Histórias sobre mim
A fotografia nunca abandonou a sua relação histórica com a prática do retrato. A condição de se relacionar com o real de um modo científico – óptico, químico, mecanicamente fracturante – eliminou, assim se convencionou, o erro da interpretação humana. O retrato, livre então da subjectividade pela objectiva (da) câmara, cristalizaria rostos, que se tornariam objectos de mnemónica.
A imagem que se cria separa dois lados: o de cá e o de lá. O retratado e o observador que, apesar dessa fronteira entre espaços, se entreolham num ricochete constante. Pressupõem, contudo, algumas regras prévias: que antes, fotógrafo e personagem se encontrem no mesmo espaço e no mesmo tempo.
Em «histórias sobre mim», Carla Cabanas revisita temas que lhe são queridos: a memória e o retrato. Nesse encontro com o retratado a câmara torna-se num gravador que regista toda a resposta ao pedido “conta uma história sobre mim”. A “pin hole” não utiliza lentes, não tem componentes mecânicos, nem pode gerar imagens a partir de curtas fracturas de tempo. No final não restam rostos reconhecíveis. Não é um trabalho para que perdure a memória do retratado, mas para perscrutar o que perdura na sua memória sobre a artista. Então o retrato transforma-se em auto-retrato: uma imagem que dentro de si não tem cá, nem lá.
Valter Ventura.
A fotografia nunca abandonou a sua relação histórica com a prática do retrato. A condição de se relacionar com o real de um modo científico – óptico, químico, mecanicamente fracturante – eliminou, assim se convencionou, o erro da interpretação humana. O retrato, livre então da subjectividade pela objectiva (da) câmara, cristalizaria rostos, que se tornariam objectos de mnemónica.
A imagem que se cria separa dois lados: o de cá e o de lá. O retratado e o observador que, apesar dessa fronteira entre espaços, se entreolham num ricochete constante. Pressupõem, contudo, algumas regras prévias: que antes, fotógrafo e personagem se encontrem no mesmo espaço e no mesmo tempo.
Em «histórias sobre mim», Carla Cabanas revisita temas que lhe são queridos: a memória e o retrato. Nesse encontro com o retratado a câmara torna-se num gravador que regista toda a resposta ao pedido “conta uma história sobre mim”. A “pin hole” não utiliza lentes, não tem componentes mecânicos, nem pode gerar imagens a partir de curtas fracturas de tempo. No final não restam rostos reconhecíveis. Não é um trabalho para que perdure a memória do retratado, mas para perscrutar o que perdura na sua memória sobre a artista. Então o retrato transforma-se em auto-retrato: uma imagem que dentro de si não tem cá, nem lá.
Valter Ventura.