Uma palestra sobre EMDR numa perspetiva que sublinha a forma como o investimento na saúde, nomeadamente, a saúde psicológica tantas vezes afetada por traumas de toda a ordem, anda de mãos dadas com o desenvolvimento económico tão almejado e valorizado pelas sociedades atuais. É mostrada uma perpetiva à escala mundial sobre as necessidades da humanidade a este nível, bem como, explicada a ligação entre EMDR e a prosperidade e pacificação da humanidade.
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quarta-feira, janeiro 01, 2014
sábado, dezembro 07, 2013
EMDR na recuperação, EMDR NA PREVENÇÃO
Face aos acontecimentos
deste fim -de- semana, no Pinhal Novo (23/11/2013), uma questão antiga voltou a
tomar algum espaço do meu pensamento.
Já se tem em consideração
que as vítimas e respetivas famílias tenham apoio psicológico (quando existe)
face a alguns incidentes…no entanto, até que ponto os intervenientes nessas
situações também têm? Por exemplo a polícia, a GNR, os bombeiros, as equipas do
INEM, médicos e enfermeiros que se deslocam para locais de catástrofe…?
Chegar a um local e
deparar-se com os mais vários tipos de cenário de horror, pode, mesmo para os
mais treinados e experientes, provocar danos psíquicos. E é importante estar se
consciente dessa possibilidade de forma a agir atempadamente.
O processo de EMDR constitui
uma ferramenta muito eficaz no tratamento de Pós Stress Traumático, ou seja,
quando já está instalado um quadro patológico bem definido. No entanto, sabe-se
que até um período de 3 meses após o acontecimento, as memórias ainda não se
“fixaram” na rede neuronal. Logo, esta terapia pode ser ainda mais eficaz se o
trabalho for feito nesse período, podendo prevenir uma sedimentação em quadro
patológico.
Para que tal aconteça é
necessário estar se atento à evolução da situação. Existem várias formas de
reagir ao choque, e muitas vezes uma espécie de “congelamento” afetivo (quando parece
que a pessoa não reage) pode mascarar um possível quadro reativo posterior.
Lembrei-me do caso deste fim-de-semana
porque dei por mim a imaginar que impacto que pode ter num militar da GNR, deparar-se
com um colega abatido e numa situação onde os níveis de stress são elevados. A
reação a este cenário pode ser diversa, dependendo de cada indivíduo e do respetivo
contexto …
Acima de tudo, pretendo
alertar a todos os que de algum modo são vítimas
ou testemunhas de um incidente de qualquer natureza, que provoque reações fisiológicas ou emocionais intensas tais como
rever mentalmente a situação inúmeras vezes, estar em sobressalto perante
situações que façam lembrar o acontecimento (direta ou indiretamente), crises de ansiedade súbitas (tipo ataque pânico), congelamento afetivo e sensação de se estar
distante da cena, sensação de irrealidade, entre outros sintomas, que podem
estar a organizar uma reação traumática.
Nestes casos se se procurar apoio rapidamente, pode não se chegar a desenvolver
um quadro patológico. E nesse sentido, o EMDR
surge como tratamento de excelência, na recuperação mas também na prevenção.
Basta estar-se atento e não ter receio daquilo que se está a experienciar, seja
mais ou menos “normal”.
E se as corporações, pelas
mais diversas razões, não têm a possibilidade de disponibilizar aos seus
funcionários o apoio devido, é importante pelo menos que os mesmos saibam que
esse apoio está disponível e deve ser acionado sempre que , no mínimo, se tenha dúvidas sobre o que se está a experienciar.
Carla Ricardo
Psicologa Clínica e Psicoterapeuta
Psicronos Setúbal
sexta-feira, novembro 29, 2013
A cigarra e a formiga: Procrastinação e EMDR
Na moral principal desta estória conhecida de todos nós sobressai o valor do trabalho e do não adiar das prioridades (do trabalho) e a recompensa que daí resulta. A cigarra é moralmente linchada por dar prioridade ao prazer e ocupar o seu tempo com os seus prazeres, e deixar para segundo plano o trabalho, que pretensamente não dá prazer.
A estória traça uma divisão entre trabalho - mais ou menos mecanicista, diria, e sobretudo que não oferece prazer, embora não saibamos até que ponto a formiga goza com esta sua atividade, ou se só acasala com a dispensa cheia - e prazer - que parece, na fábula em questão, equivaler a uma atividade venal que não dá trabalho, nem será suficientemente digna para ser ela própria uma ocupação de direito próprio, que permita a realização da cigarra e que possa ser útil a outros e à sociedade. A cigarra que descurou a dispensa, é humilhada e vira, diria, “sem abrigo” com a barriga vazia - embora se assim fosse já teria a espécie sido extinta e nós viveríamos ameaçados pela crescente super-espécie das formigas. Ainda bem que há outras espécies, outros naipes e tonalidades de cinzento, porque afinal de contas todos temos um pouco de cigarra e de formiga. Uns de nós (pre)ocupam-se mais com o passado, e outros (mais formigas) com o futuro, enquanto uns outros (neste aspeto mais cigarras) vivem sobretudo o presente. Mas, honra lhe seja feita, o Esopo, a quem a fábula é atribuída, foi um pertinente observador da natureza e criador desta espécie de ‘arquétipo’.
Mas afinal de que vos quero falar é de procrastinação - tal como a cigarra procrastina a sua tarefa de recolha e armazenagem do comida para o inverno, para andar durante o verão toda airosa e contente a cantarolar. E tal como a procrastinação, ainda uma situação problemática muito descurada e incompreendida, a cigarra tem má fama.
Comecei a interessar-me particularmente por esta questão há duas décadas quando comecei a perceber que este ‘comportamento’ é um dos principais obstáculos à gestão do tempo, à organização, e logo, à eficácia pessoal. Primeiro, comecei a ter sobre esta situação, por assim dizer, um olhar comportamental ou cognitivo-comportamental, em que a procrastinação é só a procrastinação, ou seja o adiar sucessivo, ou sistemático, de uma ou mais tarefas no tempo. Vi que muitas pessoas têm este comportamento e de como ele é prejudicial para a realização dos seus objetivos. Observei que muitas pessoas sofrem com o comportamento de adiar fazer coisas que contribuem para atingir os seus objetivos manifestos, realizando outras que as boicotam - apesar de poderem oferecer recompensas de curto prazo-, caindo tantas vezes numa espiral de maior e maior frustração e perda de auto-estima. Nessa altura estava mais focada em transmitir informação e partilhar soluções para lidar com este problema, sobretudo à superfície, mas mesmo assim com eficácia.
Ao longo do tempo, fui reparando nas muitas facetas da procrastinação e de como ela é uma ( comportamento de adiar coisas mais ou menos importantes ou essenciais) e outras coisas (presentes mais ou menos inconscientemente na nossa mente e agindo sobre o nosso comportamento tornando-o paradoxal, falhante, ou pura e simplesmente, idiota), Vi muitos estudantes, de variados graus de ensino, sofrerem desta maleita, muitos profissionais, muitos artistas e criativos temerem o boicote dos seus ambiciosos empreendimentos e o medo de congelarem antes da meta alcançada. Daí, o debater-me com esta ‘questão’ e tentar entendê-la melhor, e aprofundá-la, para melhor poder apoiar quem dela padece.
Em que consiste e porque acontece?
A procrastinação pode ser encarada como uma defesa psicológica comum para evitar lidar com algumas tarefas, pessoas ou situações. De resto, procrastinar (do lat. procrastinare) é o drama do adiar sistemático, que uma maioria das pessoas já experimentou num momento ou noutro.
Numa maioria dos casos, não chega a ser um problema aflitivo, sobretudo quando não se trata de tarefas essenciais à vida e ao trabalho, como é o caso de finalmente arrumar os livros por ordem alfabética na biblioteca ou de pôr ordem no roupeiro. Ou a de entregar a declaração das finanças fora do prazo, sujeitando-se à multa. Ou a de, esporadicamente, fazer uma pausa para descansar um bocado, ”esquecendo-se” de retomar a tarefa, ou de ser auto-indulgente: “Vou só ver este filme ou esta série antes de começar a estudar”, ou “em vez de estar aqui a consumir-me sem conseguir ser produtivo, afinal poderia ir ter com os meus amigos àquela festa”, ou “estou cheia de fome, e se fizesse aqueles biscoitos tão bons para me animar?”.
Quando o problema é agudo e se centra sobre tarefas cruciais, a situação atinge uma intensidade que a pessoa não só sofre e se atormenta, como é penalizada pela sua incapacidade de fazer e avançar. Quando se torna crónico, mais uma vez sobre afazeres essenciais ou muito importantes, ruma para a paralisia e um elevado grau de disfuncionalidade. O auto-engano e o ataque a si-próprio(a) instalam-se ‘de armas e bagagens’, e a mudança não é fácil.
A procrastinação relaciona-se com a nossa tendência de evitamento do desagradável e do penoso para privilegiar o agradável e o distrativo, com a fuga ao pensamento e à ação focadas naquilo que importa, e a atração por aquilo que importa menos, e nos anestesia daquilo que deveríamos estar a fazer. De certo modo entendo a procrastinação como uma resistência à tirania do super-ego, e uma fuga para o id, para usar uma terminologia psicanalítica, num movimento que fomenta a sabotagem do eu, o ataque sádico à idealização, e que acarreta componentes masoquistas. A pessoa, sem se dar quase conta, conta demais com a sua capacidade no futuro de lidar com aquilo que não está a fazer agora e que deixa acumular, sobrestimando os seus poderes. E a questão é se não o conseguimos fazer agora, como é que o vamos fazer no futuro?
Seja por querermos evitar a frustração e obter uma gratificação imediata , seja por temermos ou ter até pavor de alguma coisa, seja por não haver consequências negativas de imediato ou por sobre-avaliarmos, e até desejarmos pôr à prova a tal nossa capacidade de lidar com a situação (e a sua majoração/o seu acumulado) no futuro, o movimento escolhido é o desvio ou a fuga para ‘outra coisa’, gerando a situação de procrastinação. E a procrastinação pode ser um evitamento concreto de alguma coisa, ou antes um sinal de problemas de maior complexidade como depressão e ansiedade.
Quais as respostas para a ultrapassar?
Quando a problemática e a sua intensidade são ligeiras, há soluções relativamente simples de implementar pela pessoa, com ou sem ajuda de um profissional (um psicólogo ou um coach, por exemplo).
Quando o grau de sofrimento e as perdas são assinaláveis é importante a pessoa compreender a sua necessidade de uma ajuda profissional, clínica ou psicoterapêutica.
Experimente perguntar-se, ou imaginar, como será a sua vida daqui a 5 ou 10, 20 anos caso continue a procrastinar, ou antes se conseguir deixar de o fazer. E decida.
Que abordagens terapêuticas ao problema?
Tal como há diversos caminhos para chegar a Roma, também existem variadas abordagens psicoterapêuticas que nos podem levar a bom porto, compreendidas que sejam as razões desse problema e bem ajustadas as respostas terapêuticas escolhidas à anamnese e ao diagnóstico inicial.
Tanto uma abordagem cognitiva, mais circunscrita e focada nas soluções, ou uma abordagem dinâmica ou psicanalítica, com um enfoque sobretudo na compreensão mais aprofundada do problema, as dinâmicas da personalidade e na mudança desta, poderão produzir bons resultados. Tal como, a hipnose clínica e o EMDR (Eye Movement Dessensibilization Reprocessing, também conhecida por estimulação bi-lateral), de que falarei de seguida.
O EMDR e a procrastinação
O EMDR é uma abordagem terapêutica que assenta na estimulação bilateral, informada pela investigação de como é que o cérebro processa a informação e gera consciência, e num processo de oito fases. Esta abordagem de caráter integrativo articula elementos “tanto das teorias psicológicas (ex: afeto, vinculação, comportamental, processamento de bio-informação, cognitiva,sistémica familiar, humanística, psicodinâmica e somática) e das psicoterapias (ex: baseadas no corpo, cognitivo-comportamental, interpessoal, centrada na personalidade e psicodinâmica) num conjunto estandartizado de procedimentos e protocolos clínicos” (Luber, M. , 2009).
Existe um protocolo específico para a procrastinação, e o seu uso com pacientes que procuram especificamente lidar com esta situação e ultrapassar os impasses e bloqueios gerados por este comportamento, tem mostrado resultados muitos positivos e animadores, que favorecem a adaptação da pessoa aos seus objetivos e atividades, e a concentração naquilo que é importante para ela, com atenuação clara dos níveis de perturbação e de ansiedade gerados anteriormente pela vivência do problema. Sendo uma abordagem de curta-média duração é particularmente indicada para pessoas que queiram tratar especificamente desta problemática e de retomar o controlo das sua vida e dos prazos.
Voltando ao Esopo e a esta sua fábula se calhar a cigarra e a formiga precisavam de ir as duas fazer uma terapia de 'casal', escutar-se, compreender-se e aprender uma com a outra.
Enfim, nem só cigarra, nem só formiga, vale a pena sentir que somos capazes de nos sentirmos bem com a vida que levamos, com as opções que tomamos, de nos aceitarmos e de conseguirmos avançar com os recursos de que dispomos, com liberdade e sem excessiva autocrítica, para onde desejamos.
Permitindo-nos, preferencialmente com alguma harmonia, conciliar objetivos, socialização, afetos, interesses e prazeres pessoais.
Isabel Botelho
Psicóloga, Executive Coach
Psicoterapeuta Psicanalítica e EMDR
PSICRONOS
sexta-feira, novembro 22, 2013
EMDR NA INFÂNCIA: VOLTAR A PÔR AS COISAS NO LUGAR
«A Dessensibilização e o
Reprocessamento pelo Movimento Ocular é um método psicoterapêutico eficaz na
resolução de dificuldades emocionais causadas por experiências perturbadoras,
difíceis ou assustadoras. Quando as crianças estão traumatizadas, têm experiências
perturbadoras ou fracassos repetidos perdem o sentimento de controlo sobre as
suas vidas. Tal pode resultar em sintomas de ansiedade, depressão,
irritabilidade, raiva, culpa e/ou problemas comportamentais. Sabemos que
eventos como acidentes, abusos, violência, morte e desastres naturais são
traumáticos, mas nem sempre reconhecemos de que forma afetam a vida quotidiana
das crianças. Mesmo os eventos perturbadores mais comuns como o divórcio, os
problemas na escola, as dificuldades com os pares, os insucessos, e os
problemas familiares podem afetar profundamente o sentimento de segurança, a
auto-estima e o desenvolvimento da criança.
Por vezes, quando acontece uma
experiência perturbadora, assustadora ou dolorosa, a memória fica “bloqueada”
ou “congelada” na mente e no corpo. A experiência pode voltar de modo
angustiante e intrusivo. A criança pode reagir através do evitamento de tudo o
que esteja associado à experiência perturbadora. Por exemplo, quando uma
criança experimenta um grave acidente de bicicleta, pode haver pesadelos
repetidos, medo de tentar novas coisas e evitamento de tudo que estiver
relacionado com bicicletas.
A maioria dos especialistas
acredita que a melhor forma de desbloquear e libertar-se dos sintomas é através
da exposição à experiência traumática. Isto significa enfrentar as memórias ou
os eventos problemáticos até deixarem de ser perturbadores.
O EMDR utiliza uma estimulação
dual (bilateral) da atenção, que significa o varrimento alternado
esquerda-direita, que pode ser pelo movimento dos olhos, sons ou música em cada
ouvido, ou estimulação táctil, como batidas leves alternadas nas mãos. Têm sido
desenvolvidas alternativas criativas para as crianças, que incorporam a
estimulação dual da atenção através de fantoches, histórias, dança, arte, e até
natação.
O EMDR ajuda a resolver os
pensamentos e sentimentos problemáticos associados às memórias, de modo a que
as crianças possam voltar às tarefas normais do desenvolvimento e aos níveis
anteriores de funcionamento. Para além disso, o EMDR ajuda a fortalecer os
sentimentos de confiança, calma e mestria.
Como é uma sessão de EMDR?
O EMDR é parte de uma abordagem terapêutica
integrada, sendo frequentemente usada em conjunto com outras práticas como a
ludoterapia, a terapia pela palavra, a terapia comportamental e a terapia
familiar. O EMDR será explicado e usado com o consentimento da família e da
criança.
Uma sessão típica de tratamento EMDR
começa de uma forma positiva, levando a criança a usar a sua imaginação para
fortalecer o seu sentimento de confiança e bem-estar. Por exemplo, pode
pedir-se à criança que imagine um lugar seguro ou protegido, onde se sente
relaxada, ou que se lembre de uma situação em que se sentiu forte e confiante.
Estas imagens, os pensamentos e os sentimentos positivos são depois combinados
com movimentos oculares ou outras formas de estimulação dual (bilateral) da
atenção. Estas experiências iniciais com o EMDR oferecem à criança o aumento de
sentimentos positivos e ajudam-na a saber o que esperar.
Em seguida, pede-se à criança que
aborde uma memória perturbadora ou um evento relacionado com o problema apresentado.
A estimulação dual da atenção é novamente usada enquanto a criança se foca na
experiência perturbadora. Quando uma memória perturbadora é “dessensibilizada”,
a criança consegue enfrentar eventos do passado sem se sentir perturbada,
assustada ou evitante. “Reprocessamento” significa apenas que uma nova compreensão,
outras sensações e novos sentimentos podem ser associados aos anteriores pensamentos,
sentimentos e imagens perturbadores. As memórias problemáticas podem ser mais
confortavelmente evocadas como “simplesmente algo que aconteceu”, e as crianças
mais facilmente acreditam que “Acabou”, “Agora estou seguro”, “Fiz o melhor que
pude, não é culpa minha”, “Tenho outras opções agora”.
O EMDR pode ajudar o meu filho?
O EMDR pode ser usado tanto com
crianças pequenas, como mais velhas, e adolescentes. Estudos de caso indicam
que o EMDR tem sido usado com sucesso em crianças pré-verbais, bem como com adolescentes
que não querem falar sobre os assuntos perturbadores. Como em qualquer outra
intervenção, quanto mais nova ou quanto mais evitante for a criança, maior o
desafio na procura de formas de a envolver e de focar a sua atenção no problema.
É benéfico que os pais e os profissionais expliquem que o EMDR é uma forma de
ultrapassar os pensamentos, sentimentos e comportamentos inquietantes. O EMDR
tem sido usado para ajudar crianças a lidar com eventos traumáticos, depressão,
ansiedade, fobias e outros problemas comportamentais.
O processo EMDR é diferente com
cada criança, porque a cura é guiada a partir de dentro. Algumas crianças
descrevem que o EMDR é relaxante e têm uma resposta positiva imediata. Outras
crianças podem sentir-se cansadas no final da sessão, e os benefícios serem
observados nos dias que se seguem. Uma menina de 10 anos esteve engessada
durante um ano e estava preocupada com lesões, doenças e morte devido a um
acidente traumático. Depois do EMDR começou a chorar lágrimas de alegria e
disse “Estou tão feliz, acabou mesmo e eu sou forte”. Um rapaz de 5 anos com
problemas de comportamento, cujo terapeuta trabalhava com outras técnicas, e
experimentou EMDR disse “Porque é que não fizeste isto comigo antes?”. Outro
rapaz de 8 anos que mantinha pesadelos disse “Eles simplesmente saltaram da
minha cabeça, os monstros desapareceram”. Outras crianças dizem muito pouco,
mas o seu comportamento muda e os pais dizem “As coisas estão a voltar ao lugar”.»
Esta publicação é uma tradução parcial e informal da
brochura informativa da autoria da EMDR International Association (EMDR &Children- Guide for Parents, Professionals, and Others Who Care About Children)
Alexandra Barros
Psicóloga e Psicoterapeuta (Delegação de Lisboa)
Diretora do Departamento de Infância
alexandra.barros@psicronos.pt
A Psicronos tem psicoterapeutas
formados em EMDR na Infância (Delegaçoes de Lisboa e Faro/Portimão)
sexta-feira, novembro 15, 2013
EMDR e Psicanálise
A Estimulação bilateral é a ferramenta determinante na terapia EMDR. Após
ter descoberto os efeitos da Estimulação bilateral, Francine Shapiro,
desenvolveu o enquadramento da sua aplicação e estruturou-a predominantemente
no quadro de referência da psicologia cognitiva.
O EMDR enquanto psicoterapia estruturada é, apesar de conter alguma
rigidez, suscetível de ser compatibilizada com outras abordagens. Na esmagadora
maioria das situações os terapeutas utilizam a abordagem EMDR conjugada com
outras abordagens.
Na PSICRONOS estamos interessados e empenhados em desenvolver uma abordagem
que tenha por base a teoria psicanalítica, as suas premissas base, os seus
pressupostos e métodos dominantes de trabalho e simultaneamente utilize os
enormes benefícios da estimulação bilateral. A esta abordagem foi dado o nome Psicoterapia
Psicanalítica Apoiada em Estimulação Bilateral. O nosso trabalho sobre esta
abordagem está ainda no início, temos, ainda, um longo caminho pela frente. A
ideia nuclear é a de que a Estimulação Bilateral promove, a partir de um
mecanismo neurofisiológico desconhecido, a metabolização da experiência emocional
promovendo a associação livre e seu o reprocessamento e progressiva
reintegração pela reconstrução dos vínculos associativos conscientes e
inconscientes. As ferramentas da intervenção em Psicoterapia Psicanalítica como
a clarificação, a confrontação, a observação, a anotação da experiência, a
interpretação e análise do funcionamento mental e da transferência são
utilizadas de acordo com a Psicoterapia Psicanalítica, mas utiliza-se,
simultaneamente, a Estimulação Bilateral para promover a potenciação,
transformação e assimilação dos insgths.
Na minha experiência clínica pessoal tenho observado benefícios muito
significativos com a utilização deste método.
terça-feira, novembro 05, 2013
EMDR - Sabe o que é?
Nem sempre os acontecimentos negativos são "ultrapassados" e, muitas vezes, instalam-se como memórias intrusivas que podem limitar o dia-a-dia das pessoas durante anos, ou toda a vida. A Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares (EMDR – Eye Movement Desensitization and Retroprocessing) é um processo breve, situado entre a neurologia e a psicologia, e é especialmente indicada para combater traumas psicológicos.
Esta terapia, com mais de 20 anos, foi descoberta casualmente por Francine Shapiro, uma psicóloga californiana, que terá notado que os seus pensamentos sombrios desapareciam, de forma espontânea, quando movia os olhos na diagonal, para a esquerda e para a direita direita, e de cima para baixo.
Atualmente, a Associação Americana de Psicologia recomenda o EMDR como um dos principais métodos para o tratamento de situações traumáticas. Além disso, o EMDR tem provado eficácia nas mais variadas perturbações psicológicas.
Adapatado do original de Ciência Hoje
sexta-feira, novembro 01, 2013
"Terapia, para quê, se não posso mudar o passado...?!"- Cérebro e EMDR
Para que serve a Psicoterapia se nem o terapeuta, nem o paciente podem mudar o passado? Esta é uma questão várias vezes levantada e a sua resposta permite perceber como pode ser útil e quais os limites de uma psicoterapia.
Frequentemente as pessoas que procuram uma psicoterapia tiveram experiências no passado que as marcaram de uma forma pesada e problemática. A questão está no que podemos então fazer em relação a esse passado que não pode ser alterado.
A primeira resposta a esta questão é: nada! Se o passado não pode ser alterado o primeiro passo consiste em tentar aceitá-lo, compreendê-lo e digeri-lo.
Ou seja, a questão não está tanto em agir sobre o passado (tarefa impossível e vã) mas sim na nossa relação com esse mesmo passado: o modo como organizamos as memórias desse passado. Na verdade o passado não existe (já passou!) a não ser sobre a forma como estão registadas na nossa memória. Este registo de memórias, longe de ser um processo objetivo e fatual, é um processo seletivo, ativo, construtivo e idiossincrático. Envolve uma constante seleção, interpretação e integração de memórias por forma a forjar uma narrativa sobre quem somos, o valor que temos, as capacidades, os princípios, etc. Deste modo, não percebemos e formamos memórias do mundo como ele realmente é, mas antes, criamos o que conhecemos e experienciamos através de processos mentais ativos e construtivos.
No entanto, outra objeção pode surgir: "mesmo que nós tenhamos um papel fulcral na construção do nosso passado, o que é certo é que ele fica gravado sobre a forma das memórias que forjámos. Mesmo que sejam memórias tendenciosas, o que é fato é que, a partir do momento em que ficaram gravadas, adquirem um estatuto de realidade". A este nível foi feita recentemente uma descoberta no campo da neuro-psicologia que demonstra ser possível o que sempre se pensou impossível: a eliminação e transformação completa de memórias de longo-termo de condicionamento emocional.
Um exemplo simples consiste na morte de um ente querido, fato da vida real que ninguém pode alterar. No entanto, uma pessoa pode ficar profundamente traumatizada e deprimida com esse fato do passado, enquanto outra pode sofrer a perda de uma forma que lhe possibilita fazer o luto saudável da mesma (aceitar a perda e estar disponível para voltar a investir afetivamente). Ou seja, a morte de um ente querido pode ficar gravada de uma forma catastrófica que assombra e contamina toda a visão do mundo da pessoa, ou ir sendo "digerida", "processada" de forma a que deixe de ser intolerável ao sujeito e passe a ser apenas uma memória do passado.
Pode-se dizer que a patologia ou sofrimento psicológico, surge quando é o passado que molda mais a pessoa, do que a pessoa a moldar o passado (e por conseguinte e mais importante, o presente-futuro).
A terapia EMDR destaca-se por estimular a
reintegração e desbloqueio das memórias disfuncionais influindo direta e
psico-fisiológicamente nas mesmas através da estimulação bilateral. Esta pode ser feita através de:
- Movimentos oculares – processamento e integração das memórias problemáticas à semelhança da fase REM (Rapid Eye Movements) do sono.
- Taping
- Estimulação auditiva
As reações provocadas no organismo pela estimulação bilateral contribuem para:
- Um descondicionamento causado por uma resposta fisiológica de
relaxamento.
- Uma mudança no estado
cerebral, aumentando a ativação e fortalecimento de associações fracas.
- Uma otimização da atenção e capacidade de processamento da informação criada pelo foco de atenção dual (ao estímulo percetivo-sensorial e ao trauma passado), induzindo um estado de “mindfullness”, uma resposta de orientação para a novidade ou outro tipo de fenómeno benéfico.
Deste modo, o EMDR apresenta-se como uma Psicoterapia poderosa na transformação e procesamento destas memórias problemáticas do passado.
quarta-feira, outubro 30, 2013
EMDR em Grávidas Parte 1
Quando fiz a minha formação básica em EMDR, foi-me dito que
esta psicoterapia tinha algumas contra indicações no seu uso. Fiquei curioso
durante uma fracção de segundo, uma vez que o formador me disse imediatamente
quais eram os casos em que não se recomendava a utilização de EMDR. Em
grávidas, em pessoas com epilepsia, em pessoas com doença Bipolar, e em pessoas
que sofressem de psicoses.
Compreendi o que o formador me disse e segui à risca as
directrizes.
Recentemente algo veio colocar em causa os ensinamentos
básicos do curso e abrir novas possibilidades de trabalho com mulheres
grávidas.
Como todos sabemos, a gravidez é uma altura da vida das
mulheres que pode gerar muita ansiedade, como tal, alguns problemas já
existentes poderão surgir justamente nesta altura. Lembro-me de uma paciente
que tinha interrompido a sua terapia um ano antes, uns meses antes de
engravidar, e voltou á terapia porque voltou a ter sintomas de ansiedade
extrema. Sem conseguir deixar de pensar em dúvidas acerca do bebé que está em
gestação.
Eu na primeira fracção de segundo fiquei tão aflito quanto a
paciente… mas depois respirei e delineei um plano de intervenção sem EMDR,
afinal antes de existir EMDR também se tratava a ansiedade!
As estratégias de relaxamento muscular voltaram a ser
usadas, não me podia esquecer da atitude de Mindfullness nem dos registos de
pensamentos automáticos.
Na segunda sessão utilizei uma técnica de EMDR, conhecida
como lugar seguro, não tinha ficado satisfeito com os progressos da minha
paciente apenas com as técnicas de relaxamento e Mindfullness, era pouco para
mim que estou habituado a ver melhorias significativas. Os resultados no final
da sessão eram muito bons, a paciente estava bem mais calma e relaxada. Era
como se o efeito do treino de relaxamento tivesse sido multiplicado por 10.
Tudo correu bem até ás sensações de desconforto se voltarem
a manifestar e consequentemente os pensamentos automáticos de dúvida. Nesta
intensifiquei as minhas pesquisas acerca de artigos sobre EMDR e consegui
encontrar este artigo: http://www.examiner.com/article/treating-birth-trauma-with-emdr-part-one
Ao ler esta informação obtive a validação para avançar com
mais confiança com um protocolo clássico de EMDR. Foi muito interessante o que
aconteceu nas sessões seguintes, os pensamentos ansiogénicos desapareceram e as
sensações desconfortáveis habituais das mulheres grávidas passaram a ser
interpretadas sem ansiedade. Surgiu de imediato a questão “como é que foi tão
rápido? Como é que pensamentos obsessivos que até então tinham sido tão
resistentes ao tratamento com Terapia Cognitiva e mesmo com terapia EMDR agora
tinham simplesmente desaparecido?”
Para responder a esta pergunta farei uma segunda parte deste
artigo dentro de dias em conjunto com o meu colega Diogo Gonçalves.
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