais: o rei Humberto de Itália, os condes de Barcelos e o seu filho Juan Carlos, Carlota do Luxemburgo, Eduardo de Windsor e Wallis Simpson, mulher por quem Eduardo abdicou do trono.
O Casino, a discoteca Palm Beach (que abriu nos anos 40), o restaurante Muxaxo, o pé Leve e a Choupana constituíam então locais de referência.
Jean Renoir, Antoine de Saint-Exupery (autor do "Principezinho"), entre muitos outros nomes famosos, aproveitaram o único porto livre e neutral da Europa, contribuindo para que Portugal fosse, nessa altura, um paraíso de glamour no meio da guerra. Foi nesta atmosfera que Ian Fleming - também de passagem para os E.U.A. na companhia do director da inteligência naval inglesa, o Almirante Godfrey - conheceu o casino do Estoril, tendo aqui nascido o seu famoso personagem James Bond, bem como, a sua primeira peça "O CASINO ROYALE".
James Bond surge, então, de um vasto conjunto de influências: da atmosfera vivida no Hotel Palácio, da companhia de Dusko Popov (agente retirado do KGB), mas também, de um conjunto de características do próprio autor que, segundo consta, era muito mulherengo.
Do CASINO ROYALE - casino do Estoril - fica o seu fascínio e a sua experiência pessoal, onde se conta que o próprio tentou levar um alemão à banca rota (no Bacarat), desafio que o fez perder até a camisa, acabando o Almirante Godfrey por ter de pagar as suas dívidas.
BOND NASCEU EM PORTUGAL, SENDO ESTE UM DOS SEUS SEGREDOS MAIS BEM GUARDADOS. Foi ainda neste "Aqui" que Bond se casou no filme "On her majesty secret service" - o único filme de George Lazenby e onde, curiosamente, contracenou com oito Bond Girls tendo, na mesma noite, dormido com sete, acabando por se casar com a oitava que, tragicamente, morreu virgem nos seus braços.
James Bond é, hoje mais famoso que o Tintin, mais sexy que Matahari, mais poderoso que Batman e o Super-homem juntos. mais do que um filme, é uma poderosíssima marca que, em termos económicos, foi capaz de gerar 3,3 biliões de USD em 20 filmes, tendo já sido visto por cerca de metade da população do planeta.
(...)
Esta Bond brand é, por isso, uma marca colectiva capaz de vender-se a si própria, mas que existe, essencialmente, para vender outras marcas, que se organizam em seu redor por layers de proximidade (...).
O seu código mágico de sucesso vive da trilogia champanhe, relógio e carro, mas a organização da oferta na gestão global da marca leva ao endereçamento de quase todos os públicos.
(...)
There's no business like Bond business.
Se James Bond "nasceu" em Portugal e constitui, hoje, uma das marcas colectivas mais bem sucedidas e rentáveis do mundo, será que 007 significa o código do sucesso que Portugal precisa para acreditar em si próprio?
Este precioso segredo que Ian Fleming nos deixou, reeditado no final de 2006, bem pode lembrar-nos a Riviera de outros tempos e, quem sabe, ajudar a projectar Portugal para o mundo das marcas, sem quaisquer preconceitos de ser um país pequeno porque, afinal, consegui ser o berço de uma marca tão grande.
quinta-feira, julho 26, 2007
Revista Portuguesa de Psicanálise
Já está à venda o último numero da Revista Portuguesa de Psicanálise.
Para os interessados aqui fica o índice:
Editorial - Freud e a Psicanálise
António Coimbra de Matos
Violência e medo
António Coimbra de Matos
Narcisse e OEdipe: place du mythe dans la théorie psychanalytique
Jean Bégoin
Abordagem neuropsicanalítica da psicoterapia dinâmica
Filipe Aranches-Gonçalves e Rui Coelho
Tempo e sentido de identidade - Como ligar descontinuidades?
Fátima Sequeira
Identidade e história de vida. Rupturas identitárias
Eduardo Sá
Alice no País das Maravilhas - a fuga da ameaça da ruptura identitária
Eduarda Carvalho
Da "cura" terapêutica à função analisante no processo de construção da identidade analítica
Ana Marques Lito
L'inconscient non-refoulé dans le processus analytique
Mauro Mancia
Identidade ou identidades? O problema da identidade psicanalítica
Rui Aragão Oliveira
Problems of transference and interpretation in borderline states
Anna Potamianou
Personalidades borderline - algumas considerações
João Balrôa
"Talk to Her" - the "Tlking Cure" from Freud to Almódovar
Andrea Sabbadini
Lá fora ("Out There")
Andrea Sabbadini
É na sombra que matamos quem amamos
Ana Viana (Comentário da Redação - António Coimbra de Matos)
Fernando Pessoa: personalidade múltipla como afirmação do não ser
Celeste Malpique
Figuras de identidade pessoal
José Manuel Heleno
Linguagem e diálogo
Joaquim cerqueira Gonçalves
A revista pode também ser adquirida através do site da Climepsi em www.climepsi.pt
domingo, julho 22, 2007
Hipnoterapia
Este fim-de-semana entretive-me a ler “Hypnotherapy for Dummies”. A hipnoterapia tem sofrido uma enorme evolução nos últimos anos e está a constituir-se como uma alternativa razoável para a resolução de algumas dificuldades relativamente focalizadas e principalmente é utilizada com sucesso como técnica psicoterapêutica complementar às técnicas expressivas.
Nas perturbações de ansiedade generalizadas e nas fobias simples parece ter um efeito verdadeiramente interessante. Enquanto técnica não visa a modificação da personalidade em profundidade (objectivo, por exemplo, da psicanálise e das psicoterapias psicodinâmicas), mas à modificação do sintoma ou mesmo ao seu desaparecimento.
A hipnose começa a ser estuda com um verdadeiro olhar científico e por isso mesmo começa a ganhar credibilidade e respeito da comunidade científica.
terça-feira, julho 17, 2007
Formação e Rompimento dos Laços Afectivos
Apesar de ser um trabalho relativamente recente (1979) é já um clássico esta obra de John Bowlby. Vale sempre a pena lê-la ou relê-la.
Bolwlby trabalha fundamentalmente no cruzamento entre o biológico e o psicológico, profundamente influenciado pela etologia, estudou o comportamento das crianças na formação dos laços afectivos com as suas mães e as consequências do rompimento inesperado desses laços. Os conhecimentos adquiridos através destes estudos foram depois generalizados para a formação e o rompimento dos laços afectivos em qualquer idade.
Deixo-vos dois pequenos excertos para estimular o retorno a este trabalho:
“(...) um bebé de quinze a trinta meses que venha tendo uma relação bastante segura com sua mãe e nunca se tenha separado dela antes, mostrará, via da regra, uma sequência previsível de comportamento. Essa sequência pode ser decomposta em três fases, de acordo com a atitude dominante da mãe. Descrevemo-las como as fases de protesto, desespero e desligamento. Primeiro com lágrimas e raiva, o bebé exige que a sua mãe regresse e parece ter esperanças de conseguir reavê-la. Esta é a fase de protesto, e pode durar vários dias. Depois torna-se mais calmo mas, para um observador perspicaz, é evidente que o bebé continua tão preocupado quanto estava antes com a ausência da mãe e ainda anseia pelo seu regresso; mas as suas esperanças dissiparam-se e ele entra na fase do desespero. Estas duas fases alternam-se frequentemente: a esperança converte-se em desespero e o desespero em renovada esperança. Finalmente, porém, ocorre uma mudança maior. O bebe parece esquecer a sua mãe, de modo que, quando ela regressa, permanece curiosamente desinteressado e, inclusive, pode parecer que não a reconhece. Esta é a terceira fase – a do desligamento. Em cada uma destas fases a criança é propensa a birras e episódios de comportamentos destrutivos, muitas vezes de um tipo inquietantemente violento.” pp.72/73
“(...) Muitas das emoções mais intensas surgem durante a formação, manutenção, rompimento e renovação das relações de ligação. A formação de um vínculo é descrita como “apaixonar-se ”, a manutenção de um vínculo como “amar alguém” e perda de um parceiro como “sofrer por alguém”. Do mesmo modo, a ameaça de perda gera ansiedade e a perda real produz tristeza; enquanto que cada uma dessas situações é passível de suscitar raiva. A manutenção inalterada de um vinculo afectivo é sentida como uma fonte se segurança, e a renovação de um vinculo, como uma fonte de júbilo. Como tais emoções são habitualmente um reflexo do estado dos vínculos afectivos de uma pessoa, conclui-se que a psicologia e a psicopatologia das emoções é, em grande parte, a psicologia e a psicopatologia dos vínculos afectivos”. Pp.172
terça-feira, julho 10, 2007
O Caminho!
Uma das coisas que mais me intriga no ser humano é a sua vontade de caminhar até um determinado destino como promessa ou desafio pessoal.
Actualmente, os caminhos de Santiago de Compostela, e os Caminhos de Fátima têm cada vez mais adeptos. Creio que o fenómeno não se deva ao aumento de praticantes católicos, mas sim à satisfação de várias necessidades que o conforto da vida actual não preenche.
A necessidade de liberdade, espaço de reflexão, convívio, crescimento pessoal e actividade física é satisfeita num só acto! O caminhar!
As horas que se passam a caminhar com uma mochila ás costas, transformam as bolhas nos pés, as dores nos ombros e as queimaduras solares numa descoberta de coisas simples e belas que o mundo tem. Levado ao limite, o simples facto de conseguir andar é motivo de uma enorme alegria!
Mas será que não deveria ser sempre assim?... enquanto podemos caminhar!
Actualmente, os caminhos de Santiago de Compostela, e os Caminhos de Fátima têm cada vez mais adeptos. Creio que o fenómeno não se deva ao aumento de praticantes católicos, mas sim à satisfação de várias necessidades que o conforto da vida actual não preenche.
A necessidade de liberdade, espaço de reflexão, convívio, crescimento pessoal e actividade física é satisfeita num só acto! O caminhar!
As horas que se passam a caminhar com uma mochila ás costas, transformam as bolhas nos pés, as dores nos ombros e as queimaduras solares numa descoberta de coisas simples e belas que o mundo tem. Levado ao limite, o simples facto de conseguir andar é motivo de uma enorme alegria!
Mas será que não deveria ser sempre assim?... enquanto podemos caminhar!
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