sábado, abril 21, 2007
Os tempos que correm
E fiquei a reflectir sobre este fenómeno, o dos erros de ortografia. É claro que eu podia arranjar aqui várias explicações, provavelmente todas elas verdadeiras: confusão com arroazado (esse sim, com z), uma redução da obsessividade no meu carácter, fruto de anos de análise didáctica (o que, paradoxalmente, não deixa de ser um bom sinal – noutras áreas da minha vida, claro, não na ortografia; obrigada ao meu analista!), leituras quase sempre, de há uns anos para cá, noutras línguas (por causa do doutoramento), pressa, alguma negligência, quiçá (o que é mau).
E isto da pressa, da correria, fez-me lembrar um livro que tenho andado a ler nos intervalos das leituras académicas e que aconselho vivamente: “A corrosão do carácter”, de Richard Sennett (está traduzido em Português na Terramar). É um ensaio sobre o significado do trabalho hoje em dia, a efemeridade dos empregos, a falta de ética, a superficialidade das relações que se vão criando, a dificuldade de construção de uma identidade, a ansiedade em relação ao tempo, a confusão e a sensação de frustração decorrentes da maior parte das situações profissionais.
O autor, que é sociólogo e é professor universitário em Inglaterra, levanta uma série de questões interessantíssimas sobre as quais vale a pena pensar a sério. Tanto mais que muitas das queixas que ouvimos dos nossos pacientes (pelo menos é o que se passa comigo) estão ligadas a estas questões e só ganhamos em perceber o que é que está a acontecer nesta matéria.
É claro que em relação à escrita, a net também não tem ajudado nada. Escrevem-se mails e posts a correr, fora de horas, tem de se escrever o que se quer dizer em meia dúzia de linhas para que as outras pessoas tenham tempo de ler, os assuntos nascem e morrem em dois ou três dias (a tal efemeridade). É um bocadinho angustiante, não é? Gostava de conhecer a vossa opinião.
Seminário de Psicopatologia
É conhecida a importância crescente da psicopatologia depressiva, quer por associar-se a experiências significativas de sofrimento, quer pelas dificuldades que pode representar para o desenvolvimento de projectos pessoais, familiares e profissionais de quem está deprimido.
Numa época em que dominam modelos biológicos da depressão e na qual há quem pretenda que os fármacos anti-depressivos seriam a única solução, é essencial conhecer abordagens compreensivas sobre o que é estar-deprimido, a partir das perspectivas fenomenológicas e existenciais.
Destinatários: Psicólogos, Médicos, Enfermeiros, Assistentes Sociais, Técnicos de Reabilitação e Inserção Social, Técnicos de Desenvolvimento Comunitário e Saúde Mental, Fisioterapeutas, Terapeutas Ocupacionais. Estudantes das respectivas licenciaturas.
PROGRAMA
9h00 - Conferência de abertura
- Onirismo depressivo como forma de ser-no-mundo, Vítor Amorim Rodrigues
- Espacialidade nas experiências depressivas, Nuno Ferrão
- Fenomenologia da culpa nas experiências depressivas, Cristóvão Nunes
Intervalo
- Presença melancólica segundo L. Binswanger, João Fonseca
- Fenomenologia da tristeza vital / dor depressiva, Joana Teixeira
- A depressão segundo Rollo May, Ana Marques
14h00
- Significado da experiência depressiva em V.Frankl, Branca Sá Pires
- Contextos sociais, solidão e subjectividade depressiva, Cláudia Rosa
- Contextos sociais e subjectividade depressiva, Ana Nogueira
Intervalo
16h00 - Conferência de encerramento
Actualidade das perspectivas fenomenológicas e existenciais das depressões, José A. Carvalho Teixeira
Inscrições: Profissionais - 40€; Estudantes - 20€
Informações: Serviços académicos do ISPA
segunda-feira, abril 16, 2007
A Infelicidade ao Alcance de Todos
Quando conheci o JMF, estávamos ambos a dar aulas no Mestrado em Comportamento Organizacional do ISPA, que aliás tem um interessante currículo. Depois, tive a oportunidade e o prazer de trabalhar com o JMF em projectos ligados à inovação, à mudança e à liderança e descobri que a psicanálise e a complexidade podem fazer um belo casamento. Pensando bem, não é muito de admirar. Freud sublinhou por diversas vezes a sobredeterminação dos fenómenos psíquicos. Não há, de facto, linearidade nos nossos processos mentais.
Se puderem dêem um salto até aos blogs do Zé Manel (kropotkine.blogspot.com) e deliciem-se com aquela prosa cáustica e acutilante. Ele é um homem livre e os seus escritos reflectem isso mesmo. Não há muita gente assim.
quinta-feira, abril 12, 2007
"Síndrome de Burnout nos hospitais do Algarve"
O síndrome de Burnout já foi falado no nosso blog mais do que uma vez pelo Pedro e penso que o seu último post incidia sobre o Burnout no casamento.
Ora vejamos aplicado aos profissionais da saúde, continuando com a notícia do jornal.
" A apresentação dos estudos promovida pela Administração Regional de Saúde do Algarve, confirma que existe relação entre a instabilidade no local de trabalho, os estilos de vida e o tipo de serviço psicologicamente mais exigente e a síndrome de Burnout. Um dos estudos aponta que um em cada quatro profissionais apresenta altos níveis de exaustão emocional, uma das dimensões da síndrome".
Este estudo foi realizado a profissionais de saúde dos hospitais algarvios, sob as 3 dimensões (exaustão emocional, a despersonalização e o grau de realização profissional)
Os investigadores constataram que os médicos apresentavam valores mais elevados na despersonalização e na exaustão emocional do que os enfermeiros, ao passo que na realização profissional os enfermeiros apresentavam valores superiores.
Existe também uma referencia ao facto de haver uma percentagem (14,6) de profissionais espanhóis, o que pode ter tido influência nos valores, remetendo para questões individuais (suas competências, motivações e nacionalidades)
Outra das conclusões chegada por estes estudos teve que ver com o estilo de vida dos profissionais e a forma como este pode influenciar o síndrome de Burnout, alertando para o facto de os profissionais da saúde registarem um valor superior no que concerne a auto-medicação, se comparados com a população geral.
Poderão encontrar esta notícia em www.jornaldoalgarve.pt
Se pensarmos em termos da profissão de Psicólogo, suas regras, definições, política de empregabilidade, and so one, e relacionarmos com o destaque desta notícia, aflige, não aflige?
AS falas do corpo
segunda-feira, abril 09, 2007
Os medos das Crianças
O livro (Os medos das crianças - medos, angústias, fobias na criança e no adolescente) foi escrito por Béatrice Copper-Royer, psicanalista francesa com um amplo trabalho clínico em psicoterapia psicodinâmica. O livro é de leitura bastante fácil, se bem que nem sempre seja muito esclarecedor (do meu ponto de vista, claro). Apresenta uma compreensão dos medos e das fobias enquadrado numa visão psicanalítica dando um destaque particular às questões relacionadas com o complexo de Édipo, mas autora é suficientemente aberta para, no último capitulo, fazer referência às terapias cognitivo-comportamentais e defender a utilização de ambos os tipos de abordagens em certas situações, como abordagens complementar.
A progressão do livro torna um pouco mais clara a fronteira sempre difusa, nestas situações, entre o normal e o patológico. Destaca a enorme importância de os pais aprenderem a lidar com os seus próprios medos como forma preferencial de prevenir o desenvolvimento de medos, terrores e fobias nas crianças.
domingo, abril 01, 2007
Frida Kahlo
Vítima de um terrível acidente que a prendeu sob um colete de gesso por toda a vida, a dor de Frida foi retratada na sua pintura de forma a marcar a sua obra.
Os auto-retratos e as representações de cenas do hospital ou de procedimentos médicos foram retratados de forma a fazer o observador partilhar da sua dor. Retratou a lápis a cena do acidente, sem respeito por regras ou perspectivas.
Magdalena Carmen Frida Kahlo y Calderon, conhecida como Frida Kahlo, nasceu em 6 de Julho de 1907, em Coyoacan, no México, para uma vida cheia de percalços. Frida era uma revolucionária. Ao contrário da elite da sua época, gostava de tudo o que era verdadeiramente mexicano: jóias e roupas das índias, objectos de devoção a santos populares, mercados de rua e comidas cheias de pimenta. Fiel ao seu país, a pintora gostava de se declarar filha da Revolução Mexicana ao dizer que havia nascido em 1910.
Militante comunista e agitadora cultural, Frida usou tintas fortes para estampar nas suas telas, na maioria auto-retratos, uma vida tumultuada por dores físicas e dramas emocionais.
Aos seis anos contraiu poliomielite (paralisia infantil) e permaneceu um longo tempo de cama. Recuperou-se, mas sua perna direita ficou afectada. Teve de conviver com um pé atrofiado e uma perna mais fina que a outra.
Em 1925, aos 18, a sua vida mudou de forma trágica. Sofreu um acidente de viação. Frida receberia todo o embate do acidente e foi atravessada por um ferro que lhe atravessou o abdomen, a coluna vertebral e a pélvis. Ela sofreu múltiplas fraturas, fez várias cirurgias (35 ao todo) e ficou muito tempo presa numa cama.
Foi nessa dolorosa convalescença, que Frida começou a pintar freneticamente, quando a mãe pendurou um espelho em cima de sua cama. Frida sempre se pintou a si mesma: 'Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor'.
As suas angustias, suas vivências, seus medos e principalmente o seu amor pelo marido, o pintor mexicano Diogo Rivera, com o qual se casa em 1929.
sexta-feira, março 30, 2007
Workshop no Algarve
Este Workshop será dinamizado por mim e inaugura um ciclo que esperamos que venha a ser interessante para os colegas e amigos de Portimão
quinta-feira, março 29, 2007
Colóquio no ISPA - Lisboa
No próximo dia 5 de Maio irá realizar-se no ISPA um colóquio intitulado "Mito pessoal, sentido e narrativa no processo clínico".
O programa:
9h30 - Abertura
10h - Conferência "Mito pessoal, Sentido e Narrativa (Frederico Pereira)
10h40 - Pausa
11h00 - Discussão sobre confer~encia
11h30 - "O que é um caso clínico?" (Raquel Ferreira, Teresa Flores, Manuel Matos,
Frederico Pereira, Fátima Sequeira, Maria José Vidigal)
13h00 - Almoço
14h30 - Workshops
16h-16h30 - Pausa
16h30-18h - Workshops
18h-18h15 - Pausa
18h15-18h45 - Debate geral e Encerramento
As inscrições são até 21 de Abril até completar 70. São 35€. Podem ser enviadas por email:sarac@ispa.pt ou 218811712.
segunda-feira, março 26, 2007
Acompanhamento psicológico à distância (ONLINE): A escolha certa?
É uma nova modalidade de ajuda que utiliza as vantagens da Internet e das tecnologias de informação, permitindo a comunicação virtual, no momento ou em diferido, com um psicólogo. Com o surgimento da Internet, quase simultaneamente se tornou visível o seu potencial terapêutico como forma de comunicação. Em 1972, há registo de uma das primeiras formas de utilização da Internet numa sessão de psicoterapia simulada no âmbito da International Conference on Computer Communication, em Outubro desse ano. Os grupos de apoio online foram uma das primeiras formas sistematizadas de utilização deste suporte na relação de ajuda. O sucesso destes grupos firmou o potencial meio de comunicação que a Internet era, mesmo para abordar assuntos pessoais e delicados.
A consulta de acompanhamento psicológico online pode ser efectuada através de:
1. e-mail: não há necessidade de estar online simultaneamente, havendo o tempo que se desejar para escrever e pensar. É o meio de comunicação preferido pelas pessoas que gostam de escrever ou que têm horários muito difíceis de compatibilizar com o terapeuta.
2. chat: conversação instantânea com voz ou através de troca de mensagens escritas instantâneas. É preferida pelos que desejam uma resposta imediata por parte do terapeuta.
3. videoconferência: é considerada a forma ideal de terapeuta e cliente se relacionarem online. Existe a possibilidade de contacto visual e a consequente recolha de informação não verbal que poderá enriquecer a relação terapêutica. Com frequência porém, as pessoas sentem que na relação online conseguem revelar mais de si precisamente pela possibilidade de não existir contacto visual. Sentem-se mais seguros nesse contexto. Dependerá de pessoa para pessoa.
4. Telefone: conversação telefónica que poderá utilizar ou não o recurso da Internet. Útil para quem pretende manter uma conversação simultânea ou quem não quiser ou quem não puder fazer uso da Internet.
SERÁ EFICAZ?
Alguns estudos têm observado que pode ser uma forma poderosa de intervenção, e um agente de mudança rápida e efectiva na vida da pessoa. Isto porque se tem observado que a modalidade on-line estimula intensamente a projecção e as características psico-dinâmicas da díade, o que estimula muito a eficácia e rapidez da intervenção (Suler, 1996). Tem sido também constatado que as pessoas on-line vão mais directamente ao assunto fulcral de suas preocupações, o que agiliza a intervenção. Vários estudos têm demonstrado a potencialidade desta área, revelando que esta abordagem clínica realizada com o suporte de Internet é mais eficaz do que o não tratamento e tão eficaz como a abordagem face-a-face (Emmelkamp, 2005; Eaton, 2005). O acompanhamento psicológico online não pretende ser uma substituição da terapia tradicional mas sim uma outra forma de relação de ajuda que pode alcançar todos aqueles que, apesar de sentirem a necessidade, não estão a beneficiar de qualquer tipo de ajuda. A relação que é estabelecida com o terapeuta via Internet pode ser profunda, autêntica e emocionalmente reparadora. Numa análise de 400 clientes que usaram serviços de acompanhamento psicológico online, 90% refere ter obtido beneficio dos mesmos (http://www.metanoia.org/).
QUE VANTAGENS?
Tem a possibilidade de ser acessível à maior parte das pessoas que normalmente não têm possibilidade de recorrer a ajuda profissional por impossibilidade física, geográfica, por dificuldade de gestão do tempo, etc.
Para certas pessoas poderá ser sentida como um contexto mais confortável dado poder decorrer num contexto pseudo-anónimo se for essa a vontade do cliente.
QUE DESVANTAGENS?
A menor existência de comunicação não-verbal poderá diminuir a riqueza da informação trocada pelo que é importante os participantes comunicarem num nível compreensivo equivalente, sentirem-se confortáveis a escrever e comunicar com expressividade e algum detalhe.
Não é adequada em momentos de crise muito grave em que estejam comprometidas as capacidades de compreensão e raciocínio lógico.
QUE PROBLEMAS PODE RESOLVER?
Perturbações de ansiedade, alterações de humor, perturbações do sono, fobias, medos, consequências psicológicas do adoecer físico, dificuldades de realização na vida, dificuldades no estudo e no trabalho, problemas de relacionamento, necessidade de melhor conhecimento de si próprio, são algumas das questões que podem ser abordadas.
SERÁ CONFIDENCIAL?
Tal como na situação face-a-face, o acompanhamento psicológico on-line é sujeito a critérios de confidencialidade que abrangem toda a informação trocada entre cliente e profissional. O uso de procedimentos electrónicos chama a atenção para alguns perigos involuntários que podem ocorrer:
O cliente ou o terapeuta podem acidentalmente enviar um e-mail confidencial para um outro destinatário. A solução é ter uma preocupação redobrada em verificar o endereço antes de fazer o envio do e-mail bem como reduzir ao mínimo o material de identificação constante no e-mail, ou encriptar a informação.
Acesso não autorizado ao e-mail do terapeuta ou do cliente potencializado pelo facto de que com frequência os computadores são partilhados. Ter por isso algum cuidado em não partilhar o computador com que este serviço é prestado ou ter especial cuidado se o tiver de fazer usando palavras-passe eficazes.
É ÉTICO?
A ISMHO foi fundada em 1997, tem como missão promover a compreensão, o desenvolvimento da comunicação online a nível da saúde mental, delineando um código de conduta a ser seguido por todos os profissionais que trabalham nesta área online. Possui um grupo de discussão de casos para aprofundamento do estudo de casos clínicos que usam o suporte online e aperfeiçoamento das metodologias de intervenção.
A APA/Div.46 refere-se à Media Psychology e foca-se no papel que os psicólogos têm nos vários aspectos dos média, rádio, televisão, cinema, vídeo, imprensa escrita e novas tecnologias. Desenvolve investigação sobre o impacto que os média têm no desenvolvimento humano, aprofunda o ensino, treino e prática da média psychology, orienta eticamente os profissionais que trabalham neste âmbito.
Consultar:
http://www.psicronos.pt/
Bibliografia:
Emmelkamp, PMG (2005). Technological innovations in clinical assessment and psychotherapy. Psychotherapy And Psychosomatics, 74 (6):336-343.
Eaton, W. (2005). Internet-Based Mental Health Interventions. Mental Health Services Research, Vol. 7 Issue 2, p75.
Shaw, H. & Shaw, S. (2006). Critical Ethical Issues in Online Counseling: Assessing current practices with an ethical intent checklist. Journal of Counseling & Development, Volume 84.
Suler, J. (1996, May). Transference among people online. The Psychology of Cyberspace. Disponível www.rider.edu/users/suler/psycyber/psycyberl
quarta-feira, março 21, 2007
O Poeta
“A vida do poeta tem um ritmo diferente
È um contínuo de dor angustiante.
O poeta é o destinado do sofrimento
Do sofrimento que lhe clareia a visão de beleza
E a sua alma é uma parcela do infinito distante
O infinito que ninguém sonda e ninguém compreende.
Ele é o eterno errante dos caminhos
Que vai, pisando a terra e olhando o céu
Preso pelos extremos intangíveis
Clareando como um raio de sol a paisagem da vida.
O poeta tem o coração claro das aves
E a sensibilidade das crianças.
O poeta chora.
Chora de manso, com lágrimas doces, com lágrimas tristes
Olhando o espaço imenso da sua alma.
O poeta sorri.
Sorri à vida e à beleza e à amizade
Sorri com a sua mocidade a todas as mulheres que passam.
O poeta é bom.
Ele ama as mulheres castas e as mulheres impuras
Sua alma as compreende na luz e na lama
Ele é cheio de amor para as coisas da vida
E é cheio de respeito para as coisas da morte.
O poeta não teme a morte.
Seu espírito penetra a sua visão silenciosa
E a sua alma de artista possui-a cheia de um novo mistério.
A sua poesia é a razão da sua existência
Ela o faz puro e grande e nobre
E o consola da dor e o consola da angústia.
A vida do poeta tem um ritmo diferente
Ela o conduz errante pelos caminhos, pisando a terra e olhando o céu
Preso, eternamente preso pelos extremos intangíveis”.
Neste “caminho para a distância”, as misteriosas palavras retratam os véus da alma dos poetas, tão inquietantes e fascinantes, como crianças que vagueiam ante o mistério de uma amplidão suspensa.
Falemos então dos poetas e da sua poesia...
quinta-feira, março 15, 2007
A Depressão Pós-Parto
Os sintomas observados podem ser: tristeza a maior parte do dia, pânico, sentimentos de desespero, dificuldades de concentração ou memória, sentimentos de desvalorização e culpa, medo excessivo de magoar o bebé, pensamentos acerca de se magoar ou de se suicidar, sentimento de que se está a enlouquecer, variação de humor, gritos e choro, perturbações de sono ( insónia ou hipersónia), alterações significativas de peso, aumento ou diminuição significativos de apetite, fadiga, pensamentos mórbidos, agitação ou apatia, incapacidade de criar ligações afectivas com o bebé, perda de interesse sexual, anedonia, dores e/ou tensão na cabeça.
Uma mulher que sofra de depressão pós parto apresentará vários dos sintomas acima descritos de uma maneira mais ou menos severa deixando esta envergonhada, com sentimentos de culpa e consequentemente isolada (pode haver alternância entre bons e maus dias ).
Os factores de risco são: depressão pós parto ou um significativo “baby blues” numa anterior gravidez, mulheres com história pessoal ou familiar de depressão, mulheres com problemas matrimoniais crónicos (ex: violência doméstica, separação, divórcio entre outros), dificuldades financeiras, problemas com filhos ligeiramente mais velhos (ex: ciúme), preocupações ou problemas de saúde relacionados com o novo bebé, falta de apoio social, acontecimentos de vida negativos durante a gravidez e/ou parto, história pessoal de sindroma pré-mestrual, ansiedade ou depressão durante a gravidez, gravidez não planeada e/ou filho não desejado, complicações do foro obstetra, história de trauma infantil ou abuso, acontecimentos de vida importantes (ex: perda de emprego), infertilidade anterior.
Entre possíveis causas destacam-se: hipóteses biológicas (alteração das concentrações hormonais: o corpo começa a produzir altos níveis de prolactina, hormona relacionada com a amamentação, permanecendo estes níveis altos durante cerca de dois meses após o parto quer a mãe amamente ou não; sendo que esta hormona interfere com a produção de estrógeneo e progesterona, mantendo baixa a já esgotada provisão destas), hipóteses relacionadas que se referem às relações do indivíduo com a família quer no passado ( ex: ausência do pai durante a primeira infância por perda ou separação) , quer no presente (dificuldades recentes no relacionamento com a mãe, conflito/insatisfação matrimonial); outros acontecimentos de vida ( ex: a morte de um parente durante a gravidez mas não depois do parto ); hipóteses psicológicas ( ex: predisposição prévia para perturbação depressiva; dificuldades experienciadas durante a gravidez como sejam a ansiedade, dúvidas em prosseguir a gravidez entre outras). Recentemente a importância do bebé tem sido posta em evidência, tendo surgido um modelo explicativo inovador que assenta nas dificuldades temperamentais do bebé como factor de stress, nas complicações de saúde relativas ao bebé e na percepção que a mãe tem do comportamento deste, sendo que o suporte social pode funcionar como um recurso protector para as mães, bem como as relações interpessoais desta. A importância dos factores sócio-económicos é ambígua.
A Perspectiva psicanalítica sugere que após o parto a mulher tem de realizar o luto de uma série de experiências presentes nomeadamente o luto do filho imaginário, ideal ( expectativas) e experiências passadas, nomeadamente o luto de anteriores experiências de separação ( a mãe identifica-se com o bebé revivendo através dele a relação com a mãe ).
A DPP é um sinal de que a mãe não está a realizar convenientemente o trabalho psicológico do pós parto que consiste em aceitar que o seu filho não é tão magnífico como imaginou, tarefa que pode ser dificultada quando as expectativas da mãe são quebradas ( ex: sexo, temperamento do bebé, aparência física).
Quanto às consequências da DPP no desenvolvimento infantil, várias questões se podem colocar. Será que o estado depressivo pós parto afecta a qualidade do laço afectivo do bebé com a sua mãe ? O comportamento da mãe é considerado uma importante fonte de estimulação para a criança, sendo que a qualidade proporcionada está associada à qualidade do desenvolvimento da criança, no entanto os resultados dos estudos existentes sobre a influência adversa da DPP na elaboração de uma ligação segura à mãe por parte da criança são controversos.
A perturbação psiquiátrica dos pais é um factor de risco que tem sido associado à vulnerabilidade da criança para a doença mental (comprometimento para o desenvolvimento da criança nos domínios cognitivo e desenvolvimento da personalidade – génese de perturbações comportamentais e de atrasos cognitivos ). No entanto recentemente sublinhou-se que efeitos como estes são mediados por um conjunto de variáveis tais como a coexistência de relações familiares perturbadas. É importante avaliar o funcionamento do pai, relação entre os cônjuges, contexto familiar, peso do bebé à nascença entre outros.
As reacções que os bebés tendem a ter perante a DPP da mãe são a de inventar tipos de comportamentos: o bebé pode desistir de tentar atrair a atenção da mãe e recolher-se em si próprio; o bebé pode tentar ficar próximo da mãe deprimida, imitando-a .Há uma posterior identificação com o estado de espírito desta, tendo como consequência a depressão do próprio bebé; o bebé pode tentar alegrar a mãe, havendo a possibilidade de este se tornar hiperactivo, resultando por vezes numa “perturbação de défice de atenção”. Esta investigação foi altamente controversa. Muitos especialistas crêem que, excepto em casos de depressão grave, as crianças não são necessariamente afectadas por uma breve depressão da mãe.
Os tratamentos variam consoante o tipo de sintomas e respectiva severidade. A DPP pode ser tratada com recurso a medicação, psicoterapia ou uma combinação de ambas.
A medicação apresenta algumas vantagens, como actuar mais rápido e apresentar custos inferiores; no entanto a psicoterapia não deixa de ter um papel muito importante e complementar da primeira; sendo mesmo imprescindível em casos de depressão severa, de problemas psicológicos crónicos, de resposta pouca satisfatória a tratamento farmacológico, ou em casos de perturbações da personalidade. A medicação apresenta inconvenientes no caso de a mãe estar a amamentar ( a maior parte dos medicamentos apresentam concentração no leite materno), no entanto pode-se pôr a hipótese de a mãe deixar de amamentar o bebé caso a depressão seja muito severa, sendo mais uma vez a intervenção de profissionais de saúde absolutamente necessária. Apresentam benefícios inegáveis a prática de exercício regular ( ex: caminhar); aliada a uma alimentação cuidada e um sono regular e repousante. Um bom ambiente familiar e apoio por parte da família têm igualmente uma importância fundamental no sucesso do tratamento da DPP.
O internamento hospital raramente é necessário no caso da DPP mas em casos graves de depressão ( particularmente na psicose pós parto) pode ser essencial. O Psiquiatra Ian Brockington montou uma unidade para mães e bebé, em Birmingham pois considera que o internamento sem o bebé é pior do que inútil (destrói a autoconfiança, a independência e a relação mãe – bebé).
Infelizmente, muitas mães sofrem da DPP sem terem conhecimento de que esta é uma perturbação tratável, com as inerentes consequências devastadoras para a mãe, para o bebé, para a relação mãe-bebé, para o ambiente familiar e amigos. É imprescindível para que o tratamento seja eficaz, que a DPP seja detectada precocemente e sejam feitas as intervenções necessárias, tanto farmacológicas como a nível de psicoterapia.
Há uma necessidade urgente de divulgar informação e diminuir o estigma social que a perturbação acarreta, pois só assim será possível diagnosticar um maior número de casos que permanecem ignorados e permitir uma erradicação pelo menos parcial da perturbação.
domingo, março 11, 2007
Colóquio no Algarve - Psicanálise Hoje
O colóquio, comemorativo dos 150 anos do nascimento de Freud, será realizado na Universidade do Algarve, Faculdade de Ciencias Humanas e Socias.
Decorrerá em paralelo, em locais a anunciar, um Ciclo de Cinema organizado pelo Cineclube de Faro.
No Programa encontramos nomes tão ilustres como:
Carlos Amaral Dias
António Coimbra de Matos
Emílio Salgueiro
Ana Vasconcelos
João França de Sousa
Adriana Nogueira
Manuela Ferraz da Costa
Catarina Neves
Vasco Santos
É um dia cheio a não perder e com ENTRADA LIVRE
sábado, março 10, 2007
Impulso de ligar
Talvez já tenha acontecido a todos nós, no desenrolar da prática clínica, mas porque será que acontece?
quinta-feira, março 08, 2007
Congresso: "Morte, Cultura e Arte"
Aqui fica a informação de Leda Cruz - Artista Plástica
Para qualquer assunto relacionado com o tema visite a sua página da net www.ledacruz.com
Confesso que é sugestivo o título.
Cumprimentos
terça-feira, março 06, 2007
Evento em Grande a Sul
Hoje apenas irei fazer menção ao evento que irá acontecer aqui perto, em Faro, na Universidade do Algarve.
É um colóquio comemorativo dos 150 anos do nascimento de Freud, e contará com a presença de várias personalidades, sobejamente conhecidas nos meandros psicanalíticos.
O site da sociedade portuguesa de psicoterapia psicanalítica já divulgou o colóquio, fazendo referencia ao seu programa, pelo que, sugiro uma visita ao site www.sppp.pt
De notar que a entrada é LIVRE
Até breve
sexta-feira, março 02, 2007
Morreu o meu amigo
Durante anos trocámos livros e ideias; sempre que um descobria um livro, avisava o outro. Sobretudo escritores de língua inglesa, que vínhamos perseguindo há anos com afinco. Foi assim até ontem.
A partir de hoje, isso acabou. A morte faz também isto, deixa-nos mais sós com nós próprios. Até que chega a nossa vez.
Curioso, já não sei qual foi o último livro que lhe emprestei. Mas ele deve saber. Foi há dias. Disse-lhe que precisaria do livro em breve por causa de uma coisa que estava a escrever, ficou de mo devolver com alguma rapidez, ao contrário do que era costume entre nós, que tínhamos uma espécie de pool de livros partilhados. Mas ele não se vai esquecer.
Estou confiante. A morte não nos vai tirar isso. Não vai, não. Vamos continuar a trocar livros.
quarta-feira, fevereiro 28, 2007
O “Peso” da Teoria na Formação do Psicanalista
segunda-feira, fevereiro 26, 2007
Até onde irá o Estado?
A verdade é que o Estado, neste caso o inglês, mas o mesmo se passa na maior parte da Europa, está a intrometer-se na vida dos cidadãos de uma forma que assume já contornos perigosos. Saímos já da ficção científica e entrámos numa realidade assustadora. O Estado cada vez se intromete mais na sociedade civil, ao mesmo tempo que a desresponsabilização dos cidadãos vai aumentando. É um sistema de feedback com efeitos perversos.
Por cá, temos o caso da vitória do Sim no recente referendo. Por que carga de água se fala agora em criar gabinetes de “aconselhamento” das mulheres? Estão com medo, mais uma vez, que as pobres e diminutas cabecinhas femininas não saibam decidir? Aqui está outro exemplo da intolerável intromissão do Estado nas nossas vidas.
O assunto é complicado e polémico. Venha a discussão. Não foi para isso que se inventaram os blogs?
sábado, fevereiro 24, 2007
VI Encontro de Psicologia Clínica, “Psicopatologia e Cinema”
VI Encontro de Psicologia Clínica, “Psicopatologia e Cinema”
Junto se envia o link de divulgação do próximo encontro de Psicologia Clínica e da Saúde que se irá realizar na Universidade Lusíada de Lisboa a 16 e 17 de Março próximo, dedicado ao tema "Psicologia e Cinema"
.http://www.lis.ulusiada.pt/eventos/encontros/psicologia_saude/default.htm
“Numa filosofia de abertura e integração da psicologia com outras áreas de conhecimento e com temáticas do dia-a-dia, decidimos dar a este Encontro o título "O cinema e a psicopatologia", convidando participantes e oradores a reflectir de forma fundamentada e criativa sobre os temas da psicopatologia e a sua representação no cinema. Pretendemos que, a partir da exibição de excertos de alguns filmes, alunos, psicólogos e outros profissionais das ciências humanas e sociais reflictam sobre determinados quadros psicopatológicos, como as perturbações do humor, da ansiedade, da família, da relação precoce, da adolescência ou mesmo as psicoses que de alguma forma, directa ou indirectamente, entram nas nossas vidas profissionais e/ou mesmo pessoais. Assim, cada sessão será iniciada com um pequeno excerto de um filme, representativo da temática da mesma, que servirá de base às comunicações e posterior debate.”
Parece-me interessante! Vou colocar na minha agenda.