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sexta-feira, janeiro 31, 2014

Como é que se esquece alguém que se ama?


"Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está? 

As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguém antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar. 

É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução. 

Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha. 

Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado. 

O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar."

segunda-feira, outubro 07, 2013

Amar outra vez! por Júlia Serrão

Mais um post publicado no 6 sentidos e mais um sobre um tema sempre atual e que teve, uma vez mais, a minha participação.

Espero que gostem :-)

Leiam aqui http://6sensesplusone.wordpress.com/2013/10/07/amar-outra-vez/


quarta-feira, março 20, 2013

"AMOUR": UMA HISTÓRIA DE AMOR OU DE HORROR?


George e Anne são um casal que se vê confrontado com a invasão do inesperado. Anne sofre um AVC que a leva a um rápido declínio físico e à demência. George mantém-se junto da mulher e mãe dos seus filhos, assumindo o seu cuidado e contrariando o desejo de morrer, manifestado através de palavras e atos nos momentos de maior lucidez.

“Amour” confronta-nos com uma série de situações reais: o envelhecimento, a doença, o declínio, a dependência, a solidão, o isolamento, a depressão, a perda de dignidade, a morte. Ao abordar estes temas, aborda, provavelmente, os maiores fantasmas do ser humano. Por este motivo, a par com a admiração pela persistência e amor de George, provoca-nos um nó no estômago por nos obrigar a pensar no que procuramos manter distante de nós.

Os seniores irão provavelmente terminar o filme em silêncio, pela angústia de um quadro que pode aproximar-se a uma velocidade imprevisível. Os adultos mais jovens antecipam a morte dos seus pais ou dos seus avós e, até mesmo, a sua própria morte. “Amour” confronta-nos com a finitude, sem a paz com que a maior parte de nós gostaria de a encarar.

“Amour” é uma história de amor que nos horroriza pela crueza com que nos apresenta a realidade e nos leva, pouco subtilmente, à polémica da eutanásia. O final é entendido por uns como um ato de amor e, por outros, como um ato de raiva. 

sábado, maio 14, 2011

DEPENDÊNCIA AMOROSA

A dependência do objecto de amor é algo que por vezes é vivido com enorme dificuldade, sobretudo para aqueles que têm aversão a dependencias. Mas há dependências e dependências, e com vários graus.
Numa coluna do jornal Le Monde o psiquiatra e psicanalista Serge Hefez responde a dúvidas dos leitores sobre esta questão:

http://www.lemonde.fr/week-end/article/2011/02/11/vivre-la-dependance-amoureuse_1474870_1477893.html

quarta-feira, março 23, 2011

O Nó


"Numa reunião de pais numa escola da periferia, a directora ressaltava o apoio que os pais devem dar aos filhos e pedia-lhes que se fizessem presentes o máximo de tempo possível...

Considerava que, embora a maioria dos pais e mães daquela comunidade
trabalhassem fora, deveriam achar um tempo para se dedicar e entender as
crianças.

Mas a directora ficou muito surpreendida quando um pai se levantou e
explicou, com seu jeito humilde, que ele não tinha tempo de falar com o filho, nem de vê-lo, durante a semana, porque quando ele saía para trabalhar era muito cedo e o filho ainda estava dormindo; e quando voltava do trabalho
era muito tarde e o garoto já não estava acordado.

Explicou, ainda, que tinha de trabalhar assim para prover o sustento da família, mas também contou que isso o deixava angustiado por não ter tempo
para o filho e que tentava se redimir indo beijá-lo todas as noites quando
chegava em casa.

E para que o filho soubesse da sua presença, ele dava um nó na ponta do lençol que o cobria. Isso acontecia todas as noites quando
ia beijá-lo. Quando o filho acordava e via o nó, sabia, através dele, que o pai
tinha estado ali e o havia beijado. O nó era o meio de comunicação entre eles.

A directora emocionou-se com aquela história e ficou surpresa quando
constatou que o filho desse pai era um dos melhores alunos da escola.

O facto faz-nos reflectir sobre as muitas maneiras das pessoas se fazerem
presentes, de se comunicarem com os outros.

Aquele pai encontrou a sua, que era simples mas eficiente. E o mais
importante é que o filho percebia, através do nó afectivo, o que o pai lhe
estava dizendo.

Por vezes, importamo-nos tanto com a forma de dizer as coisas e
esquecemos
o principal, que é a comunicação através do sentimento. Simples gestos como um beijo e um nó na ponta do lençol, valiam, para aquele filho, muito mais do que presentes ou desculpas vazias.

É válido que nos preocupemos com as pessoas, mas é importante que elas
saibam, que elas sintam isso. Para que haja comunicação é preciso que as pessoas "ouçam" a linguagem do nosso coração, pois, em matéria de afecto, os
sentimentos sempre falam mais alto que as palavras.

É por essa razão que um beijo cura a dor de cabeça, o arranhão no joelho, o medo do escuro.

As pessoas podem não entender o significado de muitas palavras, mas SABEM
registar um gesto de amor.

Mesmo que esse gesto seja apenas um nó num lençol..."


Foi-me enviado este mail com esta pequena história que achei interessante poder partilhar convosco. Num período em que o tempo é muitas vezes um elemento chave e, infelizmente, insuficiente para uma relação suficientemente afectuosa e educativa dos pais em relação aos seus filhos, esta pequena história vem talvez nuancear, ou simplesmente presentear-nos com o exemplo de como, mesmo o impossível se pode tornar possível (dentro dos possíveis...!). Como foi sublinhado neste texto, o amor transmite-se de muitas formas e muitas vezes pelos pormenores que passam assim a ser "por-maiores". Esperamos que este seja realmente um exemplo de resiliência familiar mas ainda assim é preciso não confundir sucesso escolar (do menino em questão), com "sucesso afectivo" ou segurança interior. Às vezes estas duas dimensões estão mesmo dissociadas...

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

O "Não" é necessário, mas o Amor essencial.

Foi aqui colocado um post sobre a necessidade do "Não" na educação das crianças. Concordo totalmente, mas (inspirada num texto* de Coimbra de Matos) acrescento. O "Não" é necessário mas o Amor é o fundamental.

Como diz o autor:

"(...) tudo começa e se mantém pelo amor - incondicional e não cobrador - dos pais/educadores para os filhos/discípulos; desde o nascimento ao fim da adolescência. Pensar o contrário é não reconhecer os direitos da infância. Mais nada.
Continuar a insistir nas obrigações das crianças mais não é do que alimentar a tirania dos adultos.
Queremos um mundo de pessoas que cresceram com amor e em razão do amor; e não um mundo de pessoas (não-pessoas) que medraram sob o medo e pela pressão da culpa. Só assim teremos um mundo onde vale a pena viver.
À velha recomendação que «de pequenino se torce o pepino» deve substituir-se o lema de que «para crescer é preciso envolver». Como diz Francine Ferland (...) «Nunca amamos excessivamente uma criança»."


Dizer "Não" é conter e proteger através dos limites. "Não", não significa tirania, controlo e sobretudo não significa privação de qualquer espécie, muito menos de Amor.


*in "Vária: Existo porque fui amado" António Coimbra de Matos - 2007.