Com a publicação destes pequenos textos, pretendo dar a conhecer aos leitores certos temas que julgo pertinentes e actuais e que, embora tratados de forma um pouco superficial devido às limitações de espaço neste tipo de artigos, espero que possam ser esclarecedores.
Nos dias que correm, a anorexia (também chamada de anorexia nervosa) tornou-se não só uma simples “doença” mas também uma das muitas “doenças da moda”. Por um lado, a sociedade do consumo valoriza demasiadamente o aspecto exterior das pessoas e transmite constantemente mensagens em que a perfeição é algo que deve ser atingido a todo o custo e em que o sofrimento é um sinal de fraqueza que só os fracos o manifestam. Facilmente constatamos através dos mass media a imagem que os ídolos dos jovens transmitem: beleza, alegria, fama, dinheiro e felicidade. E de forma imediata os jovens são confrontados com estes ídolos (super-homens e super-mulheres) difíceis de igualar.
Nas imagens presentes em muitas publicidades e meios de comunicação social, são feitos apelos e sugestões (muitas vezes directos ou noutras vezes bastante subtis) em que a magreza extrema é valorizada e tida como único ideal de moda a seguir. Esta publicidade ”anoréctica e cadaverizante”, que anula a individualidade de cada pessoa, é pois uma das fontes de muitos dos comportamentos anorécticos.
A anorexia nervosa, em qualquer idade que se manifeste (e excluindo as anorexias com origem directa em problemas físicos) é um sintoma de que algo não vai nada bem em termos de desenvolvimento emocional e psicológico e é, acima de tudo, a manifestação de um profundo mal-estar e de várias dificuldades psicológicas.
Os dados científicos demonstram claramente que esta é uma doença feminina: as anorexias surgem maioritariamente em jovens do sexo feminino e no início da adolescência mas podem ter início num período anterior (a infância) ou posterior (aos 30, 40 anos de idade).
As anorexias são perturbações do comportamento alimentar (como a bulimia) e caracterizam-se por uma perda excessiva de peso, resultante de uma restrição alimentar (não comer ou comer muito pouco) e em que existe um medo enorme de engordar. Na realidade, as obsessões persistentes por dietas e emagrecimentos “à força” poderão ser um indicador de que alguma coisa não vai bem em termos de auto-imagem. Quase sempre, a anorexia tem início nas vulgares dietas que as adolescentes fazem… “Mas ao contrário das "dietas comuns", que terminam quando o peso desejado é alcançado, na anorexia a dieta e a perda de peso subsistem até que a pessoa atinge níveis de peso muito inferiores ao esperado para a sua idade. A quantidade ínfima de calorias que são ingeridas; a restrição cada vez mais acentuada de alimentos até ao ponto de só serem ingeridas saladas, fruta ou vegetais; a prática vigorosa de exercício físico e a tomada de comprimidos dietéticos, devem ser vistas como sintomas claros de uma possível anorexia nervosa”. Embora o termo "anorexia" signifique "perca de apetite", o que se passa na realidade é que a pessoa com anorexia mantém o seu apetite normal mas controla drasticamente o mesmo. Com o decorrer do tempo, a anoréctica pode começar a sofrer de sintomas opostos, próprios da bulimia e tentará, para eliminar aquilo que ingeriu, tomar laxantes ou provocar o vómito de modo a controlar o peso. Ao contrário das pessoas que sofrem de bulimia nervosa "pura", nas anorécticas o peso continuará a ser muito baixo” (in página web da Universidade Nova de Lisboa).
As causas da anorexia nervosa são diversas mas podemos resumidamente referir que na adolescente anoréctica existe um medo muito grande do desenvolvimento do seu corpo de mulher. São “meninas” que têm medo de crescer e de se desenvolverem fisicamente, ou seja, de se tornarem mulheres! É como se, ao chegarem ao ponto em que o seu corpo infantil começa a manifestar os sinais de um corpo com formas mais femininas, isso se tornasse um facto insuportável para elas. Ficam assustadas e começam a “combater” o corpo adulto (e a sexualidade feminina ele associada) que se quer desenvolver, através de se recusarem a comer e assim “engordar mais”.
Um facto importante que falta frisar é que nesta problemática (anorexia), o problema não é só individual (da anoréctica) mas é também um problema familiar: em muitas famílias de anórecticas, os pais ou familiares próximos sofrem também de algum tipo de dificuldades psicológicas…
O tratamento da anorexia nervosa é duplo: médico e psicológico. A jovem anoréctica ou que está a ter sintomas anorécticos deverá ser acompanhada sempre e simultaneamente:
- por um médico (para assegurar que os seus indicadores físicos não descem para valores críticos e para melhorar a sua condição física)
- por um psicólogo clínico (para que sejam analisados os receios que existem na jovem e poder ser iniciada uma psicoterapia, em que serão compreendidas e resolvidas as suas principais dificuldades psicológicas e emocionais).
A jovem que sofre destes sintomas, em conjunto com os seus pais e familiares mais próximos, deverão ser apoiados e esclarecidos sobre as características destes sintomas e deverá ser iniciada uma estratégia terapêutica adequada.
JOAO BALROA - Psicólogo Clínico
(Texto publicado no jornal "Povo da Beira" no mês de Junho de 2009)