A modificação da estrutura de
personalidade é um trabalho árduo e complexo. Mudar as estruturas psicológicas
que são a base do estar e do agir na vida, da forma como determinada pessoa ao
longo da sua vida foi sentindo a sua realidade,
as suas relações, os outros à sua volta e a si mesma, é um trabalho longo pois
não se está a trabalhar uma doença (o que a pessoa têm) mas sim a personalidade
de uma pessoa (o que a pessoa é).
Alguém que procura ajuda para resolver a sua
estrutura de personalidade depressiva têm meio percurso percorrido na direção
da transformação caso consiga encontrar um terapeuta dedicado, disponível, que
consegue colocar-se no lugar de quem procura tratar, que se interessa sobretudo
por quem procura tratar e não só pela patologia que essa pessoa traz. Um terapeuta que consegue
perceber bem e "ecoar" os sentimentos daquela pessoa que está à sua
frente, e demonstrar que entende as formas como ela tende a agir e a reagir na
sua vida e nas suas relações quando as suas emoções se tornam mais difíceis. É
esse o caminho para que se desenvolva uma verdadeira cumplicidade e confiança
na relação terapêutica, através do bem-querer de um terapeuta dedicado e capaz
de motivar. Para a depressividade este encontro é crítico.
O trabalho sobre a
relação que se desenvolve com o psicoterapeuta é importante, pois através de
tal dissolvem-se as figuras criticas, culpabilizantes e inferiorizantes
internalizadas do passado (a voz interior que diz "tu não és capaz",
"não vales nada"). O trabalho sobre a confiança nas próprias
capacidades (ou desenvolvimento dessa confiança) é vital, bem como o trabalho
no sentido de ajudar a pessoa a criar, encontrar e manter na sua vida outras
relações tão boas ou melhores que aquela desenvolvida na psicoterapia. Essas
relações vão desempenhar um papel fundamental ao longo da vida, sobretudo para
quem trás um historial de depressão.
Entre outros aspetos destaca-se também a
necessidade da pessoa se sintonizar e trilhar um caminho bem de sucessos ao longo da vida, realidade que também incorpora o trabalho da psicoterapia e relaciona-se com a área da gestão da autoestima
ao longo da vida.
Na realidade não existe uma patologia "pura" senão
enquanto entidade teórica ou clinica definida, ou o que lemos nos livros. A
maioria das pessoas são bem mais complexas que uma descrição nosológica de uma
perturbação de personalidade, e é isso que deve ser tomado em consideração
acima de tudo. A depressividade pode mesmo ser a última etapa a trabalhar numa
determinada psicoterapia, quer porque só se torna acessível ao tratamento (ou
evidente para a própria pessoa) após muitas outras questões (ou outras
perturbações) terem sido trabalhadas. Outras vezes a depressividade é
trabalhada transversalmente.
Tudo isto é valido particularmente para o caso da
psicoterapia psicanalítica.
A medicação pode ser importante de modo a gerir episódios
mais graves de depressão, servindo enquanto suporte por vezes muito importante
durante uma psicoterapia. A psiquiatria não é incompatível com a psicoterapia,
antes pelo contrário. Tendencialmente os psicoterapeutas têm formação de base
em psiquiatria ou psicologia clínica e a medicação tem um papel importante em
muitas situações cuja gestão dos sintomas transcende a capacidade da
psicoterapia de os conter (no inicio da psicoterapia, em determinados momentos
da psicoterapia que colocam a pessoa em contacto com
certas angústias mais difíceis até então "escondidas",
ou por outros motivos).